domingo, 18 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22113: Blogpoesia (729): "Arroz doce"; O brilho dos brasões"; "Gradeadas as portas e janelas" e "Bom rasto", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação semanal de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66):


Arroz doce

A vida é um rio que flui para o mar carregado de tristezas e alegrias.
Dias alegres. Outros menos.
Adicionar-lhes uns grãos de doçura,
Mitiga as dores. Alisa arestas.
Sara feridas.
Nosso parto é dor. Por lei divina.
Trazer à mesa, de vez em quando ao menos,
Um prato de arroz doce adoça a vida.
Desperta sonhos. Esquece agruras.
Basta juntar arroz, ovos e açucar.
O resto virá...


Berlim, 11 de Abril de 2021
9h21m
Jlmg


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O brilho dos brasões

Nem com brasões o brilho senhorial se aguentou com o rolar dos tempos.
Gente ilustre. Com fidalguia.
Ganha nas expedições das guerras.
Condecorações nas folhas de serviço.
Deram azo ao direito de engalanar as suas casas.
Fazer ver às gentes a história de seus feitos.
Foi o regalo e orgulho dos primeiros donos.
Com o rolar das gerações,
Foi esmaecendo a vaidade.
Novas emigrações da descendência vieram no rolar da vida.
Foram abandonadas as casas
Só restaram os brasões na frontaria,
Mas inùtilmente. Ninguém lhes liga.
Cobrem-se de lendas e histórias de bruxarias.
Dizem que mora lá o diabo.
Por isso ninguém é capaz de a deitar abaixo
Mas é só por medo.
Assim passam as glórias deste mundo!...


Berlim, 12 de Abril de 2021
11h17m
Jlmg


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Gradeadas as portas e janelas

Estão gradeadas as portas e janelas das casas das ruelas.
É perigoso andar pelas madrugadas.
Uma arma. Um punhal podem ser a ameaça inesperada,
Numa esquina das vielas.
É melhor nunca arriscar.
Os meliantes, dos aventureiros é o que eles esperam.
Tantas histórias do passado contam rixas cheias de sangue.
Era escusado...

Ouvindo o fado, "sei dum rio" de Camané

Berlim, 16 de Abril de 2021
15h11m
Jlmg


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Bom rasto

Deixar bom rasto.
Sejam certos nossos passos.
Que a vida siga o caminho da virtude e dos valores.
A honra e a justiça a iluminem.
O respeito pelo nosso semelhante.
Atenção às suas necessidades.
Sem outro interesse que o de ajudar.
Brilhe nossa vida como no céu uma estrela.
Só assim a vida terá valido a pena.


Berlim, 17 de Abril de 2021
21h30m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22095: Blogpoesia (728): "Santa Páscoa"; O bico do lápis"; "A vida volta a nascer com os gatos atrás" e "A eternidade", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1 comentário:

Hélder Valério disse...

Caro Mendes Gomes

Faz tempo que não comendo os teus poemas.
Mas leio. E, como sempre tenho dito, quando comento, não o faço mais vezes por "falta de jeito".
Mas hoje apeteceu-me.
4 poemas, 4 comentários.
No primeiro refiro apenas que nos ingredientes indicados falta o leite e a canela. Para mim, por recordações da minha mãe, arroz doce tem que levar canela. Pronto, já disse!
No segundo, acho que percebo e concordo com esse brilho efémero "dos brasões". Mas é bem verdade que muitos deles aí estão para lembrar (ou fazer lembrar) glórias passadas. Às vezes nem se sabe bem se serão baseadas em actos gloriosos ou em canalhices mas isso serão contas de outros rosários.
No terceiro fiquei assustado. Então agora já não se pode passear na rua sem se ser esfaqueado? Por acaso lembrei-me dos avisos que me fizeram por causa dos "argelinos" que povoavam Paris quando lá fui pela primeira vez em 1968. Andei por ruas e ruelas, algumas "mal-afamadas" à volta de "Les Halles" e nunca fui incomodado. As coisas mudaram muito...
No quarto só posso concordar. Só valerá a pena este nosso percurso pela vida se deixarmos "bom rasto". Mas, claro, isto só tem para valor para aqueles que, como nós, valorizam a "virtude, os valores, a honra e a justiça" pois nada disso tem valor para quem os despreza.

Um abraço!

Hélder Sousa