terça-feira, 7 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23334: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXVI: O "meu" regresso à Guiné (2): Os Bijagós que muitos de nós nunca vimos - Parte I


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá >  Saltinho > 2008 >A engenharia (sendo o Tiago Costa o segundo da esquerda) bebendo umas cervejas no antigo "Clube de Oficiais no Saltinho"



Foto nº 2


Foto nº 2 A


Foto nº 2B

Fotos nº 2, 2A e 2B  > Guiné-Bissau > Região de Bafatá >  Saltinho > Rio Corubal > A engenharia foi a banhos nos rápidos do Saltinho 










Joaquim Costa, hoje e ontem. Natural de V. N. Famalicão,
vive em Fânzeres, Gondamar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado. Foi também professor e adminsitrador escolar no  ensino secundário  (os últimos 20 anos em Gondomar

Já saiu o seu livro de memórias (a sua história de vida),
de que temos estado a editar largos excertos, por cortesia sua.
Tem um pósfácio da autoria do nosso editor Luís Graça. Será apresentado dia 11 de junho, sábado, na Tabanca dos Melros, em Fânzeres, Gondomar (*).



Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) (*)


Parte XXVI - O "meu" regresso à Guiné (2):  Os Bijagós, que muitos de nós nunca vimos - Parte I (**)



Enfim! Pontes e não mais muros, sejam eles de betão ou de arame farpado.

Mas só pontes não bastam, mais que tudo é preciso educação… paz, pão, habitação…Liberdade...

A Guiné entranhou-se de tal forma no nosso corpo que a tudo o que aí acontece os nossos sentidos reagem. Ansiamos mais que tudo por boas notícias, que infelizmente tardam a chegar.

Este poste  mostra as extraordinárias potencialidades deste país que teima em não encontrar o caminho da paz e do desenvolvimento. Meio século após a proclamação da independência as notícias que ainda chegam são de guerra. Não contra um inimigo externo, mas sim, inexplicavelmente, uma guerra fratricida sem fim.

Como já alguém disse (com muita propriedade) a Guiné não nos sai da cabeça... Extraordinário a quantidade de ONG criadas por ex combatentes na ajuda ao desenvolvimento desta terra, que se nos entranhou.

Eis a Guiné que muitos de nós nunca viu Ue de que chema imagens atrvavès do Tiago Costa, meu filho Tiago, engenheiro civil da Soares da Costa,  que esteve a a trabalhar na Soares da Costam na Guiné, de 2007 a 2009, na construção de uma ponte sobre o rio Cacheu, junto a S. Vicente, financiada pela União Europeia, a pomte



A visita ao Arquipélago dos Bijagós  (por intreposta pessoa, neste caso o Tiago Costa, meu filho) > Ano de 2008 > Num fim de semana de descanso na construção da ponte de S. Vicente (Ponte Europa) - Parte I




Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque >  2008 >  A mulher dos Bijagós: “O que dizem os teus olhos”?



Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 >  Dia de festa (creio que o carnaval)...“Manga de Ronco”!!


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque >  2008 > Em dia de festa a melhor indumentária...para impressionar as Bajudas!!!


Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Não parece mas estamos na Guiné. Um resort numa das Ilhas paradisíacas dos Bijagós.


Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Ainda há encantos destes...


Foto nº 8 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Aves marinhas...


Foto nº 9 > Guiné-Bissau > Arquipélago de Bijagós > Bubaque > 2008 > Encantos de recantos...



Fotos (e legendas) © Tiago Costa / Joaquim Costa (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23245: Agenda cultural (811): Tabanca dos Melros, Fânzeres, Gondomar, 11 de junho de 2022, sábado, 11h00: Luís Graça apresenta o livro do Joaquim Costa, "Memórias de Guerra de um Tigre Azul"

Guiné 61/74 - P23333: Carta aberta a... (16): José Belo, um intelectual contemporâneo luso, sueco-lapão-americano, hábil a usar palavras (Francisco Baptista, transmontano de Brunhoso)

Paisagem com Brunhoso ao fundo


1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616 / BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 5 de Junho de 2022:

Foram atraídos pela luz forte que iluminava as grandes capitais europeias. Foi no século XVIII, conhecido pelo Século das Luzes. Partiram para além dos Pirinéus, onde sopravam ventos carregados de novas ideias e conceitos que favoreciam o desenvolvimento das novas ciências, da filosofia e das artes e reclamavam por mudanças políticas, que foram acontecendo nesse e nos séculos seguintes. Vou nomear somente alguns, talvez os mais conhecidos:
Luís António Verney, pedagogo;
Ribeiro Sanches, médico, filósofo;
Luís da Cunha, jurista, formado em Cânones;
Marquês de Pombal, político;
Cândido Lusitano, literato.

Os Estrangeirados, assim designados, partiram em busca desse alimento espiritual, como os nossos marinheiros, séculos antes, tinham partido à procura de novas terras.
Na nossa história, sempre houve, continua a haver, aventureiros, muitos à procura do pão que lhes faltava para alimentar as suas proles, outros à procura da liberdade, quando os ares da Pátria se tornavam tóxicos, de outros conhecimentos e de outras culturas.

Recordo Eduardo Lourenço, pensador e filósofo, falecido recentemente, Eça de Queiroz, Agostinho da Silva, Miguel Torga, Ferreira de Castro e muitos outros, artistas, cientistas, gestores e investigadores.

Do nosso blogue admirei sempre e relacionei-me com os estrangeirados que conheci, o Vasco Pires, infelizmente já falecido, tal como eu com raízes rurais, muito culto e bom conhecedor da Pátria, professor numa Universidade do Brasil, o José Câmara grande açoriano, homem bom e religioso, que eu julgo ser santo, a viver nos Estados Unidos.
Tu, amigo José Belo, que como jurista internacional conheces toda a arquitectura da antiga Grécia e do império Romano, os conflitos que houve e continua a haver entre as nações e a psicologia complicada dos homens, sempre a reclamar por justiça.

És um intelectual contemporâneo luso, sueco-lapão-americano, travestido de Fernando Pessoa, o poeta português mais internacional. Nem sempre é fácil decifrar-te porque tu és hábil a usar as palavras e sabes esconder-te atrás delas, enquanto eu me descubro ao usá-las, por isso alguns citadinos me chamam ingénuo. Tu és um erudito muito viajado, um cosmopolita, que pelo que dizes e calas quando escreves, pelo teu fino sentido de humor, podias e devias escrever um grande livro, matéria não te deve faltar, que seria muito apreciado por todos os que te conhecem.

Eu nascido e criado no norte, entre montes, por ter o pão, o caldo, o presunto, o toucinho e as batatas asseguradas e não me terem habituado aos trabalhos mais duros do campo, não me aventurei a sair como os emigrantes económicos, a maior parte sem meios de subsistência garantida. Como os intelectuais, gostaria de conhecer outras gentes com costumes, tradições e hábitos diferentes, mas o meu fraco conhecimento de línguas estrangeiras, aliado às dificuldades que previa em conseguir meios de subsistência, não me deram asas para dar esse salto.

Mais contemplativo do que activo, por cá fiquei a admirar as ruas, praças, o Douro, o mar, prédios, praças e avenidas, "O Porto é belo carago!"  Vim para cá trabalhar na função pública, outra tropa, a acrescentar aos 39 meses de regime hierárquico militar. A Função Pública é tal como a Instituição Militar e a Igreja Católica, a Instituição mais antiga, com mais de 2000 anos, Todas as outras a copiaram. No cima da pirâmide com muitos degraus, estava Deus, um general, um diretor-geral ou chefe do Governo, outros com menos importância, à medida que se ia descendo,   e os escravos na base. Sobe-se na hierarquia de acordo com o tempo de trabalho e com as vénias e beija-mãos feitas aos bispos, diretores-gerais, coronéis e generais "Aponta Bruno",  alguém dizia.

Quando me reformei , cansado de tantos galões, mitras de tanta solenidade, pompa e circunstância, lembrei-me de como era boa, simples e saudável a vida na minha aldeia, e como os homens eram respeitadores sem serem subservientes. Havia muita solidariedade entre os mais abastados e os mais pobres, sem que isso impedisse porém a necessidade de ter que existir emigração.

Salazar, nascido no meio rural, educado por padres da igreja, com hábitos espartanos e frugais, terá conhecido e admirado estas sociedades de subsistência, que sendo pobres formavam homens muito trabalhadores e com grande carácter. Quando criou o regime do Estado Novo terá sido o modelo que sonhou para todo o país e deliberadamente terá procurado manter o povo na miséria.

As pessoas da minha terra, objectiva e subjectivamente, na minha infância e juventude, distinguiam-se entre todas as povoações em redor pelo trabalho abnegado e outras qualidades. Pareciam felizes e conformadas com o seu destino, mesmo os trabalhadores da terra, com um trabalho duro e mal pago, mas havia épocas em que as bocas a alimentar eram superiores à alimentação que sobrava para eles, e a emigração inevitavelmente surgia como um fantasma que separava as famílias para sempre. O regime salazarista foi injusto e miserável para os pobres.

Outras análises já fiz, algumas parecidas com esta, pelo que não me vou alongar mais. Sou um pouco um produto desta sociedade rural, já bastante poluído por outras influências e relacionamentos, como diferentes são as novas gerações, por causa da grande emigração dos anos 60 e 70, da globalização e dos média que invadiram todo o planeta.

Abraço
Francisco Baptista

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Nota do editor

Vd. poste de 31 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23315: Carta aberta a... (15): ... ao camarada e escritor português Francisco Baptista (José Belo, estrangeirado)

segunda-feira, 6 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23332: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (3): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte II: Inimigo, atividade militar


O emblema da CCAV 8350 (Guileje, 1972/73), "Piratas de Guileje", om o signo da morte por mote, concebido pelo J. Casimiro Carvalho, fur mil op esp.,   em 1972.  


Teor de uma carta enviada pelo J. Casimiro Carvalho aos pais, datada de Cacine, um dia depois da retirada de Guileje

Guileje está à mercê deles!

Cacine, 22/5/73:

Queridos pais: Vou-lhes contar uma coisa difícil de acreditar como vão ter oportunidade de ler: Guileje foi abandonada [a bold, no original], ainda não sei se foram os soldados que se juntaram todos e abandonaram o quartel, ou se foi ordem dada pelo Comandante-Chefe, mas uma coisa é certa: GUILEJE ESTÁ À MERCÊ ‘DELES’ [, em maíusculas, no original].

Não sei se as minhas coisas todas estão lá, ou se os meus colegas as trouxeram. Tinha lá tudo, mas paciência.

Se foi com ordem de Bissau que se abandonou a nossa posição, posso dar graças a Deus e dizer que foi um milagre, mas se foi uma insubordinação, nem quero pensar…

Mas… já não volto para lá!!! Não tinha dito ainda que Guileje era bombardeada pelos turras há vários dias e diversas vezes por dia. Os soldados e outros não tinham pão, nem água. Comida era ração de combate e não se lavavam. Sempre metidos nos abrigos e nas valas. A situação era impossível de sustentar. Vosso para sempre (…). (Fonte: Poste P1784, de 24 de maio de 2007).
  
(Cortesia de J. Casimiro Carvalho, 2007)



A "arma que mudou a guerra", o míssil terra-ar Strela, de origem russa, introduzido na Guiné depois da morte de Amílcar Cabral, em 20 de janeiro de 1973, na sequência da escalada da guerra

SA 7- Grail (designação NATO), míssil terra-ar, de origem russa (9k 32 Strela 2), desenhado por volta de 1964 e operacional em 1968. 

(...) "A evolução da guerra colonial na Guiné tomou um rumo dramático em 1973-74, quando o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) adquiriu a última versão do míssil soviético terra-ar SA-7 (Strela-2M). A utilização desta arma pela guerrilha provocou profundas alterações no emprego da aviação e na eficácia das operações aéreas. Aproveitando os efeitos tácticos do míssil, que tiveram reflexos estratégicos, os guerrilheiros lançaram várias operações de grande envergadura e a guerra entrou numa fase muito delicada. Surpreendida, inicialmente, a Força Aérea tomou rapidamente várias contramedidas que reduziram a eficácia do míssil. Que impacto teve, verdadeiramente, na actividade aérea e qual o efeito das contramedidas adoptadas é o que se pretende analisar neste artigo. (...)

(...) É inegável que o aparecimento do míssil na Guiné teve consequências nas operações aéreas e no uso do poder aéreo, mas as várias contramedidas adoptadas, ao longo do ano, surtem efeito, pois mais nenhum avião volta a ser abatido até ao final de 1973, embora as equipas de mísseis continuem activas dando cobertura às acções no terreno.

Desde finais de abril até dezembro de 1973, são referenciados 15 disparos contra aviões Fiat, mas nenhum avião é atingido (...) . Este indicador mostra que os pilotos da BA12 conseguiram, ao longo do resto do ano, contornar a ameaça antiaérea e recuperar o controlo sobre a generalidade das acções de apoio que prestavam às forças terrestres. (...) (*)



1. A Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974), mais conhecida pelo acrónimo CECA, fez um trabalho notável de recolha, análise e sistematização da informação sobre o dispositivo e a actividade operacional no TO da Guiné, por anos e por contendores (NT e PAIGC). O título genérico é Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (e abrange os diversos teatros de operações, Angola, Guiné e Moçambique).

Referimo-nos, em particular, ao 6.º Volume (Aspectos da Actividade Operacional), Tomo II (Guiné), e aos seus três livros. Este trabalho, relevante para a historiografia militar, merece ser conhecido (ou melhor conhecido) dos nossos leitores, e em particular os antigos combatentes. 

Com um ano de antecedência estamos já recordar uma importante efeméride os 50 anosndos acontecimentos político-militares de 1973, e em particular de maio/junho de 1973, à volta de 3 aquartelamentos fronteiriços emblemáticos (Guidaje, Guileje e Gadamael). 

Foram meses e meses de brasa: o assassinato de Amílcar Cabral, em 20/1/1973, a utilização do míssil terra-ar Strela contra a nossa aviação, pela primeira vez, em 25/3/1973, o fim do mandato Spínola como com-chefe e governador geral em 6/8/1973, a proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau em 24/9/1973, etc.. (**de )

O ano de 1973 será recordado como um "annus horribilis" para os dois beligerantes... que sabiam que nunca poderiam ganhar a guerra pela simples força das armas. O PAIGC perdeu o seu histórico e carismático líder, Amílcar Cabral, assassinado fria e cobardemente por um dos seus homens, formatado pela escola militar soviética.

Por seu turno, Spínola regressou a casa, cabisbaixo, sem poder ver concretizada uma solução negociada do conflito, que seria sempre uma solução mais política do que militar. Na metrópole, os "ultras" do regime não lhe perdoam as suas veleidades "federalistas" e a tentativa (gorada) de "negociar" com os "inimigos da Pátria" a secular soberania portuguesa sobre os seus territósrios ultramarinos.

Aqui vai, para os nossos leitores mais interessados na visão integrada dos acontecimentos, a continuação da publicação um excerto do referido trabalho da CECA. É também uma ocasião para lembrar os bravos que passaram por Guidale, Guileje e Gadamael, entre outros aquartelamentos que se destacaram nesta guerra.

É bom lembrar que, "do outro lado do combate" (usando uma expressão grafada pelo nosso coeditor Jorge Araujo), resta muito pouca informação documental, comparada com a que temos no Arquivo Histórico.Militar... "O arquivo do PAIGC existente em Bissau, justamente referente aos aspectos operacionais, desapareceu quase completamente, destruído em grande parte pelas tropas senegalesas aquando da guerra civil de 1998, bem como a maioria dos documentos do INEP (72,3 % dos arquivos históricos destruídos!)".(**)

Além disso, os poucos documentos sobreviventes, do espólio de Amílcar Cabral, foram entregues pela sua viúva aos arquivos da República de Cabo Verde e à Fundação Mário Soares, onde foram  objecto de um notável e minucioso trabalho de recuperação e digitalização,  integrados no Arquivo Amílcar Cabral  

Os jovens guineenses, nascidos já depois da independência, se quiserem conhecer a história recente do seu país, vão ter que recorrer também a fontes portuguesas como estas, que resultaram do gigantesco trabalho da CECA. E, modéstia àparte, também a este blogue que fez, em 23 de abril de 2022, 18 anos de existência. Um blogue que pretende continuar a ser uma fonte de partilha de memórias, informação e conhecimento entre Portugal, a Guiné-Bissau e Cabo Verde, e nomeadamente entre antigos combatentes que fizeram a guerra colonial (Guiné, 1961/74).


CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 1. INIMIGO

1.2.
Actividade militar


O ano de 1973 constituiu marco importante também na vertente militar do inimigo, se bem que a morte de Amílcar Cabral tenha provocado alguma desorganização militar e logística iniciais e mesmo assinaláveis dissidências entre cabo-verdianos e guinéus, tendo-se verificado agressões, assassinatos e roubos.

No início do ano a actividade principal da iniciativa do inimigo caracterizou- se por ataques aos aquartelamentos das nossas tropas no norte e no leste e mais reduzidos no sul, na sequência dos procedimentos registados no ano anterior.

Paralelamente, a actividade operacional empenhou-se também em criar dificuldades às nossas tropas nos trabalhos de alcatroamento das estradas, particularmente nas estradas Jugudul - BambadincaNova Lamego - Piche -- BuruntumaBinta - Guidaje, e Cadique - Jemberém, onde foram montadas emboscadas e engenhos explosivos contra as nossas tropas.

Em Janeiro, o número de engenhos explosivos implantados aumentou 152% e a actividade inimiga, no seu conjunto, provocou às nossas tropas algumas baixas, mas em número inferior à média mensal de 7 mortos e 70 feridos registados no ano de 1972.

As alterações nos objectivos de ordem táctica e estratégica decididos pela nova cúpula do PAIGC e os novos meios militares de que o inimigo passou a dispor, alteraram profundamente a relação de forças no terreno, materializada nos seguintes aspectos essenciais:

(i) no inimigo passou a privilegiar o incremento da luta armada relativamente à actividade política externa;

(ii) a luta armada passou a concentrar elevados meios materiais e humanos contra algumas guarnições das NT previamente seleccionadas, em detrimento de acções de guerrilha dispersas;

(iii) o inimigo reforçou-se fortemente em efectivos e armamento e reviu a sua doutrina e a orgânica de modo a adaptar-se aos novos materiais de que passou a dispor: entre o armamento introduzido, destaca-se a nova arma antiaérea - o míssil SA-7 "Strela";

(iv) concentrou efectivos de vulto na região do Boé, a leste da Província, com o suposto propósito de ali defender a todo o custo a sua primeira "região libertada" e estabelecer a fisionomia do novo Estado.

A opção dos dirigentes do PAIGC em incrementar a luta armada, para além do empenho dos novos dirigentes nesse sentido, considera-se também um imperativo das circunstâncias, dada a maior influência que Sekou Touré passou a exercer no partido, após a morte de Amílcar Cabral.

Com o fim de rentabilizar as acções de fogo das suas armas pesadas e melhorar os resultados obtidos nos ataques aos aquartelamentos das NT, o inimigo nomeou especialistas para frequentar cursos no estrangeiro. 

URSS treinou guerrilheiros do PAIGC em Simferopol, Potche, Odessa e Moscovo, onde se formaram em várias especialidades. 

Os especialistas de artilharia e morteiros, regressados às suas unidades de combate, passaram a fazer cálculos de tiro com base em cartas topográficas e a determinar com precisão as distâncias das armas aos alvos e a forma de corrigir o tiro, assim aumentando significativamente a eficácia das acções de fogo das suas armas.

Mas a alteração nuclear ocorreu nas limitações que o inimigo passou a impor às actividades da nossa Força Aérea, quando empregou, com êxito, os mísseis terra-ar, afectando significativamente a actividade operacional, a logística e o moral das forças terrestres.

Do antecedente, as aeronaves da Força Aérea actuavam com total liberdade de acção e este facto, só por si, condicionava seriamente a duração, o efectivo e o efeito das acções de fogo, quer durante o dia quer à noite.

A partir de Março todo este quadro se modificou, depois de o inimigo abater em 28, um avião "Fiat G-91" com um míssil antiaéreo "Strela", de origem soviética, na região do Boé, junto à fronteira com a República da Guiné, e de outro "Fiat G-91 ", três dias antes, se ter despenhado na área de Guileje, atingido por outro míssil, tendo-se ejectado o piloto.

Esta arma afirmou-se como o factor principal da viragem da situação no terreno, na medida em que passou a permitir ao inimigo concentrar fortes efectivos, em pleno dia, em locais onde pretendia exercer esforço, particularmente nas zonas de fronteira e na zona sul, enquanto reduziu a capacidade de exposição ao risco por parte das nossas tropas, por limitar a segurança e a eficácia do apoio da Força Aérea, quer em operações em terra, quer na evacuação aérea de feridos e doentes.

No mês seguinte, em 6 de Abril, o inimigo abateu mais três aeronaves - um "T-6" e dois "DO-27" na região de Guidaje/Binta, a norte, e, a partir daí, as equipas de cinco combatentes que constituíam a guarnição do míssil antiaéreo "Strela", que inicialmente actuavam junto às fronteiras, passaram a actuar no interior da província, condicionando a actividade da Força Aérea na maior parte do território.

O enorme reforço de meios materiais e humanos de que o inimigo passou a dispor no interior do território, foi também um dos factores que fez pender para o seu lado a balança do potencial relativo de combate. 

Os ataques levados a efeito pelo inimigo aos aquartelamentos das NT passaram a ser feitos muito mais demorada e assiduamente que até então e em pleno dia, com relevo para os ataques a Guileje e Gadamael Porto, a sul, e a Guidaje, a norte, todos próximo das fronteiras. 

Em Maio, o número, a violência e a duração dos ataques inimigos ao aquartelamento das NT em Guileje, junto à fronteira sul com a República da Guiné, obrigaram as nossas tropas a retirar desta posição, situação que teve impacto negativo no moral e dá uma ideia da gravidade que a situação atingiu.

Os efectivos e os meios de que o inimigo dispunha no terreno, vinham sofrendo evolução desde Janeiro, quando alguns bigrupos apresentaram uma orgânica diferente do habitual e passaram a estar armados com material russo diferente e bastante melhor que o anterior.

Durante todo o ano, foram chegando, reforços da Rússia, China, Cuba e mesmo mercenários vindos do Mali e Mauritânia, conforme assinalou o
serviço de informações militares português.

O material chegado constava de vedetas rápidas, canhões de 130 milímetros, carros de combate, viaturas anfibias, rampas de lançamento de foguetões, etc..

No final do ano de 1973, o serviço de informações militares atribuiu ao inimigo um efectivo de:

  •  73 bigrupos;
  • 15 grupos;
  • 13 batarias de artilharia;
  • 9 grupos de foguetões:
  •  2 grupos de artilharia convencional;
  •  10 grupos de artilharia antiaérea (mísseis "Strela");
  •  17 grupos de sapadores;
  • 3 bigrupos de fuzileiros:
  •  2 viaturas blindadas;
  • 1 grupo de canhões sem recuo; e 
  • 7 grupos especiais de lança- granadas foguete.

Havia ainda informações de que o inimigo dispunha de um número não determinado de carros de combate e aguardava o fornecimento próximo de aviões "MiG" de fabrico russo, outros meios blindados e lança-torpedos a utilizar contra unidades navais. 

Logisticamente a URSS estava a apoiar o PAIGC desde 1970 com 4 equipas médicas que trabalhavam em hospitais de campanha e davam formação a pessoal auxiliar.

A situação geral foi-se progressivamente deteriorando. O inimigo aumentou os ataques às guarnições das NT e incrementou o uso de engenhos explosivos a partir de Março, com os quais aumentou o número de baixas provocadas às nossas tropas e às populações.

O arsenal de que o inimigo dispunha levava a admitir, como modalidade de acção possível, que após o reconhecimento do novo "Estado" por um número significativo de países, poderia tentar uma ofensiva geral em todas as frentes de luta, lançando mão do grande potencial de combate de que dispunha, eventualmente apoiado por países estrangeiros.

O quadro geral das acções de iniciativa inimiga e das baixas provocadas nas nossas tropas foi o seguinte:

Em Janeiro o inimigo desencadeou 77 acções ofensivas, entre os quais 48 ataques a destacamentos das NT, implantou 21 engenhos explosivos e provocou 4 mortos e 62 feridos às nossas tropas e 10 mortos, 33 feridos e 7 capturados às populações.

Em Fevereiro levou a efeito 52 acções ofensivas, entre as quais 33 ataques a destacamentos e implantou 45 engenhos explosivos, que provocaram 7 mortos e 50 feridos às NT e 6 mortos e 119 feridos às populações.

Em Março desencadeou 63 acções ofensivas, entre as quais 30 ataques a destacamentos, implantou 62 engenhos explosivos e provocou 10 mortos e 90 feridos às NT e 10 mortos e 69 feridos às populações.

Em Abril foram desencadeadas 84 acções, das quais 50 ataques a destacamentos e implantados 143 engenhos explosivos, que provocaram 12 mortos e 80 feridos às NT e 14 mortos e 63 feridos às populações.

Em Maio foram desencadeadas 243 acções ofensivas, das quais 166 ataques a destacamentos e implantados 66 engenhos explosivos, que provocaram 63 mortos e 269 feridos às NT e 16 mortos e 82 feridos às populações.

O inimigo atacou Bigene, a norte, 21 vezes e Guileje, a sul, 36 vezes, obrigando à retirada deste último destacamento das NT no final do mês, em virtude dos ataques inimigos serem realizados com armas de longo alcance posicionadas na República da Guiné e o tiro ser regulado por observadores avançados, garantindo grande eficácia. 

Havia clara intenção inimiga de isolar e reduzir as posições das NT. o destacamento de Guidaje, a norte, foi atacado 43 vezes e durante alguns dias ficou mesmo isolado. Nessa altura, as NT dispunham de informações que indicavam estar o inimigo prestes a ser dotado com meios blindados e aéreos, e que proclamaria para breve a independência.

Em Junho o inimigo desencadeou 145 acções, das quais 101 ataques a destacamentos, implantou 59 engenhos explosivos e provocou 31 mortos e 128 feridos às NT e 5 mortos e 35 feridos às populações.

Após as NT terem retirado de Guileje, o destacamento de Gadamael Porto foi atacado durante 20 dias, perfazendo um total de 70 ataques.

No entanto o inimigo não obteve resultados práticos significativos de tais iniciativas, apesar de ter disparado cerca de 1000 granadas de armas pesadas de artilharia (morteiros 120 mm, canhões sem recuo e canhões 130 mm), tendo situado na vizinha República da Guiné, a maior parte das vezes, as bases de fogos de tais ataques.

Para este conjunto de acções, o inimigo empregou, além das batarias de artilharia de Kandiafara e de peças de artilharia antiaérea, 2 bigrupos de Tombali, 2 bigrupos do Boé, 1 bigrupo do Cantanhez e 1 ou 2 bigrupos de fronteira.

O abaixamento da pressão sobre Gadamael Porto começou a verificar-se a partir de 17 de Junho, em resultado das baixas que sofreu por acção dos bombardeamentos da Força Aérea e das acções das forças terrestres em missões de segurança próxima.

Foram também referenciados vários combatentes inimigos de tez clara.

Na estrada Cadique - Jemberém, o inimigo implantou 10 minas "MAC TMD-46".

No 2.° semestre, a actividade do inimigo diminuiu, quer globalmente, quer relativamente ao período anterior, em virtude de se terem concentrado na República da Guiné os quadros e dirigentes dos aparelhos político, administrativo e militar do PAIGC que tomaram parte no 2°
Congresso e na Assembleia Nacional Popular.

No entanto e apesar disso o inimigo manteve a pressão sobre Gadamael  Porto, na zona sul, e o emprego de mísseis terra-ar em várias frentes do território.

O quadro geral das iniciativas do inimigo no 2° semestre, foi o seguinte:

Em Julho, a actividade perfez um total de 87 acções de sua iniciativa, entre as quais 49 ataques a destacamentos das NT, tendo ainda implantado 57 engenhos explosivos. Esta actividade provocou 15 mortos e 89 feridos às NT e 4 mortos e 7 feridos às populações.
o destacamento das NT em Gadamael Porto foi atacado 21 vezes, neste mês.

Em Agosto, a actividade inimiga totalizou 75 acções (das quais 44 ataques a destacamentos), implantou 71 engenhos explosivos e provocou 8 mortos e 99 feridos às NT e 6 mortos e 13 feridos às populações.

O destacamento de Gadamael Porto foi atacado 28 vezes.

Em Setembro, a actividade inimiga perfez 45 acções (das quais 29 ataques a destacamentos), implantou 64 engenhos explosivos e provocou 7 mortos e 74 feridos às NT e 11 mortos e 17 feridos às populações.

O destacamento de Gadamael Porto foi atacado 4 vezes.

Em Outubro o inimigo totalizou 49 acções (das quais 26 ataques a destacamentos), implantou 28 engenhos explosivos e provocou 5 mortos e 37 feridos às NT e 10 mortos e 16 feridos às populações.

Em Novembro, a actividade inimiga perfez 44 acções (das quais 23 ataques a destacamentos), implantou 36 engenhos explosivos e provocou 2 mortos e 44 feridos às NT e 16 mortos e 55 feridos às populações.

Em Dezembro, a actividade inimiga totalizou 78 acções (41 ataques a destacamentos), implantou 64 engenhos explosivos e provocou 17 mortos e 138 feridos às NT e 12 mortos e 45 feridos às populações.

(Continua) (CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 2. Nossas Tropas)


Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo ads Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 245-250.

[ Seleção / revisão / negritos / fixação de texto pata efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de novembro de  2015 > Guiné 63/74 - P15336: FAP (93): O impacto do Strela na actividade aérea na Guiné - III e última Parte (José Matos, historiador e... astrónomo)

 (**) Último poste da série > 4 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23323: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (2): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte I: Inimigo, atividade política

Guiné 61/74 - P23331: Notas de leitura (1453): “La fin de l’empire colonial portugais, Témoignages sur un dénouement tardif et tourmenté”, por Éric e Jeanne Makédonsky; L’Harmattan, 2018 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Setembro de 2019:

Queridos amigos,
Os autores são um casal de jornalistas franceses com um longo e afinal currículo. Recolheram entre 1980 e 1982 um acervo de depoimentos de figuras proeminentes na chamada luta de libertação, ouvindo portugueses, guineenses e cabo-verdianos. 

Atenda-se aos aspetos sensíveis do período em que se recolheram os depoimentos, dera-se a rutura irreversível na unidade Guiné/Cabo Verde, e por vezes alguns dos entrevistados não se escusaram a comentários de lamento e crítica. 

A obra, que podemos classificar como historiografia tardia, e onde as informações não trazem praticamente nada de novo no estado atual da arte, tem o mérito da estrutura, tem princípio, meio e fim, começa no quadro da descolonização, ouvindo sempre em sucessivas fases os diferentes protagonistas, até se chegar à independência. No final, menciona, já na atualidade, por onde param todos estes intervenientes, como se sabe, muitos deles falecidos.

Um abraço do
Mário



Assistiram à independência da Guiné, décadas depois publicam livro (1)

Beja Santos

“La fin de l’empire colonial portugais, Témoignages sur un dénouement tardif et tourmenté”, por Éric e Jeanne Makédonsky, L’Harmattan, 2018, é uma obra que forçosamente nos surpreende. Marido e mulher eram jornalistas que permaneceram longamente no continente africano. E abrem o seu livro explicando porquê, só agora, dão à estampa os testemunhos que recolheram décadas atrás. 

Entenderam os autores que a guerrilha guineense em poucos anos perdeu o furor e o entusiasmo com que eram vistos pelo movimento revolucionário à escala mundial. No entanto, não quiseram deixar de contribuir para que a investigação sobre os acontecimentos relacionados com a independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde perdesse a possibilidade de conhecer os testemunhos de inúmeras personalidades intervenientes, do lado guineense, cabo-verdiano e português.

Tratemos esta obra, pois, como um documento de estudo, se bem que, no essencial, possuímos já bibliografia esclarecedora sobre a maior parte dos pontos versados pelos autores. Logo o contexto internacional da descolonização. Reconheça-se, no entanto, que a obra oferece uma estrutura sequencial em que todos estes intervenientes fazem os seus comentários em todas as etapas da luta pela independência até às meditações que deixam sobre a rutura Guiné-Bissau/Cabo Verde. Na verdade, eles recolheram oralmente em Lisboa e em África, entre 1981 e 1982, todos estes testemunhos, daí eles estarem profundamente marcados pelo divórcio recente, alguns depoimentos não escondem amargura ou acinte.

Temos primeiro o despertar nacionalista. Aristides Pereira depõe sobre a sua infância em Cabo Verde e a sua vida na Guiné, a sua ligação à formação do PAIGC. Poderá ter sido lapso, ele não faz nenhuma referência a uma reunião que para alguns historiadores é bastante controversa, datada de 1956 e tratada como a data de fundação do PAIGC. 

O que ele realça é a reunião de 1959 e as decisões tomadas de haver uma direção do PAIGC no exílio e outra no interior da clandestinidade, a recrutar jovens para a luta armada e a criar um ambiente favorável à hostilidade colonialista. 

Depõem outros cabo-verdianos, como José Araújo, Silvino da Luz, Manuel dos Santos e Corsino Tolentino, contam como evoluiu a sua obsessão nacionalista e como chegaram até Conacri. Os guineenses Nino, Vasco Cabral, Fidelis Cabral d’Almada e Paulo Correia são os testemunhos guineenses, seguem-se os portugueses Carlos Fabião, Mário Tomé e outros. 

E estamos no início da guerra, Nino dá conta das suas atividades em 1962, ele e um punhado de combatentes tinham-se formado na China em 1961, Amílcar Cabral enviou-os para o Sul, para a subversão e para a desarticulação das vias de comunicação de toda a espécie. 

Carlos Fabião recorda os primeiros anos do conflito e não deixa de observar que o período de 1964-1966, em que o PAIGC dispunha de pouca artilharia, era considerado um dos piores períodos da guerra. Perdera-se o controlo do Morés, para lá chegar mobilizavam-se centenas de homens, podia-se chegar a uma das bases mas saía-se sempre debaixo de intenso tiroteio. Cedo se apercebeu que era totalmente inviável fechar o corredor de Guilege, a fronteira era muito porosa, as matas densas, as forças do PAIGC alteravam os percursos. O sistema de informações era, ao tempo, precário, demorou a identificação dos comandantes dos grupos e o conhecimento das principais bases. Ainda no testemunho do último governador da Guiné ele observa que Nino era já uma figura mitificada, vezes sem conta se tentou a sua detenção, era impossível.

Para Aristides Pereira, a “batalha de Conacri” foi duríssima, o regime de Sékou Touré vivia a psicose do complô, na capital proliferavam grupos que se diziam nacionalistas a favor da independência da Guiné Portuguesa e que atacavam constantemente Cabral. Havia pouquíssimas armas até que Hassan II, o rei de Marrocos, autorizou o envio de armamento, foi crucial para o período de 1963-1964, as populações, ao verem os guerrilheiros com bom armamento não hesitaram em tomar partido. Refere ainda que data de julho de 1963 um programa orientado para a intensificação da luta em Cabo Verde, mas os obstáculos foram inúmeros, a própria União Soviética considerava demencial a tentativa de introduzir a guerrilha em Cabo Verde.

Um pouco à maneira como se comporta a historiografia portuguesa, que não esconde o desconhecimento das fontes do período referente à governação de Schulz, Éric e Jeanne Makédonsky saltam para o período de Spínola e Carlos Fabião depõe sobre o novo estilo: as visitas diárias às instalações militares e mesmo ao teatro de operações, o oficial-general exigia melhores condições de vida para quem combatia no mato; a centralização na planificação das ações militares; a reformulação da informação e da contrainformação; a gradual africanização da guerra; a criação dos Congressos do Povo; o abandono de posições tidas por insustentáveis; um afinado sistema de escuta das comunicações do PAIGC; um modelo de desenvolvimento com a criação de infraestruturas, reordenamentos das populações, tudo sob a égide do slogan “uma Guiné melhor”. 

Era uma nova estratégia, o PAIGC iria ser desafiado de cima a baixo, acresce que a propaganda portuguesa iria acentuar uma questão sensível que Amílcar Cabral lateralizava com talento: a desconfiança e mesmo estados de ódio dos guineenses face aos cabo-verdianos, vistos durante séculos como os interlocutores mais duros da colonização. E foi usada uma pedra do xadrez que estarreceu o PAIGC: o presidente do Partido, Rafael Barbosa, foi liberto em 3 de agosto de 1969 e apelou ao povo guineense que apoiasse a política de Spínola.

Aristides Pereira também depõe sobre este período inicial de Spínola. O insucesso em travar os percursos de abastecimento no Sul; observa que o novo governador facilitava a vida aos comerciantes, os djilas, que circulavam por todo o território, entre amigos e inimigos, assim se instituía um sistema de informações que melhoraram a vida operacional dos portugueses.

 Põe em realce a libertação de Momo Touré e Aristides Barbosa, entre outros, que foram de novo juntar-se ao PAIGC, atribui-lhes faculdades que efetivamente estes dois homens não possuíam, o complô que levou ao assassinato de Cabral tinha seguramente cérebros efetivos. Mais adiante, será o próprio Aristides Pereira a dizer que preso pelos assassinos de Cabral ouviu na lancha que foi detida em Boké o nome de altas figuras guineenses que estariam com a responsabilidade na direção do complô, mas não invoca nomes. 

Noutros contextos, Aristides Pereira irá veladamente referir-se a Osvaldo Vieira e ao seu primo Nino Vieira. E refere detalhadamente a política externa do PAIGC, a sua indeclinável vontade de se manter neutral nos conflitos entre a URSS e a China, embora esta tenha mais tarde deixado de apoiar o PAIGC.

Pedro Pires, Silvino da Luz, Osvaldo Lopes da Silva e Corsino Tolentino irão depor sobre as suas atividades, nomeadamente a partir de 1969, as forças portuguesas tinham-se retirado de quartéis na fronteira no Sul, retirou-se de Gandembel, retirou-se de Béli e de Madina do Boé, como igualmente do Sul se saiu de Cachil, na ilha do Como. Na ótica destes combatentes cabo-verdianos, era cada vez maior o espaço que se usava como obsessivo clichê de “zonas libertadas”.

(continua)


Éric Makédonsky
Capa de outro livro de Éric Makédonsky, publicado em 1986
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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23322: Notas de leitura (1452): Crónicas soviéticas , o segundo livro do antigo comandante do PAIGC Osvaldo Lopes da Silva (Rosa de Porcelana, 2021, 240 pp.)

Guiné 61/74 - P23330: Efemérides (370): 10 de Junho de 2022 - Homenagem aos Combatentes da Guerra do Ultramar - XXIX Encontro Nacional, junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar, em Lisboa

1O DE JUNHO - DIA DE PORTUGAL - LISBOA

HOMENAGEM AOS COMBATENTES DA GUERRA DO ULTRAMAR EM LISBOA

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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23329: Efemérides (369): Celebração do 10 de Junho junto ao Memorial aos Combatentes do Porto da Guerra do Ultramar, às 12h00 no Jardim do Fluvial, junto à Capela do Senhor e da Senhora da Ajuda

Guiné 61/74 - P23329: Efemérides (369): Celebração do 10 de Junho junto ao Memorial aos Combatentes do Porto da Guerra do Ultramar, às 12h00 no Jardim do Fluvial, junto à Capela do Senhor e da Senhora da Ajuda

CELEBRAÇÃO DO 10 DE JUNHO NO PORTO

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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23291: Efemérides (368): 25 de maio de 1972, há 50 anos: o duelo fatal na Ponta Varela, Xime, em que o apontador da HK 21, da CCAÇ 12, Braima Sané, matou em combate o Mário Mendes, comandante de bigrupo do PAIGC, pelo que foi louvado pelo CAOP2, ele, a sua equipa e o seu comandante de secção, o fur mil José Domingues, natural de Águeda (António Duarte / Luis Graça)

Guiné 61/74 - P23328: Parabéns a você (2072): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM/CTIG (Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 31 de Maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23313: Parabéns a você (2071): Mário Beja Santos, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Missirá e Bambadinca, 1968/70)

domingo, 5 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23327: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (27): Tabanca felupe de Iale: o bombolom de cerimónias



 

Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Varela > Tabanca felupe de Iale > 22 de maio de 2022  > "Bombolom de cerimónias"

Fotos (e legenda): © Patrício Ribeiro (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação das fotos que o Patrício Ribeiro, nosso correspondente em Bissau, nos mandou, em 23 de maio passado, relativas ao chão felupe: praia de Varela e tabanca de Iale.(*)

Desta feita temos um "bombolom de cerimónias". Diz o fotógrafo, que tem casa em Varela, que o bombolom  serve para transmitir mensagens para dentro e para fora da tabanca. 

Nunca tínhamos visto um com estas dimensões. Não sabemos nada sobre a sua técnica de construção nem de que madeira é feita...  Fomos à procura de informação na Net. 

Aqui vai um excerto da página Meloteca > Bombolom(com a devida vénia):


(...) Bombolom é um idiofone de percussão direta tradicional da Guiné-Bissau (África Ocidental). 

É um tambor de fenda construído a partir de um tronco de árvore (bissilon) escavado longitudinalmente. Existem bombolons com cerca de 1,5 metros e outros tamanhos. 

O instrumento é percutido com baquetas de madeira e pode ser tocado por um ou dois executantes em simultâneo. São sobretudo homens que o tocam, e dos mais velhos, de pé ou sentados no chão. O som varia conforme o lado. 

Este instrumento desempenha funções de comunicação, sendo utilizado para transmitir mensagens, designadamente sobre falecimentos.

É tradicionalmente usado em todas as manifestações sócio-culturais, cerimónias de iniciação (fanados), cerimónias de toca-choro (toca-tchur). Nesta cerimónia fúnebre tradicional e festiva, em memória de uma pessoa de certa idade que faleceu há algum tempo, são sacrificados animais (porco, cabra, vaca). O bombolom tem uma componente mística, de comunicação com as divindades.

O Atlas dos Instrumentos Tradicionais da Guiné-Bissau refere: “Na etnia mancanha, toca-se num conjunto de três bombolons e aquele que toca o mais pequeno tem de conhecer os parentes do defunto, transmitindo assim a história da família”. Quem toca o mais pequeno tem de conhecer os parentes do defunto, transmitindo a história da família. “Não se pode deslocar o instrumento de um lado para outro sem fazer uma pequena cerimónia que consiste em levar um litro de aguardente (cana). Durante o transporte e como determina a regra, o bombolon vai sendo tocado”. (AITGB). A aguardente é oferecida ao espírito para ter acesso ao instrumento. A palavra vem do crioulo bombolõ, com base em onomatopeia.

Colaboração: Wilson da Silva (...)

Guiné 61/74 - P23326: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (26): Tabanca felupe de Iale, e praia de Varela, a "minha praia"


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Iale, Varela > 22 de maio de 2022 > Casa felupe... Os jericãs, baldes e latas são hoje um utensílio doméstico de grande importãncia: há que ir buscar a água longe...



Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Iale, Varela > 22 de maio de 2022 > Transporte de água que agora é cada vez mais escassa... Trabalho de meninas e mulheres..




Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Iale, Varela > 22 de maio de 2022 > Palha para a cobertura das casas (moranças)




Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Iale, Varela > 22 de maio de 2022 > Espremer o caju para sumo e que depois fica vinho... Trabalho de crianças...




Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Varela > Praia de Varela, a minha praia > 22 de maio de 2022 > Crescentes sinais de erosão...


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Varela > Praia de Varela, a minha praia > 22 de maio de 2022 >

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O Ribeiro Patrício, nosso correspondente em Bissau, mandou-nos, em 23 de maio passado, uma série de fotos da tabanca de Iale, Varela, bem como da praia de Varela onde ele tem casa... Publicamos a primeira parte. Em poste a seguir mostraremos depois um "bombolom de cerimónias".

Patrício Ribeiro: português, natural de Águeda, da colheita de 1947, criado e casado em Angola, com família no Huambo, antiga Nova Lisboa, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bissau desde 1984, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda, é o português que melhor conhece a Guiné e os guineenses, o último dos nossos africanistas: tem mais de 120 referências o nosso blogue; tem também uma "ponta", junto ao rio Vouga, Agueda, onde de tempos a tempos se refugia; é nosso colaborador permanente a partir de 25 de abril de 2022 (para as questões do ambiente, economia e geografia da Guiné-Bissau)... É o autor da série "Bom dia, desde Bissau" (*)
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 23 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23286: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (25): Cacheu, restos que o império teceu... - II (e última) Parte

sábado, 4 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23325: Agenda cultural (813): Afroencontro: fusão euroafricana de sonoridades... Camones CineBar, Bairro da Graça, Lisboa, sábado, 4 de junho, 21h00: Mamadu Baio, Avito Nanque, Sanassi de Gongoma e João Graça


É hoje, mais logo, no Camones, CineBar, na Graça, Rua Josefa Maria 4B, 1170-195 Lisboa...

Mamadu Baio e João Graça são membros da nossa Tabanca Grande... E nós apoiamos a boa música do mundo, a começar pelos músicos guineenses... A não perder.

O Mamadu Baio que, além de grande e talentoso músico, compositor e ator de cinema, natural da tabanca de Tabatô, trabalha na construção civil com0 muitos dos seus patrícios... E vem de propósito da Holanda para estar mais logo no Camones... O J0ão Graça vai buscá-lo ao aeroporto.
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P23324: Os nossos seres, saberes e lazeres (506): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (53): Os jardins esplendentes do Palácio Nacional de Queluz - 2 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Março de 2022:

Queridos amigos,
Deambulando nos jardins superiores, nas estufas, nos lagos, no Canal dos Azulejos, sente-se em permanência a perfeita articulação entre o palácio e estas soberbas áreas de lazer, que adquiriram uma atmosfera cenográfica incomparável, é uma envolvência perfeita, aliás os arquitetos conceberam uma ligação entre as janelas dos diferentes edifícios e o esplêndido parque. É esse o percurso que vamos fazer, nos diferentes níveis dos jardins que nos tempos do primeiro proprietário, Cristóvão de Moura, ajuntara à Quinta imensas hortas, tudo somado cerca de 30 hectares. E visita-se com satisfação estes jardins onde houve sábias intervenções, as estátuas de John Cheere foram restauradas e aos poucos o Canal dos Azulejos vai sendo recuperado, e as estufas são uma beleza.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (53):
Os jardins esplendentes do Palácio Nacional de Queluz – 2


Mário Beja Santos

Quando se iniciou a visita aos jardins do Palácio Nacional de Queluz, adiantou-se de que o edifício é um dos exemplos mais notáveis da arquitetura portuguesa de Setecentos, havia aqui a quinta e a casa de Queluz, fora propriedade de Cristóvão de Moura, com a Restauração passou para a posse do 1.º Senhor do Infantado, o Infante D. Pedro, subirá ao trono anos mais tarde, daí as transformações e remodelação que se iniciou em 1747, sob a direção do arquiteto Mateus Vicente de Oliveira. Bisbilhotou-se o Palácio, a Sala do Trono e a Sala de Música, o nosso fito eram os jardins, que têm felizmente conhecido uma boa requalificação, houve intervenções nas estufas, no Canal de Azulejos, temos hoje magníficos jardins de aparato, que era o cenário de festas e passatempos da Família Real. Tempos virão para percorrer mais demoradamente o interior do Palácio, há para ali aposentos deslumbrantes, como a Sala dos Embaixadores e o Quarto de D. Quixote ou a Sala das Merendas. Antes de passar para os jardins superiores veja-se o Pavilhão da Rainha D. Maria I, mais tarde foi a residência oficial de verão de Marcello Caetano.

Escultura de John Cheere, Vertumno e Pomona (Deus dos Jardins e a Deusa da Abundância dos Frutos)

Já se fez menção ao magnífico acervo das estátuas de John Cheere, foram executadas na oficina deste escultor inglês em Hyde Park Corner, estatuária de chumbo. Escreve-se no livro de Margarida de Magalhães Ramalho: “Muito utilizado em Inglaterra para decorações de exterior, quer de fachadas quer de jardins, este tipo de estátuas tinha larga vantagem sobre as de bronze e/ou de pedra. Eram de fácil reprodução, tinham acabamentos excelentes e eram muito mais baratas. Tendo em conta que os jardins à francesa, tão utilizados nesta época, exigiam uma decoração rica em estatuária, é fácil imaginar o sucesso que estas peças em chumbo acabaram por ter, tanto mais que podiam ser pintadas de modo a imitar materiais mais nobres, como o mármore ou o bronze.” Há igualmente estatuária em pedra, com temas mitológicos ou clássicos: Vénus e Adónis, Eneias e Anquises, Baco e Ariadne, é uma estatuária que tem sido recuperada como recuperado o sistema hidráulico do tanque da cascata, tudo obra dos então Instituto dos Museus e da Conservação e do Instituto Português do Património Arquitetónico.

Temos aqui uma vista dos jardins superiores, tudo impecavelmente restaurado.
Uma das imagens do Pórtico da Fama, a Fama montando o seu cavalo Pégaso, já estamos no Jardim Pênsil.
Estamos agora a caminho do Jardim Pênsil, desceu-se a Escadaria dos Leões, passámos pelos grupos escultóricos de John Cheere e temos mais adiante o Canal de Azulejos, passou-se o Pórtico da Fama, entra-se nos jardins superiores, nesta alameda temos uma boa perspetiva do Pavilhão Robillion.
Pormenor do jardim
Em tempos idos, a visita aos Jardins de Queluz compreendia o Lago de Neptuno, o Lago das Conchas, a Cascata Grande, o Jardim do Labirinto e algo mais, antes de chegarmos ao Canal dos Azulejos e regressar pelo Pavilhão Robillion. Entretanto foram recuperadas as belas estufas, são visitáveis, ali se podem admirar ananases, num espaço ajardinado com muito bom gosto.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23304: Os nossos seres, saberes e lazeres (505): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (52): Os jardins esplendentes do Palácio Nacional de Queluz - 1 (Mário Beja Santos)