quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15179: Os nossos seres, saberes e lazeres (117): Un viaggio nel sud Italia (8): Roma, addio

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Setembro de 2015:

Queridos amigos,
Foi um pouco como visitar Roma pelo canudo, e naquela dia, e com aquele estado de alma, até me apetecia mandar a viagem de regresso às malvas, tinha ali programa para quatro ou cinco dias, com muitas ruínas, várias basílicas, os esplendorosos museus do Vaticano, o passear-me pelas ruas, ir ao Panteão, às praças, tudo vagarosamente, e como dia bem passado no Museu Nacional de Arqueologia. As coisas são o que são, fica para a próxima, é uma blasfémia dizer adeus a Roma, ao Tibre, aos prodígios que saíram das mãos de Miguel Ângelo.

Um abraço do
Mário


Un viaggio nel sud Italia (8)

Beja Santos

Roma, addio



Há qualquer coisa nesta arquitetura magnificente que me faz querer que Roma aceitou apresentar-se sem complexos como uma arquitetura palaciana, um gigantesco teatro onde pudessem caber todos os vestígios imperiais, sem chocar a vista, isto a partir do momento em que se criou a Itália, depois do processo de unificação que teve Garibaldi como motriz. É tudo grandioso, a primeira imagem tirada de manhã cedo, saí da Via Palestro, onde me alberguei, dirigi-me à Piazza dei Cinquecento, bem perto de onde ao princípio da tarde apanharei um autocarro para um dos aeroportos de Roma, atraiu-me aquele ar maciço, aquela distinção oficial de grandiosidade, ainda com símbolos da era de Mussolini. A segunda imagem fascinou-me pela mesma dimensão de grandiosidade, um palácio destinado a burgueses abonados, é um edifício que podia caber numa encenação de ópera, aliás, dentro de minutos, vou passar pela ópera de Roma, isto é um pouco viajar à bolina, como se tivesse pegado num guia prático da cidade e escolhido meia-dúzia de itinerários na proximidade, é um retrato à la minuta, e não estou interessado em esfalfar-me, já reprimi a vontade de ir até ao Vaticano, vou ver uma coisinhas para uma despedida cordial.


Por incrível que pareça, o que me traz hoje aqui é agradecer uma gravação da ópera Aida, de Verdi, que me fez tanta companhia em Missirá, era a orquestra e o coro desta ópera, o maestro era um jovem a iniciar uma carreira triunfal, Zubin Mehta, acompanhou várias vezes os concertos dos três tenores. Esta a ouvir esta ópera quando caiu uma granada em cheio no teto do abrigo, ao levantar-me a mão atirou o braço do gira-discos de tal maneira que a agulha riscou toda aquela face. Nunca mais me esqueci. Este teatro não tem a projeção do Scala de Milão nem a popularidade da Arena de Verona nem a imagem de marca do La Fenice, de Veneza, mas é uma casa onde se podem ouvir vozes sublimes, uma orquestra e um coro de primeiríssima plana. E sigo caminho.


Prantei-me aqui em frente numa romagem de saudade, aí pelos anos 1990 vim aqui para um encontro ligado à edução do consumidor no Mediterrânio, à cautela andei à procura de um hotel baratucho, sei que se chamava Eureka e para tomar duche introduzia uma ficha, tinha água para cinco minutos. Era uma destas arcadas. Seguia pela avenida até ao fundo e estava no Altar da Pátria. Esta é a Piazza della Repubblica, também conhecida por Piazza Esedra, outrora estavam aqui as Termas de Diocleciano. Gosto destes palácios com pórticos harmoniosos e a fonte das Náiadas. Sigo caminho, não há tempo para grandes contemplações.



Já passei ao lado de Santa Maria dos Anjos e do Museu Nacional Romano, não me importaria de passar aqui uns dias, é um dos museus mais ricos do mundo em monumentos de arte grega, romana e cristã, paciência, hoje quero dar uma vista de olhos por uma basílica que nunca visitei, Santa Maria Maior, é enorme, tem uma fachada rica e um belíssimo campanário, o interior é deslumbrante, aqui tudo se mistura, tem na sua génese uma basílica paleocristã, daí as colunas atenienses, os mosaicos bizantinos, houve aditamentos de toda a ordem e o teto em caixotão é esplendoroso, tentei sete ou oito imagens, só esta é que satisfez.



À saída da basílica é me feita a proposta de um passeio de autocarro, duas horas, ida e volta, até ao centro histórico de Roma, guia em quatro línguas, qualquer coisa como 12 euros. É pegar ou largar, no regresso é ir pegar a bagagem no albergue e pespegar-me na paragem de autocarro e ir para o aeroporto. E lá vamos pelo trânsito caótico de Roma, passámos pelo Coliseu, andámos à volta dos Foros Imperiais, aqui estala a confusão, o guia fala a uma tal velocidade que eu já não sei se estou a ver o Fórum Trajano ou o Fórum de César ou o de Augusto, despachou-me as frases sobre o Coliseu inaugurado por Tito no ano 80, estava inteiramente recoberto de mármore e tinha lugares para 50 mil espectadores, o autocarro dá mais uma volta e estamos junto do Arco de Constantino. 15 minutos de paragem, não mais, se não os senhores passageiros esperam pelo próximo autocarro.



Naquele extremo do fórum romano, selecionei o Arco de Tito, edificado em honra das vitórias de Vespasiano e de Tito depois de terem submetido a Judeia, confesso que acho este monumento de proporções admiráveis. E vou a correr até um dos ícones, a Coluna de Trajano, é um trabalho admirável, pasma como os estragos do tempo não fizeram desaparecer toda esta beleza escultórica. Está na hora de eu regressar, veja ao fundo a Via del Corso, aqui em vésperas de Natal de 1985 comprei roupas para as minhas filhas, vindo de cinco meses em S. Paulo, a trabalhar para a FAO. Pudesse eu e punha-me ao caminho, ia lentamente a mirar tudo, é uma artéria fabulosa em palácios, igrejas, colunas, há a Fonte de Trevi, e depois regressava à Praça de Espanha, paciência, fica para a próxima, Roma é inesgotável, digo adeus mas sinto que posso vir amanhã, ou depois, este lugar toca-me profundamente, é bom passear a pé, ter tempo para amar Roma e apreciar os seus museus. É verdade que a viagem não acaba, deixo a Itália em suspenso. Vamos ver o que me reserva uma curta estadia em Antuérpia e um fim de semana em Bruxelas, a minha cidade cúmplice. Até breve.
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Nota do editor

Postes da série de:

12 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14995: Os nossos seres, saberes e lazeres (110): Un viaggio nel sud Italia (1): De Roma para Salerno (Mário Beja Santos)

19 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15019: Os nossos seres, saberes e lazeres (111): Un viaggio nel sud Italia (2): De Roma para Salerno (Mário Beja Santos)

26 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15040: Os nossos seres, saberes e lazeres (112): Un viaggio nel sud Italia (3): Ver Nápoles por um canudo (Mário Beja Santos)

1 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15063: Os nossos seres, saberes e lazeres (113): Un viaggio nel sud Italia (4): Ver Nápoles por um canudo (Mário Beja Santos)

9 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15093: Os nossos seres, saberes e lazeres (114): Un viaggio nel sud Italia (5): Em Tivoli, passeio alucinatório em Villa d’Este (Mário Beja Santos)

16 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15117: Os nossos seres, saberes e lazeres (115): Un viaggio nel sud Italia (6): Em Tivoli, Villa Adriana e Villa Gregoriana (Mário Beja Santos)
e
23 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15146: Os nossos seres, saberes e lazeres (116): Un viaggio nel sud Italia (7): Em terra de S. Francisco, Assis é inexcedível

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