Fonte: (1971), "Comunicado - Frente Leste", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40689 (2022-01-18)
(Com a devida vénia...)
Instituição:Fundação Mário Soares
Pasta: 07200.170.117
Título: Comunicado - Frente LesteAssunto: Comunicado da Frente Xitole Bafatá sobre as acções militares do PAIGC em Nhabiam, Bambadinca e Xime.
Data: Quarta, 27 de Janeiro de 1971
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Diversos. Guias de Marcha. Relatórios. Cartas dactilografadas e manuscritas. 1960-1971.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Documentos
1. Transcrição de comunicado do PAIGC sobre acções levadas a cabo em Nhabijões (13/1/1971) e Xime (14/1/1971), referidas no poste P12139 (*), com revisão/fixação de texto pelo editor L.G. O comunicado é manuscrito em papel de carta, com linhas.
Comunicado
No dia 13/1/71, um grupo de 5 camarada[s] armados estalaram [instalaram] 2 minas anti-carro na estrada entre Nhabions [Nhabijões] e Bambadinca, causou os [causando aos] inimigos de grandes perdas em vidas humanas, e destruiu [destruindo] 2 viaturas cheio[as] de tropas tugas que tinham ido [iam] pra [para] Bambadinca buscar comida para aqueles que ficaram na[em] Nhabions [Nhabijões].
Os Inimigos sofreram grandes percas em vidas humanas, entre mortos e feridos.
Por no [nosso] lado não houve nada mau.
Dirigido por [pelos] camaradas:
Mário Mendes e Mário Nancassá.
No dia 14/1/71, os nossos artilheiros bombardiaram [bombardearam] guarnição fortificada de militares tugas no Xim[e], com canhões e morteiros 82, causou os [causando aos] inimigos estagionados [estacionados ] de grandes percas em vidas humanas, entre mortos e feridos.
Por nosso lado, não houve nada mal.
Bombardiamento [bombardeamento] foi dirigido por [pelos] camaradas:
Djambu Mané, António da Costa e Bicut Iula [ou Tula] [?]
[Assinatura ilegível]
Sector 2 da Frente Leste, 27/1/71
Guiné > Região de Baftá > Setor L1 > Bambadinca > CCS / BART 2917 (1970/72) > Janeiro de 1971 > Cemitério de viaturas de Bambadinca... O estado em que ficou o "burrinho", o Unimog 411, conduzido pelo sold cond auto, da CCAÇ 12, Manuel da Costa Soares, que teve morte imediata, ao accionar uma mina A/C, à saída de Nhabijões, aglomerado populacional, em fase de reordenamento, e que era de maioria balanta, com parentes no "mato", sendo considerado sob "duplo controlo"... A sua proximidade ao Rio Geba e à grande bolanha de Samba Silate davam-lhe um valor estratégico tanto para o PAIGC como para as NT.. (**)
Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Vd. também poste de 13 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22903: Efemérides (361): À uma e meia da tarde, à saída do reordenamento de Nhabijões... Em 13 de janeiro de 1971... Quando o teu relógio parou... (Luís Graça)
(**) Último poste da série > 18 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22917: A nossa guerra em números (12): baixas militares e civis, de um lado e do outro... Por cada militar português morto, terá havido 2,7 guerrilheiros mortos... Na Guiné, o PAIGC terá tido 9 mil baixas, entre mortos (78%) e feridos (22%), entre guerrilheiros e população sob o seu controlo. Mas o nº de feridos pode estar subestimado e o de mortos sobreestimado.
Bombardiamento [bombardeamento] foi dirigido por [pelos] camaradas:
Djambu Mané, António da Costa e Bicut Iula [ou Tula] [?]
[Assinatura ilegível]
Sector 2 da Frente Leste, 27/1/71
Guiné > Região de Baftá > Setor L1 > Bambadinca > CCS / BART 2917 (1970/72) > Janeiro de 1971 > Cemitério de viaturas de Bambadinca... O estado em que ficou o "burrinho", o Unimog 411, conduzido pelo sold cond auto, da CCAÇ 12, Manuel da Costa Soares, que teve morte imediata, ao accionar uma mina A/C, à saída de Nhabijões, aglomerado populacional, em fase de reordenamento, e que era de maioria balanta, com parentes no "mato", sendo considerado sob "duplo controlo"... A sua proximidade ao Rio Geba e à grande bolanha de Samba Silate davam-lhe um valor estratégico tanto para o PAIGC como para as NT.. (**)
Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
2. Comentário do editor:
Segundo informação do António Duarte, nosso camarada, membro da Tabanca Grande, ex- furriel miliciano da 3ª terceira geração de quadros metropolitanos da CCAÇ 12, o "Mário Mendes, comandante de bi-grupo na zona do Xime, foi morto numa acção da CCaç 12 no final de 1972: numa deslocação feita para lá de Madina Colhido, foi abatido pelo apontador de HK21 do 4º pelotão". (***)
O Mário Nancassá era, por seu turno, o chefe do grupo de sapadores do setor 2 (Xime/Xitole). Foi ele que montou as minas em Nhabijões. Foi ele que matou o sold cond auto Manuel da Costa Soares, da CCAÇ 12... Enfim, a guerra também tem rostos!
Cotejando as versões dos acontecimentos, do nosso lado e do lado do PAIGC, é óbvio que eram diferentes as preocupações de rigor factual, bem como a literacia dos combatentes de um lado e doutro. Na realidade, há diferenças no cômputo das baixas: "1 mortos e 8 feridos graves" (segundo as NT) e as "grandes percas em vidas humanas, entre mortos e feridos" (segundo o PAIGC).
Segundo informação do António Duarte, nosso camarada, membro da Tabanca Grande, ex- furriel miliciano da 3ª terceira geração de quadros metropolitanos da CCAÇ 12, o "Mário Mendes, comandante de bi-grupo na zona do Xime, foi morto numa acção da CCaç 12 no final de 1972: numa deslocação feita para lá de Madina Colhido, foi abatido pelo apontador de HK21 do 4º pelotão". (***)
O Mário Nancassá era, por seu turno, o chefe do grupo de sapadores do setor 2 (Xime/Xitole). Foi ele que montou as minas em Nhabijões. Foi ele que matou o sold cond auto Manuel da Costa Soares, da CCAÇ 12... Enfim, a guerra também tem rostos!
Cotejando as versões dos acontecimentos, do nosso lado e do lado do PAIGC, é óbvio que eram diferentes as preocupações de rigor factual, bem como a literacia dos combatentes de um lado e doutro. Na realidade, há diferenças no cômputo das baixas: "1 mortos e 8 feridos graves" (segundo as NT) e as "grandes percas em vidas humanas, entre mortos e feridos" (segundo o PAIGC).
Eu fui uma das "vítimas", embora tenha saído ileso da GMC, a 2ª viatura, que foi pelos ares nessse dia fatídico...
A mesma expressão hiperbólica "grandes percas em vidas humanas, entre mortos e feridos" volta a ser usada o caso da notícia sobre flagelação, à distância, ao aquartelamento do Xime (, guarnecido pela CART 2715 / BART 2917), no dia seguinte, e que não teve quaisquer consequências.
Mas fica aqui, para apreciação crítica dos nossos leitores, o que sobre nós diziam e escreviam ou difundiam os homens (e as mulheres) que. no passado, foram nossos inimigos e contra os quais combatemos. (**)
______________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 11 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12139: A minha CCAÇ 12 (29): 1 morto e 6 feridos graves em duas minas A/C, no reordenamento de Nhabijões, Bambadinca, em 13/1/1971, aos 20 meses de comissão (Luís Graça)
(...) Resumo: Em 13/1/1971, às 11h24, na estrada Nhabijões-Bambadinca um Unimog 411 que ia buscar a comida para o pessoal do destacamento, accionou uma mina A/C, causando um morto e 3 feridos graves.
O Gr Comb da CCAÇ 12, que estava de piquete em Bambadinca, dirigiu-se de imediato ao local... No regresso, duas horas depois, cerca das 13h30, a GMC que transportava duas secções, accionou outra mina A/C, não detectada, na berma da estrada, a 10 metros da anterior. As NT sofreram mais cinco feridos graves, de imediato evacuados para o HM 241.
No dia seguinte, em 14/1/1971, o IN flagelou o Xime, da direcção de Ponta Varela, com morteiro 82, "à distância, sem consequências". (...)
______________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 11 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12139: A minha CCAÇ 12 (29): 1 morto e 6 feridos graves em duas minas A/C, no reordenamento de Nhabijões, Bambadinca, em 13/1/1971, aos 20 meses de comissão (Luís Graça)
(...) Resumo: Em 13/1/1971, às 11h24, na estrada Nhabijões-Bambadinca um Unimog 411 que ia buscar a comida para o pessoal do destacamento, accionou uma mina A/C, causando um morto e 3 feridos graves.
O Gr Comb da CCAÇ 12, que estava de piquete em Bambadinca, dirigiu-se de imediato ao local... No regresso, duas horas depois, cerca das 13h30, a GMC que transportava duas secções, accionou outra mina A/C, não detectada, na berma da estrada, a 10 metros da anterior. As NT sofreram mais cinco feridos graves, de imediato evacuados para o HM 241.
No dia seguinte, em 14/1/1971, o IN flagelou o Xime, da direcção de Ponta Varela, com morteiro 82, "à distância, sem consequências". (...)
(***) Vd. poste de 28 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13440: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte IV: Morto pela CCAÇ 12, em Ponta Varela, subsetor do Xime, em 25/5/1972, o comandante de bigrupo Mário Mendes; crescente aproximação das NT à população balanta de Mero e Santa Helena...
5 comentários:
Nhabiam ? Nhabijão ? Plural, Nhabijões...
Usávamos o plural: Nnabijões...
Era um grande aglomerado populacional, de maioria balanta, com parentes no "mato", sendo considerado sob "duplo controlo"...
A dispersão das diversas tabancas (1 mandinga, Nhabijão Mandinga, e 4 balantas: Nhabijão Cau, Nhabijão Bulobate, Nhabijão Dedinca e Nhabijão Imbumbe), sua proximidade ao Rio Geba, fazendo ponto de cambança para a margem direita (Mato Cão, Cuor...) e as duas grandes bolanhas (um delas a de Samba Silate, uma enorme tabanca destruída e abandonada no início da guerra), foram motivos invocados para começar a construir, a partir de novembro de 1969, um dos maiores reordenamentos da Guiné no tempo de Spínola (cerca de 300 moranças).
A aposta era também a conquista da população, fugida no mato e sob controlo do PAIGG, vivendo ao longo da margem direita do Rio Corubal (desde a Ponta do Inglês até Mina/Fiofioli). Falava-se nalguns milhares (c. 5 a 6 mil).
A cartografia militar portuguesa gravou o topónimo como "Nhabijão". O reordenamento chamava-se "Nhabijões". Estive aqui destacado: o Zé Turra aparecia à noite sem ser convidado,nunca se pediu licença e ainda me/nosd presenteou com umas minas a/c.
... Enfim, "ingratidão"...
Boa noite Camaradas.
O homem do PAIGC, Mário Mendes, lidera a operação de colocação de minas. Mata e provoca feridos à ccaç12 e passado mais de um ano morre às mãos da mesma companhia de caçadores.
Casualidades da guerra, bem tristes por sinal. Há uma curiosidade sobre a morte do Mário Mendes. Á época eu pertencia à companhia de Mansambo do bart 3873 e asisti a uma conversa entre o furriel que comandava a secção de hk21 e o soldado fula que o abateu, em Bambadinca. A ccaç12 estava no mato e detetou a presença de tropa do paigc. Ficou também claro que a ccaç 12 estava detetada, Os dois grupos evoluiram com muito cuidado e a determinada altura, penso já perto da Ponta Varela a ccaç 12 abandonou o trilho e emboscou dentro do mato, ficando a hk21 apontada na direção de onde se pensava poderiam vir as tropas do paigc. Passados alguns minutos vem ao trilho um homem deles, que se ajoelhou e percebe-se que tenta "ler" as pegadas. Os restantes estavam emboscados no lado inverso ao da ccaç 12. O furriel faz sinal ao nosso militar para abrir fogo. Para espanto dele, em vez de disparar e apanhar ogierrilheiro em causa debruçado e de costas, o homem do quarto pelotão emite um ruído do género "pst pst", o guerilheiro volta-se e nesse momento é abatido. Justificou-se então o nosso apontador, que ele nunca mataria um homem pelas costas.
Entretanto fui para a ccaç 12 em janeiro de 73 e tive a oportudade de confirmar com o próprio e reafirmou-me que não matava ninguém pelas costas. Em síntese um código ético pouco compatível com a guerra.
Um abraço
António Duarte
Ex fur atirador - cart 3493 e ccaç 12 - dez 71 a jan de 74
Caro amigo Antonio Duarte,
Uma cena digna de um filme do Faroeste "Justificou-se então o nosso apontador, que ele nunca mataria um homem pelas costas". Esta claro que este codigo ético nunca seria utilizado pelos guerrilheiros numa situaçao identica.
Caro Luis Graça,
Sobre o toponimo "Nhabijao/Nhabijoes" estou inclinado a pensar que seria uma corruptela de palavra "Na Bian" na lingua balanta. Isto porque as duas linguas que podem dar origem ao nome, balanta e mandinga, raramente utilizam o "Nha" como prefixo enquanto que o "Na" é habitual entre os balantas para indicar pertença a uma determinada localidade e que serve também de nome de familia ou apelido p. ex. "NABIAN-NANDIGNA-NANDALNA-NANTAN" etc.
Cdlte,
Cherno Baldé
Essa de, em plena emboscada, chamar o IN com 'pst..pst..' para se virar e toma lá uma rajada, é uma atitude louvável, quase cavaleiresca peripatética da idade média.
O que não seria a NT surpreender um grupo IN instalado e desatar aos pst..psts.. antes de atacar.
Desculpem esta minha graçola... o Solnado não se lembraria doutra.
Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz
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