quarta-feira, 13 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19581: Notas de leitura (1158): o caso do jornal diário "O Arauto", extinto em 1968, num artigo da doutora Isadora Ataíde Fonseca, sobre a imprensa na época colonial (Luís Graça)


Guiné > Bissau > Cabeçalho e parte da primeira página de "O Arauto", "Diário da Guiné Portuguesa. Ano XXV - Nº 6242. Preço: 1$00. Director e editor: [padre] José Maria da Cruz. Quinta-feira, 27 de Julho de 1967.(*)

Foto: © Benito Neves (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > 1º trimestre de 1968 > No bar da messe de oficiais, o alf mil SAM Virgílio Teixeira, lendo o jornal diário da província, "O Arauto" (1950-1968) (**)

Foto: © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Voz da Guiné, 30 de junho de 1973. Seaparata nº 203. Cortesia do nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro, autor do blogue Rangers & Coisas do MR.


Nota de leitura:

FONSECA, Isadora Ataíde - Dilatando a fé e o império: a imprensa na Guiné no colonialismo (1880-1973). Media & Jornalismo: uma revista do Centro de Investigação Media e Jornalismo. Vol. 16, nº 29 (2016): 119-138.

A autora, investigadora independente,  é doutorada em sociologia da cultura pela Universdade de Lisboa. [FONSECA, Isadora Ataíde (2014) - A Imprensa e o Império na África Portuguesa, 1842-1974. Tese de Doutoramento em Sociologia da Cultura. Lisboa, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Tese disponível, em formato pdf, no Repositório da Universidade de Lisboa .]

No artigo supracitado, publicado em 2016 na revista de Coimbra,  "Media & Jornalismo",  a autora própõe-se "analisar a trajectória do jornalismo e as relações entre a imprensa o império na Guiné ao longo do colonialism", o  a partir de uma "perspectiva multidisciplinar de investigação e análise, na qual a imprensa é observada na sua interdependência às dimensões política, económica e social".

Aplica  "as teorias do jornalismo em regimes liberais e autoritários para se observar a imprensa" e as suas conclusões apontam para  um  "tardio surgimento da imprensa oficial [que] reflectiu a fragilidade da presença portuguesa durante a Monarquia Constitucional".

Com a República (1910-1926),  "a imprensa independente não se afirmou como espaço de debate público". Com a Ditadura Militar e o Estado Novo (1926-1973),  a imprensa vai "servir à propaganda do regime autoritário". No essencial, "ao longo do colonialismo a imprensa na Guiné desempenhou o papel de apoiar e defender o império".

São os seguintes os periódicos da Guiné Portuguesa que foram estudados pela autora:

A Voz da Guiné, 1922.
Arauto (e O Arauto), 1943-68.
Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, 1946-1973.
Boletim Oficial da Guiné Portuguesa, 1884-1920.
Ecos da Guiné, 1920
Ecos da Guiné, 1950-54.
Pró-Guiné, 1924.

No artigo supracitado, tens extensas referências ao períódico "Arauto", mensário, e depois diário, mais tarde "O Arauto", periódico de que temos várias referências no nosso blogue.

"Arauto, Dilatando a fé e o império": era o título do mensário que apareceu em maio de 1943. Era então "dirigido pelo padre Afonso Simões e reproduzido na Imprensa Nacional" (Fonseca, 2016, p. 128). A Imprensa Nacional (instalada em Bolama, com a primeira tipografia montada em 1879) publicava o Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa.

A articulista cita logo o  nº 1 do "Arauto"  em que se declarava que “dilatando a fé, é nosso desejo, concomitantemente, dilatar o império também, interessando-nos por tudo o que diga respeito ao desenvolvimento e progresso desta colónia” (Fonseca, 2016, p. 128).

Na edição nº 14, de junho de 1944, ainda em plena II Guerra Mundial, garantia-se  que “Portugal prossegue [...] a sua obra de reconstrução nacional que tem sido a preocupação dominante daqueles que dirigem os altos destinos da nação”. 

Atento também às políticas da colónia, os nºs 41 (setembro) e 42 (outubro), de 1946, do "Arauto"  faziam referência à 1ª Conferência dos Administradores da Guiné, a qual se terão identificado  como principais problemas da colónia os seguintes:

(i)  a dificuldade de colaboração dos cipaios como elos entre autoridades e indígenas;
 (ii) a obrigação dos nativos trabalharem;
(iii) as irregularidades na cobrança do imposto da palhota; e,
(iv) os problemas infra-estruturais.

Em janeiro de 1947, a edição  nº 45 trazia o discurso do governador Sarmento Rodrigues [, no perído de 1946-1949], na abertura da exposição de Bissau:

 “Nesta terra portuguesa há união de almas e boas vontades, há trabalho, há sacrifício, há entranhado amor ao engrandecimento de Portugal”. 

Citando o nosso conhecido António E. Duarte Silva (2008) [“Sarmento Rodrigues, a Guiné e o luso-tropicalismo”, Cultura, 25],  a autora escreve que "o governo de Sarmento Rodrigues coincide com o apogeu do colonialismo na Guiné", tendo dado prioridade a: (i) desenvolvimento da administração colonial; (ii) participação dos assimilados; (iii)  tratamento paternalista para com os indígenas; e (iv) construção de uma rede de infraestruturas".

Sete anos depois do seu aparecimento, o  "Arauto passa a  diário, em 1950, o tendo como director um outro padre, ou seja, um não jornalista, o franciscano José Maria da Cruz [Amaral] (1910-1993).

Numa nota biográfica escrita por um amigo ("anónimo"), lê-se o seguinte sobre ele;

[...] Voltou ao continente Africano [, tinha estado em Moçambique entre 1936 e 1946], à então província da Guiné, onde esteve até à revolução do 25 de Abril. Na Guiné, foi professor do Liceu Honório Barreto, vogal da Assembleia Legislativa, e até 1968 director do Arauto, o único jornal da Guiné que foi extinto pelo general Arnaldo Schultz, em represália contra a linha editorial do Arauto, que procurou denunciar a anarquia militar e civil do seu governo da província.[...]

Este último facto deve ser visto com reserva: não temos fonte(s) independente(s) para o poder comprovar...

Percorrendo os números que se foram publicando entre 1950 e 1968, Fonseca (2016, p. 129)  faz a seguinte síntese:

(...) "As notícias da metrópole continuaram com destaque no diário, que no seu nº 1415, de Janeiro de 1952, relatava que foram presos os organizadores duma 'conjura contra a segurança do Estado'. Na época as notícias internacionais não incluíam os territórios e países africanos e as informações locais eram escassas." (...)

A nomeação de Marcello Caetano como vice-presidente do Conselho Ultramarino é notícia em fevereiro de 1953 (edição  nº 1813).

"Seguindo uma linha de despolitização" (sic), o mundial de futebol (que se realizou na Suíça, nesse ano, e em que a Alemanha bateu a Hungria na final, por 3-2), foi um dos títulos de caixa alta da edição nº 2297" (Julho de 1954),  de resto, uma "tendência que se manteve" (Fonseca, 2016, p.129).
"
 Em maio de 1955, o "Arauto" noticiava que a Guiné recebera “com delirante patriotismo e entusiástica vibração” o presidente da República, o general da Força Aérea Francisco Craveiro Lopes (1894-1964).

O jornal, que até então era reproduzido em duplicador, ou seja , policopiado, passava a circular em formato de imprensa, graças à Tipografia das Missões, em Bissau.    O "Arauto" é então definido, pelo seu editor, redactor chefe e diretor (, 3 papéis centrados na mesma pessoa...)   como “um jornal diário autêntico, com artigos de análise, com crítica e interesse público” (Fonseca, 2016, p. 129).

Naturalmente, o que o jornal não noticiou (nem o poderia fazer) foi   a criação, na clandestinidade,  do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), fundado por Amílcar Cabral, em setembro de 1956. Tal como "silenciou" os graves acontecimentos de 3 de agosto de 1959, conhecidos como o "massacre do Pidjiguiti". Entretanto, dois meses antes, em junho de 1959 (, na edição nº 3905), os colóquios sobre o II Plano de Fomento do Ultramar eram devidamente divulgados, e sublinhava.se que a política de investimento no território deveria atender a “dualidade de economias”.

A partir de 1958, o jornal passara a designar-se por "O Arauto". E o nº 3483 publicava a primeira intervenção do deputado da Guiné (entre 1956 e 1961), Avelino Teixeira Mota, na Assembleia Nacional, "a qual abordava o problema do ensino e da valorização económica da província". Teixeira da Mota (1920-1982), sobre o qual temos 22 referências no nosso blogue, era oficial da Marinha e foi chefe de gabinete do governador Sarmento Rodrigues.

O jornal fazia-se eco da política externa do governo de Salazar, alvo de crescente hostilidade nas instâncias internacionais:

(...) “No êxito de alguns movimentos [...] assentou um programa de ‘libertação’ que não serve nem respeita a paz dos que não querem ser ‘libertados’ [...] não existem nos territórios portugueses ultramarinos quaisquer indícios de ‘colonialismo’ " (...)  (O Arauto, junho de 1960, nº 4197).

A "orientação governamental e pró-colonial" do jornal não impediu que a edição de 10 de abril de 1960 fosse proibida de circular pela delegação local da PIDE, devido ao artigo “Carta Aberta ao Governador Geral de Angola”, assinado por Ernesto Lara Filho, poeta e jornalista angolano  (Benguela, 1932 - Huambo, 1977), considerado politicamente inoportuno ou inconveniente.

Com o início da guerra colonial em Angola,  "O Arauto" reforça a defesa do império e a denúncia do apoio do  comunismo internacional  ao "terrorismo":

(...)  “É já conhecido o recente acordo [...] que prevê, praticamente, a entrega das províncias ultramarinas, com total independência, às organizações daqueles elementos comunistas e a criação na metrópole de uma república popular” (...) (O Arauto, setembro de 1962, o nº 4856),

Como muito bem observa  Fonseca (2016, pp. 132/133),  não se pode falar verdadeiramente em jornalismo, profissional, independente, deontológico:

(i) os textos do jornal não eram assinados;

(ii)  não há fichas técnicas;

(iii) não há jornalistas profissionais na redação;

(iv) a maior parte do noticiário provinha da agência Lusitânia. agência noticiosa do regime, e de outras fontes, oficiais ou oficiosas;

(v) com o início da guerra, a informação de natureza militar tem estritamente como fonte o Boletim Informativo das Forças Armadas.

Em janeiro de 1964, na edição nº 5276, "a manchete de O Arauto foi 'De ladrões de gado a terroristas'. O texto notava que, se até 1962 o PAIGC tinha limitado suas acções à sabotagem de linhas férreas e telefónicas, passou a ter como alvos as forças armadas portuguesas em Fevereiro de 1963" (Fonseca, 2016, p. 130).

A investigadora deve ter lido mal (ou treslido...), já que na Guiné não havia (nem há...) linhas... férreas!...

Aliás, a autora comete outros erros factuais e faz referências, no mínimo controversas e acríticas, relativas nomeadamente ao processo que levou à independência da Guiné-Bissau: por exemplo, "áreas libertadas" do PAIGC, "perda do controlo aéreo do território" por parte das forças armadas portuguesas, declaração unilateral da independência em "Madina do Boé"...

(...) "Em Abril de 1972 uma missão do comité de descolonização da Organização das Nações Unidas visitou as zonas libertadas e recomendou que o PAIGC fosse reconhecido como o único representante do povo da Guiné. Amílcar Cabral foi assassinado em 20 de Janeiro de 1973 e em Março os portugueses perderam o controlo aéreo do território. Em Agosto, Spínola deixou África e em 24 de Setembro de 1973, em Madina do Boé, foi declarada a independência da República da Guiné-Bissau, presidida por Luís Cabral. Em poucas semanas, a nova nação foi reconhecida por mais de 80 países e, em 17 de Setembro de 1974, as Nações Unidas admitiram como membro a República da Guiné-Bissau." (Fonseca, 2016, p. 132)

No aniversário de "O Arauto", em 5 de julho de 1967, o jornal agradecia ao governador [, gen Arnaldo Schulz,] a concessão de um subsídio de 50 mil escudos [, em dinheiro da metrópole era o equivalente hoje a c. 17.600 €]. Em 1966 o défice do jornal era já de 486 mil escudos [, mais de 178,6 mil euros, hoje] e o diretor questionava-se sobre  a sua viabilibilidade económica.

Ficamos a saber, pelo nosso camarada Virgílio Teixeira, que uma parte dos assinantes seriam as unidades e subunidades  militares do CTIG, como o era o caso do BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69). O nosso camarada lia o jornal "O Arauto", no bar da messe de oficiais em Nova Lamego, mas já não se lembra de o ver em São Domingos. A razão é simples: a última edição do jornal (nº 6444) saiu em 10 de abril de 1968.

Ficamos, entretanto,  na dúvida sobre a decisão de extinguir o único jornal diário do território: seria do governador Arnaldo Schulz ou dos proprietários ? Alegamente, foi por  falta de recursos financeiros, técnicos (máquinas) e humanos. O "biógrafo" (anónimo)  do franciscano quis pô-lo num patamar mais alto, o de vítima e de herói: amesquinhado por Schulz, incensado por Spínola... Parece que o homem acabou por ficar mal com Deus (o Vaticano) por causa de César (Spínola)... A verdade, é que não se pode servir a dois senhores...

Entretanto, em janeiro de 1972 surge um novo jornal, "Voz da Guiné" (, não confundir com "A Voz da Guiné", que se publicou apenas em 1922). A convite de Spínola, o jornal (a princípio bissemanário) é dirigido pelo antigo  diretor e editor  do "O Arauto", o padre José Maria Cruz de Amaral, que "também passou a ser, na mesma ocasião, presidente da Comissão de Censura, órgão a que ele já pertencera e que velava pelos princípios políticos e ideológicos do regime." (Fonte: António Soares Lopes [Tony Tcheka] - Os media na Guiné-Bissau. Bissau: Edições Corubal, 2015, p. 37).

Na realidade, é uma situação insólita, Spínola convida o padre José Maria Cruz de Amaral para diretor da "Voz da Guiné" e, passado uma semana, em 22 de janeiro de 1972,  nomeia-o  presidente da Comissão Provincial de Censura...

Vamos então às conclusões que a autora, Isadora Ataíde Fonseca, tira do seu estudo sobre a imprensa guineense no período colonial (1880-1973):

 (...) "Portugal virou-se para o continente africano na expectativa de sobreviver enquanto império nos séculos XIX e XX e, para tal, estendeu o seu regime político e instituições. Neste contexto, a imprensa e o jornalismo em África emergiram como entidades implementadas pelo regime colonial com o intuito de contribuir na afirmação do império português. Como observou Barton (1979: 2), a imprensa colonial desenvolveu-se em paralelo à imprensa europeia e adoptou o seu modelo de jornalismo. No entanto, na Guiné a imprensa apareceu tardiamente e não se consolidou como espaço de debate público, servindo invariavelmente ao poder político e ao fortalecimento do império colonial português.

"Para se compreender a trajectória e o protagonismo da imprensa na Guiné no período colonial é preciso analisá-la na sua interdependência às dinâmicas sociais. O desempenho da imprensa na Guiné articulou-se ao conjunto das dinâmicas sociopolíticas coloniais, que lhe deram as seguintes características: 

1) A imprensa privada desenvolveu-se tardiamente como reflexo da fragilidade do Estado colonial, da fraqueza das elites locais (europeias e africanas), e do prolongamento dos conflitos militares. A imprensa manteve um perfil político caracterizado pela propaganda dos governos e não pela promoção do debate no espaço público;

 2) Nos três regimes políticos que perpassaram a Guiné, a imprensa sempre desempenhou um papel de colaboração. Durante o Estado Novo a imprensa desenvolveu papéis característicos dos regimes autoritários, sobretudo apoiando e propagando o regime; 

3) Não houve processos de profissionalização e profissionalismo dos jornalistas; 

4) Aplicado o conceito de paralelismo político, a imprensa esteve alinhada com o governo. No entanto, as distintas forças sociais não foram representadas pela imprensa; 

5) A intervenção do Estado foi forte, através da propriedade, dos subsídios e do controlo dos conteúdos. O legado do colonialismo português para a imprensa na Guiné é o jornalismo enquanto actividade de suporte e apoio dos regimes e governos, e não enquanto espaço privilegiado do debate e da intervenção pública." (...) (Fonseca, 2016. p. 134).

O artigo tem cerca de 6 dezenas de referências bibliográficas. Merece um leitura, até porque há ainda pouca investigação neste domínio. Está aqui disponível em formato pdf.

Um outro artigo recente é da nossa conhecida Sílvia Torres mas apenas centrado em 3 jornais: O Arauto, Notícias da Guiné e Voz da Guiné, e restringindo o campo e análise ao período da guerra colonial (1961-1974): vd.  aqui TORRES, Sílvia - A Guerra Colonial na imprensa portuguesa da Guiné. A cobertura jornalística do conflito feita pelos jornais O Arauto, Notícias da Guiné e Voz da Guiné, entre 1961 e 1974. Prisma.Com, (33) 2017, p. 33-46. Disponível aqui em formato pdf.
_______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2766: Álbum das Glórias (42): As melhores ostras de Bissau, em O Arauto, de 27 de Julho de 1967 (Benito Neves, CCAV 1484)

(**) Vd. poste de  11 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19573: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXV: Memórias do Gabu (IV)

(***) Último poste da série > 11 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19575: Notas de leitura (1157): Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’, por Patrick Chabal e Toby Green; Hurst & Company, London, 2016 (4) (Mário Beja Santos)

8 comentários:

Anónimo disse...

Luis, como é que uma simples fotografia a que eu não tinha dado interesse nenhum, vem desenvolver aqui um 'tratado' de jornalismo, politica e tantas outras coisas tão importantes.

Não tenho palavras para demonstrar o meu apreço por este artigo.

Um obrigado e muitos parabéns, não posso dizer mais nada.
Ab,
Virgilio Teixeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Virgílio, as nossas fotos não são "insignificantes", a não ser para quem "não tem olhos para ver"... Não te faço nenhum favor, apenas dou o devido valor (e, se possível, junto, eu e os demais editores, o nosso pequeno "valor acrescentado"...) aos textos, às fotografias, aos comentários que os nossos amigos e camaradas da Guiné vão carreando ao longo destes 15 anos de existência do blogue... É trabalho de formiguinhas, é certo, mas de uma vasta equipa de formiguinhas... Compensações ? Apenas a satisfação de partilharmos memórias uns com os outros (mAs também afetos, emoções, sentimentos...).

Tem uma noite descansada. Luís

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A doutora Isadora de Ataíde Fonseca é uma jovem, seguramente nascida depois do 25 de Abril, não é historiadora, mas socióloga... Em todo caso, tinha a obrigação, em contexto académico, de ter mais cuidado com o enquadramento histórico que faz do aparecimento e desenvolvimento imprensa colonial na Guiné... Como "cientista social", não pode citar acriticamente fontes que reproduzem a propaganda do PAIGC... Por exemplo,

i) a decalaração unilateral da independência da Guiné-Bissau, em 24 de setembro d 1973, não foi em... Madina do Boé!

ii) as Força Aérea Portuguesa (FAP) nunca perderam o controlo aéreo do território, não obstante a introdução em março de 1973 do míssil russo terra-ar Strela;

iii) o conceito de "áreas libertadas"...

Há mitos que se vão reproduzindo, incluindo na imprensa académica, e que correm o risco de se tornar "verdades históricas"... Não negamos o direito dos guineenses à independência, mas aqueles que lá combateram no TO da Guiné, de um lado e do outro, têm o direito à verdade do factos...

A guerra já acabou e,com ela, a propaganda, usada por ambos os lados.

Anónimo disse...

Luís, temos de dar um grande - enorme - valor a estas formiguinhas - que não são as baga baga - por nos trazer conhecimentos que, refiro-me a mim, nunca antes conseguidos, e isso, este meu pequeno contributo deixa-me imensamente feliz e só por isso vale a pena continuar a juntar fotos, legendar dentro do possível com alguma credibilidade, o que nem sempre é fácil.
Eu sou daqueles que achei insignificante, esta foto, como outras tantas, mas é preciso ter olhos e olho critico para ver aquilo que a maioria não vê, ou não quer ver.

Realmente e como dizes, a Doutora Isadora de Ataide Fonseca, não foi ao fundo das questões, e foi atrás da propaganda do PAIGC. Será extremista?
Não a conheço, mas o nome não é estranho.

Fico a saber que o nosso 'O Arauto' fechou as portas, no mês em que cheguei a São Domingos. Por isso não havia lá Jornal nenhum. Menos uma despesa para o Orçamento do batalhão!

Eu vou continuando a fazer novos Temas, agora resolvi pegar em fotos que não sabia o que fazer, e criei um novo Tema - 'As coisas de que não me orgulho'. São fotos minhas, umas narcisistas, outras apalhaçadas, outras ridículas, outras do bioxene, talvez com isso a nossa rapaziada se entretenha, pois os nossos dias são cada vez mais curtos.

Vamos caminhando,
Virgilio Teixeira



Tabanca Grande Luís Graça disse...

Essa dos "ladrões de gado" (os desgraçados dos balantas...) que se tornaram "terroristas", sabotando linhas férreas e telefónicas, dá para rir, querida amiga... LG

Anónimo disse...

A nossa amiga, pelos vistos não conhece onde fica a Guiné.

Devia estar a escrever e ver um filme de cowboys, pois aí, havia os ´ladrões de gado' - os cowboys, depois os Indios que realmente sabotavam as linhas ferreas e telefónicas, mas ....
lá no Faroeste americano, não na Guiné!!

Bem apanhada esta.

Virgilio Teixeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Há muita (e pouco ignorância) dos que só conhecem o mundo através dos livros (e agora da Net)...

Recordo.sempre com saudade, o cap SGE José Neto,que me confiou as suas "Memórias de Guilege"... Infelizmente foi o primeiro da Tabanca Grande a partir para a última viagem, logo em 2007... Escrevia-me ele uns meses antes:

"Meu caro Luis: Depois de muito meditar cheguei à conclusão de que, pelo menos tu, mereces a minha confiança para partillhar contigo uma parte muito significativa das memórias da minha vida militar.


"São trinta e três páginas retiradas (e ampliadas) das 265 que fui escrevendo ao correr da pena para responder a milhentas perguntas que o meu neto Afonso, um jovem de 17 anos, que pensava que o avô materno andou em África só a matar pretos enquanto que o paterno, médico branco de Angola, matava leões sentado numa esplanada de Nova Lisboa (Huambo). Coisas de família"...

Anónimo disse...

Enfim a crise também já chegou à universidade e o problema não é só da Dr. Isidora, mas também de quem a (des)orientou.Porque muitos dos mais novos vão tomar a tese como real e assim vão andando as coisas no mundo académico e não só.
Carlos Gaspar