sexta-feira, 23 de junho de 2006

Guiné 63/74 - P900: O 25 de Abril em Nova Lamego (A. Santos, Pel Mort 4574/72)

1. Há dias pedi ao António Santos o seguinte: "Gostava que nos contasses como é que foi em Nova Lamego, em 1974, a ‘passagem de testemunho’ ou a ‘troca de galhardetes’ entre as NT e o PAIGC… Tens fotos dessa época, a seguir ao 25 de Abril ? Como é que os fulas e futafulas reagiram ? E os comerciantes, brancos e outros, como é que se portaram ? Alguém me disse (o Américo Marques) que chegou a haver manifestações dos civis contra as NT... Houve problemas com o PAIGC ? Tens memórias desse tempo ? Por exemplo, aerogramas ?"

2. Resposta pronta do A. Santos (ex-sold trms, Pelotão de Morteiros 4574/72, Nova Lamego, 1972/74)

Amigo Luís:

Em resposta ao teu pedido, sobre Abril em NL [Nova Lamego]:

Houve alguma confusão mas, como é lógico, ninguém me tira da cabeça que houve mãozinha do PAIGC.

No 1º de Maio [de 1974], NL acordou com muitas montras partidas, portas arrombadas e muita pilhagem, claro que houve muitos estragos, materiais e fisicos:

(i) materiais: tudo o que se podia levar para casa marchou, sendo os alvos principais as casas tradicionais do comércio guineense e as casas de libaneses;

(ii) físicos: 4 ou 5 mortos e vários feridos, não sei precisar.

De início a tropa tentou segurar a sublevação mas, como não estava a conseguir, o Coronel, comandante do CAOP2, mandou avançar os paraquedistas, que estavam ali à mão e o resultado foi o atrás descrito.

Quanto aos Fulas, sempre me dei bem com eles e vice versa, inclusive alguns até considerava como amigos. Recordo que principalmente as mulheres diziam que o branco não devia vir embora.

Após esse dia só houve mais uma tentativa, mas não me recordo de haver males fisicos, depois os ânimos serenaram, os militares do PAIGC começaram aparecer fardados, alguns até eram lá do sítio, e ostentavam a arrogancia própria dos vencedores,peito inchado... Na grande maioria, ao passar uns pelos outros nem nos cumprimentavamo, uns aos outros... Havia tensão no ar, mas nunca passou disso.

Todo o tempo de guerra dá cabo dos nervos aos seus intervenientes, mas, Luís, o período que mediou de finais de 1973 até depois do 25 Abril deu cabo dos meus. Na altura não avaliei a situação, como é natural, mas hoje passados estes anos todos é que sei o quanto me fez mal à saúde.

Um abração

A. Santos

1 comentário:

José Alberto Carvalho Neves disse...

Caro António Santos.
Estava por lá nessa data. Mais propriamente, era o alferes de transmissões do CAOP 2. Lembra-se, por exemplo, qual o nome do coronel que comandava o CAOP nessa altura ? Tinha interesse, por causa de uma obra que estou a levar a cabo e não me lembro. Vivemos certamente muitos momentos em conjunto.
Seria óptimo se nos pudéssemos contactar.
O meu e-mail é o seguinte : josealbertoneves24@gmail.com
Um grande abraço,
José Alberto Neves