Sexagésimo quinto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.
Resumo do sexto dia
Usavam botas altas e chapéu à cowboy, sujas de terra e
lama, mas falavam pelo telefone “Geração 5”, eram um
simpático casal de agricultores, rostos “corados”, como se
dizia na minha aldeia, naquele tempo, das pessoas que
eram um pouco fortes na estatura e nós dizíamos que
mostravam saúde, tanto um como outro, nos intervalos do
telefone, gesticulavam, caminhando de um
lado para o outro,
até meterem
conversa
connosco.
Nós, pacientes,
esperávamos que
um mecânico nos
fizesse um serviço
de rotina, no Jeep
e na Caravana, pois além de sempre terem rolado sem
qualquer problema, adaptando-se muito bem ao terreno,
que podia ser suave ou acidentado, mas já lá iam
algumas centenas de milhas e havia que trocar o filtro e o
óleo ao Jeep e
revisar todo o
sistema, pois a
partir daqui iríamos
rolar em
estradas quase
desertas e as
nossas vidas
dependiam da
“saúde” do Jeep,
que se portou
sempre muito
bem, mesmo nas
“aflições” do tráfico ou no acidentado do terreno.
Mas, continuando, aquele simpático casal, que também
esperava pelos
serviços do
mecânico, oriundo
e residente na
província de Alberta,
agricultores, dizia-nos
com um certo
orgulho, que Alberta
possui uma das
economias mais
fortes e influentes do Canadá, dizia-nos mesmo que as
suas quintas abastecem todo o Canadá, em outras
palavras, é Alberta que dá de comer a todo o país. Sabendo que
éramos oriundos
da Florida, nos
USA,
convidaram-nos a
ir à sua quinta,
passar um dia
com eles, ver o
que produziam e
como
sobreviviam,
principalmente
na época de
inverno, em que dois poços de petróleo, que tinham na
sua quinta, eram parte da sua sobrevivência e, diziam-nos,
num inglês com algumas palavras em
francês pelo meio, que só podiam vender um tanque de
óleo em bruto, saindo lá das “entranhas” da sua quinta,
por semana, esse
“nós” era talvez
referindo-se a sermos
do lado lá, dos
USA, só lhe
comprávamos um
tanque por semana,
pois “nós”, ouvimos,
não sabendo qual
era o tamanho do tal tanque que lhe comprávamos por
semana, trocámos endereços, ficando sem saber o que
nos diziam em idioma francês, mas a sua cara e gestos,
mostravam simpatia. Agradecemos muito a gentileza, mas
não nos queríamos desviar do nosso programa, pois o
nosso destino era o norte.
Tudo isto aconteceu num estabelecimento credenciado
de mecânica, pois foi o que fizemos logo pela manhã,
ainda na cidade de Red Deer, tomando de seguida o
destino do norte, desviando-nos por estradas
secundárias, por indicação dos nossos recentes amigos,
que nos guiaram por alguns quilómetros, deixando-nos,
levantando o braço de dentro da cabine da sua potente
“pick-up”, com um forte “bonne chance à l’Alaska”, em
idioma francês, (boa sorte até ao Alaska) já perto da
estrada número 43, em direcção ao nosso destino, que
era a cidade de Dawson Creeck, lá no norte, que nos
haveria de dar acesso ao famoso “Alaska Highway”.
Lá fomos, viajando sempre na província de Alberta, que é
uma das dez províncias do Canadá, criada no ano
de 1905, quando se separou dos “Territórios do Noroeste”,
que eram parte das “Províncias das Pradarias” e das
“Províncias Ocidentais”, assim sendo, no passado ano de
2005, Alberta celebrou seu centenário como província.
Também nos dizem que esta província possui duas
grandes cidades, uma é Calgary, a maior cidade de
Alberta e a capital financeira da província, e a outra, que
é Edmonton, a capital política e industrial. A
província é uma grande produtora de petróleo e de gás
natural. Alberta produz mais de 70% do petróleo e do gás
natural do Canadá, sendo boa parte destes recursos
naturais exportados para os USA, além disso, a
agropecuária, a indústria de manufaturação, finanças e o
turismo também possuem grande importância para a
economia da desta província.
A região onde actualmente Alberta está
localizada, pertencia anteriormente à “Companhia da
Baía de Hudson, mas em 1870, esta Companhia cedeu os seus territórios ao governo do
Canadá, e estes passaram a ser chamados de “Territórios
do Noroeste”, ocupando a região onde atualmente estão
as províncias de Alberta, Manitoba, Nunavut e
Saskatchewan. Em 1882, o governo canadense nomeou
a região da atual Alberta de “Alberta”, em homenagem à
princesa Louise Caroline Alberta, filha da Rainha Victoria
do Reino Unido.
Continuando, percorremos planícies, algumas montanhas,
zonas desertas, vendo poços de petróleo trabalhando,
manadas de gado bovino, quintas em funcionamento,
máquinas agrícolas com o pessoal trabalhando, com o
trânsito a ficar mais escasso, onde por vezes viajávamos
sozinhos, por uma distância de muitos quilómetros, tudo
isto, aproximando-nos mais do norte.
As estações de serviço iam sendo mais raras, o preço da
gasolina ia subindo, em muitos lugares, sabendo que éramos
provenientes dos USA, não aceitavam, ou não
tinham sistema de “credit card”, pagávamos em dólar
americano e davam o troco em dólar canadiano, nós
sempre que víamos uma estação de serviço aberta,
parávamos e comprávamos gasolina, água para beber,
fruta, pão ou biscoitos, claro, quando havia.
Já muito perto das onze horas da noite, ainda havia algum
sol, a poucos quilómetros da cidade
de Dawson Creek, num local onde a estrada formava um
grande espaço livre numa zona em reparação, não tendo encontrado antes nenhum parque de campismo, já nos preparávamos
para ali mesmo instalar a nossa caravana para dormirmos, quando uns trabalhadores
da
construção
da
estrada,
que viviam
numa
casa/contentor,
nos
disseram
que havia,
uns
quilómetros
à frente, na povoação de Beaverlodge, ainda na província de
Alberta, um Motel onde podíamos descansar e tomar banho. Foi o que fizemos, num motel muito original, pois
no mesmo edifício estava localizada uma loja de bebidas,
que estava aberta 24 horas por dia, o que devia de ser
normal, pois naquela povoação, nesta época do ano, lá no
norte, era quase sempre de dia.
Neste dia percorremos 448 milhas, com o preço da
gasolina a variar entre $1.32 e $1.72 o litro.
Tony Borie, Agosto de 2014.
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Nota do editor
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