1. Mensagem de 23 de Janeiro de 2009, enviado pelo Nuno Rubim (foto à esquerda, em 1965, como Cap Comando do CTIG, em Bissau) (*) ao João Seabra (Foto à direita) (**).
Embora se trate de correspondência não pensada para publicação no blogue, entendo que nos interessa a todos, uma vez que contém alguma informação (original) sobre o PAIGC e o seu insucesso militar face a Gadamael (um dos três G, a par de Guileje e de Guidaje, que tanta tinta - neste caso - bytes - tem feito correr, saudavelmente, no nosso blogue: batas referir que temos já cerca de meio milhar de postes no total destes 3 marcadores!). Julgo que tanto o Nuno Rubim como o João Seabra - dois discretos, mas muito estimados e ocupadíssimos membros da nossa Tabanca Grande - não me levarão a mal o ter repescado este material que estava no nosso arquivo morto... (LG)
Caro Camarada [João Seabra]
Ainda a respeito do seu texto [, de 22 de Janeiro de 2009,], que o Luis Graça me enviou, tenho a acrescentar o seguinte:
Consultados os ex-comandantes do PAIGC sobre a questão do insucesso do ataque a Gadamael (Nino Vieira disse ignorar as razões ...), o Maj Gen Watna e os comdts Osvaldo Lopes Vieira e Julinho de Carvalho, ouvidos separadamente e em diferentes ocasiões, foram praticamente unânimes em apontar as seguintes razões principais (**):
(i) Gasto excessivo de munições de 120 mm no ataque a Guileje.
(ii) Dificuldade de locais propícios para os instalar e o que foi finalmente escolhido veio-se a revelar impróprio, já que devido ao início das chuvas os pratos dos morteiros se desequilibravam e/ou se iam enterrando progressivamente no solo. E outra qualquer posição teria trazido grandes problemas no transporte das munições.
(iii) Não ter havido, tal como em Guileje, possibilidade de observar o tiro com a mesma eficiência do que em Guileje e consequentemente de melhor regular o fogo.
(iv) Há ainda a acrescentar a evidente escassez de tropa de infantaria que Amílcar Cabral várias vezes tinha referido, sendo que o PAIGC, como ele próprio reconheceu, foi obrigado a um recrutamento parcial compulsivo.
(v) Finalmente, o planeamento da operação Maimuna A (1968) englobava ataques simultâneos a Guileje e Gadamael, com emboscadas montadas entre Mejo e Guileje e no cruzamento de Guileje, o que me leva a admitir que o planeamento da operação Amilcar Cabral (Maio 1973) só terá sofrido, fundamentalmente, alterações quanto ao timing dos ataques.
Camarada, ainda tenho naturalmente várias dúvidas sobre determinadas questões e por isso vou tentar ouvir ainda vários comdts do PAIGC enquanto isso fôr possível (a eles e a mim próprio ... ). Penso pois ir novamente à Guiné este ano. (****)
Um abraço
Nuno Rubim
2. Aproveito para divulgar, creio que pela segunda vez, pedido do Nuno Rubim sobre Gadamael:
Caro Luís
Como estou, como é vulgo dizer "com a mão na massa", também penso realizar algumas pequenas pesquisas sobre outra "saga", desta vez, Gadamael.
Já tenho o levantamento de todas as unidades que por lá passaram, mas naturalmente o que mais me vai ocupar é o período Mai-Jul 73.
Também seria muito interessante tentar fazer um esboço do que teria sido o aquartelamento nessa altura, sem abrigos "blindados" como os que houve em Guileje e Gadembel ... Só valas e trincheiras a céu aberto !
Naturalmente só com a ajuda dos camaradas que por lá passaram é possível fazer alguma coisa. Fotos para começar ... Haverá alguma aérea, mesmo que de outro período ?
Uma questão prévia: precisava de saber quando e até que data foram ocupados Gadamael Fronteira e Ganturé. Deste último tenho informações que referem ter ali estado instalado um Pel Rec (ou Gr Comb ) desde Fev/Mar 1964 até Jul 69, mas é possível que tenha continuado depois desta última data.
Também pergunto se algum camarada tem conhecimento de um Fur Mecânico-Auto, de apelido Barros, que terá estado em Guileje e/ou Cacine em 1971-72.
Um abraço
Nuno Rubim
_______
Notas de L.G.:
(*) O Nuno Rubim, Cor Art Ref, é um dos membros mais antigos do nosso blogue. Ele chegou até nós, no último trimestre de 2005, por mão do Virgínio Briote. Estiveram ambos nos comandos do CTIG em 1965/1966. O projecto museológico de Guileje acabou por se tornar, para ele, numa paixão. Além de autor do diorama do quartel de Guileje, o Nuno Rubim foi também um dos oradores do Simpósio Interncional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008). Esteve duas vezes na Guiné em missão de serviço, durante a guerra colonial.
(**) Vd. poste de 27 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3801: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (4): Cobarde num dia, herói no outro (João Seabra, ex-Alf Mil, CCav 8350)
(***) O essencial desta informação foi obtida em Fevereiro / Março de 2008, quando o Nuno Rubim esteve na Guiné-Bissau, antes, durante e depois do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1 a 7 de Março de 2008).
O Nuno é um incansável e competentíssimo investigador de arquivo (e não só...). Sobre alguns dos arquivos que interessam para o estudo da guerra colonial na Guiné, ele confidenciuou-me (em mail particular, de 28/10/2008) o seguinte:
(...) "Arquivo Amílcar Cabral. Pois já lá fui várias vezes e penso que estou a atingir 'o fundo da panela'... A não ser que ainda não esteja todo o material colocado à disposição dos leitores, sem que haja aqui qualquer crítica implícita.
"Mas o que me está realmente a surpreender é o A.H.M. [AQrquivo Histórico-Militar]. Agora que já
consigo "movimentar-me" com conhecimento de causa, tenho encontrado material de enorme interesse ! E até muita coisa sobre o PAIGC !
"Que ninguém se possa convencer que sabe da história da guerra se não tiver lá passado muitos meses e mesmo anos ! E depois trabalhado em casa, por largo tempo, o material recolhido !
"Talvez realizes agora melhor o que é ter já perto de 28 GB, 5320 ficheiros (textos, mapas, fotos, etc... ) em 689 pastas no meu computador !
"E olha que julgo estar longe do que considero minimamente necessário para se ter uma ideia bem fundamentada sobre a realidade do que foi essa triste guerra ... E estou só a falar dos aspectos militares !
"Muito lamento não ter menos uns dez anos, pelo menos" (...)
(****) Infelizmente, por diversas razões, a que não é alheia também a instabilidade político-militar na Guiné-Bissau, este belo sonho do Nuno e da Júlia (que nasceu na Guiné), não tem sido possível concretizar...
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Interessante este artigo, há bastante tempo no arquivo morto e agora desenterrado pelo LG para “animar a malta”.
OK, vamos a ele, “O Sucesso” versus “O Insucesso”.
Pelo que acaba de ser publicado e segundo os intervenientes, (nossos e PAIGC), “em Gadamael o ataque foi um insucesso”.
Na minha opinião a pergunta encerra algo de ridículo, de subserviente, o que devia ter sido perguntado era quando é que, durante todos os anos de guerra, houve um sucesso do PAIGC?
Bula? Biambe? Cufar? Aldeia Formosa? Bambadinca? Copá? Cheche? Buruntuma?
Quais as vitórias do PAIGC? Alguém sabe?
Pronto, lá vem outra vez o Guileje!!!
Não foi tomado nem conquistado, (como muitos afirmam) simplesmente ..abandonado.
E lá vêm os 3 Gs:
Em Guileje a tropa formou e ... debandou...
Em Guidage a tropa aguentou!
Em Gadamael a tropa debandou ... mas voltou.
Logo, os sucessos do PAIGC não dependeram do seu poder ou vontade.
Apenas da vontade dos nossos combatentes.
Um abraço
António Martins de Matos
PS: Acabo de ser convidado para a apresentação de um livro ....
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