sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20445: E as nossas palmas vão para... (21): Caretos de Podence, classificados pela UNESCO como "património imaterial da humanidade"


 Macedo de Cavaleiros > Podence > 3 de março de 2019 > Entrudo Chocalheiro > Pintura mural:  os caretos chocalando as "novas"...


Macedo de Cavaleiros > Podence > 3 de março de 2019 > Entrudo Chocalheiro >  Pintura mural


Macedo de Cavaleiros > Podence > 3 de março de 2019 > Entrudo Chocalheiro > O careto e as "velhas"...


Macedo de Cavaleiros > Podence > 3 de março de 2019 > Entrudo Chocalheiro > A Alice Carneiro, posando com um careto que enverga uma típica máscara de latão.



Macedo de Cavaleiros > Podence > 3 de março de 2019 > Entrudo Chocalheiro > Os famosos chocalhos com que os caretos chocalham as mulheres, novas e velhas.


Macedo de Cavaleiros > Podence > 3 de março de 2019 > Entrudo Chocalheiro > O Francisco Baptista e a espoa. Também lá apareceram, atraídos pela notícia do blogue. Apresentei-o ao João Rebelo e ao Joaquim Pinto de Carvalho, também, camaradas da Guiné, que me acompanhavam nesta visita  (*)

Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A notícia é do DN - Diário de Notícias / Agência Lusa, edição "on line", de ontem, às 16h51:

(...) "os Caretos de Podence foram, esta quinta-feira, declarados Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.

A decisão foi anunciada na Assembleia Geral da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, que decorre até sábado, em Bogotá, na Colômbia.

Os tradicionais mascarados do Entrudo Chocalheiro da aldeia do concelho transmontano de Macedo de Cavaleiros passam a estar integrados numa lista mundial onde Portugal já tem o Fado, o Cante Alentejano, a Dieta Mediterrânica, a Falcoaria e os chamados "Bonecos de Estremoz".

As "Festas de Inverno Carnaval de Podence" foram a única candidatura selecionada pelo Governo português para representar Portugal nesta que é a XIV reunião do Comité Internacional da UNESCO, o organismo das Nações Unidas para a Ciência, Cultura e Educação.

Os Caretos de Podence marcam a folia de Carnaval no Nordeste Transmontano com coloridos e farfalhudos fatos, máscaras de ferro ou lata, chocalhos à cintura e um pau para amparar as tropelias.

Em toda a região de Trás-os-Montes há Caretos, protagonistas das chamadas Festas de Inverno, que acontecem entre o Natal e o Carnaval. Os de Podence distinguem-se dos restantes pelo chocalho, daí o nome da festa ser "Entrudo Chocalheiro". É apontado como "o mais genuíno carnaval português", sem samba, ao ritmo da tradição.

As ruidosas manifestações dos Caretos atraem, durante quatro dias, à aldeia de Podence com cerca de 180 habitantes, milhares de curiosos portugueses e estrangeiros." (...)


2. Este ano fui conhecer Podence, no concelho de Macedo de Cavaleiros. E lá estavam, para animar  o "entrudo chocalheiro" (*), os famosos caretos que já conhecia de Lisboa, do Festival Internacional da Máscara Ibérica (**).

E até lá fui encontrar o meu amigo e camarada Francisco Baptista, mais a esposa, que é vizinho, natural de Brunhoso, Mogadouro, autor do livro "Brunhoso, era o tempo das segadas; na Guiné, o capim, ardia" (2019).

Ele, por certo, e eu, e tantos transmontanos e amigos de Trás-Os-Montes, juntamo-nos aqui, no blogue, para bater palmas ao sucesso desta candidatura portuguesa.  Os  Caretos de Podence vêm enriquecer a lista do nosso Património Imaterial da Humanidade onde já estão, entre  outras manifestações culturais como  o Fado, a Dieta Mediterrânica,  o Cante, a Falcoaria, os Bonecos de Estremoz, a Manufatura de Chocalhos,  a Olaria Negra de Bisalhães.

E associo-me à alegria das  gentes de Podence / Macedo de Cavaleiros (***), com este excerto de um poema meu, "A Vida é Um Entrudo Chocalheiro" (*).

(...) A máscara também está associada
à festa,  à terra, aos tambores,
à gaita de foles,  aos chocalhos,
ao pão, ao queijo de ovelha e de cabra,
aos enchidos, ao vinho...
Porque não há festa sem o pão
e o vinho, a música, a folia,
a transgressão,  a subversão dos papéis,
o entrudo, o carnaval,
o terreiro,
esse fantástico chão português
que foi e ainda é o teu chão,
de Trás-os-Montes ao Algarve,
e os caretos de Podence,  Grijó e Lazarim...
Sim, a vida é um entrudo chocalheiro,
a vida são dois dias,
e o carnaval são três.
... E eu quero lá estar!

Para saber mais sobre os Caretos de Podence, vd. aqui:



PS - Os filhos de Macedo de Cavaleiros  que morreram na guerra do ultramar / guerra colonial, foram 37, incluindo o José Luís Alves Rancão (1947-1970), natural de Podence: furriel mil paraquedista, CCP 122 / BCP 12, morreu  em combate, na Guiné, em 26/6/1970. Seguramente que também terá participado, no seu tempo, na "festa dos rapazes", e vestido o traje de "careto".
_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de1 de março de  2019 > Guiné 61/74 - P19541: Agenda cultural (673): Entrudo Chocalheiro, Podence, Macedo de Cavaleiros, 2-5 de março de 2019... Porque A Vida São Dois Dias, e o Carnaval São Três... E Portugal Não é Só Lisboa ... E Eu Vou Lá Estar!... (Luís Graça)

(**) Vd. postes de:

2 comentários:

Anónimo disse...



Esta reportagem no essencial capta e transmite a notícia de um grande acontecimento cultural para Portugal,Podence e o Nordeste Transmontano, a experiência recente de quem passeou por lá e anteviu a sua riqueza cultural e gosta de mergulhar no âmago das vivências dos povos, a beleza dos fatos e máscaras que escondem o mistério,a ancestralidade, as personalidades alteradas, transformadas dos caretos, que procuram no fundo deles mesmas e nas suas suas origens remotas força espiritual para compreenderem e se relacionarem melhor com as raparigas,e vencerem o medo que sempre existiu entre esses homens e mulheres, tão afins mas tão diferentes.
O Carnaval, Entrudo se chamava em Brunhoso, na minha aldeia foi sempre uma festa dos homens, em que as mulheres somente participavam na retaguarda a fazer alguns petiscos ou comidas próprias dessa quadra, algumas viam passar o cortejo de caretos atrás das janelas e muitas delas tinham um medo irracional deles que eu nunca consegui compreender. Lembro-me que nesse tempo em que as casas, quer de noite, quer de dia, nunca se fechavam à chave, quando os caretos, muitas vezes parentes, entravam as mulheres assustavam-se muito. A minha mãe assustava-se muito mas lembro-me duma tia, que sendo eu ainda garoto quase entrava em pânico quando entrava em casa dela de cara tapada.
Do que me lembro o Entrudo com o cozido típico do Carnaval ( com bulho, casulas, linguiças, perna e orelha de porco) e com caretos existia em todo o Nordeste Transmontano. Havia algumas aldeias tais como Tó, no concelho de Mogadouro, Varge no concelho de Bragança, Lazarim no concelho de Lamego e Podence no concelho de Macedo de Cavaleiros que se distinguiam pelos trajes, pelas máscaras ou por rituais específicos.
Pelos excessos alimentares e vínico sempre me pareceu que o deus do Carnaval seria Baco
Muito obrigado Luís pelo teu poste ao lê-lo e ver as suas imagens senti um frémito de gozo que me transportou para tempos de garoto e para outros tempos anteriores a esta vida. Obrigado pela foto, pela partilha, pela simpatia da Alice, tua mulher e dos teus amigos, um dos quais tinha ido render a minha companhia em Buba. Foi um grande dia, acabei também por encontrar o Luís Pires, com quem fui jantar, que mora em Macedo de Cavaleiros, com quem estive na Cart. 2732, a mesma do Carlos Vinhal, e que não via à 46 anos.
VIVA O ENTRUDO E VIVM OS CARETOS DE PODENCE, PATRIMÓNIO IMATERIAL DA HUMANIDADE!

Tabanca Grande Luís Graça disse...

... Este magnífico texto é naturalmente do nosso querido e camarada Francisco Baptista que fui encontrar, "não por mero acaso" (, ele é um homem de cultura, de grande sensibilidade sociocultural!), no último "Entrudo Chocalheiro", como documenta uma das fotos...Tive depois ocasião de o apresentar a outros camaradas do grupo que veio de Lisboa, em visita ao Nordeste Transmontano por essa ocasião: o Joaquim Pinto de Carvalho e o João Rebelo (, o primeiro é nosso grã-tabanqueiro e o segundo há de sê-lo um dia destes...).

Obrigado, Francisco, Trás-os-Montes é uma Nação!... Luís