sábado, 13 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19099: Tabanca Grande (468): Gertrudes da Silva (1943-2018), ex-cmdt da CCAÇ 2781 (Bissum, 1970/72)...Senta-se, a título póstumo, à sombra do nosso mágico e fraterno poilão, sob o nº 779.



Amadora > Academia Militar > 1963 > Caderes do curso de Gertrudes da Silva

Foto (e legenda): © Vrigínio Briote (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Gertrudes da Silva (19943-2018), 
nosso grã-tabanqueiro nº 779, a título póstumo. Foto Lusa / DR
(com  a devida vénia)



O Capitão Gertrudes da Silva, Cmdt da CÇAÇ 2781. (Guiné, 1970/72).

Foto: © Gertrudes da Silva (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso coeditor, jubilado, Virgínio Briote, com data de 11 do corrente, respondendo a uma mensagem do nosso editor LG:


Data: quinta, 11/10/2018 à(s) 21:46

Assunto:  Gertrudes da Silva (1943-2018)

Era um tipo fora da corrente dos cadetes do princípio dos anos 60. 

Entrou para a Academia em 1963, um ano depois de mim. Com formação católica, julgo que frequentou um seminário na zona de Viseu, era um jovem de hábitos sóbrios, com carácter, estudioso e atento aos tempos que se viviam. 

Não foi surpresa saber que tinha tido participação activa no 25 de Abril. Comandou a companhia que saiu de Viseu,  e com as forças de Aveiro e Figueira da Foz,. assenhoreou-se do Forte de Peniche. 

Além do papel que desempenhou em 1974, Diamantino Gertrudes da Silva dedicou-se à escrita, publicando, entre outros, "Deus, Pátria e... A Vida", "A Pátria ou a Vida" e "Quatro Estações em Abril". 

A sombra da Guerra [, esteve em Angola e na Guiné, ] pairou numa boa parte das obras que escreveu.

Abraço, Luís.

V.Briote


2. Testemunho do Carlos Matos Gomes (*):

(...) O Diamantino morreu ontem. Nasceu em 1943, na Beira Alta, em Moimenta da Beira. Filho de gente humilde – não se trata de neo-realismo – frequentou o seminário e depois a Academia Militar, onde entrou em 1963. Conheci-o ainda de missal, expressão séria, a sair da caserna para ir à missa. Eu, três anos mais novo, já agnóstico. Nunca falámos de religião, de deuses, de salvação. Respeito. Ele infundia respeito, mesmo quando acreditava no que me merecia radicais oposições: eu dispensava a ideia de Deus, ele ainda a respeitava, não como amparo pessoal, mas como instância de justiça, julgo.

(...) O Diamantino formou-se em História, em Coimbra. Ele, e um outro destes capitães, também já desaparecido, o Monteiro Valente. Conheci-os, relacionei-me com eles como mais um privilégio que a vida me concedeu. O Monteiro Valente foi o único (julgo) capitão que teve de disparar a sua arma para impor o 25 de Abril numa unidade militar! (...)


\
Lisboa >Sociedade de Geografia > 6 de março de 2008 > O João Parreira e o Artur Conceição, do BArt 733 (Mansoa, Bissorã, Farim, Cuntima, Jumbembem, Canjambari, 1964/66), em primeiro plano na cerimónia de apresentação do Diário da Guiné, do M. Beja Santos. Na 2ª fila, o coronel Diamantino Gertrudes da Silva (sorridente).

Foto: © Mário Fitas (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e comentário: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


3.  Comentário o editor LG:

Escrevi, logo no dia 11, ao Virgínio Briote:

(...) Virgínio: lamento a morte de mais um camarada e amigo teu, dos tempos da Academia... Não o conheci pessoalmente, mas há postes teus e dele no nosso blogue...  Que achas se o integrarmos na Tabanca Grande, a título póstumo ? (...) Ele teve alguma interação connosco (...), e comandou a CCAÇ 2781 (Bissum, 1970/72) (...)

O Gertrudes da Silva tem 8 referências no nosso blogue. Infelizmente não tínhamos, até à data,  nenhum representante desta companhia no nosso blogue. 

Ora ele foi (e é) antes de mais um camarada nosso, comandante operacional no TO da Guiné... E mais: tem, pelo menos, duas intervenções no nosso blogue. Apresentou o livro do Beja Santos, "Diário da Guiné", em 6 de março de 2008, na Sociedade de Geografia.  (**). Perdi então a oportunidade de o conhecer pessoalmente: nessa semana eu estava na Guiné-Bissau.

O Gertrudes da Silva considerava, aliás, de pleno direito, este blogue como o "nosso blogue" (***). Certamentr por lapso, não foi convidado nessa altura para integrar a nossa Tabanca Grande. Entra, agora,  a título póstumo, com o nº 779 (****).

Vivia em Viseu. Publicou quatro obras, editados Palimage, a últma, em 2011, "Tempos sem Renissão". Esta última aparece após a publicação, entre 2003 e 2007,  de uma trilogia que percorre a Guerra Colonial portuguesa e a Revolução do 25 de Abril de 74, com os títulos: "Deus, Pátria e... a Vida" (2007);  "A Pátria ou a Vida" (2005); "Quatro Estações em Abril" (2003).

Entre outras condecorações, foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, em 1/10/1985,  pela sua participação no Movimento do 25 de Abril de 1974.
___________


(**) Vd. poste de 13 de março de 2008 > Guiné 63/74 - P2632: Coronel Gertrudes da Silva: A Guiné, a guerra colonial e o 25 de Abril (Virgínio Briote)

(...) Texto base da intervenção do Coronel Diamantino Gertrudes da Silva na apresentação do Diário da Guiné, do Mário Beja Santos.

O Coronel D. Gertrudes da Silva, ele próprio escritor de crónicas de Guerra, teve a ambilidade e deu-nos o gosto não só de estar presente mas também de responder à solicitação que lhe foi feita para enquadrar a Guerra da Guiné no contexto da Guerra Colonial. (...)

A Guiné no Contexto da Guerra colonial e do Regime do Estado Novo 

por Gertrudes da Silva, coronel reformado

(...) Profissionais ou não, voluntários ou obrigados, nós, os militares, cumprimos a parte que nos cabia, que era a de dar tempo e margem de manobra aos políticos para que resolvessem a Questão Colonial.

(...) Com um Regime orgulhosamente só (lá fora e cá dentro), com 40% do Orçamento afectado aos encargos da defesa, com milhares de mortos, milhares de feridos e muitos estropiados, com um esforço militar cinco vezes maior, em termos proporcionais ao dos EUA no Vietname, com a sangria das melhores energias da Nação na Guerra Colonial e na emigração, com a privação de todas as mais elementares liberdades, com um povo profundamente triste por tanta ausência e tanta perda era absolutamente necessária e, mesmo, inevitável qualquer coisa como foi o 25 de Abril, levado a cabo pelos militares, porventura porque sentiam melhor que ninguém a inutilidade da tragédia da Guerra Colonial, porque lhe preparavam uma saída ultrajante como a da Índia, porque talvez só eles estariam em efectivas condições de o fazer.

De resto, como dizia o mestre Kierkgaard, “A vida só pode ser vivida para a frente e explicada para trás”. (...)

Viseu, 8 de Março de 2008
Gertrudes da Silva
Cor Ref (...)

[Texto para intervenção no encontro do Blogue “Luís Graça & Camaradas da Guiné”, que teve lugar em Lisboa, em 06Mar2008.] (**)
.
(***) 15 de março de 2008 > Guiné 63/74 - P2646: A Guiné, a Guerra Colonial e o 25 de Abril. Comentários e Nota do Coronel Gertrudes da Silva (Virgínio Briote)

(...) A UM ANÓNIMO [que comentou o poste P2632]

Se não se apresentasse sem dizer o nome, já que mais não fosse por razões de pertença, dirigir-me-ia a si como caro ou até como amigo ou camarada (da tropa, naturalmente). Mas aí vai.
Eu não omiti nada no escrito (*) que alguém com esse direito tratou de publicar no, já agora, nosso blogue. Não me propunha aí falar propriamente do 25 de Abril, e tão só no enquadramento desse facto (marco) histórico no contexto da Guerra Colonial.

(****) Último poste da série > 4 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19070: Tabanca Grande (467): José Ramos, ex-1º cabo cav, condutor Panhard AML, EREC 3432 (Bula, 1972/74)... Novo grã-tabanqueiro, nº 778.

6 comentários:

António Matos disse...

Não pretendo mais do que uma singela homenagem ao Comandante, ao Capitão, ao Militar e ao Amigo com quem partilhei uma fase bem marcante da minha vida de alferes miliciano nos idos de 70 do sec. 20, muito especificamente no ano de 1972, na Guiné Bissau, sediado que estava em Bula e onde comandava um pelotão da CCaç. 2790, pertença do B.Caç. 2928.
Recorrendo para confirmação de datas ( que os neurónios já não ajudam nas certezas absolutas ), consultei a "História da Unidade" daquela minha companhia e, claro, lá apanhei o Diamantino Gertrudes da Silva que passou a fazer parte dos quadros, tomando o comando na substituição do capitão José Pedro Sucena, em Fevereiro de 1972.
Meu caro Gertrudes da Silva, já tive ocasião de manifestar os meus sentimentos à sua família mas não quis desperdiçar a oportunidade de ter recebido uma alusão a este momento de saudade por via electrónica, sem daqui lhe endereçar um sentido "rest in peace" .
O facto de a notícia-base não o mencionar como comandante da valorosa CCaç. 2790 naquele 1972, foi motivo suficiente para exarcebar os meus orgulhos ( e julgo que de todos os nossos outros camaradas ) pois a experiência foi-nos gratamente positiva.
Desde logo do ponto de vista operacional mas não menos importante, do ponto de vista humano.
Tive(mos) o prazer de o ter entre nós por várias vezes nos jantares (poucos) que vamos fazendo de quando em vez à laia de prova de vida .....
Você, meu caro amigo, juntou-se aos que já tinham partido mas creia que deixou um rasto enorme de simpatia, de camaradagem, de competência e de humanidade invejáveis.
Descanse em paz !
António A.Garcia de Matos

Tabanca Grande Luís Graça disse...

António, belo e emocionante depoimento sobre o camarada Gertrudes da Silva. Vou fazer um poste com este teu testemunho e, eventualmente, outros comentários que surjam. Peço imensa desculpa, aos nossos leitores e em especial aos camaradas da CCAÇ 2790, por ter omitido o facto de o capitão Gertrudes da Silva ter passado a comandar a tuacompanhia a partir de fevereiro de 1972 até setembro desse ano, sucedendao capitão Sucena.

A nossa base de dados é limitada, mas mesmo assim eu devia ter procurado melhor... Confirmo a tua informação. Vou corrigir.

Um alfabravo, Luís Graça-

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A CCAÇ 2790 esteve em Bula (1970/72). O ex-alf mil mians e armadilhas António Matos, membro da nossa Tabanca Grande, tem referências ao cap Gerturdes da Silva... Ver aqui:


12 DE JULHO DE 2009
Guiné 63/74 - P4674: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (16): O alvoroço dos (re)encontros: obrigado, malta da CCAÇ 2790 (António Matos)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2009/07/guine-6374-p4674-o-mundo-e-pequeno-e-o.html

José Marcelino Martins disse...

O então Capitão Gestrudes Silva que em 24/25de Abril, e conforme já referi noutro comentário, o comandante do Agrupamento NOVEMBER que tinha como missão controlar e neutralizar as unidades da região centro que não aderissem ao golpe militar.

Deste facto dou relevância no texto, já longo, sobre o RI 7, de que respigo:

REGIMENTO DE INFANTARIA 14 – VISEU
RELATÓRIO DA OPERAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS REALIZADA EM
25 DE ABRIL DE 1974
1. SITUAÇÃO
a) Generalidades - Definida e conhecida a missão da Unidade no conceito geral da manobra, foi recebida a indicação do dia D e hora H provável, bem como o anexo de Transmissões, texto da proclamação e instruções para confirmação da hora H, na madrugada do dia 24 de Abril de 1974, via contacto directo da comissão. Seguidamente o Capitão Amaral transmitiu instruções a Lamego e o Capitão Ramalho à Guarda. Depois de feito o planeamento local, ficou-se a aguardar a confirmação da hora H.
b) Forças Amigas
- RI 10 [Regimento de Infantaria nº 10, Aveiro];
- RI 14 [Regimento de Infantaria nº 14, Viseu];
- CIOE [Centro de Instrução de Operações Especiais, Lamego];
- RAP 3 [Regimento de Artilharia Pesada nº 3, Figueira da Foz];
- CICA 2 [Centro de Instrução de Condução Auto nº 2, Figueira da Foz].
c) Forças Inimigas
- RI 7 [Regimento de Infantaria nº 7, Leiria];
- RI. 15 [Regimento de Infantaria nº 15, Tomar];
- RI. 5 [Regimento de Infantaria nº 5, Caldas da Rainha] (sem confirmação).
..........

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Zé Martins. Boa noite, se o "furacão" nos deixar passar uma boa noite...

Manuel Bernardo - Oficial reformado disse...

Apenas lamento que o Gertrudes da Silva tenha feito parte do Conselho da Arma de Infantaria que, nos saneamentos dos oficiais, se comportaram contra as mais elementares obrigações impostas pela Declaração Universal dos Direitos do Homem, de que Portugal era subscritor. E houve oficiais que estiveram mais de um dezena de anos sem se poderem defender das acusações feitas secretamente. Foi Ramalho Eanes que fez publicar o D. Lei antes de sair de PR, para normalizar a situação.