domingo, 22 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23284: Documentos (39): Amílcar Cabral, a "honra militar" e o assassinato dos 3 majores e seus acompanhantes, no chão manjaco, em 20/4/1970: acta (informal) do Conselho de Guerra do PAIGC, Conacri, 11 de maio de 1970, um "documento para a história"


Guiné-Bissau > Bissau > Restaurante Colete Encarnado > 21 de Abril de 2006 > O nossso camarada e amigo coronel inf DFA,  ref, A. Marques Lopes  (à direita), jantando com o "inimigo de ontem", comandante Lúcio Soares e o comandante Braima Dakar. Sobre este último acrescentou: "O Braima Dakar, nome de guerra de Braima Camará, numa das fotografias, é outro comandante que esteve ligado à morte dos três majores em chão manjaco. Disse-me que se disseram muitas coisas sobre isso que não são verdade, que não queria falar, e não me contou nada" (...) (*) 

Foto (e legenda): © Xico Allen (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Capa da ata (informal da Reunião do Conselho de Guerra do PAIGC, Conacri, que teve início em 11 de maio de 1970 e onde se aborda o assassínio dos 3 majores e seus acompanhantes, em 20 de abril de 1970, entre Jolmente e Pelundo (chão manjaco).


1. A Acta da Reunião do Conselho de Guerra (Alargado),  do PAIGC, Conacri, 11 de maio de 1970, ou pelo menos as suas cinco primeiras páginas de um total de 25, é um "documento para a História"...  Daí dever ser conhecida, ou melhor conhecida, pelos nossos leitores. E comentada, com a necessária distância e capacidade crítica...

Ficamos  a saber que Amílcar Cabral, pessoalmente, deu o seu OK ao assassinato ("liquidação") dos três majores e seus acompanhantes, perpretado em 20 de abril de 1970, fez agora 52 anos.  Não sabemos se os queria ver mortos ou apenas aprisiononados, até por que havia a perspetiva de o PAIGC  "fazer bingo": apanhar também o Spínola!... A acta não é inteiramente inclusiva: Amílcar Cabral "deu o seu acordo à proposta, mas pediu que agíssemos depressa" (sic). Há dúvidas sobre donde a ordem, de Dacar ou de Conacri. Talvez os biógrafos de Amílcar Cabral tenham mais elementos, que eu não tenho, agora, aqui à mão.

Entre 0s presentes nesta reunião do Conselho de Guerra estavam estavam três homens que estariam, também, mais tarde envolvidos no seu (dele, Amílcar Cabral) assassinado em 20 de janeiro de 1972 em Conacri pelos seus homens: Mamadu Indjai, seguramente, mas também, como suspeitos ou cumplíces,  Osvaldo Vieira e até o próprio 'Nino' Vieira (seu primo). 

Mamadu Indjai será condenado à morte e fuzilado, injustamente ou não, o  Osvaldo e o 'Nino' levaram para a cova este segredo (o seu eventual envolvimento no complô contra o "pai da Pátria"), bem como muitos outros segredos...

Não sabemos se houve emoção, ódio ou raiva na intervenção do Amílcar Cabral, muitas vezes considerado o "Che" Guevara africano, o revolucionário romântico... Para alguns de nós, a sua máscara caiu aqui (foi o meu caso, estava na Guiné em abril de 1970, e perdi todas as ilusões sobre aquela maldita guerra  ao fim de um duríssimo ano de atividade operacional, mas confesso que, em Bambadinca, em leno mato, em abril d 1970 sabia-se muito poucos pormenores sobre o que acontecera, e a censura, por sua vez, não deuixou que trabsparecesse nada nos jornais da metrópole, para além da seca notícia necrológica das Forças Armadas)... 

Cinismo, sim. Silêncio, sim. Dificulade em assumir a "barbaridade" de um acto destes, o assassínio de sete inimigos, sete homens, indefesos, desarmados..., contra todos os códigos de ética da guerra e da guerrilha... 

E  branqueamento das profundas divisões que já afetavam o PAIGC (e de alguns dos seus fracassos dois anos depois da chegada de Spínola). Cinismo típico d0s revolucionários (e contra-revolucionários), homens e mulheres, ideólogos, políticos e militares, formatados pelo "pensamento único",  para quem  os fins justificam os meios... Por isso, conceitos como "honra militar", "código de ético", "direitos humanos", "compaixão",  "convenções de Genebra", etc., não existem. 

Os nossos camaradas Jorge Picado (JP) e Jorge Araújo (JA) tiveram a trabalheira e a santa paciência de ler e retranscrever esta minuta de ata, em postes publicados há uns anos atrás: P12704 de 10 de fevereiro de 2014 (*), e P20891, de 23 de abril de 2020 (**).

A ata, manuscrita, foi redigida por Vasco Cabral (Farim, 1926 — Bissau, 2005) (mais tarde ministro da Economia e das Finanças, ministro da Justiça e vice-presidente da Guiné-Bissau, e que ficará na história como sofrível poeta bilingue,   tendo conhecido as prisões políticas de Salazar e não não tinha qualquer relação de parentesco com o líder Amílcar Cabral nem com o Luís Cabral).

No documento o secretário do Conselho de Guerra (o único, presente, com estudos universários completos,  para além de Amílar Cabral)  usa muito as abreviaturas, que se procurou manter, completando-as. Vê-se que tinha treino a minutar atas de reuniões do Partido.

Uma ou outra gralha, de pequena monta,  na fixação e revisão do texto, tanto na versão de JP como na de JA, leveram-nos a fundir os  dois trabalhos. Optámos por manter as preciosas notas de JP e JA, relativamente aos nomes que são referidos na ata. Ajudam a torná-la mais legível, sem perder a preocupação de rigor. (Uma das gralhas tem graça: o Braima Dakar não exigiu aos "tugas" a libertação do seu "país", mas sim tão apenas do seu "pai"; outra, com piada, foi a troca de "track", panfleto, por "pacto"...).


2. Transcrição da intervenção do Secretário Geral do PAIGC, Amílcar Cabral (1924-1973), manuscrita por Vasco Cabral (1926-2005), secretário da reunião do Conselho de Guerra. realizada em Conacri, de 11 a 13 de Maio de 1970.





“S[ecretário] G[eral] : 

Saúdo os  cam[aradas] . É com o máximo prazer que fiz esta  r[eunião]  que, desta vez, é em Conacri, para variar. 

Desde a última reunião do B[ureau] P[olítico] até esta, a luta já mudou bastante. A Leste é uma mudança constante. Por ex., fomos capazes de atacar Mansoa e Bissorã, com novas armas. 

Nesta altura, a posição do inimigo é diferente. O inimigo deve estar a pensar o que deve fazer para evitar os n[ossos] ataques aos centros urbanos. Conseguimos fazer causar ao inimigo, em todas as frentes, um choque psicológico bastante grande. Conseguimos anular a tentativa do inimigo de desorientar as nossas populações.

A situação mudou também por causa da acção levada a cabo no Norte contra alguns oficiais superiores, em conseq[uência] da acção combinada das n[ossas] forças armadas, da segurança e da Dir[ecção] do P[artido].

A liquidação dos três majores, um alferes e alguns outros elementos (segundo alguns cam[aradas] - um capitão e um Chefe da PIDE) [1]  mostrou que era falsa a propaganda dos tugas [2] de que estavam à vontade na n[ossa] terra e Por outro lado, os tugas estavam convencidos de que conseguiam comprar a n[ossa] gente.

Toda a política de Spínola [3], em conseq[uência] destas n[ossas] acções, está posta em causa. E para toda a gente, tanto dentro como fora da n[ossa] terra, o n[osso] prestígio aumentou bastante e até para o n[osso] inimigo. Sobretudo esta liquidação dos oficiais superiores, contribuiu para isso. 

O tuga pensava antes que nós todos éramos cachorros. O tuga agora já se convenceu do contrário. Isso aumentou a n[ossa] dignidade, a n[ossa] importância aos olhos do próprio inimigo.

Os nossos cam[aradas] foram capazes de enganar, discutir com eles, convencê-los, apesar da sua imensa experiência e capacidade e liquidá-los...

A situação hoje é diferente da altura em que fizemos a r[eunião] em Boké  [4]. Os n[ossos] cam[aradas] deram provas de capacidade. Nesta luta, como costumamos dizer, tudo é possível. Conseguimos levar armas pesadas do Sul para o Norte, quase sem perdas: perdemos dois  cam[aradas] e três armas. Os  n[ossos] cam[aradas] foram capazes de enganar, discutir com eles, convencê-los, apesar da sua imensa experiência e capacidade e liquidá-los.

No intervalo da reunião de Boké para este, um ponto importante da n[ossa] terra que é o Kebo [5] foi atacado diversas vezes. Isto é t[tam]b[ém] importante. Sobre a passagem de armas do Sul para o Norte [6].

Através [de] certos cam[aradas] que estão em Canchungo  [7]. , os tugas tentaram ligações com eles, com vistas a desmobilizar a n[ossa] gente. Tentaram, servindo-se de elementos do FLING [8], portanto a um nível mais baixo, desmobilizar a n[ossa] gente. Sem resultados. 

As conseq[uências] foram a prisão de quatro dirigentes da FLING. Tentaram contactar Albino, Braima Dakar [9] e outros. E na região de Quínara. E t[tam]b[ém] com gente na periferia da n[ossa] luta: Laí, Pinto e João Cabral.

Tentaram a ligação com André Gomes  [10] e Quintino   [11]. Eles avisaram a Dir[ecção] do P[artido], para a interrogar. André Gomes deu mais uma prova de confiança ao P[artido]. Ele mesmo supunha que os tugas queriam desertar. Só depois é que se viu que o [que] queriam [era] desmobilizar a n[ossa] gente. 

O S [ecretárioi] G [eral deu o seu acordo à proposta, mas pediu que agíssemos depressa.

Luís Correia [12], pôs-se, por sua própria iniciativa, em contacto com os cam[camaradas] da zona. Lúcio Tombô [13] t[am]b[ém]  foi  envolvido na combinação. Ele pôs-se em contacto com os tugas, mas quem devia falar era Braima Dakar que jogou um papel de defesa do P[artido].

Os tugas escreveram cartas amáveis e respeitosas aos cam[aradas], num grande namoro. Deram-lhes grandes presentes. Propunham que os guineenses deviam ir substituir os cabo-verdianos, de quem já tinham feito uma lista negra de 30 e que deviam ceder os seus lugares a guineenses. Deram presentes vários: conhaque, whisky, rádios, relógios, panos para as mulheres, cigarros bons, etc.

Encontraram-se cinco vezes [13] Na quarta vez esteve presente o Governador, que apertou a mão, tirando a luva, do n[osso] cam[arada] André Gomes. (Amílcar lê uma das cartas de um major, Pereira da Silva, a André Gomes.)

No dia do encontro deviam vir os n[ossos] cam[aradas] chefes e estava prevista a vinda do próprio Governador. Os cam[aradas] vieram de facto acompanhados das suas armas. Apareceu mesmo o Luís Correia e eles já sabiam da sua presença. Para não desconfiarem, disseram-lhes que o Luís Correia estava presente e era um alto resp[onsável] do P[artido]. Durante as conversações com os tugas, foi decidido pararem os bombardeamentos aéreos, e os combates. Isso aconteceu de facto: os nossos camar[adas] pararam também certas regiõs. (Amílcar lê uma outra carta do Major Mosca) [14].


Durante as conversas, Braima Dakar, aproveitou para fazer certas exigências. Pediu a libertação de seu pai, a libertação de 2 cam[aradas] (Claude e José Sanhá) [15]  e foram mesmo soltos (já cá estão).

Durante as tréguas, os cam[aradas] levantaram minas na estrada de Bula-Binar. Mesmo assim, houve uma emboscada em Biambi, aos tugas, na qual, segundo  uma carta apanhada, de um dos majores, afirmam que morreram quatro tugas 
[16].

Também dão notícia dos ferimentos graves que sofreu um capitão que estivera com eles numa reunião, ao tentar detectar minas: perdeu um braço e uma das vistas [17].

Salienta ainda o facto de ter havido nas nossas bases, vários cam [aradas] que começavam a protestar contra as ligações que estavam a ver com os tugas. Alguns disseram que se isso continuasse se iam embora. Isto é t[am]b[ém]  uma coisa muito importante, porque mostra a fidelidade desses cam[aradas ao P[artido] (eles não estavam ao corrente das coisas).

Nino – Saliente a import[ância] de os n[ossos] cam[aradas] terem levado à certa grandes homens dos tugas. Isso foi porque os tugas nos consideram como cachorros. Os tugas sentem hoje qual é a n[ossa] força, tanto moral como política.

Amílcar – Este acto foi um acto de grande consciência política e um acto de independência. Foi um acto de grande acção e de capacidade dos n[ossos] cam[aradas] do Norte. É a primeira vez que numa luta de libertação nacional se mata assim 3 majores, 3 oficiais superiores que, nas condições da n[ossa] luta, equivale de facto à morte de generais.



Capa da Revista Militar, nº 4, abril de 1970


Refere o artigo de Felgas [18] na Rev[ista]   Militar [19] que, no fundo, é um grande elogio ao PAIGC. Diz algumas das suas observações a nosso respeito. Talvez que os tugas vão desenvolver uma acção de grande envergadura e de repressão.

Depois do acontecimento [20], publicaram um tract [21] ao qual propunham mais contactos com os  n[ossos] militares,  mas não onde se realizaram [22] mais em Canchungo e em Pelundo.

Dizem que os n[ossos] militares não cumpriram os preceitos de honra militar. Mas que eles cumprirão no futuro os deveres de honra militar. Eles afirmam que querem o fim da guerra. 

T[am]b[ém] as populações de certas zonas (Mansoa, por exemplo) estão bastante influenciadas pela realidade, pela utilização de novas armas. Dizem por exemplo: "agora, mama acabou" (querendo significar que já não há protecção junto dos tugas nas cidades). 

Apela aos camar[adas] para terem iniciativas, pensarem profunda[mente] nos problemas, criarem, conhecerem bem cada um dos seus homens.

Anuncia os problemas que vão a seguir ser discutidos (Ordem de trabalhos). (...)

 [A transcrição das 5 prineiras páginas de um total de  25, a revisão e fixação de texto, bem como as notas, são da responsabilidade de Jorge Picado, Jorge Araújo e Luis Graça. Os negritos são de LG. ]

______________

Notas de Jorge Picado (JP), Jorge Araújo (JA) ou Luís Graça:

[1] Não havia outros ofciais, mas sim mais 3 guineenses. Se algum era da PIDE, desconheço. JP.

[2] Tuga: termo depreciativo para designar os Portugueses. JP.

[3] Gen António Spinola (1910-1997): Com-Chefe e Governador Geral da Guiné (1968-1973)- JP/JA. Sabe-se que, contrariamente à sua vontade, não compareceu a este encontro fatal, por conselho do secretário-geral da província, ten-cor Pedro Cardoso, que recebia em primeira mão as informações da PIDE. LG.

 [4] Importante base do PAIGC em território da Guiné-Conacri, a sul, importantíssima para a logística da guerrilha e para o apoio, nomeadamente, médico-hospitalar da guerrilha.  LG.

[5] Kebo, Quebo, Aldeia Formosa, no sul da Guiné, junto à fronteira com a Guiné-Conacri. LG.

[6] A frase parece estar incompleta... LG.

[7] Canchungo, Teixeira Pinto: coração do chão manjaco. LG.

[8] FLING: Frente de Libertação para a Independência Nacional da Guiné, fundada em Dakar-Senegal em 1962, opositora do PAIGC. JP.

[9] Braima Dakar: era um dos dois componentes do Comando Geral da Zona Biambi-Naga-Bula fazendo também parte do Comando Conjunto da Frente Biamb-Canchung. JP.  Nome de guerra de Braima Camará: vd. foto acima, Bissau, 2006.  Temos a informação de que já faleceu há anos. Terá sido ele a levar, até  Conacri, como "despojos de guerra", os galões dos quatro oficiais assassinados, os 3 majores e o alferes... LG.

[10] André Pedro Gomes: era um dos três responsáveis pela Zona de Nhacra, um dos três componentes do Comando Conjunto da Frente Nhacra-Morés, um dos vinte e três  componentes do Comité Executivo da Luta (CEL) e por inerência também um dos componentes do Conselho Superior da Luta (CSL).

Em 17 de Fevereiro de 1968, terá sido ele a chefiar o comando que flagelou, com foguetes (Katiusha), o aeroporto de Bissau. Em 1972 era um homem da inteira confiança de Amílcar Cabral, membro do Comité Executivo da Luta e Comandante da frente Nhacra – Morés.

Será mais tarde um dos braços direitos de Buscardini. Em 31 de Dezembro de 1980, um mês e meio depois do golpe de Estado de 14 de mobembro de 1980, o Nô Pintcha noticiava o seu "suicídio" na prisão... 

[11] Quintino (Vieira) era o responsável pela Segurança e Controle (SC) do Sector Autónomo de Canchungo no Comité Regional da Região Libertada a Norte do Geba (CRRLNG) e por inerência igualmente membro do Comité Nacional da Região libertada a Norte do Geba (CNRLNG)]. JP.

[12] Luís Correia era responsável pela Segurança e Controlo (SC) do Sector do Oio no CRRLNG e igualmente do CNRLNG, além de membro do CSL e creio também do CEL, JP.

[13] Lúcio Tombom, um dos comandos da Zona de BULA. JP.

[14] o PAIGC e o Amílcar Cabral nunca foram bons em números: os encontros dos "negociadores  portugeses"  com os homens de André Gome foram nove (9) ou dez (10), conformeas fontes  e não 5 (cinco). LG.

[14] João Mosca era alf mil cav, não major. JP.

[15] José Sanhá: antes de 1964 já comandava guerrilheiros numa Zona do Norte e depois de libertado foi novamente integrado pelos responsáveis da Frente Biambi-Canchungo, sem que tivessem consultado a Direcção do Partido, acto entretanto criticado pelo S.G. na reunião alargada da Direcção Superior que teve lugar em Conacri de 12 a 15 de abril de 1970 e onde foi apresentada e aprovada uma nova Estrutura do Partido e onde este elemento em causa foi confirmado como um dos comandantes da Zona de Biambi, da Frente Biambi-Canchungo. JP,

[16] Será que se referem a: António da Silva Capela e Henrique Ferreira da Anunciação Costa, da CCAV 2487, em 18Out69; e Joaquim José Ramalho Rei e Manuel Domingos Martins, da CCAV 2525, em 07Dez69]? JA. 

De todo improvável, acrescenta LG: as "negociações secretas" dos homens do CAOP1 terão começado em fevereiro de 1970...

[
17] José Paulo [Abreu Nogueira] Pestana (então capitão da CCAÇ 2466/BCAÇ 2861), "foi ele que mais tarde foi substituir o capitão [José Júlio da Silva de] Santana Pereira [CCAÇ 2367/BCAÇ 2845], ferido com uma mina antipessoal na zona de Có-Pelundo, onde se construía uma estrada entre Bula e Teixeira Pinto. Nunca podíamos descurar as minas colocadas nos trilhos, que já haviam vitimado um alferes (José Manuel Brandão, da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892, em 02Mar70) e ferido o capitão". - in https://www.cmjornal.pt/mais-cm/domingo/detalhe/conheci-os-tres-majores-assassinados (04Jan2009), com a devida vénia. JA.

[18] Cor inf Hélio Esteves Felgas (1920-2008). JA. ntigo coamndante do Comando de Agrupamento 2957, Bafatá, 1968/70.

[19] Revista Militar, n.º 4 – Abril de 1970, " A luta na Guiné", pp. 219-236. JA / LG

[20] Referência à liquidação dos três majores e seus acompanhantes, em 20 de abril de 1970

[21] Tract (sic), em inglês: panfleto.

[22] Refência aos anteriores encontros
_______________ 
 
Fonte:

Citação:
(1970-1970), "Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra em Conakry", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_34125 (2022-5-22)

Instituição: Fundação Mário Soares | Pasta: 07073.129.004 | Título: Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra em Conakry | Assunto: Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra, em 11 e 13 de Maio de 1970, manuscrita por Vasco Cabral. | Membros Presentes: Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral, João Bernardo Vieira (Nino), Osvaldo Vieira, Francisco Mendes, Pedro Pires, Paulo Correia, Mamadu N'Djai [Indjai], Osvaldo Silva, Suleimane N'Djai. | Secretário: Vasco Cabral.
Data: Segunda, 11 de Maio de 1970 – Quarta, 13 de Maio de 1970. | Observações: Doc incluído no dossier intitulado Relatórios: 1960-1970. | Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral.
Tipo Documental: ACTAS

(Com a devida vénia...)
___________

Notas do editor:

(**) Vd. poste de 23 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20891: (D)o outro lado do combate (59): A morte dos três majores no chão manjaco, em 20/4/1970, e a intervenção de Amíclar Cabral, três semanas depois, na reunião do Conselho de Guerra (Jorge Araújo)

20 comentários:

Anónimo disse...

A vã glória da morte dos três majores foi um assassinato pura e simples, com requintes de malvadez porque estavam desarmados e não foi no campo de batalha; ao menos poderiam tê-los feito prisioneiros; ao fim e ao cabo o Amílcar, esse grande "libertador" e o Nino tiveram a sorte que mereciam!
Albertino Ferreira ex-Alferes MIL.

Anónimo disse...

E o outro que também era Amilcar, que teve guarida em Portugal e acesso aos cuidados de saúde e hospitais e tratamentos para além de ter tratamento VIP.Estou em crer e tudo aponta que esta
gente olhava para os seus "deles" interesses pessoais e o resto era conversa.
Carlos Gaspar

antonio graça de abreu disse...

Ficam para a História as palavras de Amílcar Cabral:

Amílcar – Este acto foi um acto de grande consciência política e um acto de independência. Foi um acto de grande acção e de capacidade dos n[ossos] cam[aradas] do Norte. É a primeira vez que numa luta de libertação nacional se mata assim 3 majores, 3 oficiais superiores que, nas condições da n[ossa] luta, equivale de facto à morte de generais.

Os três majores, o alferes e os dois intérpretes, do meu CAOP 1, Teixeira Pinto, foram mortos à traição, quando desarmados, foram ao encontro dos homens do PAIGC, para conversações de paz.Os seus corpos, depois de abatidos a tiro, foram esquartejados e retalhados. A isto chama Amílcar Cabral "um acto de grande consciência política e um acto de independência." E há quem considere, neste blogue, que Amílcar Cabral foi um génio, um génio africano.

Abraço,

António Graça de Abreu

Valdemar Silva disse...

A Acta parece ser de "informação" de acontecimentos e não de apuramento de acções previamente estabelecidas.

"...É a primeira vez que numa luta de libertação nacional se mata assim......
Refere o artigo de Felgas [18] na Rev[ista] Militar [19] que, no fundo, é um grande elogio ao PAIGC. Diz algumas das suas observações a nosso respeito...."

O que é que refere o artigo de Felgas na Revista Militar ?
Seria interessante a publicação no blogue dessa referência na Revista Militar.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, vamos publicar o artigo do então coronel inf Hélio Felgas, um oficial superior ainda do nosso tempo: fez a Op Lança Afiada (sector L1, 8-19 de março de 1969), uma das maiores do CTIG, em duração, a seguir à Op Tridente (jan-mar 1964).. Foi também o comandante da Op Mabecos Bravios (retirada de Madina do Boé, 2-7 fev 1969).

Era o comandante do Comando Agrupamento nº 2957, Bafatá, 1968/70. o Fernando Gouveia e o António Rodrigues trabalharam com ele. Terá saído do CTIG em "rutura" com Spínola...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Acabei de falar com o A. Marques Lopes, que estava no café em amena conversa, e a tomar o seu "cimbalino", depois de há dias ter sido submetido a uma delicada operação ao estômago... Achei-o "em boa forma" e confiante no prognóstico do seu problema de saúde. Já marcámos encontro para a festa do nosso... centenário!

E a propósito desta ata do conselho de guerra, ele também tem dúvidas sobre de quem veio a "ordem para matar", assim, a sangue frio... Para ele, o próprio Amílcar Cabral, à distãnia de Conacri, terá sido ultrapassado pelos acontecimentos no "chão manjaco" e confrontado com o "facto consumado" dos seus operacionais: o seu discurso, no conselho de guerra (de que só temos o resumo feito por outro intelectual, o Vasco Cabral), seria agora de "racionalização", era preciso agora dar um sentido a um "ato gratuito" (e no fundo indigno)... Era santificar o que era demasiado diabólico... Era preciso justificar o ato horrendo como sendo... de "heroísmo".

Amílcar era um homem de valores, com formação cristã e portuguesa, um humanista... Custa a crer que tenha dado uma ordem clara e taxativa de assassínio: matem-me já esses "tugas"!... E se o Spínola fosse apanhado ? Valeria ouro, se fosse apanhado vivo!... Mas os carrascos dos "negociadores" do CAOP1 devem ter entrado em pânico... E o André Gomes passa de "traidor" a "herói" (até ao golpe de Estado do 'Nino' Vieira)...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Todos os juízos sumários são execuções sumárias...LG

ManuelLluís Lomba disse...

Luís, salvo erro ou melhor opinião, a maior operação na Guiné, em duração, depois da Operação Tridente, foi a Operação Campo (Cufar), de Janeiro a Março de 1955 - penamos durante 65 dias!...
Considerando a psicologia da guerra e dos seus actores, o contexto e o assassinato dos três majores e da sua comitiva poderão evidenciar negligência e irracionalidade: aceitar ir sós e desarmados, como condição de rendição de dois bi-grupos armados (64 homens) - não lembraria ao careca...
Se na guerra do Ultramar houvesse um Alto Comando à altura, o General Spínola teria sido imediatamente demitido...
Sobre esse evento, sugiro aos camaradas a leitura de "Do Interior da Revolução", pags. 41-45, e o blogue pode publicar, sem qualquer outra formalidade, a narrativa do livro "Guerra da Guiné, etc", da minha autoria, pags. 66-70.
Abraço
Manuel Luís Lomba

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Se esta guerra fosse hoje, e se os protagonistas estivem vivos (o Cabarl, o Spínola...) teria um novo parceiro: as redes sociais e os "generais de bancada" a mandar "bitaites" e os "caçadores de crimes de guerra e contra a humanidade" atentos e vigilantes... Ou talvez não... A Justiça Internacional continua a ter dois pesos, duas medidas...

ManuelLluís Lomba disse...

Em tempo: "Do Interior da Revolução", depoimento do ora Coronel Vasco Lourenço, então contemporâneo do acontecimento.
Manuel Luís Lomba

Antº Rosinha disse...

Vasco Cabral (Farim, 1926 — Bissau, 2005), que redigiu a Ata, não foi trucidado pelo velho PAIGC e chegou aos 79 anos de idade que foi uma belíssima idade para um alto dirigente guineense desse partido, teve muita sorte não morrer aos 54 anos.

Sobreviveu a um balázio a mando do partido, no célebre 14 de Novembro de 1980 de Nino Vieira.

Outros inocentes não sobreviveram nessa data caso Buscardini.

Tanto Vasco Cabral, como Luis Cabral, Aristides, Pedro Pires e outros altos dirigentes da "Elite" do PAIGC viviam num ambiente de intriga que nem se podia considerar um partido político em que até os assassinatos entre eles ficam sempre por esclarecer.

A letra I no meio do PA(I)GC, não devia ser para "Independência" antes seria para "Intriga".

Pedro Pires vai morrer sempre a afirmar que foi a mando do colonialista que Cabral morreu, é a única Intriga esclarecida, pelo visto.

Quanto ao massacre dos militares portugueses, a autoria fica sempre dentro da intriga não esclarecida.






Tabanca Grande Luís Graça disse...

Ninguém sabia o que se estava a passar... em meados de abril de 1970. Só depois fomos surpreendidos com a notícia do "massacre do chão manjaco"... Era impossível "abafar" o caso.

Escrevi da na história da minha CCAÇ 12, que teve uma intensa actividade operacional desde que foi colocada como unidade de intervenção, no setor L1, a partir de 18 de julho de 1969 (negritos meus, de agora):

(...) A partir de 15 (de abril de 1970=, data em que foi suspensa temporariamente toda a actividade operacional de natureza ofensiva no TO da Guiné [, por causa das negociações das NT com forças do PAIGC no chão manjaco, sabe-se hoje], intensificaram-se as patrulhas de contacto pop a fim de inquirir do estado psicológico da população sob o nosso controlo, e em especial das tabancas isoladas do regulado de Badora, e prestar-lhe assistência saniária. Dentro dessa linha directiva, os 4 Gr Comb da CCÇ 12 contactaram as populações das seguintes tabancas:

Samba Juli
Sinchã Mamadjai
Sansancuta
Dembataco (Pel Mil 243)
Sare Ade
Queroane
Queca
Aliu Jai
Sare Nhado
Iero Nhapa
Talata
Bonjenden
Sinchã Coli
Bricama
Embalocunda
Sinchã Umaru
Madina Bonco (Pel Mil 203 -)
Jana
Candembuia
Sare Iero
Mamaconon
Sinchã Infali
Dutajara
Mero
Fá Balanta
Fá Mandinga (Pel Caç Nat 63)
Bissaque (1 secção do Pel Mil 203), etc. (...)


https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2011/11/guine-6374-p9048-minha-ccac-12-20-abril.html

Patricio Ribeiro disse...

Boa tarde.

O Braima Dakar, morreu há alguns anos.

Como me disse, estava a escrever um livro, mas os manuscritos ia os escondendo dentro de um bidom enterrado no seu quintal...provavelmente ainda lá estão enterrados.
Informou.me que foi ele quem levou as divisas até Conacri.

P.R.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado pela partilha deste pequeno "segredo"... Querias dizer os galões (dos 3 majores e do alferes)... "Despojos de guerra", "grande ronco", levados até Conacri...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Tirando os casos mais graves de psicopatia / sociopatia, todo o homem, ser moral e social, tem dificuldade em lidar ao longo da vida com a culpa de homicídio... Não se trata de "matar para não morrer", ou em "legítima defesa", ou em "cumprimento de ordens superiores", mas matar gratuitamente, mesmo a quente, em contexto de guerra...

Alguns dos carrascos dos 4 oficiais portugueses e dos seus 3 acompanhantes guineenses por certo não dormiam na cama um sono tranquilo...

Com a morte do Braima Dakar, perdeu-se (ao que parece para sempre, a menos que ainda se encontre o "manuscrito das suas memórias") mais uma peça fundamental para reconstituir esse horroso crime (que, tal como outros, o "massacre do Pigiguiti, em 1959, por exemplo, de sinal contrário) continuam a ensombrar a história comum de dois povos que têm, não direi tudo, mas têm muita coisa em comum para continuarem a sentir-se "irmãos"...

É preciso fazer o luto destas "perdas"... Por isso temos que falar delas, mesmo muitas décadas depois...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Conheço mal a estrutura orgânica do PAIGC nesta época... Era claramente formatada pelo modelo marxista-leninista dos principais partidos comunistas de então... Há uma infinidade de órgãos, bureaux e comités... Não sei qual era a sua hierarquia... E não tenho paciência (nem saúde) para saber mais... E depois havia Dakar e Conacry, dois polos de poder... Braima vai a Conacri levar a cabeça, perdão, os galões dos majores...

Talvez alguma camarada tenha a "lição estudada" e me queira ajudar, que eu agora vou descansar...

Valdemar Silva disse...

A publicação do artigo do coronel H. Felgas, na Revista Militar, é muito importante.
Até para esclarecer esta dúvida:
"..É a primeira vez que numa luta de libertação nacional se mata assim......
Refere o artigo de Felgas [18] na Rev[ista] Militar [19] que, no fundo, é um grande elogio ao PAIGC. Diz algumas das suas observações a nosso respeito...."
Quem é que faz a observação? É o Amilcar ou é o cor. H. Felgas que assim o refere no artigo?

Valdemar Queiroz

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

"É preciso fazer o luto destas "perdas"...
Mas qual "luto"? O luto é a aceitação pacífica do acontecido e que é irreversível e, para que suceda, é necessário que se compreenda e, por isso, se vá aceitando gradualmente, o que, num caso como este, não é possível. Só o esquecimento virá a impor-se, mas isso é o tempo que o determina e ninguém tem capacidade para o impor.
Foi crime e mais nada!
Atenuantes? Não há! Até há agravantes no campo político-estratégico. Tratou-se de um acto em que veio à superfície o racismo mais bárbaro que, hoje, dizemos condenar. Isto é (como se diz hoje) inaceitável e só um bárbaro o pode cometer e aplaudir ou aceitar.
Onde estão os defensores do "politicamente correcto" que varrem para baixo do capacho crimes como este?
Por isso "temos que falar destes factos, mesmo muitas décadas depois"... para que ninguém o esqueça. E, se tal impedir(?) o relacionamento entre países, qual é o problema?
Leiam o texto e ficam já a saber porque abomino que me chamem "carinhosamente" TUGA. Ide chamar tuga ao artesanato caldense e, de preferência ao que tem 5 litros de capacidade.
´
Um Ab.
António J. P. Costa

Valdemar Silva disse...

"...É a primeira vez que numa luta de libertação nacional se mata assim 3 majores, 3 oficiais superiores que, nas condições da n[ossa] luta, equivale de facto à morte de generais
Refere o artigo de Felgas [18] na Rev[ista] Militar [19] que, no fundo, é um grande elogio ao PAIGC. Diz algumas das suas observações a nosso respeito. Talvez que os tugas vão desenvolver uma acção de grande envergadura e de repressão..."

Agora que li o artigo do cor. H.Felga, na Revista Militar, 10 dias antes do assassinato dos Majores e outros militares e, logicamente, não aparece nada escrito sobre este assunto.
O "Refere o artigo de Felgas ..." é sobre a acção do PAIGC na guerra, o quer dizer que Amilcar Cabral enaltece o assassinato como foi perpetrado, ficando, no entanto, e sem sombra de dúvidas, se foi ele o mandante/congeminou toda a emboscada, ou, antes, um 'foi bem feita para não se armarem em isto é tudo nosso'.
Entenda-se a congeminação de toda a emboscada, como arranjar forma dos Majores e acompanhantes desarmados e sem escolta se dirigissem a um encontro mato dentro e depois serem barbaramente assassinados.
E ficamos todos com dúvidas, quanto à importância de tal encontro a alto nível, para a evolução do fim da guerra da Guiné, e como falhou dramaticamente esta possível iniciativa.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Tudo decorreu numa área restrita da Guiné e "no chão manjaco".
Atenção, portanto que a guerra não acabaria. Se calhar até se intensificava... noutras áreas.
Não havendo experiência em História, só nos resta verificar o que aconteceu.
E o que aconteceu foi crime, gratuito e improdutivo a nível político e estratégico.
O que pensaria o 1º ministro ou o rei da Suécia disto, se o tivessem(?) sabido...

Um Ab.
António J. P. Costa