quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24547: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (3): EPC - Escola Prática de Cavalaria - Santarém: Especialidade

Caldas da Rainha - João Moreira, em primeiro plano, no dia do juramento de bandeira


"A MINHA IDA À GUERRA"

3 - EPC - ESCOLA PRÁTICA DE CAVALARIA - ESPECIALIDADE

João Moreira


Mas, como eu não tinha "cunha" atribuíram-me a especialidade de atirador de cavalaria e lá segui eu para a Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, onde se repetiu o meu martírio.

Passados poucos dias fui ao médico da EPC. Consultou-me e ouviu as minhas queixas. Mandou-me logo para o Hospital Militar de Tomar.

Após os exames e reconfirmada a minha "Espinha Bífida", mandaram-me para o Hospital Militar Principal, em Lisboa, por ser o único hospital militar que podia resolver os processos dos milicianos.

Em Lisboa confirmaram a minha deficiência... e deram-me alta. Voltei a Santarém. Como já tinha ultrapassado o número de faltas permitido mandaram-me para casa, com a especialidade perdida. (Era a segunda Especialidade perdida).

Em Outubro de 1969 voltei à Escola Prática de Cavalaria, em Santarém.
Falei com o 1.º sargento enfermeiro que ficou surpreendido por o Hospital Militar Principal, em Lisboa não me ter reclassificado ou mandado para casa, livre da tropa. Disse-me que ia pedir a minha ida a uma junta médica no Hospital Principal, em Lisboa, para resolverem a minha situação que já se arrastava havia 6 meses e, se perdesse a terceira especialidade, ia para o contingente geral.

Chegado ao Hospital Militar em Lisboa, fui à secretaria entregar a documentação que levava.
Disseram-me onde funcionava a Junta e para ir para lá e esperar que me chamassem.
Quando já era o único militar por chamar, e os médicos começaram a sair constatei que algo estava errado.

Dirigi-me a um médico que saiu e expliquei-lhe o que se estava a passar. Ele identificou-se como sendo o subdirector do Hospital e disse para ir com ele à secretaria para tratar do meu internamento.

Aí tocaram as "campainhas". Expliquei-lhe que não ficava internado, porque a perda da terceira especialidade significava a minha ida para o contingente geral. Por isso ia regressar a Santarém.
Ele garantiu-me que ia à Junta antes de acabar o prazo de faltas, e que não perdia a especialidade.

Também me disse que eu ia ser internado no Hospital Anexo, em Campolide, e que ele ia lá todas as manhãs. Disse para quando eu chegasse ao Anexo perguntasse onde era o gabinete do director do Hospital e fosse falar com ele às 10 horas da manhã seguinte, para pôr o meu processo a andar com urgência.

Na manhã seguinte, fui falar-lhe e ele chamou logo um 1.º sargento enfermeiro, e deu-lhe indicações para ele acompanhar o processo de forma a estar pronto a tempo de eu ir à Junta na semana seguinte.

A mim disse para ir todas as manhãs falar com ele, para o informar do que tinha feito, e chamava o 1.º sargento para confirmar se estava tudo a rolar para ir à Junta na semana seguinte. Na semana seguinte, antes de atingir o limite de faltas que originava a perda da especialidade, fui à Junta.

Quando fui chamado, o diretor do Hospital pegou no meu processo e disse que continuava com a mesma especialidade.

O subdirector, que tinha acompanhado o meu processo e sabia a gravidade da minha deficiência perguntou aos outros médicos se eles tinham lido o processo e se sabiam qual era a gravidade do meu problema.

Eles não responderam, e o director tomou a palavra e disse que "se eu fosse soldado ia já para casa", mas como era miliciano continuava como atirador de cavalaria porque havia falta de milicianos.

Com esta resposta dum coronel médico, director do Hospital Militar Principal, eu fiquei sem fala. Foi um choque tão grande que eu não consegui reagir.

Penso que se o subdirector reagisse adequadamente, a Junta tinha-me mandado para casa, ou no mínimo tinha-me reclassificado para uma especialidade que não tivesse actividade física.

Voltei à EPC em Santarém e falei com o 1.º sargento enfermeiro, que ficou incrédulo com o sucedido, e tomou a iniciativa de ir falar com o meu comandante de pelotão para me dispensar das provas físicas.

Como tinha boas notas nos testes, compensava para as provas físicas. E assim acabei a especialidade com aproveitamento.
Caldas da Rainha - Da esquerda para a direita: em pé: Seco, Castro, Daniel e João Moreira. Dos deitados não lembro os nomes.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24531: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (2): CIOE / Rangers - Especialidade em Lamego (Parte 2)

2 comentários:

Abilio Duarte disse...

Olá,
Se esta tua recruta, foi no 1º Turno de 1968, eu andava por aí, na 6ª Companhia, do Tenente Vasco Lourenço, RI5 Caldas da Rainha.

Eu fui parar á Escola Penal do Alentejo, ( E.P.A.), em Vendas Novas.

Abraço e tudo de Bom.

Abílio Duarte

JOÃO MOREIRA disse...

Nessa companhia estava um primo meu, de nome Ernesto Relvas. O comandante do pelotão dele tinha um apelido. Acho que era "o menino Jesus". Abraço.