IN MEMORIAM
Soldado At Inf Manuel Agostinho Mendonça de Oliveira (1952 - †1974)
Vítima de acidente com arma de fogo
1. Mensagem do nosso camarada e amigo Albano Costa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 4150 (Bigene e Guidaje, 1973/74), com data de 7 de outubro de 2024:
Ontem, dia 6 de Outuro de 2024, finalmente foi feita a trasladação do único morto que a minha CCaç 4150 teve (fizemos a nossa comissão na Guiné, em Bigene e Guidage), para a sua terra natal, em Soutelo de Matos, uma povoação muito pequena em termos de habitantes, onde esteve até sábado de manhã, sendo depois foi mudado para a capela mortuária de Pensalvos, para que toda a população local lhe pudesse prestar a última homenagem.
Depois de serem realizadas todas as cerimónias religiosas, que já deveriam ter sido feitas há 50, foi em cortejo fúnebre até ao cemitério, onde foi a sepultar em jazigo de família.
Foram feitas as honras fúnebres pelos militares, como tinha direito, por ter falecido ao serviço da Nação.
Também estiveram presentes a Sr.ª Presidente da Câmara de Vila Pouca de Aguiar e da Junta de Freguesia de Pensalvos e várias colegas da companhia que há 50 anos assistiram ao infortúnio do Manuel Agostinho Mendonça Oliveira, ocorrido a 2 de Abril de 1974.
Finalmente fechei o meu ciclo militar, e também fiquei mais leve comigo próprio. Pela missão cumprida.
Transcrevo o discurso feito pelo nosso comandante que também fez questão de estar presente para fazer(mos) a última homenagem.
"Caros familiares e amigos do Manuel Agostinho MENDONÇA Oliveira e seus camaradas de guerra
Digníssimas autoridades presentes
Minhas Senhoras e meus Senhores
Saúdo os familiares e amigos do MENDONÇA, as autoridades locais, os elementos da nossa Companhia que disseram presente e todos os que quiseram associar-se a esta cerimónia.
Cerimónia que acontece com 50 anos de atraso e mesmo assim só possível devido ao esforço e empenho de alguns de nós e algumas entidades oficiais.
Quando era responsável pela Companhia durante a sua formação na Amadora, a minha maior preocupação foi incutir nos homens um espírito de grupo muito forte e dar-lhes a melhor preparação possível, pois sabia que nas condições em que íamos estar, cada um dependia de todos e todos dependíamos de cada um. Tinha uma forte convicção que independentemente de tudo, conseguiríamos sobreviver.
Cada um de nós, quando partimos em 22 de setembro de 1973 rumo à Guiné para cumprir uma comissão de serviço na guerra colonial ou do Ultramar, como se dizia, levávamos na bagagem muitas coisas, mas também uma grande ilusão, uma vontade, um acreditar que um dia voltaríamos a casa sãos e salvos.
Todos nós lá deixámos muito, muito do nosso suor e muitas lágrimas, alguns derramaram o próprio sangue, outros perderam partes dos seus corpos e um, o MENDONÇA, perdeu a vida, naquele fatídico dia 2 de abril de 1974. E o facto de ter sido apenas um, já foi demais.
Neste momento, assaltam-me sentimentos contraditórios: satisfação por finalmente ele vir descansar junto dos seus na terra que o viu nascer, crescer e partir para a guerra, mas também de tristeza e perplexidade por ter sido só hoje o seu “regresso”, o que não permitiu que os seus familiares tivessem feito na devida altura o luto que se impunha.
Tínhamos pouco mais de vinte anos e assistir à morte de um dos nossos não era coisa fácil, não foi coisa fácil e os seus efeitos prolongaram-se no tempo.
Por isso, sobretudo para os seus camaradas de armas, alguns aqui presentes, esta vivência é uma catarse, é, decerto, a melhor oportunidade para fazer a reconciliação com o passado e que as recordações que guardamos sejam de serenidade e não de revolta.
Esta trasladação, que penso ser o nosso último ato oficial enquanto “família militar da Companhia de Caçadores n.º 4150/73”, vai ser o reencontro com a nossa paz interior na certeza do dever cumprido.
Ao soldado MENDONÇA, prestamos hoje a nossa homenagem final. Com o regresso à sua terra, cumpre-se um ciclo de vida e de sacrifício, de história e de memória. Que o seu descanso seja, finalmente, pleno e em paz.
À sua família, que durante todos estes anos carregou no coração o peso da saudade, as nossas mais sinceras palavras de respeito. Sabemos que este momento, por mais solene que seja, não apaga a dor da perda, mas que, de alguma forma, esta trasladação possa trazer uma sensação de conclusão, sabendo que o MENDONÇA repousa agora no lugar que lhe pertence, ou seja, na sua terra natal.
A todos os que tornaram possível a realização desta cerimónia o meu reconhecimento, com uma referência especial aos camaradas da nossa Companhia.
Que fique em paz!
E que os nossos camaradas, entretanto falecidos, também estejam em paz!
Muito obrigado."
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Nota do editor
Vd. post de 23 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25972: In Memoriam (511): Trasladação de Lisboa para Vila Pouca de Aguiar dos restos mortais do Soldado At Inf da CCAÇ 4150, Manuel Agostinho Mendonça de Oliveira (1952 - †1974), vítima de acidente com arma de fogo em Guidaje, a ter lugar no próximo dia 6 de Outubro de 2024 (Albano Costa)
5 comentários:
Obrigado, Albano. Foi uma cerimónia condigna. É o mínimo que podemos fazer pelos nossos camaradas que lá ficaram. 50 anos depois, a família do Manuel Agostinho pode finalmente fazer o luto!... LG
Bem-Hajam por tudo o que fizeram.
Sentida homenagem a Manuel Agostinho, de Soutelo de Matos, não fora a guerra nas colónias ainda hoje estaria vivo e a conversar com os seus netos.
Valdemar Queiroz
206 ossos, eis o que cabe naquela pequena urna, é quanto "vale" um homem, morto há 50 anos...
Sentida e digna homenagem ao camarada que perdeu a vida na guerra que disputámos na frente da Guiné. Belas e importantes palavras do antigo Alferes Op. Esp. João Dias da Silva, meu caro amigo e colega de profissão. Um bem hajam para todos os envolvidos.
Luís Dias
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