Guiné > Zona Leste > Contuboel > Junho de 1969: Passeio de piroga junto à ponte de madeira de Contuboel, sobre o Rio Geba. Furriéis milicianos Luís Manuel da Graça Henriques (CCAÇ 2590 / CCAÇ 12) e Renato Monteiro (CART 2479 / CART 11).
Foto (e legenda): © Luís Graça (2005)
1. Publica-se a seguir (ponto 5) a última mensagem do misterioso homem da piroga, um grande amigo que eu fiz na Guiné embora só tenha com ele convivido durante um mês e três semanas... Depois desaparecemos do mapa e só viemos a reencontrarmo-nos trinta e seis anos depois, graças à nossa página na Internet... Esta estória merece ser contada, sobretudo para os mais novos dos nossos tertulianos que a não conhecem...
Tinha-o reconhecido antes como coautor de um livro que li e apreciei muito sobre a guerra colonial (Renato Monteiro e Luís Farinha - Guerra colonial: fotobiografia. Lisboa: D. Quixote. 1990. 307 pp).
Natural do Porto, apaixonado por Lisboa, professor do ensino secundário, o Renato tem-se dedicado escrita e à fotografia. Publicou recentemente um belíssimo álbum fotográfico sobre os pescadores da Costa da Caparica. Ainda lhe devo, em troca de um exemplar autografado, uma nota de recensão sobre essa publicação...
No início da nossa tertúlia, quando ainda éramos poucos (o Sousa de Castro, o David Guimarães, o Humberto Reis...) eu mandei-lhes esta foto, com o seguinte pedido, em e-mail datada do dia 1 de Maio de 2005, e com a secreta esperança de um dia dar de caras com ele numa esquina da cidade do Porto (....Afinal, ele vivia e trabalhava perto de mim, em Lisboa!):
"Amigos:
"Quem conhece este gajo ? Não o que vai sentado na canoa (que sou eu, ou era eu… ), mas o homem que está na popa, de remo na mão… Esta foto foi tirada em Contuboel, Guiné, no 2º trimestre de 1969… O fulano chama-se Renato Monteiro, ex-furriel miliciano Monteiro, pertencente à CCAÇ 11… Conhecemo-nos em Contuboel, e convivemos durante três meses, no período em que estávamos a formar as nossas companhias (eu, a CCAÇ 12; ele, a CCAÇ 11).
"Quem conhece este gajo ? Não o que vai sentado na canoa (que sou eu, ou era eu… ), mas o homem que está na popa, de remo na mão… Esta foto foi tirada em Contuboel, Guiné, no 2º trimestre de 1969… O fulano chama-se Renato Monteiro, ex-furriel miliciano Monteiro, pertencente à CCAÇ 11… Conhecemo-nos em Contuboel, e convivemos durante três meses, no período em que estávamos a formar as nossas companhias (eu, a CCAÇ 12; ele, a CCAÇ 11).
"Sei que nasceu no Porto, em Dezembro de 1946, que fez mais tarde o curso de história e que hoje deve ser professor do ensino secundário. Publicou, juntamente com Luís Farinha, uma Fotobiografia da Guerra Colonial (Lisboa: D. Quixote, 1998; há também uma edição do Círculo de Leitores). Se é o mesmo que eu penso, também esteve ligado ao movimento das rádio locais. Há um fotógrafo com o mesmo nome, não sei se é o mesmo. Já não me lembro do seu 1º nome… A ponte que vocês vêem ao fundo era a de Contuboel, uma ponte em madeira e que na base fazia uma espécie de represa… Um dia o Monteiro mergulhou perto dela e estava a ver que o gajo nunca mais vinha ao de cima… Gostava de o encontrar para lhe mandar esta chapa… Tínhamos muitas afinidades (políticas, culturais, humanas…). A companhia dele foi para Nova Lamego, e perdemos definitivamente o contacto. Sei que voltou da Guiné ainda em 1970, uns meses mais cedo do que eu (que vim em Março de 1971)".
3. Passado uns tempos, o Renato deu caras com a foto, inserida na nossa página na Net (Subsídios para a história da guerra colonial > Guiné (1963/74) > Memória dos lugares > Bambadinca)
Amigo Luis,
Muito surpreendido por me rever numa piroga no rio Geba. Na verdade, não me lembrava desse episódio. Não menos espantado por rever a picada do Xime e outros locais que, passado tanto tempo, ainda se encontram bem presentes na minha memória... Lamento, ao contrário, não ter reconhecido ninguém nas fotos nem, sequer, te referenciar. Não sei a explicação.
Sou, na realidade, co-autor do livro que referes. Fico ao teu dispor para o caso de quereres comunicar, e feliz pela Internet ter possibilitado este reencontro. Um abraço, Renato Monteiro.
... A partir daqui mantivemos algum contacto regular,mas cedo percebi que o Renato tinha voltado a fechar o baú das memórias da Guiné e estava noutra... Com muita pena minha, como devem imaginar!
Muito surpreendido por me rever numa piroga no rio Geba. Na verdade, não me lembrava desse episódio. Não menos espantado por rever a picada do Xime e outros locais que, passado tanto tempo, ainda se encontram bem presentes na minha memória... Lamento, ao contrário, não ter reconhecido ninguém nas fotos nem, sequer, te referenciar. Não sei a explicação.
Sou, na realidade, co-autor do livro que referes. Fico ao teu dispor para o caso de quereres comunicar, e feliz pela Internet ter possibilitado este reencontro. Um abraço, Renato Monteiro.
... A partir daqui mantivemos algum contacto regular,mas cedo percebi que o Renato tinha voltado a fechar o baú das memórias da Guiné e estava noutra... Com muita pena minha, como devem imaginar!
4. Mensagem de L.G., de 11 de Julho de 2005:
"Renato:
"Ainda não te pus na lista do Grupo da Guerra Colonial, porque não sei se estás interessado neste exercício serôdio de contadores de estórias, que estão a chegar ao limiar da sua esperança média de vida à nascença… De qualquer modo, ainda não me disseste por onde andou a tua CART 11 (confirmas ?)… Reconheci-te a ti e aos teus soldados nalgumas imagens da fotobografia…
"Sei que também publicaste dois livros de poemas, mas ao que parece fechaste esse departamento… Estou ansioso para ter tempo para recuperar o tempo perdido em que andámos por aí, tão perto e tão longe… A tua magnífica mensagem merecia outro tratamento, mas o dever chama-me e eu hoje fico por aqui… Um abraço apertado do amigo de um mês e meio, da Guiné, do lugar mais frio da memória… Luís (ex-furriel miliciano Henriques da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Contuboel, Junho e Julho de 1969).
5. Mensagem do Renato Monteiro, acabada de chegar esta noite, e que no fundo foi o pretexto para este exercício de saudade(s):
Luís:
Acho que da última vez que te escrevi estava a fazer as malas para uma viagem [à Polónia]. Acontece, agora, o mesmo só que para uma incursão breve, ao Porto. Um fim de semana lá.
Tenho acompanhado, com gosto, a comunicação mantida na página. Isto para te dizer que o meu silêncio não deverá ser interpretado como alienação. De forma alguma.
Espero, em breve, ver-te. Como tu, também passo este ano férias cá dentro.
Tenho umas coisas para te enviar que de certo modo explicam este não dizer nada até aqui. E também hei-de precisar da tua memória de Contuboel.
Um grande, grande abraço
Renato
1 comentário:
Eu estive na Guiné deJulho/69 a Julho/71 no Batalhão 600 em Bissau.A minha especialidade era "Amanuense", fui Furriel Milic..Fiz várias viagens ao interior da Guiné,através de Batelões(civis),levando os mantimentos.Estive no Cacheu,Bafatá e noutros locais que já não me vêm à memória.Vivo no Fundão desde 1972 onde trabalhei no Banco Pinto & sottoMayor,estou reformado desde o ano 2000.Estou no Facebook.
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