quarta-feira, 1 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8361: Notícias do nossos amigos da AD - Bissau (18): No Dia Mundial da Criança, pensando na Alicinha do Cantanhez e em todas as crianças do mundo (Alice de Lisboa)







1. Mensagem que chegou à Maria Alice Carneiro, com data de 16 de Maio último, através do correio do nosso amigo Pepito, e que achamos não ficar mal publicar em Dia Mundial da Criança [celebrada em Portugal no dia 1 de Junho; para a ONU,  oficialmente é a 20 de Novembro, data em foi proclamada, em 1959,  a Declaração dos Direitos da Criança).

Fotos: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2011). Todos os direitos reservados.




Madrinha Alice;


Aqui estou eu a mandar mais umas fotografias que tenho a certeza vais gostar.

Cresci muito e já ando por tudo quanto é sítio, sempre a roncar as roupas que me enviaste.

A Mãe Cadi  tem estado em Cafine onde abriu um bar e onde vende refeições, para ganhar uns dinheiros e ajudar a família.

beijinhos da Alicinha [,de Farim do Cantanhez]



2. Resposta da madrinha Alice de Lisboa:

Querida afilhada, Alicinha, querida Cadi:

Como é bom saber que a minha flor de Farim do Cantanhez está a crescer, como uma bela e saudável criança. Nela depositamos todas as esperanças (a mãe, Cadi, o pai, António Baldé, os avós, o amigo Pepito, os fulas e os nalus, e todos os demais povos da Guiné-Bissau, mais o seu governo)...


[ Faz votos, Cadi, para que a nossa menina goze de todos os direitos que são universalmente reconhecidos a todas as crianças do mundo, desde 1959, sem distinção ou discriminação por motivo de etnia, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de qualquer natureza, nacionauidade, classe social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição, quer sua ou da sua família. Princípio 1º da Declaração dos Direitos da Criança.]


Rezo, minha querida Alicinha, ao mesmo Deus da tua mãe e do teu pai, para que os homens que governam o teu país e o mundo, tenham inteligência emocional, sabedoria humana e recursos suficientes para te poder garantir, a ti e a todos os meninos da Guiné, o direito ao futuro e à esperança, respeitando a tua dignidade e liberdade como pessoa.


[A criança gozará de protecção social e ser-lhe-ão proporcionadas oportunidade e facilidades, por lei e por outros meios, de modo a assegurar o seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, de forma sadia e normal, em condições de liberdade e dignidade. Princípio 2º.]

Felizmente, tens um pai, fula (embora longe, a viver e a trabalhar em Portugal), e uma mãe, nalu, e um nome e uma pátria. Como é bom saber que tens uma família que te protege e que te ama. E que o teu avô é um bom guineense, e um grande patriota, um combatente que lutou pela liberdade do povo a que pertences e de quem deves ter sempre orgulho.

[Desde o nascimento, toda criança terá direito a um nome e a uma nacionalidade. Princípio 3º.]


Pelas fotos tiradas pelo nosso comum amigo Pepito, e que me deixaram tão feliz (obrigado, Pepito!),  vejo que tens tido os cuidados de saúde mínimos, mas tão necessários,  para poderes escapar à terrível maldição da morbimortalidade infantil que se abate sobre as crianças do teu país e do teu continente.

[A criança gozará os benefícios da segurança social. Terá direito a crescer e criar-se com saúde; para isto, tanto à criança como à mãe, serão proporcionados cuidados e protecção especial, incluindo os  adequados cuidados pré e pós-natais. A criança terá direito a alimentação, recreação e assistência médica adequadas. Princípio 4º.]

Pelo que vejo e pelo que me contam,  és uma criança linda e perfeita. E que em breve poderás ter água potável, na tua aldeia, devendo ali ser construído um poço e montada uma bomba que será movida a energia solar... Graças aos esforços da AD, do Pepito e do meu querido amigo Zé Teixeira e demais amigos portugueses, muitos deles ex-combatentes da guerra colonial. E isso alegra o meu coração, porque a Cadi já não precisará de ir à bolanha buscar água, salobra e impura; e tu serás livre para  ires brincar com os teus amiguinhos; e já não apanharás doenças associadas à ingestão de água inquinada.

[À criança com incapacidade física, mental ou social  serão proporcionados o tratamento, a educação e os cuidados especiais exigidos pela sua condição peculiar. Princípio 5º. ]


Que ternura ver a mãe Cadi seguir-te com o olhar, pegar-te ao colo, velar por ti, vestir-me com as roupinhas que te mando, posar orgulhosa como uma raínha nalu, contigo,  para a fotografia, trabalhar para ti, dar-te tudo do pouco que ela tem... [Seguiu hoje mesmo, mais um encomendinha postal com roupas e brinquedos, para ti; espero que cheguem bem, e em breve; só não te mando  lápis e marcadores para desenhares e pintares, porque ainda não tens três aninhos e não seria seguro deixar-te sozinha com estes materiais].

[Para o desenvolvimento completo e harmonioso da sua personalidade, a criança precisa de amor e compreensão. Criar-se-á, sempre que possível, ao cuidado e sob a responsabilidade dos pais e, em qualquer hipótese, num ambiente de afecto e de segurança moral e material;  salvo circunstâncias excepcionais, a criança da tenra idade não será apartada da mãe. À sociedade e às autoridades públicas caberá a obrigação de propiciar cuidados especiais às crianças sem família e aquelas que carecem de meios adequados de subsistência. É desejável a prestação de ajuda oficial e de outra natureza em prol da manutenção dos filhos de famílias numerosas. Princípio 6º].

Quero saber se vais ter escola, e professor, e cadernos e lápis e livros, na tua tabanca, quando fores maiorzinha... Tenho medo que possas não aprender o português, língua oficial do teu país e janela para o mundo (que é muito maior que a tua aldeia em Farim do Cantanhez)... Como a tua mãe, que não fala português, comunicando comigo, ao telemóvel, apenas por monossílabos, por frases curtas, por um rudimentar crioulo...

[A criança terá direito a receber educação, que será gratuita e obrigatória pelo menos a nível do ensino básico. Ser-lhe-á propiciada uma educação capaz de promover a sua cultura geral e capacitá-la para, em condições de igualdade de oportunidades, desenvolver as suas aptidões, a sua capacidade de decidir e de julgar,  e o seu sentido  de responsabilidade moral e social, bem como tornar-se um membro útil da sociedade. O superior interesse da criança deverá impor-se sempre aos responsáveis pela sua educação e orientação; esta responsabilidade cabe, em primeiro lugar, aos pais. A criança terá ampla oportunidade para brincar e divertir-se; a sociedade e as autoridades públicas empenhar-se-ão em promover o gozo deste direito. Princípio 7º.]

Quero ter a certeza que estarás sempre em segurança neste nosso mundo, na tua África,  no teu país, na tua região de Tombali, no teu Cantanhez, na tua tabanca...


[A criança figurará, em quaisquer circunstâncias, entre os primeiros a receber protecção e socorro. Princípio 8º]


Angustia-me pensar que um dia, quando te começarem a ver como um mulherzinha, possas vir a ser vítima do cruel fanado,  da Mutilação Genital Feminina, de acordo com os usos e costumes dos fulas e de outros povos da Guiné... Espero que o teu pai (um homem grande que já conheceu mundo) e a tua mãe saibam  que o melhor para ti, e para as meninas da Guiné, passa por romper com as práticas cruéis das fanatecas, práticas essas com que os homens, no passado, tinham a veleidade de se apoderar do corpo e da alma das mulheres.

[A criança gozará protecção contra quaisquer formas de negligência, crueldade e exploração Não será jamais objecto de tráfico, sob qualquer forma. Não será permitido à criança empregar-se antes da idade mínima conveniente; de nenhuma forma será levada a ou ser-lhe-á permitido empenhar-se em qualquer ocupação ou emprego que lhe prejudique a saúde ou a educação ou que interfira no seu desenvolvimento físico, mental ou moral. Princípio 9º]

Farei o meu melhor para, eu própria, tua madrinha, te proteger contra os diabos da intolerância e do ódio entre grupos e entre povos, em Portugal, na Guiné-Bissau e no resto do mundo. Gostaria de poder acompanhar o teu crescimento com orgulho e com muito amor, como se fosses minha filha. E gostaria de um dia destes te conhecer, e conhecer os teus avós. A tua mãe, Cadi. já a conheço desde 2008. Com o  teu pai, António Baldé, falo regularmente ao telefone. Falta tu conheceres a tua madrinha portuguesa.  Mil beijinhos, para ti e para a tua mãe. Boa sorte para o negócio da Cadi, mulher de coragem. A Alice de Lisboa.

[A criança gozará de protecção contra actos que possam suscitar discriminação racial, religiosa ou de qualquer outra natureza. Criar-se-á num ambiente de compreensão, de tolerância, de amizade entre os povos, de paz e de fraternidade universal. Princípio 10º].
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Nota do editor:

6 comentários:

Torcato Mendonca disse...

Dizer que as crianças são...parece um lugar comum estafado. Pode. Só que, de tudo o que vi na Guiné, as crianças ficaram para sempre bem fundo marcadas, indelevelmente marcadas em mim. Crianças mal nutridas, com narizes sujos, umbigos e ventres salientes mas sempre, sempre um olhar meigo, uma mãe e uma família a dar-lhes carinho. A elas crianças e aos Velhos.
Os bebés futa -fulas eram lindos, lindos e os outros também. Por vezes pensava o que seria o futuro deles. Por vezes, menos do que devia se nas Tabancas tanto vivia.
Continuo a gostar das crianças e para elas que o Mundo, este amontoado de gentes, leis e parvoíces, se modifique para que a criança viva feliz. Utopia. Não. Não pode ser ou este mundo não sobrevive.
Eu quero que o meu neto,dois anitos de gente, e todos os outros sejam mais felizes do que foram os de minha geração e dos que ela viu...
AB T.

Zé Teixeira disse...

Relembro que a Alice precisa de beber água com o mínimo de salubridade. O poço já foi aberto e tem água. Ainda não temos o capital para montar o sistema de energia solar.
quem quer dar uma ajudinha para fechar de forma melhor este Dia Mundial da Criança?

Zé Teixeira

Maria Alice Ferreira Carneiro disse...

Zé Teixeira

Tens razão. Podiamos aproveitar o dia 4 para lançarmos mais esta solidariedade com a Guiné e neste caso com a Alicinha. Queria contar contigo no sábado, pode ser?

Um grande abraço de muita admiração pelo teu trabalho e por todos aqueles que de uma forma ou de outra também o estão a fazer. Um bem haja....

Mª Alice

Anónimo disse...

Amiga Alice,
Que Deus lhe dê muita saúde para que possa continuar, mesmo à distância, a dar apoio e carinho à Sua Alicinha.
Que bom seria se todos os homens do mundo dedicassem um pouco de tempo à leitura dos Direitos da Criança e os cumprissem.
Bem Haja Alice pelo seu contributo a quem dele tanto precisa.
Um beijinho
Filomena

zé teixeira disse...

Alice.
Eu não posso ir a Monte Real. Creio que alguém pintou um quadro e vai sorteá-lo para apoio ao projecto.
Tudo será bem vindo.

Bjo.
Zé Teixeira

Anónimo disse...

Camarigos mandem uma pequena ajuda, porque é uma pinga de água no mar e o Zé Teixeira trata do seu seguimento.

Já enviei o meu óbolo para, que na Tabanca de Farim do Cantanhez haja um poço a funcionar com um mínimo de condições de salubridade, que servirá a Alicinha e a população em geral.

Arménio Estorninho
Técnico de Saúde Ambiental