sexta-feira, 15 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14618: Notas de leitura (712): René Pélissier escreveu sobre a CCAÇ 2317, Gandembel (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Maio de 2015:

Queridos amigos,
É sempre bom que se fale dos nossos livros, e em publicações de grande importância, como é o caso da Africana Studia.
O essencial respeitante ao livro do Idálio Reis já está dito e publicado no nosso blogue, em martírio que está gravado em bronze para a História.
Vale a pena ver a peça de um grande historiador que é René Pélissier, mais uma razão para o orgulho que temos no nosso blogue.

Um abraço do
Mário


René Pélissier escreveu sobre a CCAÇ 2317, Gandembel

Beja Santos

Na conceituada revista Africana Studia, uma das poucas publicações científicas relacionadas com estudos africanos, editada pelo Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, no n.º 20, de 2013, René Pélissier, que regularmente aqui publica as suas recensões sobre obra da literatura colonial, debruça-se sobre o livro de Idálio Reis, a "CCAÇ 2317 na guerra da Guiné. Gandembel/Ponte Balana", 2012.

É do conhecimento de todos que à CCAÇ 2317 coube o martírio de erigir junto do “Corredor da morte” um aquartelamento por decisão do Estado-maior de Arnaldo Schulz. Viveram literalmente enterrados no solo, como escreve Pélissier e o martírio acabou em 28 de Janeiro de 1969 quando Gandembel foi evacuado.
Entretanto, este posto avançado em terra de ninguém foi flagelado 372 vezes enquanto durou o suplício.

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Nota do editor

Último poste da série de 11 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14597: Notas de leitura (711): "O Outro Lado da Guerra Colonial", por Dora Alexandre, A Esfera dos Livros, 2015 (Mário Beja Santos)

12 comentários:

antonio graça de abreu disse...

Estamos velhos e não mudamos. Mário Beja Santos continua a considerar Réné Pélissier "um grande historiador", o francês que para além de todas as distorções mentais, jamais pôs os pés na guiné, e escreve, escreve sobre nós.

Diz Mário Beja Santos:

"Vale a pena ver a peça de um grande historiador que é René Pélissier, mais uma razão para o orgulho que temos no nosso blogue."

Com ESTE francês e seus AMIGOS portugueses, haverá razões para termos orgulho no nosso blogue?
Este francês, René Pélissier que a respeito de todos nós, dizia:

"Para a história colonial portuguesa basta consultar os autores de língua inglesa. Há séculos que a maior parte a denuncia como negreira, arcaica, brutal e incapaz: a quinta essência do ultracolonialismo sob os trópicos."

René Pélissier,"o grande historiador" da presença portuguesa em África, em entrevista a Lena Figueiredo, publicada no jornal Diário de Notícias, Artes, de 02.04.07

Abraço,

António Graça de Abreu

Torcato Mendonca disse...

Não gosto de tal "históriador" ou fazedor de opiniões sem conhecimento de causas e vivências.
Podia ter-se preocupado mais com as colonizações de ingleses,franceses, belgas etc.
Não defendo o colonialismo mas detesto o personagem e muitos que o "ajudaaram".
Abraço,T.

Anónimo disse...

Será que René Pelissier ao escrever (e cito um comentário anterior):"Negreira,arcaica,brutal e incapaz" se referia a todos os portugueses ou... só a alguns de entre eles?

Porque infelizmente também os terá havido...independentemente das nossas simpatias pessoais ou, mais puros (e respeitáveis) sentimentos patrióticos.

Um abraco do José Belo.

Anónimo disse...

Mário

Mais uma vez venho insistir contigo no aspecto que segue.
Do teu texto de apresentação do livro de Pélissier sobre o livro do Idálio Reis, transcrevo: "É do conhecimento de todos que à CCAÇ 2317 coube o martírio de erigir junto do Corredor da Morte um aquartelamento...".
Ora, durante a fase da construção do quartel (cerca de mês e meio), estiveram nesse bocado de terreno que passou a ser o aquartelamento de Gandembel, sofrendo as mesmas circunstâncias, DUAS COMPANHIAS - A CCAÇ 2317 e a minha (mais experiente) CART 1689.
Acabada a construção (arame farpado, os abrigos de ferro e cimento...) ficou a CCAÇ 2317 SÒZINHA sofrendo longos meses de permanência nesse quartel, até ao seu abandono.
Alberto Branquinho

antonio graça de abreu disse...

Recomendo a leitura do post 3188, neste blogue, onde desmonto as palavras, as conclusões ignorantes e tontas que o "grande historiador" René Pélissier debita, escreve a propósito de factos de guerra descritos no meu "Diário da Guiné"
(a não confundir com os outros dois "Diários da Guiné", que são livros de memórias do Mário Beja Santos).
E já agora, meu caro Zé Belo, todos nós, combatentes em África, fizemos ou não fizemos parte da "história colonial portuguesa" citada pelo grande historiador francês?

Abraço,

António Graça de Abreu

Manuel Luís Lomba disse...

Em minha opinião, ao comunicar connosco o que se escreve acerca da Guerra da Guiné - factos acontecimentais, as opiniões feitas e as dos fazedores delas - o Mário engrandece o blogue.
Quanto à moral da "boca" inglesa, parafraseada pelo sr. Pélissier, da colonização portuguesa "negreira, arcaica, brutal e incapaz", podemos responder que enquanto ela, a demografia africana crescia, ao passo que a "colonização exemplar" inglesa fazia diminuir a população da América, acabando por reduzir os índios a reservas...

Muito apreciei o livro do Idálio Reis, meu companheiro de mesa em Monte Real, e apresento uma resposta à interrogação do seu título, respigada da pag. 322, do livro "Crónica da Libertação", de Luís Cabral: "Quando (Cabral) chegava à fronteira, queria sempre ouvir tiros contra o acampamento de Balana, o "osso que nos ficou atravessado na garganta e que tinha de sair". E saiu... Ou a telegráfica resposta dada pelo nosso veterano Rosinha, referida a Angola.
Na Guerra da Guiné, teremos cometido mais erros e omissões tácticas e estratégicas que o PAIGC.
Os quase 300 mil soldados portugueses que deram o corpo e a alma ao manifesto da Guiné, sem sucesso, têm direito a questionar os seus chefes, profissionais, se houve ou não grossa negligência em não impermeabilizar as fronteiras - primeiro a da Rep. Guiné e depois a do Senegal.
Manuel Luís Lomba

Anónimo disse...

Caro Graca de Abreu.

Estamos em total acordo quanto a que todos nós,combatentes em África, fizemos certamente parte da História Colonial Portuguesa.

Alguns talvez ainda mais que outros,como no meu caso pessoal,ao requerer a entrada para o Quadro Especial de Oficiais quando ainda combatia no sul da Guiné.

Só que...alguns de nós, ao longo de uma vasta História,teräo sido "negreiros,arcaicos,brutais e incapazes" enquanto que outros...näo.

Será neste detalhe que discordamos?

Felizmente que a vida pós-colonial,pós-militar,e näo menos, pós-pseudo-revolucionária muito mudou para muitos de nós nas últimas quatro décadas.

Quanto ao "grande" historiador francês ,confesso ignorar a "altura ou largura" do mesmo,se é a isso que te referes.

Saudoso abraco do José Belo.

Antº Rosinha disse...

Deve ser com orgulho "tuga" e português, ex-colonialistas africanos, que devemos exibir bem esse facto histórico que foi aquela resistência de treze anos, tanto na Guiné, Angola e Moçambique e em Nova York na ONU.

Tanto Cuba como URSS e todos os partidos da esquerda europeus, e todos os chamados países não alinhados (terceiro mundo tipo Argélia) apoiavam aqueles a que nós chamavamos TURRAS, e ainda havia a indiferença de uma europa cansada de braços caídos.

Todos ainda são poucos para falar daquele período de Portugal.

Como diz o outro, mesmo que falem mal, mas que falem, Pelissieres ou outros.

Eu como Retornado, experiência só de uma minoria, não sei se foi uma desgraça ou um previlégio meu, quando vejo África a esvair-se por Ceuta e Lampedusa, e essa mesma África a ser preenchida por Chineses, Shell, e Árabes ou islamizados, não adivinhava tanta "sangria".

Mas sabia e os nossos amigos africanos que lutaram aos milhões ao nosso lado também sabiam que ia ser tudo muito mau.

Penso que a Europa deve também exigir «atribuir COTAS (QUOTAS) de africanos» a disseminar pela China, Vaticano e Nova York Cuba e Rússia.

Aquilo que até parecia fácil de governar, tal como os colonialistas portugueses faziam principalmente em Angola, que fundamentalmente era para atingir aquilo que se lutava em Guilege, deixava de ser fácil entregando aqueles países a qualquer Amílcar Cabral, ou a qualquer Agostinho Neto, como aconteceu com Ruanda, Congo Belga, Biafra ou Etiópia etc.

E os nossos africanos sabiam isso, portanto ficavam todos ao nosso lado durante 13 anos.

Muitos sabemos, e até os Sul-Africanos brancos e pretos, ao lado de Angola e Moçambique sabiam que não era «aquela a hora», nem «aquele o processo» correctos.

Que se fale, principalmente agora, para se compreender a luta que travámos, e Portugal nunca esqueça a nossa geração, principalmente os que lá ficaram.

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

Desta referência ao livro, irrepreensível, do nosso camarada Idálio Reis, tenha ela sido feita por um "pequeno historiador" ou um "grande historiador", ressalta a "paixão" habitual com que alguns de nós se concentram mais 'na forma' do que no conteúdo.

Para mim, é relevante que a saga de Gandembel e dos seus bravos tenha tido maior visibilidade. Se isso foi possibilitado pelo tal "pequeno" ou "grande" historiador (conforme os gostos) é-me totalmente indiferente. E se isso chegou até nós pelo Beja Santos parece-me ser de louvar e não apoucar.

Relativamente à generalidade dos comentários permitam-me salientar o que o Manuel Luís Lomba escreve pois fá-lo com grande assertividade e correcção.
Igualmente as observações quanto a quotas (justificadas pelas 'responsabilidades') que o Rosinha formula parecem pertinentes.

Hélder S.

Cherno AB disse...

Caro Rosinha,

Ainda e durante muito tempo, a Africa vai continuar a esvair-se por Ceuta e Lampeduza e as causas, acho que todos nos as conhecemos.

E os africanos nao entendem porque raio os europeus que lutaram, durante seculos, para abrir os espacos geograficos, economicos e culturais do mundo inteiro , passam agora, num segundo tempo, a erguer barreiras de proteccao a entrada dos seus pequenos espacos e onde, por ventura, estaria acumulado o fruto dos seus saques mundiais.

ha um proverbio africano que diz "Quem vai a procura do mel das abelhas deve estar preparado para as suas picadas".

Um abraco amigo,

Cherno AB

Antº Rosinha disse...

Amigo Cherno, já há muito que não apareces, espero que esteja tudo bem por aí.

Dizes que "Os Africanos não entendem porque os europeus erguem barreiras?"

Mas há de facto muito cinismo, e não é bem assim para todos.

Todos os africanos, chineses, ciganos e americanos, têm hipótese de obter um VISTO GOLD, pelo menos em Portugal.

Na Inglaterra até Castelos com mil anos, os reis do petróleo árabe compraram e têm lá o seu harem.

E uma coisa te garanto, há muitos filhos de ministros da Guiné, e Angola e outros, com BI igualsinho ao meu, autênticos "tugas pretos".

No entanto, gente como meu porta-miras no Porto novo do Pidjiquiti, veio num contentor de um barco espanhol para Cadis, e não lhe passaram o visto GOLD.

Cherno, um dos fenómenos que mais me custa a entender em África, é como os africanos aceitaram passivamente as fronteiras dos vossos países, desenhadas em Berlim em 1880, e passados 80 anos, 1960, com a mesma passividade, aceitaram uns presidentes que os "brancos" lhe escolheram.

Nisso, nós portugueses aceitámos,(contrariados)mas não colaborámos.

Eramos contra aquelas fronteiras, (caso do Mapa côr de rosa) e contra escolher os 5 primeiros presidentes para os 5 Palop.

E se houve e há exploração a sério das riquezas africanas, foi nestes 50 anos de governos cinicamente apoiados pelo chamado mundo civilizado.

Pessoalmente estou convencido que o sub-consciente do povo que foge pelo Mediterrâneo, está a pedir responsabilidades a alguem.

Cumprimentos

Cherno AB disse...

Caro amigo Rosinha,

A Africa e os africanos nunca aceitaram de animo leve as imposicoes que vinham de for a, mas como se diz ca na Guine " iagu mas farel", o mesmo que dizer: O que acontece quando a quantidade d'agua eh maior que o farelo?

Em Africa sempre houve resistencias e as recentes lutas para a independencia das colonias faz parte desta longa tradicao, mas a verdade eh que no mundo dos homens nao ha justice pois, como se diz em bom portugues: Manda quem pode e obedece quem deve (nao sei se eh assim).

Amigo Rosinha, o que tu achas do Boko-Haram? Certamente o que se diz na imprensa occidental.

Mas o que muitos ignoram na verdade eh que, para la dos seus metodos crueis e pouco ortodoxos, esta organizacao encarna, tambem, uma forma de resistencia africana em que muito poucos de nos seriam capazes de se rever e aceitar.

Que seja feito da forma extremada como o Boko-haram o faz ou que seja feito da forma mais pacifica que seja a Africa foi sempre reprimida, dominada e pacificada para se conformar ao desejo do capitalismo mundial sob as suas diferentes formas, passando do imperialismo as formas mais sofisticadas da oligarguia financeira.

- Quem consegue resistir a perfidia e a voracidade do capitalismo, seja ele industrial ou financeiro?

As nossas independencias sao um pequeno detalhe no conjunto da trama global do capitalismo.

Ha poucos dias, nas Antilhas, o presidente Frances afirmou que a Franca que ele representa nao se arrependia e nao contava fazer qualquer reparacao relativamente ao comercio negreiro e este mesmo discurso ja tinha sido feito pela direita francesa com o Sarkozi.

Um abraco amigo,

Cherno AB