sábado, 14 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14364: Memórias de Gabú (José Saúde) (53): A mota da malta. Um brinquedo adorável.

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua magnífica série.

As minhas memórias de Gabu

A mota da malta

Um brinquedo adorável

Em instantes de ócio o pessoal encantava-se com um pequeno brinquedo que nos enchia de prazer: uma mota que nos conduzia em pequenos passeios pelo interior de Nova Lamego.

Quem era o seu verdadeiro dono? Uma resposta à qual não consigo responder com precisão. Constava-se que o seu legítimo proprietário era um furriel miliciano das BAA (Baterias Anti-Aéreas), de nome Couto, sendo que o adorável veículo se apresentava sempre ao dispor daqueles que, esporadicamente, quisessem dar uma volta sobre duas rodas.

Dizia-se, também, que mais tarde o brinquedo foi pertença do furriel miliciano Godinho, um camarada, mecânico, da minha Companhia.


Uma deslocação pelas ruelas térreas de Nova Lamego sentado na motinha apresentava-se como um autêntico delírio. Enfrentar o vento a uma velocidade reduzida enchia-me de prazer.

O espontâneo piloto, longe dos circuitos de altas velocidades, ressacava-se com os prazeres debitados pela fraca potência do motor e passeava-se calmamente pelo interior da urbe, deparando-se com encantadoras bajudas que lançavam olhares discretos sobre um furriel, vaidoso, que fazia jus ao ronco que despretensiosamente apresentava em público. Momentos de eloquentes prazeres que contrastavam com ensejos de stress absolutos.

A Guiné não era apenas palco de guerra. De tiros; minas; emboscadas; ou de ataques aos quartéis. Na minha opinião existiam razões paralelas ao conflito que nos conduziam, entretanto, a pequenos espaços de prazer.

Hoje, numa apelação à minha memória já devassada pelo tempo, verifico que nas “Minhas Memórias de Gabu” lá está um cantinho reservado para aqueles limitados ciclos pontuais em que os meus vastos cabelos no coro cabeludo, pretos como uma amora e sobejamente fartos, desalinhados pelo vento, me incutiam no espírito prazeres inesquecíveis. Ah, como o tempo passa!

Aquela motinha deixou-me saudades.

Um abraço camaradas, 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
___________
Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 



7 comentários:

Luís Graça disse...

Zé, obrigado por este ternurento "recuerdo" de Nova Lamego... Ainda te lembras da marca da "motinha" ?... Ab. Luis

Luís Graça disse...

Zé: Vendo melhor, pelo "logo" da marca, parece-me ser uma Honda...

António Martins Matos disse...

Em 1972 havia uma motinha igual na Esquadra 121 Bissalanca. O seu dono era o saudoso Cap Morais da Silva que, nas vésperas da partida para a Metópole, a ofereceu à Esquadra. Com o passar do tempo a motinha acabou por desaparecer, pode ser que alguém a tenha levado para o destacamento de N Lamego.... ou não.
Abraço
AMM

Valdemar Silva disse...

Em Julho 1969, em Nova Lamego, no Restaurante do Sr. ??, na estrada para Bafatá, comia-se o melhor frango de churrasco daquela zona.
O empregado Baldé, Camará ou Colubali não sei ao certo,
com um avental, servianos nas mesas. Depois, acabado o seu tempo de trabalho, iam se embora. O Sr.?? dono do Restaurante dizia-nos, isto agora é assim, este, já um tem um horário de trabalho

Valdemar Silva disse...

Em Julho 1969, em Nova Lamego, no Restaurante do Sr. ??, na estrada para Bafatá, comia-se o melhor frango de churrasco daquela zona.
O empregado Baldé, Camará ou Colubali não sei ao certo,
com um avental, servianos nas mesas. Depois, acabado o seu tempo de trabalho, iam se embora. O Sr.?? dono do Restaurante dizia-nos, isto agora é assim, este, já um tem um horário de trabalho

Valdemar Silva disse...

continuando
e até já ganha bem, porque já tem uma motoreta pra ir pra casa.
Valdemar Queiroz

Hélder Valério disse...

Caro José Saúde.

Que a motinha deixou saudades, isso é fácil de perceber pelo modo como recordaste a situação.

Que se procurava (e encontrava) momentos em que a guerra parecia não estar presente, isso é verdade. E são, em boa parte, esses momentos que ainda hoje nos fazem trazer as recordações, chama-se lá isso o que se quiser: revivalismo, saudosismo, nostalgia, etc.

Só discordo daquela parte em que dizes que o teu passeio era "despretensioso". Qual quê! Aquilo era mesmo pretensão, para "bajuda ver"....

Ah, achei piada aquela parte dos "... vastos cabelos no coro cabeludo, pretos como uma amora e sobejamente fartos, desalinhados pelo vento...". Realmente é como dizes: Como o tempo passa!

Abraço
Hélder S.