domingo, 31 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21829: Blogpoesia (716): "As ideias não dormem no chão"; "A encomenda esperada"; "Ameaças" e "Desfizeram-se as brumas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


As ideias não dormem no chão

No chão, vivem a terra e o húmus.
Os pés as pisam, inclementes,
Possantes.
Se alheiam dos sonhos e do belo.
Elas clamam socorro às mentes.
Alheadas, nas canseiras da vida.
Só o arado revolve as raízes.
Crescem e amaduram ao sol e à chuva.
Voam no ar seduzindo os sonhos.
Brotam do chão os frutos que saciam a alma.
Poetas, pintores entoam poemas nas telas
Como flores num jardim.


Berlim, 30 de Janeiro de 2021
10h9m
Jlmg


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A encomenda esperada

Ainda não chegou a encomenda esperada.
Bateram à porta. Mas por engano.
Era na porta ao lado.
O bom e o não pdem surpreender-nos,
A toda a hora.
Ainda ontem, cozinhou de festa para a netinha doce.
Fez anos.
Estava mesmo a chegar. Sem o saber.
Hoje, já cá não está.
Partiu para sempre,
Para o reino da saudade e da esperança.
Descansa em paz, camarada de guerra.
Um "ranger" apaixonado e desprendido.
O Roger dos "comandos" da Guiné.
O Senhor te tenha em bom lugar...


Berlim, 28 de Janeiro de 2021
15h29m
Jlmg


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Ameaças

Pairam ameaças tonitruantes pelos céus.
Aves agoirentas toldam-nos de sons sinistros.
Sobem prantos de dor e lágrimas.
Clamando o seu perdão.
Se transviou a humanidade.
Errou a rota,
Escolhendo mal os seus caminhos.
Há sinais evidentes de que ainda é tempo.
Não tem fim a divina clemência.
Sempre pronta a acolher o tresmalhado.


Berlim, 26 de Janeiro de 2021
9h36m
Jlmg


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Desfizeram-se as brumas

Desfizeram-se as brumas na história da humanidade.
Se desfiguraram os sonhos da paz e da solidariedade.
É tudo sete cães a um osso.
Regrediu ao reino do homem da caverna.
Todos tratam de seu umbigo.
É o vale tudo.
O que importa é o nosso osso.
Para os homens do poder é era do vale tudo.
Se matar o semelhante, porque não?
Não falte o pão e o vinho na mesa do poder...


Ouvindo Rimsky-Korsakov: Scheherazade op.35
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 24 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21801: Blogpoesia (715): "Naquelas paredes negras", "Vou partir" e "Tem sabor a fado", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

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