Data: 31 de Outubro de 2011 15:46
Assunto: Liga dos Combatentes, Núcleo Regional de Setúbal, 9 de Abril de 1998
LIGA DOS COMBATENTES > NÚCLEO REGIONAL DE SETÚBAL > CERIMÓNIA COMEMORATIVA DIA DO COMBATENTE > 9 DE ABRIL DE 1998
por José Pardete Ferreira
Senhor Governador Civil de Setúbal
Senhor Presidente da Assembleia Municipal de Setúbal
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Setúbal,
Senhor Bispo da Diocese de Setúbal,
Senhor Comandante Militar de Setúbal,
Senhor Presidente do Núcleo Regional de Setúbal da Liga dos Combatentes,
Senhores Representantes de outras Instituições Civis, Religiosas ou Militares, aqui presentes,
Caros Combatentes,
Minhas Senhoras e meus Senhores:
Celebrar os seus cantados mortos em Combate bem como honrar todos aqueles que, de uma forma ou de outra, mesmo sem armas, pela Pátria lutaram, é um dever de toda e qualquer sociedade, digna desse nome.
J. A.Pardete Ferreira
Seria hipocrisia afirmar que o convite formulado para fazer esta breve evocação e que muito me honrou, me deixou indiferente. Encarei-o como mais uma Missão de Serviço que me foi confiada e que vou cumprir.
É por isso que hoje, dia 9 de Abril de 1998, nos encontramos, altivos, em torno deste belo monumento, com o fim único de saudarmos os que morreram em defesa da Pátria, saudação essa, extensiva a todos os portugueses que, generosamente, envergaram ou envergam ainda, a farda das Forças Combatentes de Portugal, em todas as frentes onde a sua presença tem sido necessária.
Cronologicamente, como não poderia deixar de ser, lembro os homens que, integrando o chamado CORPO EXPEDICIONÁRIO PORTUGUÊS, cerca de 55.000, de forma humilde, abnegada e heróica, se bateram, apenas ao abrigo da velha Aliança Anglo-Portuguesa, na então sempre efémera fronteira Franco-Alemã na região da Flandres, naquela que foi chamada a Grande Guerra: - A 1ª Guerra Mundial.
O seu feito mais divulgado foi a actuação na conhecida Batalha de La Lys, justamente desencadeada na madrugada de 9 de Abril de 1918 que, para os portugueses, talvez fizesse mais sentido chamar o Combate de Armentières, cidade da margem direita do Rio Lys, na qual e em redor da qual estava acantonado o nosso Corpo Expedicionário, juntamente com o contingente escocês.
Faz hoje 80 anos que começou esse tremendo combate que, embora só durando três intermináveis dias, levou, o então Chefe do Estado Maior Alemão, Paul von Hindenbourg a elogiar o comportamento do adversário : - Escoceses e Portugueses.
Muitos lá caíram no chamado Campo da Honra, muitos de lá vieram feridos, estropiados ou "gaseados", muitos foram condecorados, todos foram louvados pela sua valentia, sacrifício e vontade.
Após este 1º Grupo de heróis, outros terão de ser lembrados, apesar de não terem sentido os horrores directos da guerra. Em Setúbal, como não poderia deixar de ser, refiro-me aos Expedicionários do extinto Regimento de Infantaria nº 11, que desta Cidade partiram para Cabo Verde, para o que desse e viesse, durante a 2ª Guerra Mundial.
Este 2º Grupo de heróis, que o foram efectivamente, na medida em que o desgaste provocado pela incerteza fica, indelevelmente, marcado nos espíritos e, muitas vezes também, por via destes, nos corpos.
Portugal esqueceu, com alguma facilidade e sem que se possa atribuir uma causa minimamente válida para esta perda colectiva de memória, um 3º Grupo de heróis, alguns dos quais também combateram, outros sofreram a ignomínia da prisão e outros ainda, igualmente deram a vida. Refiro-me, como me parece evidente, aos Combatentes do então chamado Estado Português da Índia, anexado pela União Indiana em 18 de Dezembro de 1961.
O 4º Grupo, sem dúvida o mais numeroso e heterogéneo, que por ter sido constituído em várias frentes, Macau, Timor, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e principalmente Angola, Guiné e Moçambique, pois foram estes três antigos territórios Ultramarinos que constituíram, durante quase decénio e meio, o TEATRO OPERACIONAL DE GUERRA, mais ou menos intensa segundo a frente em questão ou a zona em causa do território, não querendo eu, pelos motivos apontados no início desta alocução e porque a Comemoração diz respeito a TODOS OS COMBATENTES, fazer qualquer distinção particular, excepção feita, logicamente, aos mortos, estropiados ou, mentalmente, para sempre perturbados.
Citei TODOS OS COMBATENTES PORTUGUESES, mas permitam-me que não deixe, no entanto, de aproveitar a ocasião para manifestar o meu aceno de simpatia, para aqueles que foram nossos adversários. Eles também sofreram, eles também foram Combatentes.
Ao invés, tenho de manifestar o meu desapreço por quantos desertaram, ou até traíram, evocando motivos de vária ordem para se escudarem daquele companheiro inseparável de todo e qualquer Combatente : - O Medo. Só os loucos e os inconscientes dizem não saber o que ele é. O que define o Homem com maiúscula é saber enfrentá-lo e sublimá-lo, vencendo-o.
Segue-se o 5º e, por agora, último Grupo de heróis, alguns deles, do mesmo modo, já feridos ou, inclusive, mortos: - Os Militares que têm servido ou ainda servem Portugal, quer na Bósnia quer, agora como aliados, novamente em Angola e Moçambique.
A todos, bem haja.
Bem mais cruel é a chamada "Guerra do Cimento Armado" que vivemos no quotidiano. Mais cruel, mais medonha e na qual menos respeito em relação ao adversário existe, dela desaparecendo, muitas vezes, qualquer noção de ética.
Novos desafios se lançam a Portugal neste Abril de 1998. São eles, a Integração real, por mérito próprio, na Comunidade Europeia e a Cooperação efectiva com os Países de Língua Oficial Portuguesa, vulgo PALOP's.
Se a Integração de jure, na Comunidade Europeia foi difícil, a Integração de facto, parece-me ainda mais difícil, não só pelos sacrifícios que nos têm sido e continuarão a ser pedidos, mas também, porque a adaptação a novas regras, novos terrenos e novos hábitos é sempre penosa. As actuais gerações, provavelmente, dela não colherão qualquer benefício. Queira Deus que os vindouros digam: - Valeu a pena!
O desafio da Cooperação com os PALOP's tem uma problemática diferente e, apesar da existência de uma Língua comum, alguma instabilidade presente no decorrer de uma vida em sociedade, que se possa considerar normal, em alguns desses Países, pode tornar muitos esforços inúteis, caso estes últimos não sejam feitos de uma forma concentrada, ordenada e coordenada com um equilíbrio estável e paralelo ao desafio Europeu.
Termino com uma Esperança e com uma Certeza.
A Esperança é a vitória conjunta no desafio Europeu e no desafio da Cooperação.
A Certeza é o saber que, às dificuldades que formos encontrando, o espírito de sacrifício, a humildade, a capacidade de trabalho e a tenacidade, tão louvadas nos nossos Combatentes, vão fazer que à Chamada para estes novos desafios, todos os portugueses tenham uma resposta uníssona: - PRESENTE !
Disse.
2 comentários:
Caro Pardete Ferreira
O teu discurso lembra a nossa história, mas sobretudo, que as guerras em que estivemos envolvidos nos últimos 200 anos, se passaram fora das nossa fronteiras europeias, pelo que se pode dizer, longe da vista dos portugueses continentais ou, se quisermos, metropolitanos.
Claro que deves ter sido muito cumprimentado, na altura, e, depois como sempre, as palavras ficarem sem "eco". É sempre assim.
Quero destacar dois factos que, por incúria ou desleixo, Portugal se esqueceu: Os expedicionários da 2º GG a Cabo Verde e os soldados da Índia, que, como sabes, ao desembarcarem em Lisboa, após a libertação do cativeiro, foi durante a madrugada, "para encobrir a vergonha da derrota".
Malhas que o Império teceu.
Abraço camarigo
DR.PARDETE
O SENHOR NÃO FOI O MÉDICO DO BART 2865 (ALF.MED.41207662 JOSE ANTONIO PARDETE DA COSTA FERREIRA)?
EU SOU UM CAMARADA DA CART 2477 DE CUFAR "A FAMOSA CART DO CAP.CANHA DA SILVA,LEMBRA-SE?
ESTOU NESTE BLOG A FALAR DE CUFAR E DA MINHA COMPANHIA, SE O QUISER CONSULTAR,ESTÁ ÀS SUAS ORDENS.
VINHA PEDIR A SUA PERMISSÃO SE ME QUERIA ENVIAR OS SEUS DADOS DE CONTATO,PARA FUTUROS CONVÍVIOS E LHE ENVIAREI LISTAGEM COM AS DIREÇÕES DOS CAMARADAS DO BART.
ATÉ A UMA PROXIMA OPORTUNIDADE.
UM ABRAÇO
JORGE SIMÃO
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