1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 4 de Maio de 2013:
Luis, Carlos, Virgínio, Magalhães e restante Tabanca Grande
Poder homenagear as mães é uma alegria vedada aos muitos que já viram partir as suas.
Mas penso quando celebramos as que estão junto de nós, homegeamos também as partiram.
Um abraço para todos
Juvenal Amado
Esta mulher deu-me tudo sem lhe pedir nada
Vigiou-me até eu começar a andar, acompanhou-me à escola até eu aprender o caminho, cuidou de mim quase sem eu dar por isso, depois cresci, pensei que tinha saído da sua sombra protectora, mas no fundo ela velou por mim mesmo quando estive longe.
Protegeu-me não medindo o perigo em momentos difíceis.
Hoje não é a mesma mulher, envelheceu, a doença tirou-lhe algum senso e dignidade que sempre lhe conheci.
Faz birras, é vaidosa, troca as coisas, faz confusão com os assuntos, tem sempre as razões dela na ponta da língua, não tem paciência para os outros, fica triste se por alguma razão um de nós a não vai buscar ao fim de semana.
Há dias caiu e partiu a cabeça. Já não é a primeira vez. Ficou com a cara negra.
O que se há-de fazer? É uma criança com 82 anos, em que a aprendizagem se faz em sentido inverso e que perdeu muitos dos conhecimentos adquiridos ao longo da sua vida, com mais preocupações do que regalias.
Nós mudamos e ela também mudou.
Hoje respeito-a não pela beleza passada ou pela sua autoridade, mas pelo que sou e que nunca seria sem ela.
Ela moldou-me, ensinou-me o que estava certo e o errado, indicou-me o caminho, assinalou-me os escolhos e os perigos.
Não evitou que no meu livre arbitro, tenha muitas vezes tropeçado e caído.
Amo-a hoje com sentido de protecção como o que em tempos ela me deu e porque representa um elo de ligação, com todos os entes queridos que já partiram e pelos que felizmente ainda tenho comigo.
Amanhã é dia da Mãe.
Felizmente eu tenho a minha e congratulo-me por para mim e pelos meus irmãos, porque todos os dias para nós o ser.
Não vou estar com ela este dia, mas para a semana vou-lhe levar uma flor, sair de braço dado com ela e passear pelas ruas da sua e minha cidade, com um pouco de orgulho quando ela me apresenta como sendo novidade:
- Este é o meu filho mais velho.
Feliz dia da Mãe para todas as mães.
Texto e fotos: © Juvenal Amado (2013). Todos os direitos reservados
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Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 5 de maio de 2013
Guiné 63/74 - P11529: Blogpoesia (336): Suadê, nome de mãe (José Teixeira)
1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70), com data de 23 de Abril de 2013:
Caríssimos editores.
Aproxima-se o DIA DA MÃE.
Estarei na Guiné-Bissau, talvez no Centro Materno-Infantil de Elalab que a Tabanca Pequena ajudou a construir para apoiar as mães de hoje.
Gostava que colocassem no blogue este poema que escrevi em memória daquela mãe que no dia 14 de Janeiro de 1969 viu a sua bebé morrer ficando ela gravemente ferida no corpo e no espírito ao ponto de desejar a morte o que me dificultou imenso a sua estabilização.
Fevereiro, 1969 / Buba / 20
...Tive muito que fazer na Enfermaria. Um dos feridos da população mais graves foi a mãe da menina que morreu. Tinha o corpo cheio de estilhaços, felizmente não foi atingida nos órgãos vitais e deve recuperar. O seu sofrimento interior impressionou-me.
É seu hábito dormir com a criança amarrada às costas para poder levá-la para o abrigo subterrâneo quando o IN ataca. Como já era de manhã desamarrou-a pouco antes do ataque se dar. Quando ouviu o fogo correu para o abrigo e só nessa altura é que se apercebeu que a bebé estava a dormir na tabanca. Saiu a correr, mas foi atirada ao chão pelo rebentamento da granada de canhão que caiu em cima da sua casa e lhe matou a menina....
Suadê, nome de mãe.
Estava viva,
Estava morta,
Pobre mãe preta,
Desesperada,
A morte bateu-lhe à porta,
No sopro de uma granada.
Chorava lágrimas de sangue,
No seu corpo dilacerado.
Dos olhos vítreos e secos,
De tanta lágrima corrida,
Um grito soava ardente.
Não tenho direito à vida.
Era alta madrugada,
Quando a guerra eclodiu,
E aquela mãe assustada,
Da morte, a correr fugiu.
Sua filhinha dormia,
Dos justos, um sono forte,
A granada explodiu,
E com ela veio a morte.
Chegou à porta do abrigo,
Em noite de mau agoiro,
E para trás voltou, apressada
Na esperança de salvar,
O seu mais valioso tesoiro.
A razão do seu viver.
E viu sua filha amada morrer
Sem lhe poder valer.
A mesma granada,
Que sua filha matou,
No calor do incêndio que lhe esmagou a alma
Seu corpo cruelmente dilacerou,
Prostrando-a no chão, inanimada.
Num misto de sofrimento e dor.
Que dor, pobre mãe,
Tu viste tua filha morrer,
A razão do teu viver.
Sem lhe poderes valer.
Já não choras mãe.
Esgotaste o cloreto de sódio,
Teus olhos espelham ódio,
À vida que teima em soprar.
Queres morrer,
Desaparecer.
Ir ao encontro da tua amada,
Que partiu, para não voltar.
Zé Teixeira
____________
Nota do editor
Último poste da série de 1 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11515: Blogpoesia (335): Estamos à espera de quê ?...(J. L. Mendes Gomes)
Caríssimos editores.
Aproxima-se o DIA DA MÃE.
Estarei na Guiné-Bissau, talvez no Centro Materno-Infantil de Elalab que a Tabanca Pequena ajudou a construir para apoiar as mães de hoje.
Gostava que colocassem no blogue este poema que escrevi em memória daquela mãe que no dia 14 de Janeiro de 1969 viu a sua bebé morrer ficando ela gravemente ferida no corpo e no espírito ao ponto de desejar a morte o que me dificultou imenso a sua estabilização.
Fevereiro, 1969 / Buba / 20
...Tive muito que fazer na Enfermaria. Um dos feridos da população mais graves foi a mãe da menina que morreu. Tinha o corpo cheio de estilhaços, felizmente não foi atingida nos órgãos vitais e deve recuperar. O seu sofrimento interior impressionou-me.
É seu hábito dormir com a criança amarrada às costas para poder levá-la para o abrigo subterrâneo quando o IN ataca. Como já era de manhã desamarrou-a pouco antes do ataque se dar. Quando ouviu o fogo correu para o abrigo e só nessa altura é que se apercebeu que a bebé estava a dormir na tabanca. Saiu a correr, mas foi atirada ao chão pelo rebentamento da granada de canhão que caiu em cima da sua casa e lhe matou a menina....
Suadê, nome de mãe.
Estava viva,
Estava morta,
Pobre mãe preta,
Desesperada,
A morte bateu-lhe à porta,
No sopro de uma granada.
Chorava lágrimas de sangue,
No seu corpo dilacerado.
Dos olhos vítreos e secos,
De tanta lágrima corrida,
Um grito soava ardente.
Não tenho direito à vida.
Era alta madrugada,
Quando a guerra eclodiu,
E aquela mãe assustada,
Da morte, a correr fugiu.
Sua filhinha dormia,
Dos justos, um sono forte,
A granada explodiu,
E com ela veio a morte.
Chegou à porta do abrigo,
Em noite de mau agoiro,
E para trás voltou, apressada
Na esperança de salvar,
O seu mais valioso tesoiro.
A razão do seu viver.
E viu sua filha amada morrer
Sem lhe poder valer.
A mesma granada,
Que sua filha matou,
No calor do incêndio que lhe esmagou a alma
Seu corpo cruelmente dilacerou,
Prostrando-a no chão, inanimada.
Num misto de sofrimento e dor.
Que dor, pobre mãe,
Tu viste tua filha morrer,
A razão do teu viver.
Sem lhe poderes valer.
Já não choras mãe.
Esgotaste o cloreto de sódio,
Teus olhos espelham ódio,
À vida que teima em soprar.
Queres morrer,
Desaparecer.
Ir ao encontro da tua amada,
Que partiu, para não voltar.
Zé Teixeira
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Nota do editor
Último poste da série de 1 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11515: Blogpoesia (335): Estamos à espera de quê ?...(J. L. Mendes Gomes)
Guiné 63/74 - P11528: Parabéns a você (573): Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo da CCAÇ 2317 (Guiné, 1968/69)
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Nota do editor
Último poste da série de 4 de Maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11525: Parabéns a você (572): José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716 (Guiné, 1970/72)
Nota do editor
Último poste da série de 4 de Maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11525: Parabéns a você (572): José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716 (Guiné, 1970/72)
sábado, 4 de maio de 2013
Guiné 63/74 - P11527: Bom ou mau tempo na bolanha (8): Os primeiros contactos e empregos (Tony Borié)
Oitavo episódio da série do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66) Bom ou mau tempo na bolanha.
Na segunda-feira seguinte, um dos novos companheiros, que com ele repartiam as instalações na cave naquela casa de emigrantes, leva o Tony para trabalhar com ele, fala com o patrão, pede os documentos, faz uma breve inspecção médica e vai trabalhar. No trabalho, a sua tarefa era cortar troncos de madeira em tábuas. Quando começava a cair neve, largava essa ocupação e ia com uma grande pá, removê-la de todos os locais de acesso à fábrica de serração de madeiras.
Quando terminava num local, já o outro local tinha que ser limpo, terminava o dia todo molhado e cheio de frio, mas com alguma alegria, pois tinha trabalho e podia pagar o local onde dormia.
De regresso à cave, esperava pela sua vez de usar o fogão, fazia o seu comer, que quase sempre era arroz de moelas de galinha partidas aos bocadinhos, uma comida barata, simples e que durava alguns dias, pois muitas vezes, comia-se mesmo frio. Nunca faltava pão, que era a comida preferida do Tony, lembram-se quando todos os dias roubava pão ao “Arroz com Pão”, que era o cabo do rancho, no aquartelamento de Mansoa, pão esse, trazido por aquele que trabalhava na padaria, às vezes o que trabalhava no restaurante também trazia restos de comida das festas que eram servidas no restaurante, pelo menos aos fins de semana.
Nas horas que tinha de folga procurava outra ocupação, era na rua, nos bares, nas lojas de conveniência, nas estações de serviço, aí é que se faziam os contactos. Ajudou a lavar carros, mais tarde, já não lavava, foi promovido, só levava os carros até à entrada da máquina de os lavar. Largou a fábrica de serração de madeiras, pois havia lugar de trabalho num grupo de construção de estradas que pagava muito bem. O trabalho era a duas horas de viajem, pela madrugada largavam para o local de trabalho, paravam pelo caminho para comprar café e álcool, para poderem suportar o frio, chegavam ao trabalho já todos sobre influência. Um dia houve um pequeno acidente no trabalho, o patrão chega ao local de helicóptero e vê o estado dos trabalhadores, não teve outra solução, chama o chefe do grupo, que mostrava um estado de influência elevado, despede-o assim como a todo o grupo.
Não esteve desempregado dois dias, ao outro dia foi trabalhar para uma fábrica de fazer ferramentas, no turno da meia noite que se prolongava até às oito horas da manhã. Era um trabalho pesado e sujo. De dia trabalhava na lavagem de carros, davam-lhe gorjetas, ainda tinha umas horas para limpar a cozinha e uns anexos de um restaurante, onde comia e trazia comida para o dia seguinte.
Atravessou o rio Hudson e foi ver a tal editora em Nova Iorque, era verdade, ofereciam-lhe trabalho, mas não pagavam lá muito bem, o Tony não tinha tempo disponível e nem queria, pois sentia-se confortável com o que fazia.
Durante todo este tempo ia vendo a cidade, já não lhe parecia tão mal assim. Como tinha um poder enorme de aprendizagem e não perdia nenhuma oportunidade para falar, aos poucos ia praticando o idioma, mas sem técnica, dava só para se desenrascar. Sempre que tinha oportunidade ia levar comida, leite, pão e outros géneros alimentícios, e mesmo roupa, que arranjava dos restos do restaurante onde limpava a cozinha e não só, às tais pessoas que continuavam a dormir na margem do rio Passaic, falava e aprendia com elas, era como se fossem suas amigas, por vezes perdia-se nas horas e passava a noite com elas, onde queimavam lenha roubada, dentro de um bidão de cinquenta galões, fumando cigarros feitos à mão e bebendo álcool da mesma garrafa. Quando isto acontecia, e não vinha dormir à cave, os colegas repreendiam-no, dizendo:
- Qualquer dia, é mais um que vai aparecer a boiar, no rio Passaic!
O Tony, sempre se sentiu confortável no meio deles e lembrava-se quando um deles o cobriu com um plástico e se juntou a ele para juntos suportarem melhor o frio.
Tudo corria mais ou menos, só com o problema das saudades do bebé e da Margarida, que lhe ia mandando algumas cartas com fotografias, contando como ia crescendo e das coisas que já fazia.
Começou a procurar alojamento para mandar vir a Margarida e o filho. Havia um emigrante que andava a remodelar a casa e alugou-lhe um quarto com uma pequena cozinha no sótão, pagava a renda mas não vivia lá, continuava a viver com os companheiros na cave. Há sempre alguém que se quer desfazer de alguma parte de mobília velha e a põe na rua, o Tony aproveitava, ia guardando no novo quarto. Passado algum tempo já tinha tudo preparado, incluindo cama, berço, algumas cadeiras, mesa, frigorífico, panelas, pratos e alguns utensílios mais, que são necessários numa casa. Assim, quando viessem já podiam viver com o mínimo de comodidades.
Todo o seu tempo estava ocupado no restaurante onde limpava a cozinha, também o queriam para ajudar nas festas que se realizavam aos fins de semana. Ele ia agradando a todos conforme podia, era novo, tinha saúde, um dos principais motores que o fazia mover era a esperança de poder ver o seu bebé e a Margarida,no mínimo espaço de tempo. Essa esperança ultrapassava todos os obstáculos.
Entretanto descobre que o amigo Zarco, o tal pára-quedista a quem o Cifra deu água, só água, mais nada, no aquartelamento na zona de guerra, vive numa cidade mais ao sul, em Nova Jersey, e consegue contactá-lo. O Zarco, que agora se chama John, já casado com uma senhora americana, oferece-lhe trabalho numa multinacional onde também trabalha, mas nos quadros superiores. O Tony vai trabalhar para essa multinacional, nunca larga o emprego da lavagem de carros, nem a limpeza da cozinha do restaurante, para isso tira licença de conduzir e compra um carro velho, daqueles muito grandes, que parecem uma banheira, mas que andava muito bem.
Tem noites em que dorme apenas três ou quatro horas, mas sente-se bem. Controla todo o seu dinheiro e verifica em termos financeiros, que depois das despesas, sobrava mais numa semana, do que antes em Portugal, em três ou quatro meses. Tinha saúde, trabalho não lhe faltava, só as saudades da Margarida e do filho é que o atormentavam um pouco, mas se continuasse com o ritmo de trabalho que levava, em pouco tempo viriam ter com ele.
Ele sabia e tinha quase a certeza que sim, ele acreditava.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 1 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11513: Bom ou mau tempo na bolanha (7): És pessoal do Lisboa? (Tony Borié)
Guiné 63/74 - P11526: Tabanca Grande (397): Luciana Saraiva, sobrinha do ex-cap comando Maurício Leonel de Sousa Saraiva, nova tabanqueira, nº 616 (a viver em Floripa, Brasil)
Data: 29 de Abril de 2013, 19:57
Assunto: P11485 (*):
Prezado Luís Graça,
Que bom saber que tem amigos e familiares em Floripa. Logo vou abrir conta no Google e fazer parte da Tabanca Grande. Parabéns pelo vosso Blog (**).
Obrigado, vossas saudações serão entregues a meu pai. Eu ainda não lhe contei a novidade. Tenho pena de não ter tido a oportunidade de ter convivido mais com meu tio.
Gostaria ainda de agradecer muito a resposta de Virgínio Briote. Espero que se recupere em breve e tudo corra bem. Entrarei de novo em contato para conversarmos sobre este livro que estou fazendo. Tenho a certeza, que o senhor será uma ajuda e tanto quando nos podermos encontrar para analisar toda essa documentação que tem consigo, acrescentando os testemunhos pessoais.
Vou marcar minha passagem para o Porto talvez lá para o dia 23 de maio. Caso nessa altura seja possível o Virgínio Briote se encontrar comigo, ficarei contente. Hoje felizmente podemos digitalizar algumas fotos e documentos, o que facilita muito nosso trabalho, principalmente devido às distancias. Se achar melhor pode me enviar seu endereço de e-mail para eu poder saber mais sobre o tio Maurício.
Mas apesar de todo o oceano que temos a separar estes dois países, Portugal está sempre no meu coração, principalmente as pessoas.
Como o Luís deve saber, Florianópolis é uma cidade muito bonita, tem as 4 estações e assim o clima é um pouco mais parecido com o europeu.
Por hoje é tudo, vou então entrar no vosso Blog,
um abraço a todos
2. Resposta do Virgínio Briote, com data de 29 de abril
Minha Cara Luciana,
Gostei muito de ver a sua mensagem, dizendo quem era e o que queria. E, apesar de estar algo afastado das lides bloguistas, senti-me na obrigação de dizer Presente quando o Professor Luís Graça ma reencaminhou.
De facto, fui um dos Camaradas do seu Tio e tenho muito gosto em ter privado de muito perto com ele. Infelizmente, depois de regressar a Lisboa, vindo da Guiné-Bissau, só voltei a encontrar-me com o então Capitão Saraiva, duas a três semanas depois da minha chegada. Depois sabe como são as coisas. Naqueles anos 65 a 67, éramos meninos, eu tinha feito 23 anos no navio do regresso. A Guiné, para nós, foi um inferno e, como muitos outros, a partir de uma certa altura, resolvi enterrar o assunto e fazer de conta que nunca lá tinha estado. Casei, comecei a trabalhar, fui estudando, nasceram-me filhos e fiz a minha carreira profissional até me reformar.
Ao longo dos tempos fui tendo notícias dele. Soube, é claro, que tinha sido ferido gravemente em Moçambique e, curiosamente, 40 e poucos anos depois reencontrei em Viana do Castelo (aqui no Minho, no Norte de Portugal) um antigo soldado meu na Guiné que fez parte da Companhia de Comandos do Capitão Saraiva e que assistiu ao rebentamento da mina que o atingiu. Depois veio o 25 Abril, o seu tio saiu de Portugal e fui tendo algumas notícias dele até que soube que já tinha morrido, quando o procurei.
O capitão Saraiva, mais tarde reintegrado, não a seu pedido mas por diligências efectuadas por vários Camaradas, e promovido a Coronel, foi uma pessoa que me deixou saudades e que me marcou profundamente e, sem dúvida, foi um dos militares portugueses que mais se distinguiram na guerra colonial, tendo por isso sido louvado e condecorado numerosas vezes [e em 1970, com o grau de oficial da Ordem Miitar da Torre e Espada].
E pronto, Luciana, acho que já me apresentei o suficiente por hoje. É claro que estarmos a falar do "Capitão" Saraiva levava-nos uma noite ou duas, com os Camaradas vivos que combateram com ele e as recordações iriam surgindo naturalmente. O que lhe posso dizer, para terminar, é que quem com ele contactou na Guiné ainda hoje fala dele como se fosse, e foi, uma figura lendária.
Contacte quando quiser, Luciana. Terei sempre tempo e, julgo, força suficiente para conversarmos e arranjar gente que com ele conviveu.
Cumprimentos daqui!
V Briote
3. Comentário de L.G.:
Querida amiga: Obrigado por ter aceite o nosso convite para integrar a Tabanca Grande, ou seja, a comunidade virtual de amigos e camaradas da Guiné que se reúne à sombra de um mágico, secular, fraterno, mágico poilão (como se diz no Brasil ?)... Costumamos dizer, aqui, que os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são... Pensando em pessoas como você (e temos mais "sobrinhos" no nosso blogue), poderíamos acrescentar: os/as sobrinhos/as dos nossos camaradas nossos/as sobrinhos/as são...
A Luciana passa a ser a "tabanqueira" nº 616 (**) A sua presença muito nos honra, a todos nós, ex-combatentes da Guiné. Vamos publicar a mensagem que mandou ao Virgínio Briote e em que acrescenta mais informação sobre o seu tio, e nosso camarada, Maurício Saraiva. Pessoalmente,. não o conheci. Sou mais "pira", mais novo, do que ele e o Briote, estive na Guiné na época de 1969/71, sob o comando do gen Spínola.
Quanto a Floripa,. tenho lá amigos e parentes. Também em Itapema (onde vive um velho amigo, o Zeca Ferreira Cardoso) Mas não conheço o Brasil. Há uns anos estive para ir a um Congresso Mundial da Medicina do Trabalho, em Iguassu, mas acabou por não ir. Sei que é um belo estado, Santa Catarina. E que Floripa foi fundado por açorianos... Pode ser que um belo dia destes a gente se encontre em Floripa. Mas o mais provável aqui, no "Puto", um dia destes... Vá dando notícias, nomeadamente do seu livro e das suas pesquisas sobre o tio Maurício.
PS - O Brasil é, a seguir a Portugal, o país onde temos mais leitores/visitantes do nosso blogue. Vários "tabanqueiros" nossos, antigos combatentes da Guiné, vivem no Brasil, há décadas...Obrigado por estar a seguir o nosso blogue que passa também a ser seu. Entre camaradas, tratamo-nos por "tu" e não por "você". Faz parte das nossas regras. Mas os/as amigos/as têm direito a maior defeência... Ah!, não se esqueça de nos mandar um foto com melhor resolução do que aquela que publicamos acima. E diga-nos como quer ser conhecida aqui, na Tabanca Grande: Luciana Saraiva ? Luciana Saraiva Andrade ? Luciana Saraiva Andrade Guerra ?
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Notas do editor
(*) Vd. poste de 27 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11485: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (68): Luciana Saraiva Guerra, sobrinha do cor comando, já falecido, Maurício Saraiva, está a escrever um livro sobre a família, natural de Valpaços, e o tio paterno, nascido em Angola
(**) Último poste da série > 25 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11464: Tabanca Grande (396 ): Novo membro, o nº 615: Mário Vasconcelos (ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro; COT 9, Mansoa, CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973/74)
2. Resposta do Virgínio Briote, com data de 29 de abril
Minha Cara Luciana,
Gostei muito de ver a sua mensagem, dizendo quem era e o que queria. E, apesar de estar algo afastado das lides bloguistas, senti-me na obrigação de dizer Presente quando o Professor Luís Graça ma reencaminhou.
De facto, fui um dos Camaradas do seu Tio e tenho muito gosto em ter privado de muito perto com ele. Infelizmente, depois de regressar a Lisboa, vindo da Guiné-Bissau, só voltei a encontrar-me com o então Capitão Saraiva, duas a três semanas depois da minha chegada. Depois sabe como são as coisas. Naqueles anos 65 a 67, éramos meninos, eu tinha feito 23 anos no navio do regresso. A Guiné, para nós, foi um inferno e, como muitos outros, a partir de uma certa altura, resolvi enterrar o assunto e fazer de conta que nunca lá tinha estado. Casei, comecei a trabalhar, fui estudando, nasceram-me filhos e fiz a minha carreira profissional até me reformar.
Ao longo dos tempos fui tendo notícias dele. Soube, é claro, que tinha sido ferido gravemente em Moçambique e, curiosamente, 40 e poucos anos depois reencontrei em Viana do Castelo (aqui no Minho, no Norte de Portugal) um antigo soldado meu na Guiné que fez parte da Companhia de Comandos do Capitão Saraiva e que assistiu ao rebentamento da mina que o atingiu. Depois veio o 25 Abril, o seu tio saiu de Portugal e fui tendo algumas notícias dele até que soube que já tinha morrido, quando o procurei.
O capitão Saraiva, mais tarde reintegrado, não a seu pedido mas por diligências efectuadas por vários Camaradas, e promovido a Coronel, foi uma pessoa que me deixou saudades e que me marcou profundamente e, sem dúvida, foi um dos militares portugueses que mais se distinguiram na guerra colonial, tendo por isso sido louvado e condecorado numerosas vezes [e em 1970, com o grau de oficial da Ordem Miitar da Torre e Espada].
E pronto, Luciana, acho que já me apresentei o suficiente por hoje. É claro que estarmos a falar do "Capitão" Saraiva levava-nos uma noite ou duas, com os Camaradas vivos que combateram com ele e as recordações iriam surgindo naturalmente. O que lhe posso dizer, para terminar, é que quem com ele contactou na Guiné ainda hoje fala dele como se fosse, e foi, uma figura lendária.
Contacte quando quiser, Luciana. Terei sempre tempo e, julgo, força suficiente para conversarmos e arranjar gente que com ele conviveu.
Cumprimentos daqui!
V Briote
3. Comentário de L.G.:
Querida amiga: Obrigado por ter aceite o nosso convite para integrar a Tabanca Grande, ou seja, a comunidade virtual de amigos e camaradas da Guiné que se reúne à sombra de um mágico, secular, fraterno, mágico poilão (como se diz no Brasil ?)... Costumamos dizer, aqui, que os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são... Pensando em pessoas como você (e temos mais "sobrinhos" no nosso blogue), poderíamos acrescentar: os/as sobrinhos/as dos nossos camaradas nossos/as sobrinhos/as são...
A Luciana passa a ser a "tabanqueira" nº 616 (**) A sua presença muito nos honra, a todos nós, ex-combatentes da Guiné. Vamos publicar a mensagem que mandou ao Virgínio Briote e em que acrescenta mais informação sobre o seu tio, e nosso camarada, Maurício Saraiva. Pessoalmente,. não o conheci. Sou mais "pira", mais novo, do que ele e o Briote, estive na Guiné na época de 1969/71, sob o comando do gen Spínola.
Quanto a Floripa,. tenho lá amigos e parentes. Também em Itapema (onde vive um velho amigo, o Zeca Ferreira Cardoso) Mas não conheço o Brasil. Há uns anos estive para ir a um Congresso Mundial da Medicina do Trabalho, em Iguassu, mas acabou por não ir. Sei que é um belo estado, Santa Catarina. E que Floripa foi fundado por açorianos... Pode ser que um belo dia destes a gente se encontre em Floripa. Mas o mais provável aqui, no "Puto", um dia destes... Vá dando notícias, nomeadamente do seu livro e das suas pesquisas sobre o tio Maurício.
PS - O Brasil é, a seguir a Portugal, o país onde temos mais leitores/visitantes do nosso blogue. Vários "tabanqueiros" nossos, antigos combatentes da Guiné, vivem no Brasil, há décadas...Obrigado por estar a seguir o nosso blogue que passa também a ser seu. Entre camaradas, tratamo-nos por "tu" e não por "você". Faz parte das nossas regras. Mas os/as amigos/as têm direito a maior defeência... Ah!, não se esqueça de nos mandar um foto com melhor resolução do que aquela que publicamos acima. E diga-nos como quer ser conhecida aqui, na Tabanca Grande: Luciana Saraiva ? Luciana Saraiva Andrade ? Luciana Saraiva Andrade Guerra ?
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Notas do editor
(*) Vd. poste de 27 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11485: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (68): Luciana Saraiva Guerra, sobrinha do cor comando, já falecido, Maurício Saraiva, está a escrever um livro sobre a família, natural de Valpaços, e o tio paterno, nascido em Angola
(**) Último poste da série > 25 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11464: Tabanca Grande (396 ): Novo membro, o nº 615: Mário Vasconcelos (ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro; COT 9, Mansoa, CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973/74)
Guiné 63/74 - P11525: Parabéns a você (572): José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716 (Guiné, 1970/72)
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Nota do editor
Último poste da série de 3 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11520: Parabéns a você (571): Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAV 3366 (Guiné, 1971/73)
Nota do editor
Último poste da série de 3 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11520: Parabéns a você (571): Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAV 3366 (Guiné, 1971/73)
sexta-feira, 3 de maio de 2013
Guiné 63/74 - P11524: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (41): Respostas (nº 81/82/83): Cândido Morais, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679 (Bajocunda, 1970/71); Manuel Luís Nogueira de Sousa, ex-Fur Mil do BART 6520/73 (Bolama, Cadique e Jemberém, 1974) e Aires Ferreira, ex-Alf Mil da CCAÇ 1686/BCAÇ 1912 (Mansoa, 1967/69)
1. Respostas ao questionário do nosso camarada Cândido Morais, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71:
(1) Quando é que descobriste o blogue?
R - Há já bastante tempo.
(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)
R - Por informação do camarada José Dinis.
(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando?
R - Há cerca de meio ano.
(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)
R - De tempos a tempos.
(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)?
R - Já mandei dois artigos e gostaria de mandar mais, de acordo com o tempo de que disponho.
(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]?
R - Não.
(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue?
R - Eu não acedo ao facebook.
(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook?
R - Gosto de ler alguns artigos e gosto de ver fotografias de sítios da Guiné.
(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook?
R - Eu penso que não há nada que goste menos. As intervenções podem ser mais ou menos interessantes, mas trata-se de coisas que gosto sempre de ler.
(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)
R - Não.
(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook?
R - Representa a permanência de uma fase da nossa vida, que certamente marcou a todos. Eu sei que, ao fim de muitos anos, o blogue acabará por fenecer, juntamente connosco. Contudo, a vida vive-se enquanto estamos vivos...
(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais?
R - Não.
(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real?
R - Este ano ainda não posso.
(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar?
R - Neste momento, penso que se encontra com bastante força anímica, suportado por alguns entusiastas.
(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.
R - Nada me ocorre como crítica. Endereço, apenas, uma palavra de ânimo a quem mais se dedica a esta causa.
Cândido Morais
2. Respostas do nosso camarada Manuel Luís Nogueira de Sousa (ex-Fur Mil At Art da 1ª CART do BART 6520/73, Bolama, Cadique, Jemberém, 1974):
1 - Entre 5 e 6 anos
2 - Através de informações de camaradas
3 - Considero-me membro e participo regularmente com comentários/opiniões
4 - Em média será uma vez por semana
5 - Tenho mandado
6 - Sim
7 - Alterno sem tendência definida
8 - De acompanhar as diversas opiniões e relatos de factos vividos em pleno TO
9 - Não tenho opinião negativa, a não ser a lentidão que é frequente
10 - No acesso não, mas com referi a excessiva lentidão
11 - É uma fonte de actualização e renovação de contactos com os ex-camaradas
12 - Ainda não, embora este ano já tenha estado em 2 encontros da companhia e do batalhão
13 - Provavelmente não por várias razões uma delas ainda estar na vida activa em regime de turnos
14 - Sim, parar é morrer. Se necessário fazer renovações no sentido de o tornar mais ágil e atrativo
15 - Em resumo dos parágrafos, devemos prosseguir este caminho, tornando-o mais largo de forma a crescer o caudal de camaradas a participar/colaborar, em suma comunicar que é uma fonte de vida saudável
OBS: A foto anexa mostra a chegada a Cadique pelo rio Cumbijã da 1.ª CART e CCS do BART 6520/73
Um abraço a todos, um bom 1º de Maio (há 39 anos estava no TO da Guiné - Bolama)
Manuel Luís Nogueira de Sousa
3. Mensagem do nosso camarada Aires Ferreira (ex-Alf Mil da CCAÇ 1686/BCAÇ 1912, Mansoa, 1967/69), com as suas respostas ao nosso questionário:
1 - Descobri o blogue no princípio de 2007
2 - Descobri o blogue por acaso, ao navegar na Net
3 - Sou membro desde 12 de Julho de 2007
4 - Visito o blogue todos os dias
5 - Já enviei material para o blogue, mas ultimamente não
6 - Não conheço o Facebook
7 - Resposta anterior
8 - Gosto dos temas que cheirem a pólvora
9 - Poesias, aniversários, etc.
10 - Tenho tido dificuldades porque o blogue não cabe no Meu monitor, tenho que utilizar o zoom 95
11 - O blogue representa para mim o reviver de uma fase muito importante da minha vida
12 - Participei no encontro da Ameira
13 - Este ano também não vou. A minha vida em 2010 deu Uma volta de 180º e a minha saúde é escassa
14 - Acho que o blogue tem que continuar. Representa muito Para alguns de nós, sobretudo para aqueles que se apaixonaram Por aquela terra e por lá deixaram algo de si
15 - Não tenho críticas a fazer. Cada um de nós tem feito o melhor que Pode e sabe. A estrada está picada, mas por favor não vão todos Em cima da mesma viatura
Um abraço a todos os camaradas desta magnífica tabanca
Aires Ferreira
____________
Nota do editor
Último poste da série de 2 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11519: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (40): Respostas (nº 78/79/80): Carlos Pedreño Ferreira, ex- Fur Mil Inf Op COMBIS e COP 8 (Bissau e Nhacra, 1971/73); Alcides Silva, ex-1.º Cabo Estofador, BART 1913 (Catió, 1967/69) e Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 (Cufar e Buruntuma, 1964/66)
(1) Quando é que descobriste o blogue?
R - Há já bastante tempo.
(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)
R - Por informação do camarada José Dinis.
(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando?
R - Há cerca de meio ano.
(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)
R - De tempos a tempos.
(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)?
R - Já mandei dois artigos e gostaria de mandar mais, de acordo com o tempo de que disponho.
(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]?
R - Não.
(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue?
R - Eu não acedo ao facebook.
(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook?
R - Gosto de ler alguns artigos e gosto de ver fotografias de sítios da Guiné.
(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook?
R - Eu penso que não há nada que goste menos. As intervenções podem ser mais ou menos interessantes, mas trata-se de coisas que gosto sempre de ler.
(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)
R - Não.
(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook?
R - Representa a permanência de uma fase da nossa vida, que certamente marcou a todos. Eu sei que, ao fim de muitos anos, o blogue acabará por fenecer, juntamente connosco. Contudo, a vida vive-se enquanto estamos vivos...
(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais?
R - Não.
(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real?
R - Este ano ainda não posso.
(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar?
R - Neste momento, penso que se encontra com bastante força anímica, suportado por alguns entusiastas.
(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer.
R - Nada me ocorre como crítica. Endereço, apenas, uma palavra de ânimo a quem mais se dedica a esta causa.
Cândido Morais
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2. Respostas do nosso camarada Manuel Luís Nogueira de Sousa (ex-Fur Mil At Art da 1ª CART do BART 6520/73, Bolama, Cadique, Jemberém, 1974):
1 - Entre 5 e 6 anos
2 - Através de informações de camaradas
3 - Considero-me membro e participo regularmente com comentários/opiniões
4 - Em média será uma vez por semana
5 - Tenho mandado
6 - Sim
7 - Alterno sem tendência definida
8 - De acompanhar as diversas opiniões e relatos de factos vividos em pleno TO
9 - Não tenho opinião negativa, a não ser a lentidão que é frequente
10 - No acesso não, mas com referi a excessiva lentidão
11 - É uma fonte de actualização e renovação de contactos com os ex-camaradas
12 - Ainda não, embora este ano já tenha estado em 2 encontros da companhia e do batalhão
13 - Provavelmente não por várias razões uma delas ainda estar na vida activa em regime de turnos
14 - Sim, parar é morrer. Se necessário fazer renovações no sentido de o tornar mais ágil e atrativo
15 - Em resumo dos parágrafos, devemos prosseguir este caminho, tornando-o mais largo de forma a crescer o caudal de camaradas a participar/colaborar, em suma comunicar que é uma fonte de vida saudável
OBS: A foto anexa mostra a chegada a Cadique pelo rio Cumbijã da 1.ª CART e CCS do BART 6520/73
Um abraço a todos, um bom 1º de Maio (há 39 anos estava no TO da Guiné - Bolama)
Manuel Luís Nogueira de Sousa
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3. Mensagem do nosso camarada Aires Ferreira (ex-Alf Mil da CCAÇ 1686/BCAÇ 1912, Mansoa, 1967/69), com as suas respostas ao nosso questionário:
1 - Descobri o blogue no princípio de 2007
2 - Descobri o blogue por acaso, ao navegar na Net
3 - Sou membro desde 12 de Julho de 2007
4 - Visito o blogue todos os dias
5 - Já enviei material para o blogue, mas ultimamente não
6 - Não conheço o Facebook
7 - Resposta anterior
8 - Gosto dos temas que cheirem a pólvora
9 - Poesias, aniversários, etc.
10 - Tenho tido dificuldades porque o blogue não cabe no Meu monitor, tenho que utilizar o zoom 95
11 - O blogue representa para mim o reviver de uma fase muito importante da minha vida
12 - Participei no encontro da Ameira
13 - Este ano também não vou. A minha vida em 2010 deu Uma volta de 180º e a minha saúde é escassa
14 - Acho que o blogue tem que continuar. Representa muito Para alguns de nós, sobretudo para aqueles que se apaixonaram Por aquela terra e por lá deixaram algo de si
15 - Não tenho críticas a fazer. Cada um de nós tem feito o melhor que Pode e sabe. A estrada está picada, mas por favor não vão todos Em cima da mesma viatura
Um abraço a todos os camaradas desta magnífica tabanca
Aires Ferreira
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Nota do editor
Último poste da série de 2 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11519: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (40): Respostas (nº 78/79/80): Carlos Pedreño Ferreira, ex- Fur Mil Inf Op COMBIS e COP 8 (Bissau e Nhacra, 1971/73); Alcides Silva, ex-1.º Cabo Estofador, BART 1913 (Catió, 1967/69) e Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 (Cufar e Buruntuma, 1964/66)
Guiné 63/74 - P11523: Memória dos lugares (232): Bafatá há 40 anos e em 2010 (1) (Fernando Gouveia)
1. Em mensagem do dia 20 de Abril de 2013, o nosso camarada Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec Inf, Bafatá, 1968/70), enviou-nos 20 fotos duplas, das quais se publicam hoje 10, acrescentado as seguintes considerações:
Carlos
A pedido do Chefe Luís vou mandar mais fotos de Bafata.
Quase todas as fotos que tenho de há 40 anos já foram publicadas no Blogue, pelo que desta vez resolvi enviar uma série de vinte, em que são fotos duplas, uma de há 40 anos e a outra de 2010, na minha visita de saudade.
São tiradas nos mesmos locais ou com as mesmas pessoas.
Fernando Gouveia
À esquerda, a sede do Batalhão e à direita os cafés, das Libanesas, do Neves e julgo que nessa altura já não existia o do Ti Bento.
Nota do editor
Último poste da série de 27 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11486: Memória dos lugares (231): Gadamael, 1970/72 (Vasco Pires)
Carlos
A pedido do Chefe Luís vou mandar mais fotos de Bafata.
Quase todas as fotos que tenho de há 40 anos já foram publicadas no Blogue, pelo que desta vez resolvi enviar uma série de vinte, em que são fotos duplas, uma de há 40 anos e a outra de 2010, na minha visita de saudade.
São tiradas nos mesmos locais ou com as mesmas pessoas.
Fernando Gouveia
BAFATÁ HÁ QUARENTA ANOS E EM 2010 (1)
Na Avenida Principal com o Geba ao fundo.
À esquerda, a sede do Batalhão e à direita os cafés, das Libanesas, do Neves e julgo que nessa altura já não existia o do Ti Bento.
No caminho que ia da Casa Gouveia até à mãe d’água, junto da casa do Comandante do Esquadrão.
Na esplanada do Café Transmontana.
Rua onde ficava o Cinema. Ao fundo e à esquerda era a piscina e o mercado.
Junto do camião vermelho era o restaurante do Sr. Teófilo e antes era a minha casa.
Mercado.
Zona das lavadeiras, o cais e mais atrás a piscina e o mercado.
Bafatá vista da estrada que ia para Geba, Banjara e Mansabá.
A antiga estrada, de terra, para Nova Lamego que saía junto do Sr. Teófilo e da minha casa.
____________Nota do editor
Último poste da série de 27 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11486: Memória dos lugares (231): Gadamael, 1970/72 (Vasco Pires)
Guiné 63/74 - P11522: Memórias de um capitão miliciano (António Vaz, cmdt da CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69) (3): A emboscada de Ponta Coli, em 14 de novembro de 1968, em que morreu o fur mil SMA Fernando Dias, e sofremos 15 feridos
Guiné > Setor L1 (Bmabadina) >Xime > CART 1746 > Copia do relatório da emboscada, realizada em 14 de novembro de 1968, em que morreu o fur mil SAM Fernando Maria Teixeira Dias. Documento da autoria de António Vaz, e por ele digitalizado.
Olá, camaradas
Quando estive no almoço anual da Tabanca em Monte Real em 2012, tive, entre outros bons momentos, a oportunidade de conhecer o camarada Jorge Araújo, também ele militar que passou pelo Xime e que sofreu, como eu e a minha CArt, a passagem pela Ponta Coli que ao longo da guerra se revelou um sítio nada recomendável.
Além da colaboração no Blog de J. Araújo, teve ele naquela ocasião a amabilidade de oferecer dois textos de sua autoria em que relatava minuciosamente e saborosamente as duas emboscadas no trajecto Xime/ Bambadinca. Nomeadamente entre Ponta Coli / Taliuara, podemos considerar sem grande erro, zona onde muitos de nós sofreu alguns dos maus momentos na Guiné.
Embora já tenha ouvido críticas à descrição de emboscadas como se de casos menores se tratassem, coisa que eu não acho, não quero deixar de dar o meu testemunho da que a CArt 1746 sofreu em 14 de Novembro de 1968 naquele local, cerca de 4 anos antes. Embora já tenha sido abordado pelo camarada Moreira este relato apenas o completa e confirma.
O relatório que junto foi o único documento que trouxe da Guiné e isso quererá dizer alguma coisa…
Passo assim a abordar o tema:
(1) Durante a permanência da CArt 1746 no Xime, de Janeiro de 68 a Junho de 69, fizeram-se, no mínimo, 820 vezes o percurso Xime/ Bambadincaa e volta no qual tivemos oito flagelações, sendo a citada de 14 de Novembro a mais grave.
(2) Este percurso nunca foi feito "à borla", tendo a Companhia, desde o princípio, tido a consciência que aquele era o percurso terrestre que nos ligava ao "resto do Mundo". Não houve dia nenhum em que o pessoal não o tivesse feito, sobrepondo-se à Milicia de Amedalai, à época comandada pelo Carfala, indivíduo em quem tinha a maior confiança, tendo sido esse pessoal que detectou uma mina junto ao pontão na extremidade da bolanha ao alvorecer do dia 1 de Janeiro de 69.
(3) No dia 14 de Novembro nada se fez de muito diferente pois só a hora de saída mudava, mas não muito. O pessoal a pé composto por 2 Secções acompanhava o grupo dos picadores, seguiram até Ponta Coli, sem nada detectar, tendo montado a segurança.
Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca > Subsetor do Xime > Carta do Xime (1955) > Escala 1/50 mil > A sempre temível Ponta Coli, à saída do Xime...O traçado a vermelho indica a antiga estrada Xime-Bambadinca, passando por Taliuara, Ponta Coli, Amedalai, ponte do Rio Udunduma... Em dezembro de 1970, ainda estava em construção a nova estrada, a cargo da Tecnil... Será inaugurada em 1971 ou 1972, já não no meu tempo...(Saí em março de 1971) (LG).
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013).
(4) Algumas considerações:
(i) Os primeiros tiros foram de armas ligeiras, logo seguidos por rockets. Saltei do Unimog (ou foi cuspido pela travagem brusca, seguindo eu sempre no "lugar do morto" normalmente com o pé direito no retrovisor) tendo um desses primeiros tiros atingido o condutor, comigo já no chão, o alvo portanto foi ele. A bala trespassou-o lado a lado sem atingir a coluna nem qualquer órgão vital.
(ii) A reacção do pessoal foi imediata, tendo alguns dos feridos sido atingidos por estilhaços dum rocket que acertou na longarina da viatura em que vinha. Lembro-me, ainda, da onda de choque do calor e do cheiro do explosivo, tendo as minhas calças a ficar ensanguentadas embora nada me doesse.
(iii) Algumas imagens que recordo: o bazuqueiro ( Ramos ?), de pé, a disparar enquanto teve granadas disponíveis; o Caç Nat. Tcherno Baldé com um ferimento na cara segurando o globo ocular; ouvia os tiros na Ponta Coli, o que significava que havia um grupo que atacava a segurança; a lama da laterite feita com o sangue dos feridos.
(iv) Com a chegada, precedida de tiros do pessoal do Xime que acorrera, à frente dos quais vinha o soldado Deodato apenas em cuecas, com a bazooka disparando sobre elementos que estavam na orla da mata tendo os tiros terminado.
(v) A lamentar acima de tudo os ferimentos em vários locais do corpo que vieram a causar a morte ao Furriel Fernando Dias, já no Xime enquanto aguardava, ele e os outros, pelos Helis para a evacuação. O Fur Dias, depois de já estar no chão e para se proteger, levantou-se, provavelmente para se abrigar melhor, e teve o azar de ser atingido. Contaram-me posteriormente outros Furrieis que a namorada que deixara na Metrópole, não quis acreditar na morte dele.
(vi) A batida feita à zona da parte da tarde pelo Pelotão do Alf [Gilberto] Madail encontrou do lado direito dum enorme baga-baga cartuchos vazios de G-3 e do lado esquerdo e oposto cartuchos vazios de 7.72 Soviet.
(vi) Junto ao sítio onde" aterrei " encontrou uma granada de mão de fabrico chinês, por rebentar, que ficou até ao fim da comissão em cima dum armário frente à minha mesa de trabalho.
(vii) Sem ser os casos anteriormente, todos lamentáveis, outro houve que teve grande gravidade: o Alferes António Teles não recuperou daquela acção. Manteve durante algum tempo um mutismo que não augurava nada de bom. Sendo uma pessoa reservada, essa reserva a meu ver tornava-se patológica. Respondia por monossílabos e tinha terrores por vezes nocturnos que punham em perigo a recuperação do pessoal. Contou-me o Furriel Martins que a meio da noite apareceu no abrigo empunhando a G-3, indagando onde estavam os aviões que não o deixavam dormir. Convenci o Alf Teles a ir comigo a Bambadinca falar com o médico Aferes David Payne, que merecia páginas de elogios, que o aconselhou a ficar lá uns dias até ir para Bissau. Daí foi evacuado no mesmo dia para Lisboa para o HMP que os soldados Antunes e Oliveira feridos na mesma emboscada. Só o voltei a ver no dia da chegada a Lisboa onde nos foi esperar e acompanhou até Torres Novas.
(viii) De notar que que da viatura em que seguia, apenas eu não fui evacuado.
(ix) Para finalizar: os minutos que durou a emboscada foram poucos mas os segundos pareciam não ter fim. Ainda hoje estou para saber porque escrevi no relatório ter sido atingido de raspão por um estilhaço quando, embora pequeno, se encontra ainda na minha perna. Mistério.
António Vaz
ex-cap mil art,
cmdt da CART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69)
[, foto da época, à esquerda]
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Nota do editor:
Último poste da série > 22 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11442: Memórias de um capitão miliciano (António Vaz, cmdt da CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69) (2): Op Pedra Rija (Poindom / Ponta Varela, 19-20 de maio de 1969): Há aí algum graduado do Pel Caç Nat 63 que tenha estado comigo quando fomos violentamente emboscados por um bigrupo IN, durante 40 m ?
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Nota do editor:
Último poste da série > 22 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11442: Memórias de um capitão miliciano (António Vaz, cmdt da CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69) (2): Op Pedra Rija (Poindom / Ponta Varela, 19-20 de maio de 1969): Há aí algum graduado do Pel Caç Nat 63 que tenha estado comigo quando fomos violentamente emboscados por um bigrupo IN, durante 40 m ?
Guiné 63/74 - P11521: Notas de leitura (477): Homem de Ferro, edição de autor, por Manuel Pires da Silva (1) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Janeiro de 2013:
Queridos amigos,
É graças à solicitude da Teresa Almeida, da biblioteca da Liga dos Combatentes que tenho tido acesso a estes segredos bem guardados.
Manuel Pires da Silva, reformado em sargento-mor, fez três comissões na Guiné e uma em Angola.
Este Homem Ferro é o depósito das suas memórias. Comove e enternece o que escreve sobre a sua infância e adolescência. O acervo informativo da sua primeira comissão é um caudal precioso que bem pode ser compaginado com os dados oficiais, descreve minuciosamente a subversão do Sul e o seu alastramento ao Xime e ao Morés, de 1962 para 1963. E pelo registo que nos deixa da sua segunda comissão, as escoltas nos rios encontravam uma agressividade permanente.
Temos aqui um ex-combatente com muito contado e para contar.
Um abraço do
Mário
Homem Ferro, Memórias de um combatente (1)
Beja Santos
As memórias do fuzileiro Manuel Pires da Silva trazem surpresas, uma delas é abrir novas perspetivas ao que se passou na Guiné em 1962, ninguém desconhece que as investigações dirigem-se sempre para os acontecimentos a partir de Janeiro de 1963, há como que uma nebulosa sobre os preparativos da subversão e a respetiva resposta do lado português. Manuel Pires da Silva conta-nos como se fez marujo, ele levou uma vida atribulada em Vale de Espinho, concelho do Sabugal, mourejou no campo, trabalhou com o pai numa oficina de carpinteiro de carros de bois, andou a furar batentes de portas com martelo e formão, fez a instrução primária, andou no contrabando e apanhou alguns sustos. Adolescente, veio com o irmão mais velho para Lisboa, deram-lhe trabalhos de construção civil, foi depois carpinteiro de cofragem, sentia-se desalentado, queria ir mais longe. Inscreveu-se na Marinha, fez a recruta em Vila Franca de Xira, aos 17 anos era segundo-grumete voluntário. Em 1961, foi frequentar o curso de Fuzileiro Especial, recebeu a boina.
É incorporado no DFE 2, destinado à Guiné, ali chega em Junho de 1962. Fazem guarda ao Palácio do Governador, levam prisioneiros do PAIGC para a Ilha das Galinhas, são mandados para o Sul, onde o PAIGC já desencadeava ações de sabotagem. A primeira operação de reconhecimento visava obter informações das gentes das tabancas de Campeane, Cacine, Gadamael Porto, entre outros lugares; seguem depois para Bula, havia fortes suspeitas de guerrilheiros infiltrados naquela zona. Descreve o efetivo da Marinha, ao tempo. O DFE 2 é pau para toda a obra: operação Darsalame; vão ao rio Corubal em lanchas de fiscalização, “chegam às tabancas e só veem velhos, mulheres e crianças, que fogem para todo o lado. Rebentam-se canoas, interrogam-se pessoas, mas ninguém sabe nada”. Em Dezembro vão até Caiar. “Quando se tentava contactar com a população da tabanca, surge o tiroteio, o primeiro contacto com as armas de fogo do inimigo. O comandante é ferido no pé direito, tendo sido o primeiro fuzileiro ferido em combate”. Pouco antes do Natal, voltam ao rio Corubal, os botes são postos na água e vai de subir o rio. “Passada cerca de meia hora após largar do navio ouvem-se rajadas de pistola-metralhadora”. E escreve adiante: “A situação agravava-se de dia para dia. O comandante-chefe andava preocupado, pois Lisboa não mandava reforços suficientes. Esta preocupação era partilhada pelo comandante da Defesa Marítima, capitão-de-fragata Manuel Mendonça”.
Em Março de 1963, fazem batidas nas áreas de S. João, Tite e Fulacunda, no mesmo mês em que os guerrilheiros se apoderaram dos navios “Arouca” e “Mirandela” perto de Cafine. A situação agrava-se no rio Cobade e Cumbijã, os guerrilheiros atacam ousadamente as embarcações. Na sequência do acidente aéreo que vitimou um piloto e levou à captura do sargento-piloto Lobato, os fuzileiros bateram a zona, encontraram o cadáver do piloto sinistrado e os restos do avião. “Os guerrilheiros tinham a população do Sul completamente controlada. Os fuzileiros estavam ali sozinhos a remar contra a maré”.
Em Julho, com o apoio de um pelotão de paraquedistas, passam Gampará a pente fino. É nisto que foi necessário acudir na área do Xime, todos os dias há fugas para o mato; em Junho, vão até à tabanca de Jabadá e são recebidos a tiro. O inimigo já desencadeia ações violentas a partir da mata do Oio. “Entretanto, a ilha do Como começa a tornar-se intransitável devido à presença dos guerrilheiros”; a tabanca de Jabadá continua em pé de guerra, a aviação lança bombas de napalm, para intimidar os guerrilheiros, o destacamento desembarca e só encontra velhos e miúdos feridos. A guerra surge à volta de Porto Gole, o inimigo não se deixa intimidar e reage com muito fogo, os fuzileiros sentem-se encurralados, aproveitando uma aberta, eles retiram e pedem apoio da aviação. No dia seguinte voltam, desta feita assaltam o objetivo. “Quando o bombardeamento pára, o destacamento arranca para o assalto final. Depara-se com mais de 50 casamatas, algumas crianças feridas, a chorar, e dois ou três velhos, também feridos. Recebem-se as informações que eles querem dar. Quando estão a retirar, recebem instruções da aviação, um grupo de guerrilheiros voltou ao objetivo”. Os fuzileiros conversam entre si, tanto esforço e o inimigo não se apresenta. A seguir a este relato, o DFE 2 anda numa completa dobadoira, seguem para Gã Vicente e descobrem um novo inimigo, as abelhas. Por esse tempo vão chegando à Guiné mais reforços, o DFE 7, mas a subversão ultrapassa a capacidade de tomar sempre a iniciativa, a fazer fé em tudo quanto ele escreve, o Sul não dá parança. Em Novembro, é por de mais evidente que o PAIGC controla as ilhas de Como, Cair e Catunco. A resposta é a operação Tridente em que o DFE 2 participa. O DFE 9 chega em finais de Fevereiro.
Tudo se agrava no rio Corubal, as embarcações são constantemente alvo de emboscadas, atacam navegação na Ponta do Inglês, e mesmo no canal do Geba. Volta-se à península de Gampará, vão com o apoio de forças terrestres, conclui-se que o inimigo não estava até então implantado no terreno. E depois atacam Cafal Balanta, Cafal Nalu e Santa Clara, há fogo do inimigo que só deixa de reagir quando chegam os T6. E no mês de Junho acabou a guerra para o DFE 2. Volta à metrópole, à Escola de Fuzileiros, é convidado para dar instrução. Em Outubro de 1965, lá vai Manuel Pires da Silva no DFE 13 a caminho de Luanda. Toda a gente o trata por Homem Ferro, ele não quebra nem desfalece, resiste a qualquer tormenta é quase metal rijo. Quando regressa e se apresenta na Escola de Fuzileiros, depois de pensar duas vezes, frequenta o curso de sargentos, aí o temos na segunda comissão na Guiné, em Fevereiro de 1969. Simpatiza com a novidade trazida por Spínola, o novo dispositivo da organização territorial do exército tem a finalidade de melhorar o controlo das forças de maior atividade. Agora faz escoltas, temos aqui um extenso relatório de idas e vindas a Bedanda, rios Cobade e Cumbijã, Catió, leva presos ao Tarrafal, depois faz uma estadia em Ganturé, participam em reconhecimentos na zona de Sambuia. É numa dessas operações que desertam três marinheiros, foram de armas e bagagens para o Senegal. “Passados cerca de 15 dias, os três desaparecidos enviam duas ou três fotos da Holanda, dizendo ao pessoal que para eles tudo corria às mil maravilhas. O Homem Ferro voltaria a encontrar o Alfaiate em Bissau, tempos depois. Tinha-se apresentado voluntariamente, arrependido, e andava, com todo o secretismo, envolvido na preparação da operação Mar Verde. Chegariam mais tarde notícias de que ele se tinha enforcado devido à pressão que a DGS vinha exercendo sobre ele, a mesma DGS que, de acordo com uma outra notícia, teria liquidado o Pinto. Dos três apenas ficou o Santieiro, com quem o Homem Ferro gostaria de falar, caso esteja ainda vivo”.
“Homem Ferro, Memórias de um combatente”, por Manuel Pires da Silva, edição de autor, Maio de 2008, é uma agradável surpresa que comprova que os livros de memórias nunca devem ser esquecidos pelos historiadores.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 29 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11502: Notas de leitura (476): Triângulo Nublado, de J. Loufar (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
É graças à solicitude da Teresa Almeida, da biblioteca da Liga dos Combatentes que tenho tido acesso a estes segredos bem guardados.
Manuel Pires da Silva, reformado em sargento-mor, fez três comissões na Guiné e uma em Angola.
Este Homem Ferro é o depósito das suas memórias. Comove e enternece o que escreve sobre a sua infância e adolescência. O acervo informativo da sua primeira comissão é um caudal precioso que bem pode ser compaginado com os dados oficiais, descreve minuciosamente a subversão do Sul e o seu alastramento ao Xime e ao Morés, de 1962 para 1963. E pelo registo que nos deixa da sua segunda comissão, as escoltas nos rios encontravam uma agressividade permanente.
Temos aqui um ex-combatente com muito contado e para contar.
Um abraço do
Mário
Homem Ferro, Memórias de um combatente (1)
Beja Santos
As memórias do fuzileiro Manuel Pires da Silva trazem surpresas, uma delas é abrir novas perspetivas ao que se passou na Guiné em 1962, ninguém desconhece que as investigações dirigem-se sempre para os acontecimentos a partir de Janeiro de 1963, há como que uma nebulosa sobre os preparativos da subversão e a respetiva resposta do lado português. Manuel Pires da Silva conta-nos como se fez marujo, ele levou uma vida atribulada em Vale de Espinho, concelho do Sabugal, mourejou no campo, trabalhou com o pai numa oficina de carpinteiro de carros de bois, andou a furar batentes de portas com martelo e formão, fez a instrução primária, andou no contrabando e apanhou alguns sustos. Adolescente, veio com o irmão mais velho para Lisboa, deram-lhe trabalhos de construção civil, foi depois carpinteiro de cofragem, sentia-se desalentado, queria ir mais longe. Inscreveu-se na Marinha, fez a recruta em Vila Franca de Xira, aos 17 anos era segundo-grumete voluntário. Em 1961, foi frequentar o curso de Fuzileiro Especial, recebeu a boina.
É incorporado no DFE 2, destinado à Guiné, ali chega em Junho de 1962. Fazem guarda ao Palácio do Governador, levam prisioneiros do PAIGC para a Ilha das Galinhas, são mandados para o Sul, onde o PAIGC já desencadeava ações de sabotagem. A primeira operação de reconhecimento visava obter informações das gentes das tabancas de Campeane, Cacine, Gadamael Porto, entre outros lugares; seguem depois para Bula, havia fortes suspeitas de guerrilheiros infiltrados naquela zona. Descreve o efetivo da Marinha, ao tempo. O DFE 2 é pau para toda a obra: operação Darsalame; vão ao rio Corubal em lanchas de fiscalização, “chegam às tabancas e só veem velhos, mulheres e crianças, que fogem para todo o lado. Rebentam-se canoas, interrogam-se pessoas, mas ninguém sabe nada”. Em Dezembro vão até Caiar. “Quando se tentava contactar com a população da tabanca, surge o tiroteio, o primeiro contacto com as armas de fogo do inimigo. O comandante é ferido no pé direito, tendo sido o primeiro fuzileiro ferido em combate”. Pouco antes do Natal, voltam ao rio Corubal, os botes são postos na água e vai de subir o rio. “Passada cerca de meia hora após largar do navio ouvem-se rajadas de pistola-metralhadora”. E escreve adiante: “A situação agravava-se de dia para dia. O comandante-chefe andava preocupado, pois Lisboa não mandava reforços suficientes. Esta preocupação era partilhada pelo comandante da Defesa Marítima, capitão-de-fragata Manuel Mendonça”.
Em Março de 1963, fazem batidas nas áreas de S. João, Tite e Fulacunda, no mesmo mês em que os guerrilheiros se apoderaram dos navios “Arouca” e “Mirandela” perto de Cafine. A situação agrava-se no rio Cobade e Cumbijã, os guerrilheiros atacam ousadamente as embarcações. Na sequência do acidente aéreo que vitimou um piloto e levou à captura do sargento-piloto Lobato, os fuzileiros bateram a zona, encontraram o cadáver do piloto sinistrado e os restos do avião. “Os guerrilheiros tinham a população do Sul completamente controlada. Os fuzileiros estavam ali sozinhos a remar contra a maré”.
Em Julho, com o apoio de um pelotão de paraquedistas, passam Gampará a pente fino. É nisto que foi necessário acudir na área do Xime, todos os dias há fugas para o mato; em Junho, vão até à tabanca de Jabadá e são recebidos a tiro. O inimigo já desencadeia ações violentas a partir da mata do Oio. “Entretanto, a ilha do Como começa a tornar-se intransitável devido à presença dos guerrilheiros”; a tabanca de Jabadá continua em pé de guerra, a aviação lança bombas de napalm, para intimidar os guerrilheiros, o destacamento desembarca e só encontra velhos e miúdos feridos. A guerra surge à volta de Porto Gole, o inimigo não se deixa intimidar e reage com muito fogo, os fuzileiros sentem-se encurralados, aproveitando uma aberta, eles retiram e pedem apoio da aviação. No dia seguinte voltam, desta feita assaltam o objetivo. “Quando o bombardeamento pára, o destacamento arranca para o assalto final. Depara-se com mais de 50 casamatas, algumas crianças feridas, a chorar, e dois ou três velhos, também feridos. Recebem-se as informações que eles querem dar. Quando estão a retirar, recebem instruções da aviação, um grupo de guerrilheiros voltou ao objetivo”. Os fuzileiros conversam entre si, tanto esforço e o inimigo não se apresenta. A seguir a este relato, o DFE 2 anda numa completa dobadoira, seguem para Gã Vicente e descobrem um novo inimigo, as abelhas. Por esse tempo vão chegando à Guiné mais reforços, o DFE 7, mas a subversão ultrapassa a capacidade de tomar sempre a iniciativa, a fazer fé em tudo quanto ele escreve, o Sul não dá parança. Em Novembro, é por de mais evidente que o PAIGC controla as ilhas de Como, Cair e Catunco. A resposta é a operação Tridente em que o DFE 2 participa. O DFE 9 chega em finais de Fevereiro.
Tudo se agrava no rio Corubal, as embarcações são constantemente alvo de emboscadas, atacam navegação na Ponta do Inglês, e mesmo no canal do Geba. Volta-se à península de Gampará, vão com o apoio de forças terrestres, conclui-se que o inimigo não estava até então implantado no terreno. E depois atacam Cafal Balanta, Cafal Nalu e Santa Clara, há fogo do inimigo que só deixa de reagir quando chegam os T6. E no mês de Junho acabou a guerra para o DFE 2. Volta à metrópole, à Escola de Fuzileiros, é convidado para dar instrução. Em Outubro de 1965, lá vai Manuel Pires da Silva no DFE 13 a caminho de Luanda. Toda a gente o trata por Homem Ferro, ele não quebra nem desfalece, resiste a qualquer tormenta é quase metal rijo. Quando regressa e se apresenta na Escola de Fuzileiros, depois de pensar duas vezes, frequenta o curso de sargentos, aí o temos na segunda comissão na Guiné, em Fevereiro de 1969. Simpatiza com a novidade trazida por Spínola, o novo dispositivo da organização territorial do exército tem a finalidade de melhorar o controlo das forças de maior atividade. Agora faz escoltas, temos aqui um extenso relatório de idas e vindas a Bedanda, rios Cobade e Cumbijã, Catió, leva presos ao Tarrafal, depois faz uma estadia em Ganturé, participam em reconhecimentos na zona de Sambuia. É numa dessas operações que desertam três marinheiros, foram de armas e bagagens para o Senegal. “Passados cerca de 15 dias, os três desaparecidos enviam duas ou três fotos da Holanda, dizendo ao pessoal que para eles tudo corria às mil maravilhas. O Homem Ferro voltaria a encontrar o Alfaiate em Bissau, tempos depois. Tinha-se apresentado voluntariamente, arrependido, e andava, com todo o secretismo, envolvido na preparação da operação Mar Verde. Chegariam mais tarde notícias de que ele se tinha enforcado devido à pressão que a DGS vinha exercendo sobre ele, a mesma DGS que, de acordo com uma outra notícia, teria liquidado o Pinto. Dos três apenas ficou o Santieiro, com quem o Homem Ferro gostaria de falar, caso esteja ainda vivo”.
“Homem Ferro, Memórias de um combatente”, por Manuel Pires da Silva, edição de autor, Maio de 2008, é uma agradável surpresa que comprova que os livros de memórias nunca devem ser esquecidos pelos historiadores.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 29 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11502: Notas de leitura (476): Triângulo Nublado, de J. Loufar (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P11520: Parabéns a você (571): Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAV 3366 (Guiné, 1971/73)
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Nota do editor
Último poste da série de 1 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11510: Parabéns a você (570): José Carlos Neves, ex-Soldado Radiotelegrafista do STM (Guiné, 1974)
Nota do editor
Último poste da série de 1 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11510: Parabéns a você (570): José Carlos Neves, ex-Soldado Radiotelegrafista do STM (Guiné, 1974)
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