terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24107: "Una rivoluzione...fotogenica" (8): Roel Coutinho, médico neerlandês, de origem portuguesa sefardita, cooperante, que esteve ao lado do PAIGC, em 1973/74 - Parte VII: A vida em Ziguinchor, Senegal

Senegal > Ziguinchor > PAIGC > 1973 >  Organizando um coluna logística que vai kevar armas até à base de Hermacono, na fronteira / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - G 23 - Life in Ziguinchor, Senegal - Carrying weapons to Hermangono, Guinea-Bissau - 1973


Senegal > Ziguinchor > PAIGC > 1973 >  Kalashnikovs AK-47 para Hermacono / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - G 24 - Life in Ziguinchor, Senegal - Carrying weapons to Hermangono, Guinea-Bissau - 1973



Senegal > Ziguinchor > PAIGC > 1973 >   Vacinação contra o cólera. O dr. Roel Coutinh segurador um injetor de jato  / Foto: 
ASC Leiden - Coutinho Collection - G 02 - Ziguinchor, Senegal - Vaccinations - 1973


Senegal > Ziguinchor > Hospital > PAIGC > Primavera de 1973 >  Uma enfermeira / Foto:  ASC Leiden - Coutinho Collection - 2 25 - Ziguinchor hospital - Senegal - Nurse - 1973



Senegal > Ziguinchor > Hospital > PAIGC > 1973 > Enfermeira > ASC Leiden - Coutinho Collection - 8 05 - Nurse in Ziguinchor hospital - 1973


Senegal > Ziguinchor > Hospital > PAIGC > 1973 > A enfermeira francesa Nicole Dicop,   administradora do hospital do PAIGC  em Ziguinchor, desde 1971 até a primavera 1973; aqui com  o enfermeiro da Guiné-Conacri, Sekou Touré  / Foto: ASC  Leiden - Coutinho Collection - G 19 - Life in Ziguinchor, Senegal - French nurse Nicole with PAIGC male nurse Sekou Touré (in Ziguinchor) - 1973


Senegal > Ziguinchor > Hospital > PAIGC > 1973 > Anneke Coutinho-Wiggelendam no Hospital do PAIGC de Ziguinchor / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - 11 04 - Ziguinchor hospital, Senegal - 1973




Fonte: Wikimedia Commons > Guinea-Bissau and Senegal_1973-1974 (Coutinho Collection) (Com a devida vénia...) . Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)

1. Da coleção fotográfica de Roel Coutinho, relativa à sua estadia junto do  PAIGC na Guiné e no Senegal, entre março de 1973 e abril de 1974, apresentamos hoje mais uma seleção de imagens, editadas por nós, relativas  à base logística de Ziguinchor, Senegal. 

Aqui funcionava um hospital (onde durate muito tempo o único médico residente era o português, nascido em Angola, o dr. Mário Moutinho de Pádua) e daqui seguiam também, no final da guerra, colunas logísticas com armamento que era descarregado e levado para a base de Hermangono (ou Hermacono, segundo as autoridades militares portuguesas da época), na linha de fronteira.

Ainda não conseguimos localizar onde ficava Hermacono, talvez no corredor de Sambuiá (?). Segundo a instituição a quem foi doada a coleção de mais de um milhar de fotos e "slides", o African Studies Centre (ASC), Leiden, Hermangono (ou Hermacono)  seria "uma pequena aldeia na Guiné-Bissau, a um dia de distância da fronteira senegalesa", mas não se indica a sua exata localização...(Temos dúvidas se era dentro do território português, se era já no Senegal.)

Também não encontrámos este topónimo, nem na "Crónica da Libertação", do Luís Cabral (Lisboa, O Jornal, 1984) (que, cronologicamente, termina na data do assassinato de Amílcar Cabral, ou seja, em janeiro de 1972), nem no Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum, nem muito menos nas nossas antigas cartas militares.

Como fotógrafo (amador), Coutinho não se deixou deslumbrar pelas armas nem pela guerra... Não são muitas as fotos dos combatentes e do seu armamento, privilegiou antes outros aspectos da vida no "mato" (para usar um termo caro às NT): a prestação de cuidados de saúde, a educação, a população, as crianças, o quotidiano,  etc.

Com a esposa, Anneke Coutinho, escreveu um artigo, Report from Guinea-Bissau, publicado nº 2 da revista Kroniek van Africa, 1974, pp. 210-219.

Resumo do artigo (originalmente em inglês): 

"Os autores em 1973/74 integraram as actividades do Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde na Guiné-Bissau (ex-Guiné Portuguesa). Nestas impressões de observadores participantes,  descrevem, a partir de um esboço da criação do PAIGC (em 1956 sob a direção de Amílcar Cabral) e da sua luta armada pela libertação do país do regime colonial português, vários aspectos da política do PAIGC nas áreas liberadas, por ex. assistência médica (postos médicos, hospitais, instalações, fornecimento de medicamentos), solução democrática de conflitos, organização da educação escolar, provisão de necessidades essenciais através de lojas populares, mobilização da consciência política e motivação da população, da elite política e seu futuro. A conclusão dos autores é que as perspectivas futuras da Guiné-Bissau são mais promissoras do que naqueles outros países do Terceiro Mundo que não conheceram nenhuma luta armada".


2. São fotos de um  jovem  médico,   Roel Coutinho,  hoje um prestigiado médico, epidemiologista e professor,jubilado, de epidemiologia e prevenção de doenças transmissíveis: esteve no Senegal e na Guiné-Bissau, em missão sanitária que não exluia a simpatia política (não sabemos se durante um ou mais períodos, entre março de 1973 e abril de 1974).

Tinha acabado de se licenciar  em medicina (em 1972). Especializar-se-ia depois em microbiologia médica. Doutorou-se em 1984, em doenças sexualmente transmissíveis. É um especialista mundial em HIV/Sida, com mais de 600 artigos publicados em revistas científicas.

Recorde-se que Roel Coutinhyo nasceu  em 1946, nos Países Baixos, em Laren, perto de Amesterdão, província da Holanda do Norte.  

Tem ascendência luso-judaica, sefardita: os antepassados, marranos ou cristãos-novos, devem ter saído de Portugal para a Holanda no séc. XVII. Os portugueses, cristãos novos, e de novo reconvertidos ao judaísmo, constituíam uma comunidade prestigiada e influente, pela cultura, o dinheiro e o poder. Sempre usaram os seus apelidos portugueses até à II Guerra Mundial. 

Prova da importância da comunidade luso-judaica de Amesterdão (onde nasceu o grande filósofo Espinosa, 1632-1677),   é a "Esnoga", a monumental Sinagoga Portuguesa,   inaugurada em 1675, e chegou a ter 3 a 4 mil fiéis.

Hoje  a comunidade está reduzida a umas escassas centenas de pessoas: espantosamente o edifício da "Esnoga Portuguesa",  minumento nacional, escapou à destruição da II Guerra Mundial e à ocupação nazi; é visita obrigatória para os portugueses que forem a Amesterdão.

15 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

"A conclusão dos autores é que as perspectivas futuras da Guiné-Bissau são mais promissoras do que naqueles outros países do Terceiro Mundo que não conheceram nenhuma luta armada".

Infelizmente o prognóstico do Roel Coutinho e da Anneke Coutinho era demasiado otimista... Não tanto pelo povo como pela sua elite (e as suas alienças), a "revolução africana" da Guiné-Bissau foi um desastre... O que seria a Guiné-Bissau se Amílcar Cabral tivesse enveredado pela luta política e diplomática, sem recurso à violência armada ?

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Infelizmente o regime político em Portugal também não era democratico nem muito menos favorável a uma eventual solução política negociada, para mais em clima mundial de "guerra fria"... A Guiné, como parte do "ultramar", fazia parte do todo nacional...

Cabral ficaria na História se tivesse conseguido o que Mandela conseguiria mais tarde, o fim do apartheid e a independência da África do Sul...

A estupidez é que os líderes e as nações não parecem aprender com os erros da História... O Cabral acabou por se deixar levar pelos "ventos da História" que apregoavam que o poder estava na ponta das Kalashnikov AK-47... (Que, por trágica ironia, foi a arma que o matou, não foi a G3)...

antónio graça de abreu disse...

É isso mesmo, Luís.
Estive recentemente na África do Sul. Foi só uma semana, Durban e Cidade do Cabo, mas deu para entender mais alguma coisa. A diferença entre as utopias e os sonhos revolucionários de Amílcar Cabral e o realismo, a estatura moral e cívica de Nelson Mandela.

Abraço,

António Graça de Abreu

Cherno Baldé disse...

Caro amigo Luis Graça,

A informaçao que consegui obter junto de um antigo guerrilheiro é que a base de Ermancono ou Hermacono ficava situada perto da fronteira e nas proximidades de 3 aldeias abandonadas (Fambanta-Farinco fula e Farinco mandinca) formando um triangulo quase perfeito se tomarmos como base a estrada Farim-Jumbembem com as duas localidades a servirem de angulos ou vértices A e C. Visto desta forma, o angulo de cima (Vértice B) estaria proximo das localidades citadas acima (Fambanta e as duas Farinco).

Esta informaçao trouxe-me de volta ao livro de Amadu Bailo Djalo no depoimenbto sobre a sua primeira missao em Farim com o Capitao de uma das companhias sediadas em Farim num camiao cujo o motor aquecia e ao qual era preciso por agua para arrefecer. A missao, segundo ele, estava relacionada com a recuperaçao da populaçao fula da aldeia de Lambã situada mesmo na linha da fronteira e que nao se sentia segura devido a infiltraçao frequente dos guerrilheiros. Estou em crer que o objectivo daquelas manobras na altura estaria ligado a necessidade de conseguir espaços de futuras infiltraçoes para o interior do territorio.

De notar que este corredor (de Sambuia ou Lamel?) estava ligado as bases situadas no Oio (Canjambari-Samba-Culo entre outros).

Todavia, o homem grande (antigo combatente) nao conseguiu decifrar-me o significado do termo Ermancono/Hermacono) utilizado para designar a base do PAIGC.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado,Cherno, pelas tuas diligências. Temos de saber aproveitar estas fontes vivas que estão a desaparecer, com o tempo, e que são os antigos combatentes, de um lado e do outro. Sem ressentimemntos nem preconceitos!... O nosso livro de memórias tem de ser plural, nâo pode ir beber só a uma fonte...

Uma dia, e com a tua ajuda, ainda chegaremos à antiga "barraca" de Hermacono, com ou sem H...

Saúde, meu irmaozinho. Luis

Antº Rosinha disse...

Luis Graça, Sobre este médico e todos os médicos voluntários que eu conheci na Guiné independente, de várias nacionalidades, inclusive da AMI, no ex-congo belga independente, aqui eram suecos e suecas apenas, (Matadi/Noqui), além do estetoscópio ao pescoço traziam a tiracolo a máquina fotográfica.

E por muito úteis que se tornassem, eram em segundo lugar uns "voyeristas", à procura do exótico, não sei se me faço entender.

Daí um album fotográfico abundante, e que talvez nem nunca terá distinguido onde começava a Guiné e acabava o Senegal, daí um nome tão estranho Ermacono de uma tabanca.

Na guiné uma terra tão pequena, qualquer guineense adulto, mesmo que nunca tenha saído de Bissau, mas devido à mistura étnica onde são todos vizinhos não há qualquer infima tabanca, cujo nome seja estranho ao ouvido desse adulto.

Conheci um médico português que não ia à procura do exótico, ia trabalhar de médico evidentemente, e sei que fez serviço e com bastantes dificuldades, mas em segundo lugar estava lá voluntário para ver como ficou a Guiné, curiosidade.

Tinha sido fuzileiro lá


Tabanca Grande Luís Graça disse...

Médico português, cooperante, antigo fuzileiro ? Rosinha, vê se descobres o nome...

No tempo da guerra, havia o dr. Mário Moutinho Pádua, que desertou em Angola, em 1961, e acabou por oferecer os seus préstimos ao PAIGC, anos mais trade, em 1967... Passou or vários sítios (Conacri, Boké, etc.) até se fixar no "hospital do PAIGC em Ziguinchor"... E acho que chegou a tratar um militar português, prisioneiro, com ferimentos relativamente graves, o Manuel Fragata, soldado da CART 1690 [Geba, 1967/1969], a compahia do nosso cor inf DFA A. Marques Lopes... Já contámos essa história aqui...

O Mário Pádua (dr.) tem 7 referências no nosso blogue:

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/M%C3%A1rio%20P%C3%A1dua%20%28dr.%29

Antº Rosinha disse...

Luis Graça, estou a falar de um médico que tinha sido fuzileiro na Guiné, e que mais tarde, em 1987 foi como médico voluntário com a AMI, conheci-o num grupo no Gabu a caminho do Boé.
Nada de confusões...nomes neste caso não.

Mas aproveito aqui, para dar o meu ponto de vista sobre aquilo que te chamou à atenção sobre a "conclusão dos autores", ou seja que a guerra teria sido bom.

Ainda num dos postes anteriores de Beja Santos, no caso de Dalila Cabrita que vai buscar os casos do Pidjiquiti, Baixa de Cassange e outros para justificar o terem pegado em armas, e que Beja Santos até acha que não há ligação, e tem razão.

Na verdade os "doutores" os "estudantes do império" aqueles que acabaram por ganhar todas as batalhas, MPLA, PAIGC e FRELIMO, tiveram a sua fuga de Portugal em Junho de 1961, 3 meses após o 15 de Março da UPA em Angola.

Alguém acredita que essa gente estava vocacionada para entrar nas matas de Kalash na mão?

Muitos anos antes já aqueles portugueses, que já a maioria dos seus pais se achavam capazes de governar "isto", sonhavam com uma independência, mas jamais preocupados em pensar em quem morreu no Pidjiquiti, ou em Batepá ou levou chicotadas ou foi de escravo para as américas.

Esses doutores resolveram pegar em armas, porque em Março, a UPA ajudada pelos Americanos "obrigou-os" a enveredar pelo mesmo caminho.

A UPA surpreendeu tanto os brancos no norte de Angola, como Amilcar Cabral, Agostinho Neto, Lúcio Lara, padrinho de Neto, Joaquim Chissano e todos os que optaram por recorrer às armas e à mata a Cuba e à URSS, em oposição à UPA/Missões americanas.

Foi a UPA que "ditou a regra", àqueles doutores que acabaram por sair senhores das independências.

Poucos autores dizem isto.





Valdemar Silva disse...

Antº. Rosinha
Na especialidade em EPA-Vendas Novas havia um instruendo como eu, alto, loiro e atleta do SLB que ficava sempre em primeiro nas provas físicas, mas não me lembro do nomo dele.
Não tenho a certeza se era angolano ou moçambicano, e várias vezes tivemos conversas, mais ou menos para pouca gente ouvir, sobre o que se estava a planear em organizar uns Estados Unidos da África Austral, com os países Angola, Zambia, Malawi e Moçambique (a ocidente/oriente norte) e os outros até ao Cabo, como os EUA e com as leis do apartheid da África do Sul, já com a Rodésia de Iam Smith como começo da ideia.
Isto passou-se no trimestre de 1967, quando falávamos sobre a guerra e a independência das colónias.
Tens alguma lembrança/conhecimento desta intenção?

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

Queria dizer '...no último trimestre de 1967'
e o Iam era Ian

Valdemar Queiroz

Antº Rosinha disse...

Havia muita diferença entre ser branco de Moçambique ou branco de Angola.

Valdemar, nunca em 1967 eu pensei que alguma vez eu viesse a falar e estudar e esmiuçar politiquices daquele tempo que não me preocupavam nada, tão bem eu me dava com a vida naqueles tempos em Angola, "naquela maré mansa".

Mas agora (após o 25 de Abril) aceito que passei ao lado de coisas graves a que não dava a "mínima", e só agora, rememorando vejo os perigos que passei, e a variedade de gente com quem convivi, que agora me serve para entreter o cérebro, agora aos oitentas.

Valdemar, os brancos de Angola, naturais ou a viver desde crianças, todos felizes (esquecendo 1961 e as vítimas da UPA), havia com várias ideias.

E esse tipo que conheceste, se fosse de Angola, só podia ser daqueles invejosos dos vizinhos da África do Sul boeres que viviam numa prosperidade e numa riqueza e desenvolvimento, que fazia raiva Angola ali ao lado em que só se andava em picadas de terra, em vez de pontes era jangadas, e não se explorava petróleo nem ouro e diamantes só de aluvião nos rios.

Mas nunca falavam numa União com os boeres, não sei se os Moçambicanos pensassem em tal coisa.

Mas em Angola esses brancos invejosos (poucos, era mais bocas) pensavam numa independência para brancos, e eram tão anti-salazaristas como uma maioria dos portugueses.

Mas como dizia um salazarista meu antigo colega profissional: O "Antoninho canta-las".

Mas Valdemar, tanto os boeres como os Rodesianos brancos, só tinham pelos portugueses a consideração necessária enquanto a nossa luta em Angola e Moçambique lhe guardávamos as costas.

Mais nadinha, olhavam para nós como um "desastre" de gente, para ficar por aqui.
Passei por alguns boeres no sul de Angola e estive do lado da Namibia algumas vezes.

Mas curioso para mim, é que os pretos não achavam o apartheid um grande mal, antes pelo contrário, até achavam estranho o nosso comportamento sem apartheid.

Cumprimentos

Valdemar Silva disse...

Realmente António Rosinha, os brancos que viviam em Angola e Moçambique deveriam se sentir como "agora sim, isto é nosso".
A migração para as colónias, paralela à outra para o estrangeiro, foi na ordem de cerca de 130500 pessoas nos anos de 1950 a 1960, que dá uma média de mais de 10000 pessoas por ano e que veio a parar em 1961 inclusive com o regresso de cerca 2500.
Com os mesmos motivos dos que migraram para o estrangeiro nesse mesmo período, cerca de 450000, ou seja melhorar as suas condições de vida, os que foram para Angola/Moçambique foram para "mandar" no que arranjaram e não trabalhar pra obras da reconstrução da Europa do após II guerra.
Por isso, um nosso pobre trabalhador do campo do Minho, Trás-os-Montes ou da Beira chegou a Angola/Moçambique atirou-se a trabalhar e até a já ter criadas/criados para mandar como lhe faziam a ele por cá.
E foram criando uma ideia de pertença 'este é o nosso País', formando até maneiras de viver bem diferentes dos atrasadinhos da silva cá da terra.
Pese, embora, os esforços de Norton de Matos, em Angola, e Brito Camacho, em Moçambique, nos anos de 1920-1924, na protecção dos indígenas, estes novos colonos dos anos 1950/60 continuaram em muitos casos com o aproveitamento da mão de obra por um "garrafão de aguardente".

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Fernando Ribeiro disse...

Valdemar Queiroz escreveu:

(...)havia um instruendo como eu, alto, loiro e atleta do SLB que ficava sempre em primeiro nas provas físicas, mas não me lembro do nomo dele. Não tenho a certeza se era angolano ou moçambicano, e várias vezes tivemos conversas (...) sobre o que se estava a planear em organizar uns Estados Unidos da África Austral (...)

Com certeza ele era moçambicano e não angolano. Essas ideias sobre uma espécie de Estados Unidos da África Austral, de dominação branca, eram quase totalmente estranhas às intenções e aos desejos dos brancos de Angola. Eram ideias alimentadas pelos racistas sul-africanos e rodesianos, a que certos setores brancos de Moçambique eram sensíveis.

(...)com os países Angola, Zambia, Malawi e Moçambique (a ocidente/oriente norte) e os outros até ao Cabo, como os EUA e com as leis do apartheid da África do Sul, já com a Rodésia de Iam Smith como começo da ideia.

Retire-se a Zâmbia desta lista. O presidente zambiano, Kenneth Kaunda, dava uma no cravo e outra na ferradura, procurando dar-se bem com Deus e com o Diabo, mas nunca alinharia num esquema desses. Seria tomar partido por uma das partes, coisa que ele nunca faria, ainda por cima sendo negro. Em contrapartida, talvez se pudesse acrescentar o Botswana à lista, porque dependia da África do Sul para tudo ou quase tudo. Mesmo que não concordasse, o Botswana ver-se-ia obrigado a entrar no esquema. Idem para a pequena Suazilândia (agora chamada Eswatini) e o Lesotho.


Antº Rosinha escreveu:

Havia muita diferença entre ser branco de Moçambique ou branco de Angola.

Estou completamente de acordo. Os brancos de Moçambique eram arrogantes, à imagem e semelhança dos boeres, que procuravam imitar.

(...)tanto os boeres como os Rodesianos brancos, só tinham pelos portugueses a consideração necessária enquanto a nossa luta em Angola e Moçambique lhe guardávamos as costas.

Mais nadinha, olhavam para nós como um "desastre" de gente, para ficar por aqui.


Para os boeres e os rodesianos brancos, os portugueses não eram verdadeiramente brancos. Além de não serem tão loiros e rosadinhos como eles, os brancos de Angola (sobretudo estes) relacionavam-se com os negros de uma forma que eles consideravam excessiva. Para os rodesianos brancos e os boeres, os portugueses não passavam de uma espécie de idiotas úteis, que morriam na guerra para defendê-los. Enquanto a guerra ficasse confinada a Angola e a Moçambique, ela não chegaria à África do Sul.

Manuel Luís Lomba disse...

Luís:
Lembro-me que no rescaldo da "Operação Mar Verde", a RTP apresentou apresentou uma entrevista ao General Spínola e este apresentava um mapa dos dois países fronteiriços e a sinalização das bases do PAIGC e, a esta distância, resta-me a reminiscência da base de Hermnacono no Senegal (estarei influenciado pelo raio do nome...).
Essa entrevista pode se consultada nos arquivos da RTP?
Talvez o alferes Júlio Isidro possa dar uma ajuda.
Votos pela tua melhor convalescença.

Manuel Luís Lomba disse...

Perdão pela deslocação do comentário: refere-se ao P24110...