quinta-feira, 12 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14353: Meu pai, meu velho, meu camarada (41): Jorge Manuel Augusto da Silva, o "binte oito", era um orgulhoso sapador de assalto, da arma de engenharia... Fez a tropa em Tancos, em 1947, ainda chegou a jogar futebol e era amigo do histórico guarda-redes do Porto, o Barrigana (Henrique Cerqueira)


Jorge Manuel Augusto da Silva, natural do Porto, fez a tropa em 1947... 
Era soldado sapador de assalto... e conhecido pelo "Binte Oito"


1. Mensagem do nosso amigo e camarada Henrique Cerqueira [ [ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, e CCAÇ 13, Bissorã, 1972/74; casado com a Maria Dulcinea (NI), também nossa grã-tabanqueira]


Data: 8 de março de 2015 às 11:32
Assunto: Meu pai,meu velho , meu camarada


Caro Camarada Luís Graça:

Há muito tempo, mais precisamente a partir da altura em que publicaste um dos primeiros postes sobre o tema " Meu pai, meu velho, meu camarada " (*),  que senti um grande carinho pelo tema. No entanto não ganhava coragem para escrever sobre o pai do qual passei quase toda a minha vida a ouvir as suas estórias de quando esteve na tropa (hoje são os nossos filhos e netos a ouvir as nossas).

Bom,  e vai daí, tu relanças novamente o tema e então lá fui procurar no meu "baú" das recordações e encontrei a caderneta militar do meu pai . E assim sendo vou tentar escrever algo que homenageie a memória do meu e de todos os nossos pais que são: "O Meu Pai , Meu Velho, Meu Camarada ". Espero não ser muito aborrecido mas vou escrever principalmente com o coração e amor pelo meu pai já retirado desta vida terrena.

Apresento o Meu pai, Jorge Manuel, que  foi Sapador de Assalto em Tancos [em 1947].

Sempre ouvi falar o meu pai e muitos dos seus amigos da altura que ele era um pouco irrascível na sua vida militar, mas sempre que era necessária aplicação da sua especialidade,  ele então tinha que ser o melhor. Era com muito orgulho que me contava a vitória obtida numa competição (???) entre vários países da NATO, numas provas militares . E como ele era Sapador de Assalto, orgulhava-se de ser bom a lidar com explosivos.

Uma outra estória muito engraçada (para mim,  claro) foi a sua narrativa de uma célebre "fuga" de que foi protagonista precisamente do interior do Castelo de Almourol. Segundo ele a tropa de Tancos na altura fazia serviço nesse famoso Castelo. Pelos vistos,  o meu pai era um "bom Casanova" e nem as muralhas de um Castelo o detinham quando havia "rabo de saia" nas redondezas.

Já agora o meu pai também foi um excelente jogador de futebol mas, que também acabou por ser irradiado dessa atividade por ter "acertado o passo" a um árbitro e a um polícia. Não pensem que o meu pai era um violento, era sim um rebelde e talvez em demasia para a época.

Estou aqui a pensar que tinha tanto, mas tanto para contar sobre o meu pai, mas não sai... não sai mesmo e por isso vou ficar por aqui e até vou pensar ainda se mando ou não este escrito para a malta ler.

Ah!,  é verdade,  o meu pai era conhecido na tropa pelo "Binte Oito" (28),  á moda do Porto,  já se vê. Era eu miúdo e conheci um famoso jogador da altura que era o saudoso Barrigana [, Frederico Barrigana, 1922-2007], penso que jogava no Salgueiros ou Porto. Estava ele junto do meu pai e só falavam da tropa e era então "Binte oito prá qui....binte oito prá acolá"....

Meu Pai, Meu Amigo, Meu Camarada,  que saudades tenho de ti. Dá um beijo à Mãe e aguarda por mim.

Um grande abraço a todos os Pais, Amigos e Camaradas da nossa Tabanca Grande.
Henrique Cerqueira

PS  - Envio em anexo algumas imagens possíveis da Caderneta militar do meu pai, achei particular graça às páginas descritivas do material  recebido para uso pessoal.












Folhas da caderneta militar de Jorge Manuel Augusto da Silva, pai do nosso camarada Henrique Cerqueira


Fotos : © Henrique Cerqueira (2015). Todos os direitos reservados.

5 comentários:

Luís Graça disse...

Henrique, gostei da tua homnenagem pública ao teu pai...Reconheço que não é fácil exprimir, em público, sentimentos de amor filial como os nossos, em relação aos nossos pais (que, no teu caso e no meu, já nos deixaram)...

Já agora diz-me se o Barrigana, nascido aqui no sul, na margem esquerda do Tejo. em 1922 andou com o teu pai na tropa... Pode ter sido, mas ele seria mais velho... O teu pai presumo que tenha nascido em 1925 ou 26...

Tens aqui um artigo sobre o Barrigana, que reproduzo, com a devida vénia... Deve ter jogado ainda no estádio do Lima... Passo por lá muitas vezes, quando estou no Porto... LG

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www. maisfutebol.iol.pt

30 de Setembro de 2007 às 19:13

Faleceu Barrigana, guarda-redes histórico do F.C. Porto

Natural do Montijo, tornou-se um dos grandes símbolos do clube azul e branco


(...) Frederico Barrigana, antigo guarda-redes do F.C. Porto, faleceu este sábado, aos 85 anos, no Hospital de Águeda, na sequência de vários problemas pulmonares.

A notícia foi confirmada à Agência Lusa por um familiar, que revelou ainda que o corpo vai ficar em câmara ardente na igreja de Barrô, Águeda, de onde sairá o funeral marcado para terça-feira.

Conhecido como Mãos de Ferro, epíteto que lhe foi dado por um jornalista francês após um jogo da Selecção Nacional, Barrigana nasceu em 28 de Abril de 1922, em Alcochete.

Iniciou a carreira no Unidos do Montijo e transferiu-se para o Sporting aos 18 anos. Esteve em Alvalade três épocas, sempre tapado por Azevedo, pelo que aos 21 anos seguiu para o F.C. Porto.

Na formação azul e branca foi substituir o húngaro Béla Andrásik, que foi aconselhado pelos dirigentes portistas a deixar o país por estar a ser perseguido pela PIDE devido às suas ligações a organizações anti-fascistas.

Curiosamente foi a saída de Andrásik que precipitou a mudança para o Porto, uma vez que o clube aproveitou as boas relações de então com o Sporting para negociar um guarda-redes suplente de Azevedo, acabando a escolha por recair em Barrigana.
No F.C. Porto tornou-se rapidamente titular e cinco épocas depois acabou por ser chamado também à Selecção Nacional, onde conseguiu o que não tinha conseguido no Sporting: destronar a titularidade de Azevedo.
Jogou doze vezes pela equipa nacional, numa altura em que Portugal passava por um período de resultados menos positivos. Apesar de todo o valor, Barrigana não teve uma carreira feliz, aliás.

A sua passagem pelo F.C. Porto, onde permaneceu 14 anos, coincidiu com uma má fase do clube, marcada por 16 épocas sem títulos. Mesmo assim, bateu o recorde de guarda-redes com mais jogos na equipa principal, recorde esse que só foi batido por Vítor Baía. Curiosamente Barrigana saiu na última temporada antes do F.C. Porto voltar a ganhar o título, em 1955/56.

Dorival Yustrich chegou nesse ano ao clube e dispensou o guarda-redes, que foi jogar para o Salgueiros. No final da época o F.C. Porto foi campeão. Antes disso já Barrigana tinha conquistado a admiração portista, ao recusar mudar-se para o Vasco da Gama, do Brasil, mesmo sabendo que ia ganhar dez vezes mais.
Permaneceu três anos no Salgueiros, ajudando o clube a regressar à primeira divisão. Depois encerrou a carreira de atleta e tornou-se treinador da formação de Paranhos. Passou ainda pela Desp. Chaves e pelo Académico de Viseu, antes de se retirar do futebol. Actualmente vivia perto de Águeda, com uma pensão da Segurança Social e um subsídio de gratidão do F.C. Porto.

http://www.maisfutebol.iol.pt/faleceu-barrigana-guarda-redes-historico-do-f-c-porto

Antº Rosinha disse...

O Barrigana foi do tempo em que ganhavamos sempre moralmente, principalmente com a Espanha.

Eram as muito célebres "vitórias morais" até que o Benfica foi campeão europeu em 1961.

Mas Barrigana fez um jogo contra a Áustria, no tempo daqueles rádios em que se ouvia mais ruído do que o locutor, e que em geral só nas tabernas é que havia esses rádios, e os menores tínham que ficar à porta.

Entretanto o jogo acaba e sai um dos frequentadores da tasca, e ansiosos perguntàmos-lhe pelo resultado.

"Suemos mas ganhemos", foi o resultado que os copitos nos transmitiram.

Só que o Barrigana tinha sofrido nada mais nada menos que 9 golos.

Foi 9 a 1, golo de José Águas.

1953, 15 anos.

Cumprimentos

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas
Ao que sei, os sapadores de assalto eram uma tropa de engenharia que foi treinada para realizar destruições das posições inimigas guarnecidas. Daí que o seu trabalho fosse especialmente arriscado e, segundo se diz tinham instrução com bala real. O oficial que os treinava era coronel, quase cego e era vivo ainda em 1966.´
Um Ab.
António J. P. Costa

Henrique Cerqueira disse...

Tem graça que:
O António P.Costa no seu comentário me fez lembrar uma situação da qual o meu pai se orgulhava.Ou seja a instrução com a bala real tem mesmo razão de ser,pois que o meu pai tinha uma cicatriz numa perna e que ele me dizia que tinha sido durante um exercício com bala real e que ele estava numa elevação do terreno a "malandrar"(eu direi a "baldar") quando foi atingido na perna embora superficialmente e com bala já na fase de inercia.Eu ás vezes até pensava que era uma das suas mirabolantes estónias,mas mais tarde nas conversas de amigos eles confirmaram a versão do meu pai.
Um abraço.
Henrique Cerqueira

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas
Sem ter a certeza diria que o "treinador" dos sapadores de assalto seria o Ten./Cap. Vasconcelos Dias.
Tudo o resto que conto é verdade nomeadamente as idas à AM para montar a cavalo. O filho ficava aflito, como se conclui, mas ele dizia que o cavalo sabia o que tinha a fazer e ele, desde que lhe visse as orelhas, não tinha problemas.
Um Ab.
António J. P. Costa