domingo, 8 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20426: Blogpoesia (649): "África negra das ventanias e vendavais", "Nem com Wagner..." e "Cataratas da minha terra", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana, que continuamos a publicar com prazer:


África negra das ventanias e vendavais

Terra ampla, vermelha e doce.
Das florestas densas e das pradarias.
Das estepes imensas onde poisam aves gigantescas, com garras d’aço e bico adunco.
Onde os ofídios livres se banqueteiam à solta pelas florestas.
Onde, frenéticos, retinem batuques pela noite fora, durante as festas das cubatas.
Se ouvem lúgubres os silvos das feras famintas.
E as famílias percorrem léguas, a pé descalço, dia e noite, pelas sendas sem fim, para visitarem os parentes que os esperam em grande festa.
Onde, tudo é grande, até a vida que decorre lenta e plena de cores.
Quem lá nasceu ou só viveu, sabe bem que é verdade tudo que eu falo...

Berlim, 1 de Dezembro de 2019
13h16m
Jlmg

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Nem com Wagner…

Em vão pedi aos ventos e às ondas do mar duas letras de poesia.
Sedento, orei aos deuses e às ninfas.
Supliquei em preces, chovessem versos ou sistemas.
Baladas doces, ternurentas.
Meu deserto tem sede de oásis.
Me assusta o gelo polar ártico.
As cavernas escuras e os degredos.

Queria voar à solta, sentir a brisa fresca das manhãs de Agosto.
Ouvir ladainhas e promessas sãs.
Inocente refrigério das lamúrias.
Voltar de novo à terra da esperança e da alegria.
Desfraldar a paz com bandeiras do bem-fazer.
Viver de amoras e mel silvestre.
Regar minha alma com o ar puro das florestas.
Adormecer em paz ao tom das Avé-Marias.

Ouvindo Wagner
Berlim, 4 de Dezembro de 2019
8h55m
Jlmg

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Cataratas da minha terra

Que deslumbramento, ali escondido,
Entre rochosas encostas montanhosas!
Corre ao fundo, um ribeiro sinuoso.
Soluçando das cambalhotas que sofreu atrás.
Vou no encalço dele até à sua fonte
E fico espantado.
Suas águas escorrem em catadupa,
Fervendo espuma branca,
Por uma garganta funda e pedregosa,
Entre duas montanhas.
Luta titânica da natureza,
Reclamando seu equilíbrio ancestral.
Acabou em paz tamanha refrega.
Por isso, agora, saltita alegre o ribeirito,
Regando as terras virgens de verdura fértil,
Que tudo converte em vinho e pão.

Saúdam-no festivamente, os cavadores,
De enxada em punho,
Orientando as regas até às raízes.
Quadro belo que Agosto traz.

Ouvindo Schubert
Berlim, 7 de Dezembro de 2019
9h27m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20403: Blogpoesia (648): "O dia a nascer", "O comboio em andamento..." e "Estuário de poesia", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

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