1. Mensagem de 22 do corrente, do Manuel Vaz [ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67]:
Verifico pela "amostra" (*), que fui dos poucos que nunca tive férias, durante a Comissão, não por razões económicas, mas de oportunidade. Passo a explicar:
A minha Companhia, organizada em três Grupos de Combate, chegou à Guiné em abril de 1965 e a Gadamael um mês depois, para guarnecer este aquartelamento e o destacamento em Ganturé.
Passados 3/4 meses o Capitão foi para o Quartel General, tendo passado eu a comandar interinamente a Companhia.
Os meus planos, quanto a férias, eram de uma vinda à metrópole, sensivelmente a meio da Comissão. Entretanto em janeiro de 1966, o Grupo de Combate do Alf Pinheiro, sofre uma emboscada, juntamente om o Pel Rec Fox na estrada de Gandembel.(Corredor de Guileje)
A coluna sofreu 5 mortos e 14 feridos, sendo um destes o Alf Pinheiro que nunca mais regressou à Companhia. Na sequência desta baixa e das férias que outro camarada gozava, ficamos anenas dois Alf:eres, eu na sede, outro no destacamento.
Demorou algum tempo até que a situação da falta de quadros fosse reposta. Mas quando tudo parecia normalizado o Cap Mil que veio comandar a Companhia, desentendeu,se com o PCA numa operação no "Corredor de Guileje" e foi transferido, tendo eu passado a comandar interinamente a Companhia, situação que se arrastou, até faltarem três meses para virmos embora
Foi então em que apareceu um Capitão a que faltavam também cerca de três meses para ser promovido a Major. (**)
Nesta altura, não valia a pena vir à metrópole, pensei. Fiquei-me oito dias por Bissau, onde vim tratar de uns assuntos oficiais e para "não ficar apanhado do clima"!... (***)
Um abraço a todos,
Manuel Vaz
_________________
Notas do editor
(*) Vd. poste de 21 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15137: Sondagem: "Durante a comissão nunca vim de férias à metrópole"... A responder até ao dia 28
(**) Vd- poste de 15 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9047: Memórias da CCAÇ 798 (Manuel Vaz) (2): Uma perspectiva a partir de Gadamael Porto - 65/67 - II Parte - Actividade militar
(...) No entanto, a Companhia estava condenada a não ter Capitão. Passado algum tempo, depois do Cap. Vieira dos Santos sair, foi nomeado Comandante, o Cap. Mil. Anacoreta Soares que não se manteve até ao fim, acabando por ser transferido para o Norte. Quando faltavam três meses para a Companhia regressar à metrópole foi atribuído o Comando da mesma ao Cap. Vilas Boas a quem faltava sensivelmente o mesmo tempo para ser promovido a Major. A situação diminuiu a capacidade operacional da Companhia que só actuava como tal, quando tinha Comandante efectivo. (...)
(***) Último poste da série > 28 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15171: O nosso querido mês de férias (9): Fui a Lisboa, a casa, com 6 meses, em outubro de 1969, conhecer a minha filha mais velha que tinha acabado de nascer em setembro (Gabriel Gonçalves, ex-1º cabo op cripto, CCAÇ 2590/ CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)
3 comentários:
Manel:
Obrigado pelo testemunho... Essa capacidade de autossacrifício é muito nossa, é muito portuguesa...
Está por fazer o "apanhado" dos oficiais milicianos (, nomeadamente alferes,) que foram "comandantes interinos" de companhia, como tu, Manel, e muito provavelmente "sem honra nem glória"!...
Quantos capitães QP, à bica de serem promovidos a "oficiais superiores", passaram a "bola" (leia-se, o comando operacional) ao algeres miliciano mais antigou ou com "melhor perfil operacional"... Podia falar da minha CCAÇ 12, mas não o faço por que os camaradas em causa não me vão ler, e sobretudo nem sequer são membros da nossa Tabanca Grande...
Em suma, não interessa fulanizar, a verdade é que, e pelo menos no TO da Guiné, há (ou parece ter havido) demasiados casos como o do Manuel Vaz... Claro que eu tiro-lhe o quico!... O exército português tem provavelmente para com ele uma dívida de gratidão que se calhar nunca lhe pagou... (Será que ao menos essa situação de "comandante interino" foi oficiosamente reconhecida na história da unidade ou nalgum louvor ?).
Abraço grande. Luis
Pois, cá está, nada é igual para todos.
Houve camaradas que se "agarraram" à expressão 'sondagem' (coisa da moda) e por aí resolveram contestar resultados.
É justo que se refira que a 'amostra' não serve, os resultados não reflectem (nem o podiam fazer) o que foi a realidade vivida pelo conjunto dos homens que durante o tempo que durou a guerra 'gozaram' férias.
Temos então que, devido ao menor custo relativo da viagem da Guiné por comparação com Angola e Moçambique, aqueles que possuíam melhor situação económica aproveitaram esse facto e dividiram, tanto quanto possível, o período de comissão em três e vieram duas vezes. Tenho ideia que os meus conhecidos que foram para Angola ou Moçambique só vieram uma vez, normalmente a meio, ou não vieram mesmo. Um primo que esteve em Mueda não veio de férias. Colegas de Transmissões do meu Curso que estiveram em Moçambique fizeram férias lá.
Seja como for, cada caso foi 'um caso' e esta situação que o Manuel Vaz revela não será certamente caso único mas, pelos motivos indicados, não penso que possam ter ocorridos muitos mais casos semelhantes.
Hélder S.
Amigo Luís:
Agradeço o teu comentário e relativamente à pergunta que formulas, sim houve um louvor proposto pelo Capitão Mil. Anacoreta Soares. Mas o que mais me honrou foi o reconhecimento do ambiente de disciplina existente, conseguido, digo agora, sem punições, sem RDM, recebendo inclusivamente na Compª elementos problemáticos.
Também te quero confessar, Luis, que foi com surpresa que um dia vi o meu nome numa lista de 5 nomes, todos Comandantes da CCAÇ 798,no 7º Vol. da Res. Histórico-Militar das Campanhas de África. Mas foi com espanto que,no meio de 4 Capitães, verifiquei que um deles nunca tinha estado em Gadamael!...
Também tenho que reconhecer que ao longo da minha vida profissional, vivida com dedicação e entusiasmo, muito para além dos restritos deveres profissionais, nunca ninguém reconheceu o meu trabalho e da coragem em faze-lo escrevendo, nem falar!...
Obrigado. - Manuel Vaz
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