Guiné > Região de Cacheu > Carta de Teixeira Pinto (1961) (Escala 1/50 mil) Posição relativa de Capó, na estrada entre Teixeira Pinto - Churobrique -Bachile - Capó - Cacheu.
1. João Rebola (, foto atual à esquerda):
(...) Estava o Janeiro a terminar
Para o Cacheu fomos transferidos.
Continuámos a nossa epopeia
Com mortos e muitos feridos.
Dia 6, data fatídica, mês de Fevereiro,
Aziago e de muita má lembrança,
Que retirou do mundo algumas vidas
Plenas de vida e esperança.
Recordem, amigos, do local o seu nome
Que, de repente, desfez sonhos e não só
Deixando para sempre tristeza, luto e dor
Aquela operação insidiosa, em Capó. (...) (*)
Ao fim de 9 anos a blogar (mais de 11200 postes, 608 membros da Tabanca Grande, 40 mil comentários...) há lugares (ou topónimos) que ainda não constam da nossa lista, na coluna do lado esquerdo do blogue, como "marcadores"... Por exemplo, Capó, na estrada Bachilé-Cacheu, onde morreram 3 camaradas açorianos, da CCAÇ 2444, em 6 de fevereiro de 1969, no mesmo dia, na travessia do Rio Corubal, em Cheche, sofreríamos 47 mortos, "por acidente"... (**)
Essa longa lista do nosso martirológico guineense precisa de ser actualizada, de A a Z... De qualquer aqui vaio mais um topónimo, Capó, de que poucos tinham ouvido falar até agora. (***)
A morte destes três camaradas já aqui foi referida, através da transcrição de um artigo de opin
ião do ex-alf mil João Carlos Resendes Carreiro, pertencente à citada companhia, e ele próprio açoriano:
2. Homenagem a 3 militares mortos na Guiné a 6 de Fevereiro de 1969
06 Fevereiro 2009 [Opinião]
Correio dos Açores
Faz hoje 40 anos que numa emboscada na Guiné, morreram os militares, de saudosa memória, o furriel Manuel Carreiro (o Mani, filho do então Director do Diário dos Açores), o soldado José Aveiro (do Nordeste) e o soldado Manuel Almeida (o triclinas do Outeiro dos Arrifes).
Eram 7 horas da manhã, a luz do dia já começava a aparecer, mas a densidade do nevoeiro (cacimbo) mal deixava ver as palmeiras e restante vegetação à nossa volta.
Estávamos na zona de Capó, entre o Cacheu e Bachile, uma curva na estrada, com bolanha dos dois lados. Uma rajada de metralhadora deu cobertura à saída de uma bazucada que atingiu a zona do estômago do Mani, de uma maneira fatal. O tiroteio entretanto prosseguiu, a minha espingarda foi atingida de modo que o carregador ficou todo estilhaçado. O Graça, que ficou gravemente ferido, começou a gritar que tinha a perna despachada, quando levantei a cabeça, para ver o que se passava, uma rajada levantou o pó da estrada, qual cena do far west .
O furriel Mani e o José Aveiro eram do pelotão que eu comandava, como alferes miliciano, faziam parte da 3.ª secção, que naquela hora estavam a passar para a frente. Quando o meu pelotão ia na frente rodávamos de 2 em 2 horas de secção, eu costumava ir na secção da frente, porém ainda não tinha dado tempo, eles ainda estavam a passar.
Só me recordo de estar deitado na valeta da estrada, no meio do fumo da pólvora e cheiro a sangue que não vou esquecer nunca.
Fizemos parte da CCAÇ 2444, “os coriscos”, estivemos na Guiné de 1968 e 1970.
Passados 40 anos quero recordar aqui estes três jovens, de 22 anos, que deram a vida pela pátria, a 6 de Fevereiro de 1969, a cumprir o seu dever de cidadãos. Quando hoje exerço o direito à cidadania, faço-o com convicção, também pensando neles.
O furriel Mani, o Mani, não era um militar, era um jovem bem formado, que à noite rezava o terço com os soldados da sua secção. Era um brincalhão, sempre alegre que fumava charutos e tentava viver um dia de cada vez. Nunca te vou esquecer, amigo!
Tínhamos todos 22 anos, tão jovens, mas que adultos que éramos, assumíamos responsabilidades de gente adulta e madura. Um dia ver-nos-emos, vocês não morreram, passaram a viver de outra maneira!
Um grande abraço para vocês!
Um grande abraço para vocês!
Autor: João Carlos Resendes Carreiro
3. Explicações adicionais, dadasa pelo Manuel Carvalho (ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf, CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70) [, foto atual, à esquerda]:
(...) Em 6 de fevereiro de 1969, começou a operação Aquiles Primeiro que se prolongou até 14 de fevereio. Logo no primeiro dia, 6 de fevereiro, a CCAÇ 2444 teve três mortos e um guia civil e três feridos e a CCAÇ 2446 teve um morto e um ferido e o Pel mil 130 quatro feridos. Ficou também ferido o alferes do Pel. Caç Nat 58 mais dois guias civis e um auxiliar.I sto logo no primeiro dia da operação.Pela nossa parte, CCAÇ 2366, julgo que tivemos um ferido e um dia apanhamos um RPG2 e três armas mas estávamos a ver que as munições não chegavam para abrir caminho para o quartel. Alguns de nós chegaram a Jolmete com meia dúzia de balas no carregador.Pois é, caro Rebola. o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca é Grande. Quem diria que as nossas companhias tinham andado na mesma operação. (...)
______________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 7 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P11209: Blogpoesia (324): Sinopse Lúdico-Histórica da CCAÇ 2444 (João Rebola)
(**) Essa trágica coincidência fez com que os 3 mortos da CCAÇ 2444, todos açorianos, em Capó, na região do Cacheum, tenham sido dados, originalmente, como desaparecido nas águas do Corubal, na região do Boé:
(,...) Aqueles que nem no caixão regressaram - Parte IV (Final)
(Organização por ordem cronológica da data de morte: A. Marques Lopes, Cor DFA, Ref) (Continuação) (2)
[...] José Bento Pacheco Aveiro, Soldado / CCaç 2444 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Nordeste, São Miguel, Açores / Corpo não recuperado.
[...] Manuel Amaral Carreiro, Furriel / CCaç 2444 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / São José, Ponta delgada, Açores / Corpo não recuperado.
[...] Manuel dos Santos Costa Almeida, Soldado / CCaç 2444 / 06.02.69 / Rio Corubal / Afogamento na evacuação de Madina do Boé / Arrifes, Ponta Delgada, Açores /Corpo não recuperado. [...]
Esse lamentável apso só foi corrigido um ano e tal depois. na sequência do artigo de opinião do João Carlos Resendes Carreiro e de um mail enviado pelo Carlos Cordeiro.