Guiné > Zona Leste > Mapa do Sector L1 (Bambadinca) > 1969/71 (vd. Sinais e legendas).
Fonte: História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971
Infogravura: © Luís Graça (2005). Direitos reservados
Na época em que o BART (Bambadinca, 1970/72) foi responsável pelo Sector L1, a população (fulas, balantas e mandingas) sob controlo das NT ou sob duplo controlo, recenseada, era da ordem dos 15 mil; por sua vez, estimava-se que o PAIGC controlasse cerca de 5000 habitantes, predominantemente balantas e beafadas (a norte do Rio Geba, em Madina / Belel e ao longo da margem direita do Rio Corubal, de Seco Braima à Foz do Corubal: no croquis, os círculos a tracejado). Sobre o Sector L1, vd. também um curioso documento do PAIGC, de 1968, já aqui publicado (*).
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Continuação da publicação do Despacho do Com-Chefe, Gen Spínola, de 7/1/1971, relativo à visita de inspecção ao BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), um documento de 12 páginas (**)
(...) 8. Visita a Demba Taco em 15Dez70
-Total abandono da população e das milícias.
- Defesa completamente descuidada.
- A milícia apresentou as armas em péssimas condições de limpeza.
- As crianças da Escola queixaram-se que o professor está sempre em Bambadinca, e que lhes falta material escolar.
[Tabanca fula, colaborante na defesa. 234 habitantes. Pel Mil 243 / Comp Mil nº 14].
9. Visita a Taibatá, em 15Dez70
- Situação idêntica à de Demba Taco no que toca ao abandono da milícia e das populações do ponto de vista de defesa.
- A carta de tiro do morteiro (guarnição metropolitana) era teórica. O próprio pessoal declarou que em caso de ataque faria fogo “a ollho” Dispensam-se comentários a tal reacção.
- O armamento da milícia encontrava-se em péssimo estado, começando pelos comandantes que apresentavam as suas G-3 em muito precárias condições de limpeza.
[ Tabanca fula, colaborante na defesa. 228 habitantes. Sede do regulado do Xime. 1 Esq Pel Mort 2106 . Pel Mil 241 / Comp Mil nº 14]
10. Visita a Amedalai em 19Dez70
- A milícia desta tabanca encontra-se bem cuidada, tendo ficado com boa impressão do seu comandante.
- As armas apresentavam-se bem limpas.
- Há que rever o traçado doa arame farpado que se encontra fora da zona eficaz de tiro das armas de defesa.
- A população pediu que lhe fosse fornecido cimento para fazer as coberturas dos abrigos. Há que equacionar este problema em ordem a satisfazer o pedido.
- Foi chamada a atenção para a falta de material didáctico para a escola (cadernos, livros, etc.). Estas deficiências já deviam ter sido detectadas pelo Comando do Batalhão.
[Tabanca fula, colaborante na defesa. 160 habitantes. Pel Mil 242 / Comp Milicias nº 14]
11. Visita a Enxalé em 15Dez70
- Fiquei com óptima impressão do subalterno Comandante do destacamento (***). Trata-se de um elemento que, se lhe forem fornecidos os meios necessários, realizará obra válida no Enxalé.
- Sem qualquer justificação não se encontra fixada a ZA do Destacamento. A missão está mal atribuída e não se ajusta à presente situação. O Comandante do destacamento na falta de elementos actualizados tem lançado mão de documentos do passado.
- Há que dar o necessário apoio técnico ao Comandante do destacamento para efeito de estudo da defesa do Enxalé cujo plano necessita ser revisto em ordem a englobar a tabanca, não se justificando a hipoteca de meios orientados para a bolanha do Rio Geba.
- Falta a carta de tiro do morteiro 81.
- Há que remodelar os abrigos à luz das Directivas publicadas pelo CC.
- O barqueiro do Enxalé pesca para o destacamento em zona vermelha, correndo os inerentes riscos. Há que equacionar o problema (pp. 8/9).
[ Povoação com 300 habitantes, colaborante na defesa. 1 loja comercial 1 Esq Pel Mort 2106 + 1 Gr Comb da CART 2715, Xime ]
(Continua)
[Fixação / revisão de texto / notas em itálico dentro de parênteses rectos / título: L.G.]
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Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de
24 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5878: PAIGC: um curioso croquis do Sector 2, área do Xime, desenhado e legendado por Amílcar Cabral (c. 1968) (Luís Graça)
(**) Vd. postes anteriores:
11 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6368: O Spínola que eu conheci (20): "Erros graves cometidos do ponto de vista de segurança explicam o êxito da emboscada do IN, em 26/11/1970, na região Xime-Ponta do Inglês" (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)
7 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6335: O Spínola que eu conheci (19): "Fiquei francamente mal impressionado com a visita à Companhia sediada em Mansambo" (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)
6 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6327: O Spínola que eu conheci (17): A visita de inspecção ao Xitole e às tabancas em autodefesa de Sinchã Madiu, Cambesse e Tangali em 16 de Novembro de 1970 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)
6 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6326: O Spínola que eu conheci (16): A visita de inspecção ao BART 2917 e suas subunidades, Sector L1, Bambadinca, de 16 de Novembro a 19 de Dezembro de 1970 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)
(***) Possível referência a um dos 4 alferes da CART 2715 (Xime, 1970/72) que tinha um Gr Comb destacado no Enxalé... Julgo que o João Carlos Antão Fortes Rocha (que eu conheci, no último convívio em Coruche) esteve destacado no Enxalé... Mas também, podiam ser o Aníbal de Sousa Gonçalves, o José Fernando de Andrade Rodrigues ou o João Manuel Mendes Ribeiro (este último viria a morrer em combate, em 4/10/1971, na temíovel zona do Poindon/Ponta do Inglês, no decurso da Op Dragão Feroz
2 comentários:
Conheci o ex-Alf Mil Rocha no
último convívio do BART 2917, em Coruche, em Março passado... Se bem percebi, ele passou pelo Enxalé... Teria nesta altura, em Dezembro de 1970 ? Quem mo pode confirmar ? Benjamim, Guimarães...
Pela conversa (breve) que tive com ele (e com a esposa), percebi que ele trabalhava na Novartis...
Quanto ao Ribeiro, só agora soube que tinha morrido no maldito Poindom, de trágica memória para todos aqueles que, de um lado e do outro, combateram na região do Xime durante anos...
Aquela terra e aquele capim estão empapados do sangue de muita gente, portugueses e guineenses, civis, guerrilheiros, militares...
O barqueiro do Enxalé - creio que era ele - apanhava uns magníficos lagostins de rio, que depois o Zé Maria, de Bambadinca, comprava e que a gente comia na tasca dele, a peso de ouro (50 pesos o quilo!)... O preço era justificado pelo risco...
Lembras-te, Humberto Reis ? Lembras-te, Tony Levezinho ? Ao Alferes Rodrigues já não posso perguntar, por que já não está entre nós (Paz à sua alma!, fizemos operações conjuntas, foi também vítima - tal como eu e o Marques - da mina A/C em Nhabijões, em 13 de Janeiro de 1971).
E a propósito, o que será feito do tuga Zé Maria, que tinha fama (e se calhar proveito) de rezar a Deus (as NT) e ao Diabo (o PAIGC) ? Ainda estará vivo ?
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