1. Mensagem do Paulo Raposo, com data de 18 de Novembro de 2008, comentando o poste de P3463 (*):
Meu caro Luís.
Obrigado, és da corda.
O soldado é uma pessoa singular, quando estou em Paris, entro nos Museus, com desconto devido ao meu cartão da Liga, como sócio combatente. Vétérant de Guerre.
O soldado tem de ser Honrado, tal como ele é, quer pelos seus, quer pelos inimigos.
Batemo-nos em África e na Índia uma luta que não era nossa. Foi a parte quente da guerra fria entre Rússia e América.
Nós mais uma vez é que levámos nas orelhas. Quem é que hoje aguentava 2 anos sem fins de semana, a beber água podre e comer arroz com estilhaços de chouriço?
Toda a gente se pergunta hoje, como é que nós, um punhado de rapazes, aguentámos uma luta de desgaste em tantas frentes.
É triste ver os dirigentes politicos desde o 25 de Abril a ter vergonha do grande Soldado Português que somos nós.
Não percebo. Uma coisa é o fim e o triste fim, outra é Honrar os nossos. Aquando da 1ª guerra foi o mesmo. As tropas expedicionárias foram entegues de bandeja aos ingleses sem critério enquanto os senhores em Lisboa discutiam política. Tratantes. Com remorsos levantaram monumentos aos mortos por todo o país. Mas não se limparam.
Assim estamos hoje.
Isto tudo para dizer, que aparecem no Blogue muitos testemunhos em que parece que nós eramos o mau da fita e os outros os bons.
Nós somos os bons e a geração de OURO. Se não fosse a porcaria da política, as nossas relações com as populações de África eram das melhores.
Dizem-me que hoje ainda, em Goa, a população vive com ar mais digno do que no resto da Índia.
O que será, talvez, é propaganda, para esconder a incompetência dessa malta.
Vai um abraço forte de um dos muitos soldados portugueses.
Paulo
________
Nota de L.G.:
(*) 17 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3463: Os nossos regressos (17): Estavam lá todos, a família, os amigos, mas não o meu pai... (Paulo Raposo)
(...)"2. Comentário de L.G.:
"O Paulo Enes Lage Raposo, que hoje vive em Montemor-o-Novo, onde criou, desenvolveu e dirigiu um belíssimo empreendimento hoteleiro (o Hotel da Ameira), foi Alferes Miliciano de Infantaria, com a especialidade de Minas e Armadilhas, na CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852 (Guiné, Zona Leste, Sector L1, Bambadinca, 1968/70).(Escrevo "dirigiu", no passado, por que acho que já passou a gestão para um dos filhos...).
"Durante a sua comissão, o Paulo esteve em Mansoa e sobretudo na zona leste (Galomaro e Dulombi), a sul de Bafatá. Uma nota trágica da sua comissão é a perda de 17 dos seus camaradas na travessia do Rio Corubal, em Cheche, na sequência da retirada de Madina do Boé, em 6 de Fevereiro de 1969 (Op Mabecos Bravios).
"Desde Abril até Setembro de 2006, o nosso blogue publicou o testemunho escrito que o Paulo elaborara em 1997 e que só era conhecido de alguns amigos e camaradas da sua companhia e do seu batalhão. É um documento policopiado, de 65 páginas, com o seu "testemunho e visão da Guerra de África", mais concretamente sobre a história da sua vida militar, desde a sua incorporação, como soldado cadete, em Abril de 1967, na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, até à sua mobilização para a Guiné, como Alferes Miliciano da CCAÇ 2405, onde teve como camaradas os membros da nossa tertúlia Rui Felício, Victor David e Jorge Rijo (este último reformou-se dos seguros, e não temos sabido nada dele uma vez que o endereço de email não é mesmo" (...).
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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3 comentários:
Alimentação dos militares na guerra da Guiné, uma para o.
GUINES
No Cachil a C.C.557 esteve 55 dias a ração de combate e nos primeiros dias até a agua para beber era racionada.
Paulo Raposo
As tuas palavras deveriam estar escritas nos Outdoors, em letras garrafais, sobretudo nas épocas de Campanha Eleitoral. A sintetização é perfeita, ajustada e verdadeira, embora ainda assim fique àquem da realidade. Eu sou testemunha viva. Como diz o Colaço no seu Comentário, a água, no Cachil-Cômo, não só era racionada (um garrafão por cada dois homens) como sabia a tinto, por ser transportada nos velhos barris daquele líquido. De comida…
Já em Lamego, no meu tirocínio, o Capitão Instrutor (Ranger Americano e Veterano de duas Comissões no Vietname) dizia que a situação naquela zona de conflito jamais estaria naquele estado se os Soldados Americanos fossem como nós Portugueses; que com as condições que tínhamos, os seus compatriotas, simplesmente se recusariam a sair ou… a permanecer num alojamento como os nossos. Ele sabia do que falava.
A nós, até a dignidade, que é um simbolismo e não custa dinheiro, nos é recusada.
Lá por fora, qualquer que seja o País, um Veterano, é respeitado e tratado com reverência (não vou falar de Pensões, subsídios, benefícios, assistência médica, etc.). Por cá, é Portugal de contraste como uma grande quantidade de vias de acesso, aberrantes pelo notório destaque nas Fronteiras; ali, começa ou acaba o nosso Portugal. Vê-se pelo asfalto…
Saudações a todos os Veteranos que sofreram e sofrem e um abraço especial para ti, do
Santos Oliveira
O Santos um garrafão! Isso é que era bom.
Nas primeiras 24 horas um copo do cantil a cada militar,passadas mais cerca de 18 a 20 horas é que a dose foi reforçada com meio cantil.
Os meus agradecimentos por me puxares a língua.
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