Ilustração Portuguesa, nº 1021, Ano 55, 29 de setembro de 1961. (Diretor: Guilherme Pereira da Rosa; propriedade da Sociedade Nacional de Tipografia). Preço: 1$00. Cortesia de Hemeroteca Digital / Câmara Municipal de Lisboa
1. Foi um acontecimento social, militar, político e até religioso, que deu direito a títulos de caixa alta na imprensa portuguesa da época.
O então Secretário de Estado da Aeronáutica, o ten-cor eng Kaúlza de Arriaga, tinha conseguido a competente e devida autorização de Salazar para criar o Quadro de Enfermeiras Paraquedistas integrado no pessoal da Força Aérea, equiparado a militar. A guerra em Angola (1961) a isso obrigava...
Recrutadas nos hospitais civis, as candidatas a enfermeiras paraquedistas deviam cumprir os seguintes requisitos:
(i) nacionalidade portuguesa;
(ii) idade entre os 19 e os 30 anos;
(iii) curso de auxiliar de enfermagem ou curso geral de enfermagem;
(iv) solteiras ou viúvas sem filhos;
(v) sem cadastro;
(vi) com boa formação moral.
Mas em nenhum diploma legal desse tempo se fala em "enfermeiras paraquedistas"!... O que não deixa de ser curioso...
Alargou-se o quadro de pessoal de tropas paraquedistas (batalhão, criado em 1955, mais tarde regimento), para elas poderem caber em 1961, mas só se fala em "enfermeiros" (sic)... quando a profissão era (e continua a ser) maioritariamente feminina (vd. Decreto-Lei nº 42073, de 31/12/1958, Dec-Lei nº 42792, de 31/12/1959, e Dec-Lei nº43663. de 5/6/1961; Portaria n.° 18462., de 5/5/1961.
- 1 major ou capitão graduado médico
- 2 capitães ou subalternos graduados médicos
- 1 capitão graduado médico veterinário
- 1 subalterno graduado médico veterinário
- 1 tenente graduado enfermeiro
- 5 alferes graduados enfermeiros
- 5 sargentos graduados enfermeiros.
Não se percebe por que razão é que na altura não se abriram as portas do batalhão de caçadores paraquedistas também às mulheres médicas, mas tão só às enfermeiras...
A primeira seleção foi feita pela Escola das Franciscanas Missionárias de Maria (criada em 1950, hoje Escola Superior de Enfermagem São Francisco das Misericórdias), em Lisboa. Era então diretora (e professora), a irmã Emaús, a madre superiora da congregação em Portugal.
Pode-se dizer que foram escolhidas a dedo as primeiras 11 candidatas (ou "convidadas"), as quais frequentaram depois o 1º curso de enfermeiras-paraquedistas, a convite da FAP. Só chegaram ao fim e receberam o brevet (ou brevê) e a boina verde seis delas, ultrapassadas as provas de aptidão, médicas, psicotécnicas, físicas e militares. Ficaram conhecidas como as "seis Marias", graduadas em alferes (e uma em sargento) (vd. aqui vídeo da RTP Ensina, de 2009):
- Ivone (†)
- Arminda
- Nazaré (†)
- Lourdes ("Lurdinhas") (graduada em sargento)
- Céu (Policarpo)
- Zulmira (†)
O 1º curso de enfermeiras paraquedistas iniciou-se em 6 de julho de 1961, em Tancos, no Regimento de Caçadores Paraquedistas, e terminou a 8 de agosto, com a imposição do brevê e da boina verde (a cinco das seis: a Maria da Nazaré, por se ter magoado num salto, só terminaria o curso uma semana depois).
As fotos que publicamos acima são da cerimónia do dia 8 de agosto de 1961. As mulheres portuguesas estavam a fazer história nesse dia!... Os jornais da época deram larga cobertura ao acontecimento, alguns ainda elevados de preconceitos ( para não falar em misoginia, estupidez, ignorância ou sensacionalismo, como chamar-lhe "monjas do ar"):
- Monjas do ar: cinco jovens enfermeiras conquistaram ontem em Tancos o "brevet" de pára-quedistas" (Diário de Notícias, 9 de agosto de 1961);
- As primeiras mulheres pára-quedistas portuguesas (O Século, 9 de agosto de 1961);
- Enfermeiras pára-quedistas lançadas em Tancos receberam o "brevet" e vão seguir para Angola (Diário de Lisboa, 8 de agosto de 1961)
A revista Ilustração Portuguesa, propriedade da empresa que publicava O Século. escolheu este acontecimento para a capa edição nº 1021 (em 1961 só se publicaram dois números, este, e o nº 1020, de 29 março; a revista era semanal, I e II Séries, de 1903 a 1930; depois passou a editar 2 números por ano, de 1931 a 1980, para garantia legal do título).
PS - A Maria Arminda seria a terceira de quatro, a contar da esquerda, na foto de topo (inicialmente parecia-nos a segunda)... Ora a segunda é a Maria Ivone Reis, já falecida. Da quarta, no lado direito, não se vê a cara. Legendagem com a ajuda da Maria Arminda, a decana das enfermeiras-paraquedistas e que honra a Tabanca Grande com a sua afável presença e ativa colaboração.
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Nota do editor:
Último poste da série > 10 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26787: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (10): Quando a "última" foi a "primeira"... A cap enf pqdt Maria de Lurdes Lobão, que fez história: em 16 de março de 1990, foi a primeira mulher a fazer de oficial de dia num estabelecimento militar, a Escola de Serviço de Saúde Militar (ESSM)
4 comentários:
Arminda, pareces a mais contida...
Arminda, parece-me que também és tu a quem a senhora de Kaúlza de Arriaga impõe a boina verde...Verdade ?
Na segunda foto, com a irmã franciscana, quem é a tua camarada ?
Maria Arminda Santos,11 mai 2025, 14:36 (by email)Maria Arminda Santos
11 mai 2025 | 14:36
Olá, amigo, respondo ao email e mais tarde vou ao Facebook. Eu sou a segunda da esquerda e a que a Sra. D. Maria do Carmo Arriaga está a colocar a boina. A que está a ir beijar a Irmã parece ser a Ivone, embora haja outra muito parecida com a Zulmira.
PS. Junto 3 fotos do meu álbum. A primeira foto enquanto se aguardava pela feitura das fardas, fomos em tipo estágio para a urgência do Hospital de São José e aí com as nossas fardas das respetivas Escolas. Todas iguais menos eu que fui a única da Escola de São Vicente de Paulo, atualmente integrada na Universidade Católica.
A segunda vê-se que também estou eufórica.
A última é uma foto da Zulmira com a Irmã Diretora da Escola de Enfermagem das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria, a Irmã Imaús.
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