Guiné > Região do Oio > Olossato > 5 de julho de 1970 > O João Moreira, ex-fur mil at cav MA, CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72) e o alferes de 2.ª Linha Suleimane
Foto (e legenda): © João Moreira (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Comentário do João Moreira ao poste P24843 (*):
OP Jaguar Vermelho, 26 de maio de 1970, 09h00
(...) Às 09h00 o meu grupo de combate (4.º Gr Comb), reforçado com 15 milícias, saiu para a região de Bissancage, onde encontrou um trilho muito recente e batido, de Morés para Madina Mandinga e o alferes Silva decidiu emboscar neste local.
"Furriel, se 'turra' apanha nós (e fez um gesto com o dedo indicador no pescoço, como quem diz: "corta-nos o pescoço ou mata-nos") mas se apanhar pessoal branco trata-o bem" (**)____________
(...) Às 09h00 o meu grupo de combate (4.º Gr Comb), reforçado com 15 milícias, saiu para a região de Bissancage, onde encontrou um trilho muito recente e batido, de Morés para Madina Mandinga e o alferes Silva decidiu emboscar neste local.
Enquanto o alferes Silva estava a instalar os primeiros elementos do 4.º Gr Comb, que eram milícias, surgiram 2 elementos inimigos armados. Deste contacto resultou o ferimento e captura de 1 elemento inimigo e a fuga do outro.
Do contacto também resultou a morte de um soldado milícia nosso, que foi morto pela rajada dum soldado nosso (F.R.) que, por precipitação ou por medo, fez fogo para o local onde estava o alferes e os milícias e só parou o fogo quando o alferes e os milícias gritaram para parar. Não sei se o alferes avisou do que se estava a passar, mas o soldado tinha obrigação de saber que estavam ali os nossos militares. Quando a situação estava controlada e trouxeram o guerrilheiro para o local onde estava o resto do grupo de combate, os outros milícias queriam matá-lo à pancada. Tive que intervir para acabar com esta cena de vingança. Mas há uma frase dum soldado milícia nosso que não esqueci, nem esquecerei e que é a seguinte:
"Furriel, se 'turra' apanha nós (e fez um gesto com o dedo indicador no pescoço, como quem diz: "corta-nos o pescoço ou mata-nos") mas se apanhar pessoal branco trata-o bem" (**)
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 12 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24843: S(c)em Comentários (15): Ainda a propósito da Operação Jaguar Vermelho, levada a efeito entre 26MAI e 11JUN70, na Região do Morés, com a participação da CART 2732 (Carlos Vinhal)
(*) Último poste da série > 12 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24843: S(c)em Comentários (15): Ainda a propósito da Operação Jaguar Vermelho, levada a efeito entre 26MAI e 11JUN70, na Região do Morés, com a participação da CART 2732 (Carlos Vinhal)
(ª*) Vd. poste de 9 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24836: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (16): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo II - Actividades no TO da Guiné - Operação "Jaguar Vermelho", de 26 de Maio a 8 de Junho de 1970 na região do Morés
3 comentários:
Honra seja feita ao PAIGC: "não cortou a cabeça a nenhum branco", pelo menos no tempo em que lá estive" (1969/71)... Mas eu vi, "com os dois olhos que a terra me dá de comer", uma cabeça cortada, na parada de Bambandinca, ao tempo do BART 2917, em meados de 1970, uma barbaridade que me indignou a mim e a outros militares portugueses...
Quando estive na Guiné, em 1969/71, indo para o mato com soldados fulas, que não falavam português nem faziam a mínima ideia onde é que ficava Portugal, a "inconsciência" era dupla: ninguém punha a hipótese de chegar o dia de 24 de setembro de 1973,como chegou; e, de repente estão os "tugas" a ocupar um pais estrangeiro (rapidamente reconhecido pelas Nações Unidas) e os fulas a ficarem sem chão...
Eu já não estava lá mas temia que isso viesse a acontecer como aconteceu, com a ulterior matança dos fulas, "cães" dos colonialistas... como lhes chamava reiteradamente, nos seus escritos e discursos, o grande líder Amílcar Cabral..., legitimando de algum modo o "linchamento", as perseguições, as prisões arbitrárias, os fuzilamentos e outras execuções sumárias que aconteceram, infelizmente, logo com a saída das nossas forças armadas... ( O Nino Vieira denunciou-as, mas cinicamente, para escorraçar a nomenclatura cabo-verdiana do PAIGC)
Além de não estar minimamente preparado para governar de imediato um país novo, saído de uma guerra longa e sangrenta (a liderança do governo foi entregue a um antigo guarda-livros da Casa Gouveia, Luís Cabral), o PAIGC também não estava preparado para a paz e a reconciliação...
Fez com os tugas a paz que lhe convinha, mas correu logo com eles ( que, de resto, estava cheios depressa de sair daquele vespeiro e com medo de perder o barco de regresso a casa...).
Não critico nenhum camarada que lá esteve depois do 25 de Abril: eu faria o mesmo. Dizer o contrário era armar-me em fanfarrão: a partir de 26 de abril já não havia condições políticas, diplomáticas, legais, disciplinares, morais e sobretudo psicológicas para voltar a pegar em armas" (a não ser para um gajo se defender).
A "brigada do reumático", mais as organizações paramilitares como a Legião Portuguesa foram incapazes de defender o regime do Estado Novo, por que razão haveriamos nós de continuar a matar e a morrer na Guiné? (Alguém me saberá exlicar ?)
Qual terá sido a triste sorte deste alferes de 2ª linha Suleimane, do Olossato, para mais ali tão perto do Morés?!...
Nãp temos números sobre os chefes das milícas que o PAIGC, a seguir à independència, prendeu e, nalguns casos (conheço apenas alguns) julgou (em tribunais ditos populares...) e executou sumariamente.
Mas o contrário também é verdadeiro: náo sabemos quantos "suspeitos de turras" foram eliminados nos "anos de chumbo" da guerra pela polícia administrativa" (as milícias)...
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