Em busca de camaradas, Jorge Barbosa ex-Operador de Mensagens da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70.
1. No dia 6 de Maio de 2010 recebemos de João Barbosa, filho do nosso camarada Jorge Barbosa, a seguinte mensagem:
Boa tarde Sr Luís Graça,
Chamo-me João Barbosa e vim por este meio contactá-lo acerca do Blogue dos Camaradas da Guiné. O meu pai também esteve lá situado nos anos de 69 e 70 e costumo conversar com ele acerca dessa sua vossa altura.
Infelizmente não tem nenhum contacto com antigos camaradas, pois o contacto perde-se e torna-se difícil trocar quaisquer impressões. No entanto, lembrei-me de fazer uma pesquisa sobre o tema e contactos, inclusive cruzar informações na internet dos dados que ele me deu (hei-de também mostrar-lhe o blog, tem bastante valor).
Ele esteve em Binar, Encheia e Biambe, com os batalhões de caçadores 2861, 2864, 2865 e 2866, nos anos que já referi, nos operacionais de comandos e serviços, e o seu nome é Jorge Barbosa.
É possível descobrir alguém ou coisas desse teu tempo?
Quem sabe, como o blog propõe, descobrir camaradas com quem ele possa ter estado?
Eu sou seu filho, e interesso-me muito sobre o assunto. Em breve terei acesso a fotografias dessa altura que ele tem, pois de momento não estou em casa e poderei disponibilizá-las.
Era importante estabelecer o contacto, acho que seria bom, e como vejo tantos anúncios de antigos combatentes terem encontros podia ser que o meu pai também tivesse esse prazer.
Obrigado pela atenção, aguardando resposta sua.
João Barbosa.
joaocmbarbosa@gmail.com
2. No dia 16 foi enviada esta mensagem ao nosso amigo João Barbosa:
Caro amigo João Barbosa
O seu pai pertenceu ao Batalhão de Caçadores 2861, certo?
Este Batalhão foi composto pela CCS (Companhia de Comando e Serviços) e pelas Companhias Operacionais 2464; 2465 e 2466.
Confirme com o seu pai se ele pertenceu à CCS ou a uma das Companhias Operacionais. Ajudava saber o Posto e a Especialidade dele.
Entretanto pergunte-lhe se ele se lembra do Alferes Miliciano Aníbal Xavier Magalhães da CCAÇ 2465 ou do Furriel Enfermeiro Armando Pires da CCS.
Vá aos links seguintes e mostre-lhe os postes respectivos onde estão as fotos destes camaradas
Guiné 63/74 - P6378: Tabanca Grande (219): Aníbal João Vilhena Xavier Magalhães, ex-Alf Mil da CCAÇ 2465/BCAÇ 2861 (Có e Bissum-Naga, 1969/70)
e
Guiné 63/74 - P4778: Tabanca Grande (168): Armando Pires, ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã (1969/70)
Depois diga-me qualquer coisa para eu ver se posso ajudar ainda mais.
Um abraço para si e outro para o seu pai.
Carlos Vinhal
3. No dia 19 tivemos novo contacto do João Barbosa que incluia as duas fotos reproduzidas
Sr Carlos Vinhal,
Foi com entusiasmo que recebi o seu email e mais esclarecido fiquei, pois o meu pai foi um pouco vago nas primeiras informações que me deu. Mostrei-lhe o email e em seguida a sua pagina, sobre o qual não reconheceu, mas, felizmente, o outro link que deixou sobre o Sr Armando Pires ele reconheceu logo! Em Bula e Bissorã, disse ele.
Por norma ele contou-me também que por nomes de BI era dificil ele reconhecer mais gente (dos incritos no blog) e que se tratavam lá mais pelo nome das terras donde tinham vindo. (Ex: "Oh Arouca!" Este, ao que parece, era um tipo dos morteiros, segundo ele me disse.)
O meu pai teve na CCS, era operador de mensagens, disse ele que eram no serviço dele, tratados por "charlemike". Época de Maio de 69 até Dezembro de 70. Sobre as companhias, ele disse-me que esse pessoal é que eram os verdadeiros heróis, porque íam para o mato e era norma a lei do "desenrascanso". Se no quartel pouco tinham, então os operacionais muito menos... Mais bem equipados eram os comandos e os paraquedistas, com bons camuflados e armamento, comida e etc. Ele falou-me que os uniformes não havia com números certos, eram standardizados com pouco números, que faria então eles vestirem mesmo qualquer coisa. O tecido era muito duro, e mesmo com lexívia, para amaciar, depois desfazia o uniforme.
Dado o aparte, em relação à comida, diz isto porque na Base Aérea em Bissalanca foi lá por consulta externa e viu os pequenos almoços com sumo de laranja, bife e batatas fritas que perguntou se aquilo era pequeno almoço ou almoço mesmo! (enquanto escrevo isto ele vai-me contando coisas. A organização dos soldados, disse-me por alto, que eram distribuidas 3 companhias por cada batalhão destacadas para Binar, Biambe e Encheia, diz ele, para efeitos de me fazer compreender melhor como os destacamentos funcionavam).
Perguntou-me também no momento se conhecia o Zé Maria, dono dum tasco que servia refeições, em Bissorã, antigo soldado que ficou lá.
Sobre o sr Armando Pires, o meu pai disse que jogava muito bem Ping-Pong e andava sempre de óculos, como a foto que tem na página, e que dava aos habitantes de lá que íam à enfermaria do quartel e que ele lhes dava quase sempre os comprimidos LM... "tome uma caixa deles!" quando eles se queixavam que não resultava! Injecções de água destilada às vezes também levavam! (Este email está um pouco desconexo porque estou a escrever enquanto que ele me vai contando coisas sobre esse tempo)
E que realmente o Tenente Coronel Polidoro era muito rígido, era... Diz o meu pai, que estava na tabanca da lavadeira dele, uma altura e que o Polidoro o viu, de tarde, enquanto andava a ver se apanhava algum soldado a facilitar. Mandava então o "marrachinho", o motorista dele ir buscá-los, o que aconteceu efectivamente com o meu pai uma vez, e que ficou detido durante cinco dias no quartel.
Falou-me também dum vendedor Libanês que tinha duas filhas muito bonitas, e que uma delas namorava com o alferes Barbosa, do reabastecimento. Quando ele fechava as portas do estabelecimento, cedo, era porque por norma, o quartel ía ser atacado durante a noite... Eles já sabiam que por volta das 9, 10 da noite. Nos últimos dias do mês eram quase sempre atacados, por canhões sem recuo, armas ligeiras...
Pronto, para já foram algumas notícias! Creio que se continuasse a falar com ele enquanto fosse escrevendo isto não iria sair daqui durante um bom tempo, escrevendo um ponto de vista com aspectos que nos livros não se referem e que só vocês, que estiveram mesmo lá, podem falar. Como já se faz tarde decidi resumir isto com alguns elementos que identificassem o que de comum podessem saber e relembrar. Juntamente com este texto envio-lhe duas fotografias de onde o meu pai esteve, com os colegas, de certa forma para que se quiser publicar no blogue possam alguns verem-se ou reconhecerem outros. O meu pai é o do fundo da direita direita na primeira foto e na de baixo é o segundo da esquerda agachado. Comunique o que eu lhe contei ao Sr Armando Pires, caso entenda que tenha algum valor e mostre-lhe o email que lhe enviei.
Muito obrigado pela atenção, tanto a si como o encaminhador do meu email, o Sr Luís Graça.
P.S. Se mais informação que possa prestar por parte do meu pai, (pois é comigo que ele fala muito disto, e porque eu PUXO para que ele fale, não há problema que eu colabore e lhe envie tais dados, seja a si ou ao Sr Luis Graça ou ao Sr Armando Pires!)
Cumprimentos,
João Barbosa.
4. Esta mensagem foi encaminhada por nós ao camarada Armando Pies, ex-Fur Mil Enf.º do BCAÇ 2861, do que resultou a seguinte resposta:
Camarada Vinhal
Hoje mesmo escrevi ao João Barbosa dando-lhe indicações para que ele possa estabelecer contacto com o restante pessoal da Companhia porque, como me foi dito pelo Furriel Miliciano que então chefiava as Transmissões, aquilo na foto é tudo pessoal da mesma equipa.
Foi pena só agora o João Barbosa ter batido à porta da Tabanca porque o almoço da Companhia foi no passado dia 8.
Enfim, vamos ver se o pai, que parece andar arredado dos nossos convívios, ganha ânimo para vir ao nosso encontro.
Um Grande Bem Haja pelo vosso trabalho e um abraço camarada do
armando pires
__________
Vd. último poste da série de 17 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6414: Em busca de... (132): Procuro Tobias Queirós, ex-Fur Mil do 15.º Pel Art.ª, Guileje e Gadamael, 1972/73 (Luís Paiva)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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