sábado, 18 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13751: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XIV: março de 1973: (i) uso, pela primeira vez no setor, de foguetões 122 mm, num ataque ao Xime; (ii) flagelada, também pela primeira vez, a coluna logística Bambadinca-Xitole; e (iii) mal estar, entre os pais fulas e mandingas, islamizados, pela excessiva orientação cristã dos textos didáticos usados nas escolas bem como pelos castigos corporais









Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca > Subsetor de Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > A aldeia de Samba Juli, em autodefesa. Pertencia oa regulado de Badora.

Foto: © Humberto Reis  (2005). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Continuação da publicação da história do BART 3873 (que esteve colocado  na zona leste, no setor L1, Bambadinca, 1972/74) a partir de cópia digitalizada da história da unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte.

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972/74; foi voluntário para a CCAÇ 12 (em 1973/74); economista, bancário reformado, foto atual à esquerda].

O grande destaque do mês de março de 1973, dois meses depois da morte de Amílcar Cabarl (1924-1973) vai para:


(i)  O uso, pela primeira, no setor, de foguetões 122 mm, num ataque ao Xime;

(ii) A saída de efetivos do PAIGC, da Frente Bafatá-Xitole, para o reforço do sul;

(iii) A transferência da CCÇ 12, para o Xime, como unidade de quadrícula, ao fim de 4 anos a atuar como unidade de intervenção, indo substituir a CART 3494 (que vai para Mansambo);

(iv) Mansambo continua sem ser atacado ou flagelado;

(v) Conclusão de 9 escolas no setor;

(vi) Suscetibilidade e mal-estar das populações islamizadas do setor (fulas e mandingas) em relação às escolas dos filhos, devido à orientação cristã dos livros e dos professores, mas também dos castigos corporais;

(vii) Flagelação, pela primeira vez, da coluna logística Bambadinca-Xitole;

(viiii) As NT auxiliam a população da bela tabanca de Samba Juli na reconstrução de moranças destruídas pelo fogo.

[Imagem à direita: capa do livro de leituras da 3.ª classe, o mais ideológico e etnocêntrico dos manuais escolares em vigor no Estado Novo. Os manuais escolares eram “especialmente elaborados pela Direcção – Geral do Ensino Primário, tendo em conta as necessidades culturais e profissionais dos meios populares” do Portugal europeu, continental e atlântico, mas não das populações da Guiné, por exemplo, que eram  na sua grande maioria animistas e muçulmanas.  O Livro da Terceira Classe, Ed. Domingos Barreira, 4ª Ed., 1958  esteve em uso durante décadas. E tinha, como os outros, uma segunda parte reservada ao ensino da "doutrina cristã". Cortesia do portal da Instuto de Educação da Universidade de Lisboa]


Março de 1973: Pela primeira vez, no tempo do BART 3873, o IN usa foguetões contra o Xime, e é flagelada a coluna de reabastecimento Bambadinca-Xitole.




Adicionar legenda



(Continua)
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2 comentários:

Luís Graça disse...

Aqueles de nós que foram professores primários, nos postos militares escolares, como o Carvalhido da Ponte (Xime), o Manuel Amaro (Aldeia Formosa) ou o Manuel Joaquim (Bissorã), podem falar,com propriedade e autoridade, sobre as dificuldades, perplexidades mas também sobre o prazer de ensinar, com o eventual apoio dos nossos velhos manuais escolares ou de outros textos (que eu desconheço se havia outros manuais na Guiné), a língua, a cultura e a história portuguesa aos putos das tabancas guineenses... É que nos nossos manuais bem sequer havia uma simples imagem com a cara do "pretinho da Guiné"...

Imagino que não fosse fácil ao Carvalhido da Ponte explicar ao José Carlos Mussá Biai, mandinga e muçulmano, do Xime, que nunca tinha sido da sua tabanca, o que era a pátria, ou significado da bandeira nacional, ou letra do nosso hino, ou a difgerença entre um minhoto e um algarvio... Ou ainda explicar as lendas das mouras encantadas do nosso romanceiro popular. Ou a conqnuista de Lisboa aos mouros. Ou ainda a lenda do Infante Santo... Muito menos as guerras de religião, no passado, enter cristãos e mouros...

Em todo o caso, o mais importante é que o José Carlos Mussá tenha aprendido a ler escrever, graças ao posta escolar militar do Xime, e a tenha chegado à universidade, sendo engenheiro florestal, se não erro. E trabalhando e vivendo em Portugal, como português e sem nunca esquecer as sua raízes guineenses.

Bispo1419 disse...

Meu caro Luís Graça:

É verdade: passei muitas e muitas horas da "minha" guerra a dar aulas a soldados e a criancinhas; a soldados,durante cerca de um ano e, nos últimos seis meses de comissão, a crianças de Mansabá.

Prometo "postar" brevemente mais alguma coisa sobre este tema. De qualquer modo quero lembrar que, neste blogue, já me referi ao assunto :

P11674 de 5/06/2013: Cartas de Amor e Guerra (15), "Analfabetismo, um outro combate"

Posso desde já adiantar que, para o ensino das crianças, não usei qualquer manual escolar. Bem, não terá sido bem assim. Para seu uso directo e pessoal, não. Mas, para mim, usei como apoio um caderninho do PAIGC, "O nosso primeiro livro de leitura" (subtítulo na 1ª página). Na capa diz, simplesmente, "Caderno Escolar".

Um abração
Manuel Joaquim