Caro Luís
A propósito do muito digno e simples monumento aos Combatentes do Moledo da Lourinhã, achei por bem enviar para publicação, se o entenderes, um texto que escrevi, depois de visitar pela 1ª vez o nosso monumento "michuruco" de homenagem aos mortos do Ultramar...Depois disso, puseram lá uns ligeiros adornos, mas continuo a sentir muita raiva por tamanha e gritante ingratidão dos nossos mandantes.
Um grande abraço
Joaquim Mendes Gomes
AS LISTAS NEGRAS DE PORTUGAL
Há tantas listas
Neste mundo!…
Listas brancas,
Listas negras…e sem matiz…
Uma só, d'infeliz lembrança,
Já faltava
Ao meu País…
Há
A lista da lotaria.
Sempre branca,
Como a morte,
Em cada folha,
Até ao fundo,
P'ròs avessos da boa sorte.
É a esmagadora maioria!…
Mui risonha,
As mais das vezes,
Para quem,
Sem sofrer,
E sem merecer
Há tantas listas
Neste mundo!…
Listas brancas,
Listas negras…e sem matiz…
Uma só, d'infeliz lembrança,
Já faltava
Ao meu País…
Há
A lista da lotaria.
Sempre branca,
Como a morte,
Em cada folha,
Até ao fundo,
P'ròs avessos da boa sorte.
É a esmagadora maioria!…
Mui risonha,
As mais das vezes,
Para quem,
Sem sofrer,
E sem merecer
Já reina
Em meio mundo…
A lista, negra, do desemprego:
De quem:
- Um dia, nasceu, pobre,
É honesto
E sem padrinho…
- Pecou,
Uma vez só,
Desamparado
A lista, negra, do desemprego:
De quem:
- Um dia, nasceu, pobre,
É honesto
E sem padrinho…
- Pecou,
Uma vez só,
Desamparado
E sem perdão…
- Muito vale,
Com muita força,
À sua custa
Mas,
Faz sombra, grossa,
A quem,
Por desgraça,
Tudo pode!…
A lista de espera dos hospitais.
Como é longa e dolorosa,
Esta lista!
Só de velhos,
Desamparados,
Sem fortuna
Ou pé de meia…
Na cidade, cega,
Esquecida vila.
Ou
Remota aldeia.
Que triste sina!…
A lista das portas da Justiça.
São tantos, aos milhares
Os amigos da violência,
Da maldade
E do alheio!…
São de mais!…
Mas,
Não chegam os Juízes,
Há tanta desordem e desleixo.
Nos nossos tribunais…
Com sede de justiça,
Já morreram as testemunhas…
Tantas noites sem dormir,
Já esqueceram suas queixas!…
Que infelizes!…
A Lista dos Dependentes
Muito tenros,
- Muito vale,
Com muita força,
À sua custa
Mas,
Faz sombra, grossa,
A quem,
Por desgraça,
Tudo pode!…
A lista de espera dos hospitais.
Como é longa e dolorosa,
Esta lista!
Só de velhos,
Desamparados,
Sem fortuna
Ou pé de meia…
Na cidade, cega,
Esquecida vila.
Ou
Remota aldeia.
Que triste sina!…
A lista das portas da Justiça.
São tantos, aos milhares
Os amigos da violência,
Da maldade
E do alheio!…
São de mais!…
Mas,
Não chegam os Juízes,
Há tanta desordem e desleixo.
Nos nossos tribunais…
Com sede de justiça,
Já morreram as testemunhas…
Tantas noites sem dormir,
Já esqueceram suas queixas!…
Que infelizes!…
A Lista dos Dependentes
Muito tenros,
Inocentes,
Crescidos, sózinhos, ao relento.
São famintos da justiça
Do pão da vida
Que lhe juraram,
Ao nascer…
Na asfixia torturante
De amor fraterno,
Que lhe negam
Os egoístas e os poderosos,
Vagueiam, à deriva,
Como farrapos,
Nas encostas e nas valetas
Dos casais ventosos
Espalhados,
Por toda a parte…
A Lista Gloriosa dos alienados
São aos milhões,
Que tristeza!…
De todas as camadas sociais:
Com cultura, sem cultura,
Que medonha caldeirada!…
Há presidentes e doutores,
Serralheiros e lavradores,
Fiscalistas, banqueiros,
Padrecos e professores!…
Nas bancadas de tineira,
Nas tardes loucas de Domingo
Do futebol.
São famintos da justiça
Do pão da vida
Que lhe juraram,
Ao nascer…
Na asfixia torturante
De amor fraterno,
Que lhe negam
Os egoístas e os poderosos,
Vagueiam, à deriva,
Como farrapos,
Nas encostas e nas valetas
Dos casais ventosos
Espalhados,
Por toda a parte…
A Lista Gloriosa dos alienados
São aos milhões,
Que tristeza!…
De todas as camadas sociais:
Com cultura, sem cultura,
Que medonha caldeirada!…
Há presidentes e doutores,
Serralheiros e lavradores,
Fiscalistas, banqueiros,
Padrecos e professores!…
Nas bancadas de tineira,
Nas tardes loucas de Domingo
Do futebol.
Que engorda do vil metal
As bilheteiras…
E a carteira
Dos figurões e dos senhores,
Amantizados
Com a indústria… da política!
A razão triste,
Única e verdadeira!…
Mas,
Neste cortejo deletério,
De tantas listas e outras mais,
Só faltava uma,
Ao meu País:
Venham vê-la!…
Junto à Torre de Belém,
Que é o testemunho merecido
Aos heróis das Descobertas…
Nas paredes nuas e escondidas
Dum fortim pobre …
Que ali havia,
Escreveram, há poucos dias,
Uma lista, longa,
Envergonhada,
De muitos nomes, secos,
Por ordem alfabética!…
Que tristeza!…
Que miséria!…
Parece a lista dum cemitério!…
Vejam só!…Ó filhos de Portugal!…
País de glória, à beira-mar…
Com aquilo…
Quiseram os grandes e insanos,
Honrar,
P'ra todo mundo,
Na Capital e no Império,
Todo o sangue e o suor…
Dos nossos gloriosos
Combatentes do Ultramar!?…
Saibam todos.
Nós,
Os da Lista
Dos nomes que, só, por sorte,
Lá, não estão…
Espalhados por todo o mundo,
De cabeça bem erguida,
E, com coragem,
Gritamos,
Uma vez mais:
Vomitamos…
Não aceitaremos, nunca,
A vergonha daquela homenagem!!!…
Almada, 14 de Junho do ano 2000
11h e 24m
E a carteira
Dos figurões e dos senhores,
Amantizados
Com a indústria… da política!
A razão triste,
Única e verdadeira!…
Mas,
Neste cortejo deletério,
De tantas listas e outras mais,
Só faltava uma,
Ao meu País:
Venham vê-la!…
Junto à Torre de Belém,
Que é o testemunho merecido
Aos heróis das Descobertas…
Nas paredes nuas e escondidas
Dum fortim pobre …
Que ali havia,
Escreveram, há poucos dias,
Uma lista, longa,
Envergonhada,
De muitos nomes, secos,
Por ordem alfabética!…
Que tristeza!…
Que miséria!…
Parece a lista dum cemitério!…
Vejam só!…Ó filhos de Portugal!…
País de glória, à beira-mar…
Com aquilo…
Quiseram os grandes e insanos,
Honrar,
P'ra todo mundo,
Na Capital e no Império,
Todo o sangue e o suor…
Dos nossos gloriosos
Combatentes do Ultramar!?…
Saibam todos.
Nós,
Os da Lista
Dos nomes que, só, por sorte,
Lá, não estão…
Espalhados por todo o mundo,
De cabeça bem erguida,
E, com coragem,
Gritamos,
Uma vez mais:
Vomitamos…
Não aceitaremos, nunca,
A vergonha daquela homenagem!!!…
Almada, 14 de Junho do ano 2000
11h e 24m
Joaquim Luís Mendes Gomes
(Combatente do Ultramar)
(Combatente do Ultramar)
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Nota do editor:
Último poste da série > 31 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8971: Blogpoesia (164): Terra à vista! (José Pardete Ferreira)
2 comentários:
Caro Mendes Gomes,
Não conheço o memorial,para me pronunciar sobre ele, no entanto concordo com a tua revolta e mágoa.
Dá a ideia de um reconhecimento envergonhado e os mortos do ultramar merecem o respeito incomensurável deste país.
Caro camarigo 'Palmeirim'
Trata-se, evidentemente, de um desabafo. Um desabafo forte.
Mas justo e sentido.
Abraço
Hélder S.
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