Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (1971/73) , Gringos de Guileje > Oráculo, com a imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Santo Cristo dos Milagres... Na imagem, o Amaro Munhoz Samúdio, ex-1º cabo enfermeiro, está a pegar ao colo um bébé chimpazé que ele comprou a um caçador local por 500 pesos...Na foto pode ler-se ainda a oração em verso: "Santo Cristo dos Milagres / Nesta capelinha oramos / Para sempre sorte dares / Aos Gringos Açorianos".
Sabemos, através do Samúdio, que o monumento foi contruido pelos Gringos (que estiveram em Guileje entre Nov 71 e Dez 72) e inaugurado pelo então Ministro da Defesa Nacional, general Sá Rebelo e também pelo então governador, general Spínola, em 12 de Junho de 1972.
Esta lápide assim como a estatueta e diversos outros objectos de uso corrente, foram encontrados por ocasião das escavações arqueológicas feitas pela AD - Acção para o Desenvolvimento, sob a orientação do Domingos Fonseca, engenheiro técnico agrícola, membro da nossa Tabanca Grande...
Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados.
1. Operação Muralha Quimérica (Guileje, 27 de Março a 8 Abril de 1972)
por Amaro Samúdio
[Texto enviado em 15 de Junho de 2007 e que, por lapso, não chegou a ser publicado. Revisão / fixação de texto: L.G.]
No seguimento do transmitido, e bem, pelo nosso camarada Victor Tavares, 1º Cabo Pára-quedísta do BCP 12 sobre esta operação (*), creio, também , ser útil transmiti-la pela parte das forças sitiadas nessa altura em Guileje, a CCAÇ 3477.
Em 28 de Março de1972 chegam a Guileje as Tropas Pára-quedistas afim de participarem na operação.
Pelas 7 horas da manhã desse dia vão para a mata dois grupos de combate da CCAÇ 3477 para emboscar e fazer protecção à coluna na estrada Gadamael Porto/Guileje que trazia as referidas tropas.
Não foi feita uma coluna mas duas pelo que nos fomos levar água e sandes de forma a estarmos 11.00 horas emboscados.
Em 29 de Março dois Grupos de Combate da CCAÇ 3477 efectuam uma patrulha de reconhecimento na zona de Sinchuro, conjugada na Op Muralha Quimérica.
No dia seguinte outros dois Grupos de Combate da Companhia efectuam nova patrulha na mesma zona.
Chega nesse dia, 30 de Março, a Guileje a 2ª Companhia de Comandos Africanos para participar na operação.
Em 1 e Abril a CCAÇ 3477 efectua uma patrulha de reconhecimento e protecção à coluna de reabastecimento Gadamael / Guileje, colocando um Grupo no Cruzamento e outro no Bendugo. Nesta patrulha, no Cruzamento, um camarada nosso cai numa armadilha montada pelo IN.
Como os rádios não funcionavam para pedir auxilio, foram os açorianos, com o espírito de voluntarismo, normal neles, que vieram ao quartel buscar socorros.
Era o açoriano, um miúdo de 18 anos, Luís Alberto Carneiro Monte, não resistiu aos ferimentos, sendo transportado pelo héli, como ferido, embora já estivesse morto.
Muito embora andar na mata fosse o nosso dia a dia, em 2 de Abril, integrados nesta operação, saímos para o mato com ração de combate para um dia, afim de nos emboscar no Corredor de Guileje (vulgo, para nós, Corredor da Morte).
Este Corredor, refiro, era a estrada que fazia fronteira com a República da Guiné. O IN circulava, a pé ou com viaturas, absolutamente à vontade. Em Guileje, ouvíamos, regularmente, o ruído das viaturas.
Atingimos o Corredor cerca das 16,15 horas procedendo à montagem da emboscada. Começava a escurecer e não existiam indícios do IN. Sendo o local de emboscada uma zona de capim, montou-se no corredor uma armadilha artesanal improvisada com um cordão de dolman e uma granada de mão defensiva m/963, retirando cerca 40 metros e mantendo-nos à espera da passagem de elementos do IN que era certa.
Pelas 22,00 horas ouvem-se ruídos no Corredor, não se sabendo, pela escuridão da noite, se seria animal ou o IN. A armadilha rebentou, silêncio de segundos que pareciam horas, ouviram-se gritos e vozes e à ordem de fogo, com a surpresa com que foram apanhados num local onde habitualmente andavam á vontade, não conseguiram responder. Eram cerca de 15 elementos.
Alguns minutos depois, outro grupo IN de Enora começou a bater zona no local onde estivemos. Recuámos cerca de 2 km para a mata do rio Machampo.
Durante toda a noite o IN bateu a zona. Os rebentamentos eram permanentes e próximos.
Com os rádios, como era habitual, avariados, não era possível contactar o quartel para as pças 11,4 responderem para Kandiafar e Simbeli. .Resultava sempre em paragem dos ataques porque eram duas Aldeias já na República da Guiné.
No dia seguinte, pela madrugada, voltámos ao local da emboscada onde foi encontrado um elemento do IN, fardado, morto e mais três pares de botas. Foram montadas novas armadilhas e estivemos emboscados durante todo o dia sem que nada se passasse.
Para comer já nada havia mas o principal problema era a água, pelo que fomos buscá-la a uma bolanha, onde os animais bebiam, e filtrámo-la com gazes e ligaduras.
À noite voltamos a retirar para um rio tendo durante toda a noite, o IN, batido toda a zona.
No dia 4 de Abril pelas 10,30 chegamos ao quartel saindo, nesse mesmo dia outros 2 Grupos de Combate da CCAÇ 3477 para o Corredor afim de emboscar e montar armadilhas na zona de Babacambune.
Em 5 de Abril pelas 19.00 horas Guileje é atacado com morteiro 120 e canhão s/r.
Em 6 outros 2 Grupos saem para o Corredor para patrulhar e emboscar.
Em 7 Guileje é atacado da direcção da Fronteira com morteiros 120 e canhão s/r durante cerca de 50 minutos, com cerca de 150 rebentamentos.
Em 8 de Abril de 1972 termina a Operação Muralha Quimérica.
A operação terminou mas nós continuámos em Guileje e, passados dois dias, no dia 10, fomos, pelas 19,15 horas, atacados de seis posições diferentes, nomeadamente das direcções de Simbali e Sibijá, situados em território da República da Guiné, com canhão s/r, vários morteiros 82 e 120, durante mais de uma hora, com cerca de 400 rebentamentos.
Durante o ataque um avião sobrevoou Guileje na direcção Sudeste-Nordeste.
É dado como certo que, após a Operação Muralha Quimérica, o IN reforçou, na zona, os efectivos e sua actividade operacional efectuando sobre o aquartelamento várias e violentas flagelações até finais de Abril, diminuindo no mês de Maio devido ao início das chuvas.
A partir dai ia ser o isolamento durante três meses.
Reconheço a maçada que é ler isto mas o que se pode fazer. Foi assim. Por favor, Luís,. aproveita o que entenderes. Um abraço. Samúdio.
Fontes:
História da Companhia Independente CCAÇ 3477. Gringos de Guileje
Caderno Diário, Exclusivo Casa Mendes, Guiné, Edição aprovadsa pelos Serviços Provinciais de Eduação ( A que eu pomposamente chamo "O MEU DIÁRIO DE GUILEJE” e que me custou 3.50 escudos).
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Nota de L.G.:
(...) "Acção desenrolada entre 27 de Março e 8 de Abril de 1972, no sul da Guiné (Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael).(*) Vd. poste de 29 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1793: Operação Muralha Quimérica, com os pára-quedistas do BCP 12: Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael, Abril de 1972 (Victor Tavares)
"Esta operação, na qual participaram as CCP 121, 122, 123 e outras forças, com resultados excelentes, nas zonas operacionais de Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael Porto, foi uma das muitas operações importantes em que intervieram os Paraquedistas do BCP 12 durante o ano de 1972. (...) A zona de acção situava-se numa região que o PAIGC considerava libertada e onde os guerrilheiros se movimentavam com relativo à-vontade conforme se viria a constatar.
"O rio Balana separava o corredor de Guileje, que se estendia a sul entre a fronteira e ia até Salancaur Jate. A outra, a norte do mesmo rio, onde se movimentavam os grandes efectivos do Primeiro Corpo do Exército do PAIGC e que se incluía no troço do corredor de Missirá.
"Para esta operação, além das Companhias de Pára-quedistas, também fizeram parte duas Companhias de Comandos Africanos assim como duas Companhias do Exército, as CCAÇ 3399 e 3477, mais a CCAÇ 18 além de um grupo especial do COE. Todas estas forças estavam sob o comando do Tenente-Coronel Pára-quedista Araújo e Sá, Comandante do BCP 12 tendo como adjunto o Cap Pára-quedista Nuno Mira Vaz" (...)
2 comentários:
Amaro: Dois pedidos: (i) Quando é que pões o teu ex-Cap, o Abílio Delgado, a escrever no nosso blogue ? (ii) Mande-me mais notas do teu "diário da Guiné"... Seria uma pena perderem-se as tuas notas, escritas no tal caderninho escolar... Há muitos Gringos por esse mundo fora, que poderão ler-te através do nosso blogue... Gostei de te valer, numa das fotos do 4º Encontro, com o teu netinho... Um abração. Luís
Está fotografia da Nossa Senhora de Fátima do meu Amigo Samúdio é em Nhacra digo eu 1ºCabo Moreira (O Matosinhos)antiaérea 1972/1974
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