Texto do Paulo Reis, jornalista freelancer que está a fazer um trabalho de investigação sobre os comandos africanos, e membro da nossa tertúlia:
Caros tertulianos:
Eenho andado a analisar documentação diversa sobre a guerra da Guiné, no Arquivo Histórico Militar. Enconteri alguma informação que poderá ser do interesse de muitos de vocês, embora não esteja relacionada directamente com o tema que estou a investigar - os Comandos Africanos. Enviei este conjunto de info's ao Luís Graça, caso ele considere de interesse, a sua publicação no blogue.
Aproveito para vos enviar o mesmo texto, pode ser que tenha também algum interesse para vocês.
Com os meus melhores cumprimentos
Paulo Reis
jornalista
Telemóvel > 918627929
________
Plano de Evacuação da Guiné (Abril/Outubro de 1974) - I
O material disponível, no Arquivo Histórico Militar, é escasso e a sua classificação ainda não está completa. No entanto, consegui encontrar algumas informações sobre a maneira como se processou a retirada das tropas portuguesas e o desmantelamento nas unidades de recrutamento local, nos arquivos do CTIG (Comando Territorial Independente da Guiné).
A documentação é, como disse, escassa e dispersa, com muitas lacunas. Assim, num despacho (nº5054/B/74) de 4AGO74, assinado pelo Comdt Militar e Adjunto-Operacional, Brigadeiro Octávio de Carvalho Galvão de Figueiredo, escreve-se:
“Por determinação do Brig. Comdt. Chefe:
"a. Serão extintos todos os Pel Caç Nat [Pelotões de Caçadores Nativos] com excepção daqueles que por serem as únicas forças que guarneçam uma determinada localidade não seja aconselhável extinguir.
"b. As praças da PU (*) dos Pel extintos reverterão para a CCAC da PU mais próxima.
"c. Os graduados e as praças europeias dos Pel Caç Nat extintos serão aproveitados para recompletamentos".
Uma circular (nº2012/C) da 3ª Repartição do QG, datada de 5AGO74 e assinada pelo Chefe de Estado Maior Interino, António Hermínio de Sousa Monteny (Ten Cor do CEM), remete para ordens do Brig Comdt Chefe, segundo as quais deveriam ser “desde já desactivados os seguintes Pel Art [Pelotões de Artilharia], sendo a situação do pessoal e do material definidos por determinação administrativo-logística a emanar pelas repartições competentes”
A lista dos Pel Art a desactivar é a seguinte:
1º Pel Art - Cacine
5º Pel Art - Bissau
15º Pel Art - Bissau
25º Pel Art - S. Domingos
28º Pel Art - Piche
31º Pel Art - Bajocunda
33º Pel Art - Ingoré
Pel Art Ev - Binta
Em documentos dispersos, sem sequência, encontrei algumas referências a CCAÇ [Companhias de Caçadores] a desmantelar ou desmanteladas. Assim, num documento intitulado “Planeamento de redução de efectivos – alteração nº 1 (23 Julho de 74 – assinado pelo chefe da 3ª Rep, Mário Martins Pinto de Almeida, Tem Cor CEM, doc. Nº 558/INF/C) refere-se a “desocupação das localidades de Pirada, Bajocunda, Piche e Paunca (?). A CCAÇ 11 será desactivada em virtude da passagem à disponibilidade de grande parte dos efectivos”.
O documento mais completo data de 20 de Agosto (de recordar que o Acordo de Argel foi assinado a 26 de Agosto de 1974) e consiste numa acta de reunião das chefias militares e do Brig Comdt Chefe, onde é definido o "Plano de Evacuação". O oficial relator é identificado apenas como Fernando José Pinto Simões. A reunião terá sido realizada alguns dias antes, no dia 15 de Agosto. A data de 20 de Agosto é a data de registo de saída do documento, com carimbo da Repartição de Operações.
No texto refere-se, entre outras coisas, que “todas as tropas africanas têm que estar pagas até 31AGO, incluindo as que estão em Bissau”. Esse pagamento, como se refere mais adiante abrange os meses até 31DEZ74.
Outra nota diz respeito às CCAÇ Africanas: “O pessoal europeu pertencente às CACÇ Africanas vai para o Depósito de Adidos até à liquidação das contas”. Nessa mesma reunião é nomeada uma Comissão de Transportes, para coordenar a retirada e transporte para Portugal, presidida pelo Cor Tir CEM Santos Pinto.
Noutro documento, sem data, que surge aparentemente anexo a este “Plano de Evacuação” são listadas um total de 77 unidades. O extenso documento inclui várias páginas com uma grelha onde estão listadas, da esquerda para a direita o nome da unidade, o trajecto (localidade onde está, percurso e destino, Bissau), e outros pormenores, como data de saída da localidade, chegada a Bissau, aquartelamento, partida para Lisboa, etc. etc. Este segundo documento tem, no final, o nome do Comdt Militar, Brigadeiro Galvão de Figueiredo, mas não está assinado por este. Está, sim, autenticado pelo Chefe de Estado Maior Henrique M. Gonçalves Vaz, Tem Cor CEM.
Paulo Reis
Jornalista (Cart Prof nº 734)
Telemóvel > 918 62 79 29
______________
Nota de P.R.:
(*) Ignoro o que PU, neste contexto, possa significar. Elementos do AHM adiantaram-me duas hipóteses: Polícia de Unidade (pouco provável, dizem) ou Província Ultramarina (mais provável...)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 9 de junho de 2006
quinta-feira, 8 de junho de 2006
Guiné 63/74 - P858: Memórias de Mansabá (1): Periquito vai no mato: de Bissau a Mansabá, passando por Safim, Nhacra, Mansoa, Cutia e Mamboncó (Carlos Vinhal)
Guiné > Região do Oio > Mansabá > (i) Vista aérea do aquartelamento; (ii) CART 2732 (Mansabá, 1970/72)> 1970 > 3.º Pelotão , secção do Fur Mil Vinhal (primeira fila, à direita, ladeado pelo seu amigo Ornelas).
© Carlos Vinhal (2006)
Texto do Carlos Vinhal (ex-furrel miliciano, CART 2732, Mansabá, 1970/72):
21 de Abril de 1970: A ida para o mato da CART 2732
Após a chegada à Guiné (1), aqueles primeiros dias nos Adidos era uma experiência traumática. Quer quiséssemos quer não, era inevitável o contacto com os apanhados ou cacimbados, tanto faz, que por lá deambulavam. Quem não se lembra deles a contarem aquelas estórias que para nós, periquitos, parecia pura invenção, pois aquilo que narravam não podia ter acontecido e muito menos iria acontecer connosco. Era demais para a nossa compreensão. Tentávamos imaginar como seria o aquartelamento que nos esperava, mas não seria tão mau como eles pintavam. Aquilo com certeza era só para meter medo.
O certo é que o inevitável dia de irmos para o mato chegava sempre. Manhã cedo, chegaram as tropas de Mansoa acompanhadas de várias viaturas civis para nos levarem a nós e aos nossos pertences até Mansoa.
© Virgínio Briote (2005)
Dados os últimos conselhos e recomendações, era tempo de nos pormos a caminho. De Bissau até Safim era tudo muito bonito. Muitos civis mais ou menos despreocupados que vendiam ou compravam e, nós perguntávamos se aquilo já era o mato:
- Calma que a procissão ainda vai no adro!, diziam-nos.
Seguiu-se Nhacra e a sua característica ponte. A partir dali só grandes extensões de plantações de arroz, pastorícia e umas quantas tabancas isoladas ao longo da estrada. Alguns homens amassavam barro molhado e palha com os pés que, enformado e seco ao sol, dava uns resistentes blocos para construção das moranças. Lá ao longe as grandes árvores africanas. Coisa linda para quem só conhecia pinheiros e eucaliptos. A estrada, toda alcatroada, permitia uma velocidade aceitável e, ao longe por efeitos do calor e da refracção da luz, mais parecia um rio que se elevava e desaparecia conforme o relevo do terreno.
Decorridos cerca de sessenta quilómetros acercámo-nos de Mansoa. Passada a ponte entrámos na povoação que constituiu uma agradável surpresa. Será já isto o mato? Como era de esperar, muita tropa, mas pasme-se, muita gente branca. Mais tarde soubemos que eram libaneses que ali tinham os seus negócios de comércio. Tratava-se de uma localidade com alguma importância e que tinha tudo o que era essencial. Lá, ficámos só o tempo suficiente para sermos entregues à CCAÇ 2403 que nos havia de levar dali até ao nosso destino.
O aspecto desses militares não abonava nada a seu favor. As fardas cujo camuflado era um pouco confuso pois não se sabia se o amarelo tinha esverdeado ou se o verde tinha amarelado com o tempo. Quem usava divisas tinha-as em tão mau estado que descortinar os postos era complicado. Aqueles olhares algo vagos entre o deixa andar e seja o que Deus quiser, punha-nos de certo modo ainda mais nervosos do que já estávamos:
- Nós também iríamos ficar assim? Nós somos diferentes, pois então.
Agora sim iríamos entrar na zona de guerra a sério:
- Muita atenção que todos os cuidados a partir daqui serão poucos… Bala na câmara e olhos bem abertos.
Começámos a sentir, apesar do calor, um frio no estômago e um aperto no coração para não dizer noutro sítio onde nem um feijão entrava:
- Vamos dar-lhes a conhecer os locais perigosos e os seus nomes… Se houver alguma emboscada, atirem-se para o chão, rebolem para as bermas e deixem-nos actuar.
- Será que nos vão atrasar o almoço, caso haja alguém que ainda tenha apetite?
Seria quase meio-dia quando começámos a última etapa. Quase a meio do caminho, havia à face da estrada um destacamento de aspecto miserável numa pequena tabanca chamada Cutia, cuja guarnição militar era composta por alguns homens cujo único passatempo era ver passar as colunas de e para Mansabá. A sua principal missão era proteger aquela pequena comunidade. Lá nos saudaram e desejaram boa estadia e a melhor das sortes.
Uns quilómetros à frente deparou-se-nos um local lindíssimo pela sua vegetação, Mamboncó, que tinha tanto de bela como de perigosa:
- Aqui é preciso muito cuidado, pois este local é muito mal frequentado e logo acontecem maus encontros.
Um pouco mais à frente a Pedreira, local que anunciava o fim da jornada:
- Cuidado aqui também, nunca se sabe onde o inimigo nos espera.
Mais uns quilómetros e eis Mansabá. Uma larga avenida nos conduzia até à Porta de Armas, nome pomposo demais para uma abertura no arame farpado, onde estava um militar de sentinela. Ao longo a população saudava-nos amistosamente.
- Mas, aqui no meio desta gente não haverá simpatizantes dos turras? Pareces bruxo - Eu perguntava e os meus botões militares respondiam. Da parte de dentro os cartazes da praxe:
- Lisboa 5.000 Km;
- Bissau 100Km;,
- Bem-vindos, Periquitos!, , etc, etc.
A parada principal que ficava em frente à Porta de Armas era confinada pelo Bar e Casernas dos Furriéis, pelo Bar dos Oficiais e pela Oficina Auto. Era de terra desagregada mais parecendo areia e transmitia aos pés, mesmo através das botas de lona, um calor intenso. O cheiro que pairava no ar era o típico de África, para nós novidade. Aqui iríamos viver 22 longos meses, mas ainda não sabíamos.
Com isto tudo eram 13 horas e, quando nos dispúnhamos a atacar a ração de combate, veio o convite:
- Qual ração qual quê!- Tínhamos uma óptima refeição composta de sopa, batatas fritas, ovos estrelados, fiambre e salsichas. A acompanhar uma bazooka fresquinha e, no fim café mijoca e whisky do mais barato, claro. Tudo oferta da casa, mais propriamente da CCAÇ 2403. Pudera!... Não éramos nós os seus substitutos?
Depois do almoço e de algum repouso, fomos conhecer as nossas instalações. A mim tocou-me um quarto sem porta, numa caserna também sem porta, atolado de camas com as malas a ficarem no corredor… Que não havia problemas, podíamos deixar tudo à vontade que ninguém roubava nada…
- Mas... não estávamos já no mato? Os turras não podiam entrar ali durante a noite para nos roubar? E aqueles civis todos que por ali deambulavam não eram perigosos? Como se sabia se eles eram dos bons ou dos maus? Como era que nós periquitos os havíamos de distinguir?
Estas interrogações eram demasiadas para obter resposta dos velhinhos que olhavam para nós com o desdém próprio de quem já tem a cátedra na matéria.
Aceitámos um convite dos nossos anfitriões para darmos uma volta e conhecermos o aquartelamento e povoação. As primeiras impressões foram as melhores. Razoáveis instalações, água potável de um furo e poucos mosquitos. Quando os velhinhos fossem embora e nós ocupássemos as suas posições, ficaríamos bem instalados.
A povoação era grande e tinha comércio, uma filial da Casa Gouveia, Mesquita, Enfermaria Civil, Escola e Chefe de Posto, representante máximo da autoridade civil. As moranças desenvolviam-se essencialmente ao longo da Estrada de acesso ao quartel, de um lado e do outro e, na estrada para Norte que ia em direcção a Farim. Agrupavam-se conforme as suas etnias predominantes, Mandingas e Fulas. Havia arame farpado a envolver toda a povoação. Por sua vez o quartel tinha a sua própria cercadura de arame farpado.
A população vivia principalmente da cultura do arroz na zona húmida a sul e da cultura da mancarra na zona seca a norte. Eram, como na generalidade das populações do interior da Guiné, pobres e muito dependentes do que os militares lhes davam. Viviam da troca de víveres entre eles. Alimentavam-se praticamente só de arroz, algum peixe da bolanha e nenhuma carne. Os miúdos na hora da refeição recolhiam os restos dos militares em recipientes engendrados por eles, que podia ser por exemplo uma lata de tinta adaptada para o efeito. Algumas mulheres lavam a roupa da tropa o que lhes conferia o único meio de terem dinheiro vivo. Os homens eram principalmente guias, milícias ou componentes do Pel Caç Nat 57. Claro que alguns nada faziam, vivendo do trabalho das mulheres.
Cerca das 17 horas, já nós nos encontrávamos na Messe, ocorreu um ataque ao aquartelamento e povoação, com morteiro e armas ligeiras. Os velhinhos correram para as suas posições de defesa e mandaram-nos para um abrigo existente junto da Messe, onde estivemos até os ânimos serenarem. Quando tudo voltou ao normal verificou-se a existência de 16 feridos na população, assistidos prontamente nas Enfermarias civil e militar:
- Como estão a ver, vocês são já famosos e tiveram a recepção devida por parte dos nossos amigos.
O nosso baptismo de fogo não demorou muito e o que mais nos impressionou foi a cadência de fogo das célebres costureirinhas, quem não se lembra delas?!. Se não matassem, pelo menos desmoralizavam.
Depois de jantar e de muito dizer e ouvir, vencidos pelo cansaço, dormimos com um olho fechado e outro virado para a entrada do quarto, não fosse algum turra sorrateiramente entrar por ali e roubar as nossa malas. Preocupações de periquito.
Carlos Vinhal
_________
Notas de L.G.
( 1 ) Vd. post de 18 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXI: Breve historial da CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)
(...) "A CART2732 foi constituída em 23 de Fevereiro de 1970, tendo como Unidade Mobilizadora a BAG 2, sita no Pico de S. Martinho, no Funchal, Ilha da Madeira (...).
"A maior parte do seu pessoal era originário da Ilha da Madeira, com excepção dos Oficiais, Sargentos e Praças Especialistas.
"Em 7 de Abril de 1970 a CART2732 recebeu o seu Estandarte. No dia 13 de Abril realizou-se no Cais do Porto do Funchal a cerimónia de despedida da Companhia(...).
"A CART 2732, sob o comando interino do Alf Mil Art Manuel Casal, embarcou nesse mesmo dia, cerca das 12H00, no navio Ana Mafalda, que largou pouco depois com destino à Guiné (...). Desembarcou no cais de Bissau pelas 16H00 do dia 17 de Abril de 1970, ficando alojada em tendas de campanha no Depósito de Adidos.
"No dia 20 de Abril realizou-se a parada de apresentação da Companhia ao Comandante-Chefe do CTI da Guiné, General António de Spínola.
"Na manhã do dia seguinte, seguiu para Mansabá [entre Mansoa e Farim, na região do Oio], onde chegou cerca das 13H00 para render a CCAÇ 2403. Neste mesmo dia, Mansabá foi flagelada pelo IN com morteiro 82 e armas ligeiras, causando 16 feridos na população. Assim estava consumado o baptismo de fogo" (...).
Guiné 63/74 - P857: Escuteiros de Porto de Mós descobrem o nosso blogue (Luís Graça)
Foi com grande alegria que descobri hoje, pelo Blogue-fora-nada, que tinha no seu site algumas das cartas militares da Guiné Bissau, as quais em nem sabia que estavam disponíveis ao público.
Passo a explicar o meu interesse nas referidas cartas. Eu pertenço ao agrupamento de escuteiros de Porto de Mós, e estivemos em Dezembro passado em actividade na Guiné Bissau, no campo escutista de Quinhamel, para além das várias visitas que fizemos a algumas cidades do país, e onde esperamos voltar com outro grupo de escuteiros em 2007.
Pode ver:
(i) o blog desta actividade em:
http://spaces.msn.com/members/guine370;
(ii) fotos em:
http://fotos.sapo.pt/davidsantos;
(iii) e outras ionformações no site do agrupamento em:
http://cne370.no.sapo.pt/3seccao/index.htm.
Agora o que eu gostaria de pedir era se seria possível enviar-me pelo menos a carta de Quinhamel, uma vez que é o local onde se desenrolam a maioria das nossas actividades na Guiné, e estar a pedir todas é muito
Gostaria também, de saber mais exactamente onde é que se adquirem os originais destas cartas, e o que é necessário para o fazer, isto, caso você também o saiba.
Despeço-me, agradecendo desde já a atenção dispensada.
David Samuel Santos
Comentário:
(i) Antes de mais os meus parabéns pelo vosso empenho e generosidade, apoiando actrividades em prol do desenvolvimento da Guiné-Bissau e fazendo a ponte da amizade com aquela gente simples, hospitaleira e generosa que bem precisa do nosso apoio e carinho, e em especial dos jovens portugueses que, felizmente, já não conheceram a guerra;
(ii) Obrigado, a seguir, pelas referências simpáticas que faz ao nosso blogue, que é todos os amigos e camaradas da Guiné;
(iii) As cartas (militares) que temos on line foram-nos disponibiladas por um dos membros da nossa tertúlia, o Eng. Humberto Reis (ex-furriel miliciano da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71). Foram adquiridas por ele, em 1994, quando pensou em voltar à Guiné-Bissau (o que veio a acontecer em 1996). As 72 cartas ou mapas da antiga província portuguea da Guiné podem adquiridas no Centro de Documentação e Informação do Instituto de Investigação Científica e Tropical, em Lisboa. Algumas delas podem já estar esgotadas.
(iv) Posteriormente(em 2005 e 2006) mandámos digitalizar algumas dessas cartas: infelizmente não temos disponível ainda a carta de Quinhamel... Temos Pelundo e Bissau que confrontam com Quinhamel...
(v) A divulgação destas cartas, no ciberespaço, de modo algum pretende pôr em risco a independência e a soberania do país irmão. Nem muito menos pode ser interpretada como uma provocação. Também não tem quaisquer propósitos comerciais ou outros, de índole lucrativa. Pretende-se apenas prestar um serviço útil aos ex-combatentes da guerra colonial, e nomeadamente aos membros da nossa tertúlia e a todos os demais amigos do povo guineense.
(vi) Estas cartas, apesar de algumas lacunas (tem já meio século), são fundamentais para a reconstituição da memória dos lugares e a reorganização das memórias dos ex-combatentes portugueses que estiveram aquartelados e/ou envolvidos em operações na antiga província portuguesa (ou colónia, como queiram) da Guiné.
(vii) Prestam,os com isso, também, a nossa homenagem aos valorosos cartógrafos militares portugueses. Estas cartas da Guiné resultaramm do levantamento efectuado ao longo da década de 1950 pela missão geo-hidrográfica da Guiné – Comandantes e oficiais do N.H. Mandovi e do Pedro Nunes. A fotografia aérea é da aviação naval. Restituição dos Serviços Cartográficos do Exército. A fotolitografia e a impressão foram feitas em Portugal, em diversas empresas da especialidade. A edição é do da Junta das Missões Geográficas e de Investigações do Ultramar, do antigo Ministério do Ultramar. Digitalização efectuada na Rank Xerox (2005 e 2006).
As seguintes cartas, à escala de 1/50 mil, podem ser consultadas on line partir do nosso blogue (Luís Graça & Camaradas da Guiné)
Cartas militares da antiga província portuguesa da Guiné>
Carta da Província Portuguesa da Guiné (1961)
Mapa de Bafatá (1955)
Mapa de Bambadinca(1955)
Mapa de Banjara (1956)
Mapa de Bigene(1953
Mapa de Binta(1954)
Mapa de Bissau (1949)
Mapa de Bissorã / Mansoa (1954)
Mapa de Buruntuma (1957)
Mapa de Cacine (1960)
Mapa de Cacoca / Gadamael (1954)
Mapa de Canchungo (Teixeira Pinto) (1953)
Mapa de Cansissé (1959)
Mapa de Farim (1954)
Mapa de Fulacunda (1955)
Mapa de Guileje (1956)
Mapa de Jumbembem (1954)
Mapa de Madina do Boé (1958)
Mapa de Mambonco(1954)
Mapa de Mansoa (1954)
Mapa de Pelundo (1953)
Mapa de Piche (1957)
Mapa de Pirada (1957)
Mapa de Teixeira Pinto (Canchungo) (1953)
Mapa de Tite(1955)
Mapa do Xime (1955)
Mapa do Xitole (1955)
Passo a explicar o meu interesse nas referidas cartas. Eu pertenço ao agrupamento de escuteiros de Porto de Mós, e estivemos em Dezembro passado em actividade na Guiné Bissau, no campo escutista de Quinhamel, para além das várias visitas que fizemos a algumas cidades do país, e onde esperamos voltar com outro grupo de escuteiros em 2007.
Pode ver:
(i) o blog desta actividade em:
http://spaces.msn.com/members/guine370;
(ii) fotos em:
http://fotos.sapo.pt/davidsantos;
(iii) e outras ionformações no site do agrupamento em:
http://cne370.no.sapo.pt/3seccao/index.htm.
Agora o que eu gostaria de pedir era se seria possível enviar-me pelo menos a carta de Quinhamel, uma vez que é o local onde se desenrolam a maioria das nossas actividades na Guiné, e estar a pedir todas é muito
Gostaria também, de saber mais exactamente onde é que se adquirem os originais destas cartas, e o que é necessário para o fazer, isto, caso você também o saiba.
Despeço-me, agradecendo desde já a atenção dispensada.
David Samuel Santos
Comentário:
(i) Antes de mais os meus parabéns pelo vosso empenho e generosidade, apoiando actrividades em prol do desenvolvimento da Guiné-Bissau e fazendo a ponte da amizade com aquela gente simples, hospitaleira e generosa que bem precisa do nosso apoio e carinho, e em especial dos jovens portugueses que, felizmente, já não conheceram a guerra;
(ii) Obrigado, a seguir, pelas referências simpáticas que faz ao nosso blogue, que é todos os amigos e camaradas da Guiné;
(iii) As cartas (militares) que temos on line foram-nos disponibiladas por um dos membros da nossa tertúlia, o Eng. Humberto Reis (ex-furriel miliciano da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71). Foram adquiridas por ele, em 1994, quando pensou em voltar à Guiné-Bissau (o que veio a acontecer em 1996). As 72 cartas ou mapas da antiga província portuguea da Guiné podem adquiridas no Centro de Documentação e Informação do Instituto de Investigação Científica e Tropical, em Lisboa. Algumas delas podem já estar esgotadas.
(iv) Posteriormente(em 2005 e 2006) mandámos digitalizar algumas dessas cartas: infelizmente não temos disponível ainda a carta de Quinhamel... Temos Pelundo e Bissau que confrontam com Quinhamel...
(v) A divulgação destas cartas, no ciberespaço, de modo algum pretende pôr em risco a independência e a soberania do país irmão. Nem muito menos pode ser interpretada como uma provocação. Também não tem quaisquer propósitos comerciais ou outros, de índole lucrativa. Pretende-se apenas prestar um serviço útil aos ex-combatentes da guerra colonial, e nomeadamente aos membros da nossa tertúlia e a todos os demais amigos do povo guineense.
(vi) Estas cartas, apesar de algumas lacunas (tem já meio século), são fundamentais para a reconstituição da memória dos lugares e a reorganização das memórias dos ex-combatentes portugueses que estiveram aquartelados e/ou envolvidos em operações na antiga província portuguesa (ou colónia, como queiram) da Guiné.
(vii) Prestam,os com isso, também, a nossa homenagem aos valorosos cartógrafos militares portugueses. Estas cartas da Guiné resultaramm do levantamento efectuado ao longo da década de 1950 pela missão geo-hidrográfica da Guiné – Comandantes e oficiais do N.H. Mandovi e do Pedro Nunes. A fotografia aérea é da aviação naval. Restituição dos Serviços Cartográficos do Exército. A fotolitografia e a impressão foram feitas em Portugal, em diversas empresas da especialidade. A edição é do da Junta das Missões Geográficas e de Investigações do Ultramar, do antigo Ministério do Ultramar. Digitalização efectuada na Rank Xerox (2005 e 2006).
As seguintes cartas, à escala de 1/50 mil, podem ser consultadas on line partir do nosso blogue (Luís Graça & Camaradas da Guiné)
Cartas militares da antiga província portuguesa da Guiné>
Carta da Província Portuguesa da Guiné (1961)
Mapa de Bafatá (1955)
Mapa de Bambadinca(1955)
Mapa de Banjara (1956)
Mapa de Bigene(1953
Mapa de Binta(1954)
Mapa de Bissau (1949)
Mapa de Bissorã / Mansoa (1954)
Mapa de Buruntuma (1957)
Mapa de Cacine (1960)
Mapa de Cacoca / Gadamael (1954)
Mapa de Canchungo (Teixeira Pinto) (1953)
Mapa de Cansissé (1959)
Mapa de Farim (1954)
Mapa de Fulacunda (1955)
Mapa de Guileje (1956)
Mapa de Jumbembem (1954)
Mapa de Madina do Boé (1958)
Mapa de Mambonco(1954)
Mapa de Mansoa (1954)
Mapa de Pelundo (1953)
Mapa de Piche (1957)
Mapa de Pirada (1957)
Mapa de Teixeira Pinto (Canchungo) (1953)
Mapa de Tite(1955)
Mapa do Xime (1955)
Mapa do Xitole (1955)
Guiné 63/74 - P856: Encontro da nossa tertúlia no 10 de Junho, em Belém, Lisboa (Luís Graça)
1. Há uns dias (29 de Maio último), o Hugo Moura Ferreira lançou uma proposta de encontro dos tertulianos pr ocasião do feridado do 10 de Junho, em Lisboa, que eu pus de imediato a circular por e-mail e já recebeu alguns comentários.
Aqui fica o filme dos acontecimentos. Deixem-me dizer que o Hugo tem sido um dos mais entusiastas, entre todos nós, na divulgação do nosso blogue.
Eu por mim vou fazer um esforço por poder estar presente, no local indicado entre as 11 e as 12h, quanto mais não seja para conhecer e dar um abraço àqueles que puderem e quiserem aparecer.
Sei que não é o melhor dia nem o melhor local: muitos dos nossos amigos e camaradas são do Norte; outros costumam tirar férias nesta altura; e, por fim, 0 10 de Junho traz, para alguns de nós, más memórias, pelo seu aproveitamento político-partidário antes e depois do 25 de Abril de 1974... Mas enfim pelos amigos e camaradas da Guiné, faz-se tudo (ou quase tudo).
O meu telemóvel é o 93 281 08 72. E o meu nome é Luís Graça.
2. Mensagem do Hugo Moura Fereira:
Caro Luís.
Estava eu por aqui cogitando e lembrei-me... (para já estou satisfeito porque a caixa dos pirolitos ainda funciona, não quer dizer é que saia coisa de jeito)...
Então pus-me a escrever o que estava a pensar e a fazer uns bonecos. Abre o anexo s.f.f.
Queres fazer o favor de dar uma voltinha e dizer de tua opinião.
Um abraço.
Hugo Moura Ferreira
(Ex-Alf Mil, Cufar - CCAÇ 1621, Bedanda - CCAÇ 6, Novembro de 1966 e Novembro de 1968)
O 10 de Junho…
Seria giro que os Tertulianos que, por acaso se desloquem ao Forte do Bom Sucesso, em Lisboa se encontrassem. Afinal este local da Net até se está a tornar numa grande camarata mista, que integra civis e militares.
Como eu vou sempre todos os anos, com raras excepções, teria muito gosto em conhecer aqueles que comungam nos princípios da Tertúlia, que o Blogue-fora-nada integra.
Se estiveres de acordo e achares que esta ideia interessante, deixo-te aqui a ideia de promover através do Blogue-fora-nada esse encontro, pelo menos daqueles que residem por estes lados, de Lisboa.
Se achares a ideia exequível e interessante deixo então aqui a ideia do local de concentração através da foto que anexo:
Portugal > Lisboa > Forte do Bom Sucesso, junto à Torre de Belém > Local de encontro dos amigos e camaradas da Guiné, no dia 10 de Junho de 2006, das 11h às 12h.
Este local seria aquele em que habitualmente o pessoal da Guiné se reúne com maior concentração.
Para se identificarem uns aos outros e não haver a necessidade de andar a perguntar a uns e a outros, poder-se-ia idealizar um pequeno dístico com o nome, que cada um imprimiria e colocaria na sua lapela quando ali se encontrasse. Uma coisa do género disto:
Ao mesmo tempo era minha ideia poder entregar a todo o pessoal que por acaso ali se encontre e de que se venha a ter conhecimento de que são ex-combatentes da Guiné um recortezinho, com o endereço do nosso blogue. Já tenho isto feito e pela minha parte vou fazê-lo, já que ando sempre com alguns para distribuir, como se fosse um business card.
Anexo - Programa do 13º Encontro Nacional de Combatentes
3. Mensagem do Manuel Pereira (2 de Junho de 2006)
Caramba, não posso mesmo estar presente!
A ideia é óptima e também eu (sempre que possível) participo neste evento. Ficará para outra ocasião o encontro dos tertulianos.
Um abraço,
Manuel Oliveira Pereira
Ex-Fur Mil da CCAÇ 3547 (BCAÇ 3884)
(Guiné, Março de 1972 a Julho de 1974 – Contuboel, Bafatá, Bissau, SareBacar, Sonaco, Nova Lamego, Medina Mandinga, Galomaro e Dulombi)
Contactos> Manuel Pereira
Hospital CUF Infante Santo
Direcção de Produção
Tel. 21 3926 224
4. Mensagem do Torcato Mendonça (2 de Junho de 2006)
Luís Graça: A partir de 9 de Junho conto estar no Algarve, [aproveitando os] feriados – e uma semana faz bem… De qualquer modo não gosto de encontros deste género. Dos 15 da minha Companhia fui a dois.
Viva o(s) Blogue(s)
Um abraço,
Torcato Mendonça
Apartado 43,
6230-909 Fundão
(ex-Alf Mil da CART 2339, Mansambo, 1968/69):
5. Opinião do Sousa de Castro (2 de Junho de 2006):
É uma excelente ideia, mas nesse dia temos o nosso convívio em Vila Nova de Gaia, no ex-RAP 2. Foi neste Quartel que formámos Batalhão e daqui saímos em Dezembro de 1971 para a Guiné e por lá ficámos até Abril 1974, passando pelo Xime e por Mansambo. O programa do nosso convívio anual já aqui foi divulgado (1).
Saudações tertulianas.
A. Marques Lopes , Matosinhos
(Cor, DAF, ex-Alf Mil
CART 1690, Geba, 1967/68; CCAÇ 3, Barro, 1968)
7. Mensagem do José Martins (3 de JUnho de 2006)
Caro Luis!
Oportunidade imperdivel! Que os acompanhantes se identifiquem também.
Um abraço E ATÉ SÁBADO!
José Martins, Odivelas
(ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 5, Canjaude, 1968/70)
8. Mensagem do Fernando Franco (3 de Junho de 2006)
Amigo Luis:
Concordo plenamente com a ideia do Hugo e lá estarei, como já vem sendo hábito, desta vez não só pelo acto em si, mas também com todo o prazer em conhecer e trocar ideias com todos vós,com o respectivo dístico, pois acho que todos nós temos algo muito em comum: GUINÉ.
Um forte abraço.
Fernando Franco
BIG - Batalhão de Intendência, Bissau (1973 e 1974)
9. Texto do Albano Costa (6 de Junho de 2006)
Caro LG
Não tenho tido lá muito tempo para escrever ou comentar mas vou sempre dar uma espreitadela ao nosso blogue, e já agora só gostaria de saber se chegaste a receber umas fotos que enviei da ponte Balana actual, que tem pouco ou quase nada a ver do que era antigamente mas quem lá for dá bem para ver os vestigios do antigamente.
Era só para isso é que se por acaso não recebeste eu volto a enviar, é que eu acho que deve ter interesse para eles veres como é hoje a ponte Balana? (2)
Também em relação ao 10 de Junho mais uma vez não vai dar para lá ir neste dia com muita pena minha, sempre ia conhecer mais alguns tertuliano mas fica para uma próxima.
Um abraço, Albano, Guifões / Matosinhos
(ex-1º cabo, CCAÇ 4150, Guidaje, 1973/74)
__________
Notas de L.G.
(1) Vd. pots de 5 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P847: XXI Convívio da CART 3494 (1972/74), no Quartel Serra do Pilar, V.N. Gaia, em 10 de Junho
(2) Vd. pots de 6 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P850: O Álbum fotográfico do Albano Costa (2): a Ponte Balana (Gandembel)
Aqui fica o filme dos acontecimentos. Deixem-me dizer que o Hugo tem sido um dos mais entusiastas, entre todos nós, na divulgação do nosso blogue.
Eu por mim vou fazer um esforço por poder estar presente, no local indicado entre as 11 e as 12h, quanto mais não seja para conhecer e dar um abraço àqueles que puderem e quiserem aparecer.
Sei que não é o melhor dia nem o melhor local: muitos dos nossos amigos e camaradas são do Norte; outros costumam tirar férias nesta altura; e, por fim, 0 10 de Junho traz, para alguns de nós, más memórias, pelo seu aproveitamento político-partidário antes e depois do 25 de Abril de 1974... Mas enfim pelos amigos e camaradas da Guiné, faz-se tudo (ou quase tudo).
O meu telemóvel é o 93 281 08 72. E o meu nome é Luís Graça.
2. Mensagem do Hugo Moura Fereira:
Caro Luís.
Estava eu por aqui cogitando e lembrei-me... (para já estou satisfeito porque a caixa dos pirolitos ainda funciona, não quer dizer é que saia coisa de jeito)...
Então pus-me a escrever o que estava a pensar e a fazer uns bonecos. Abre o anexo s.f.f.
Queres fazer o favor de dar uma voltinha e dizer de tua opinião.
Um abraço.
(Ex-Alf Mil, Cufar - CCAÇ 1621, Bedanda - CCAÇ 6, Novembro de 1966 e Novembro de 1968)
O 10 de Junho…
Seria giro que os Tertulianos que, por acaso se desloquem ao Forte do Bom Sucesso, em Lisboa se encontrassem. Afinal este local da Net até se está a tornar numa grande camarata mista, que integra civis e militares.
Como eu vou sempre todos os anos, com raras excepções, teria muito gosto em conhecer aqueles que comungam nos princípios da Tertúlia, que o Blogue-fora-nada integra.
Se estiveres de acordo e achares que esta ideia interessante, deixo-te aqui a ideia de promover através do Blogue-fora-nada esse encontro, pelo menos daqueles que residem por estes lados, de Lisboa.
Se achares a ideia exequível e interessante deixo então aqui a ideia do local de concentração através da foto que anexo:
Este local seria aquele em que habitualmente o pessoal da Guiné se reúne com maior concentração.
Para se identificarem uns aos outros e não haver a necessidade de andar a perguntar a uns e a outros, poder-se-ia idealizar um pequeno dístico com o nome, que cada um imprimiria e colocaria na sua lapela quando ali se encontrasse. Uma coisa do género disto:
Ao mesmo tempo era minha ideia poder entregar a todo o pessoal que por acaso ali se encontre e de que se venha a ter conhecimento de que são ex-combatentes da Guiné um recortezinho, com o endereço do nosso blogue. Já tenho isto feito e pela minha parte vou fazê-lo, já que ando sempre com alguns para distribuir, como se fosse um business card.
Anexo - Programa do 13º Encontro Nacional de Combatentes
3. Mensagem do Manuel Pereira (2 de Junho de 2006)
Caramba, não posso mesmo estar presente!
A ideia é óptima e também eu (sempre que possível) participo neste evento. Ficará para outra ocasião o encontro dos tertulianos.
Um abraço,
Manuel Oliveira Pereira
Ex-Fur Mil da CCAÇ 3547 (BCAÇ 3884)
(Guiné, Março de 1972 a Julho de 1974 – Contuboel, Bafatá, Bissau, SareBacar, Sonaco, Nova Lamego, Medina Mandinga, Galomaro e Dulombi)
Contactos> Manuel Pereira
Hospital CUF Infante Santo
Direcção de Produção
Tel. 21 3926 224
4. Mensagem do Torcato Mendonça (2 de Junho de 2006)
Luís Graça: A partir de 9 de Junho conto estar no Algarve, [aproveitando os] feriados – e uma semana faz bem… De qualquer modo não gosto de encontros deste género. Dos 15 da minha Companhia fui a dois.
Viva o(s) Blogue(s)
Um abraço,
Torcato Mendonça
Apartado 43,
6230-909 Fundão
(ex-Alf Mil da CART 2339, Mansambo, 1968/69):
5. Opinião do Sousa de Castro (2 de Junho de 2006):
É uma excelente ideia, mas nesse dia temos o nosso convívio em Vila Nova de Gaia, no ex-RAP 2. Foi neste Quartel que formámos Batalhão e daqui saímos em Dezembro de 1971 para a Guiné e por lá ficámos até Abril 1974, passando pelo Xime e por Mansambo. O programa do nosso convívio anual já aqui foi divulgado (1).
Saudações tertulianas.
António Manuel Sousa de Castro, Viana do Castelo
(Ex-1º Cabo TRMS (1971/1974)
CART 3494 (Guiné - Xime e Mansambo)
6. Comentário do A. Marques Lopes (2 de Junho de 2006):
Acho a ideia interessante, até porque o Forte do Bom Sucesso foi a primeira sede da Associação 25 de Abril e é, também por isso, uma referência. Lá estaria, se me fosse possível. Mas não vai ser, porque na véspera, dia 9 de Junho, ao fim da tarde e à noite, terei de estar no Salão Nobre dos Paços do Concelho da Câmara Municipal do Porto numa "Sessão Solene de Boas Vindas a Sua Excelência o Presidente da República, Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva", em representação da Associação 25 de Abril. Coube-me a mim... Não dá para seguir para Lisboa.
Mas acho boa ideia. Abraços
CART 3494 (Guiné - Xime e Mansambo)
6. Comentário do A. Marques Lopes (2 de Junho de 2006):
Acho a ideia interessante, até porque o Forte do Bom Sucesso foi a primeira sede da Associação 25 de Abril e é, também por isso, uma referência. Lá estaria, se me fosse possível. Mas não vai ser, porque na véspera, dia 9 de Junho, ao fim da tarde e à noite, terei de estar no Salão Nobre dos Paços do Concelho da Câmara Municipal do Porto numa "Sessão Solene de Boas Vindas a Sua Excelência o Presidente da República, Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva", em representação da Associação 25 de Abril. Coube-me a mim... Não dá para seguir para Lisboa.
Mas acho boa ideia. Abraços
A. Marques Lopes , Matosinhos
(Cor, DAF, ex-Alf Mil
CART 1690, Geba, 1967/68; CCAÇ 3, Barro, 1968)
7. Mensagem do José Martins (3 de JUnho de 2006)
Caro Luis!
Oportunidade imperdivel! Que os acompanhantes se identifiquem também.
Um abraço E ATÉ SÁBADO!
(ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 5, Canjaude, 1968/70)
8. Mensagem do Fernando Franco (3 de Junho de 2006)
Amigo Luis:
Concordo plenamente com a ideia do Hugo e lá estarei, como já vem sendo hábito, desta vez não só pelo acto em si, mas também com todo o prazer em conhecer e trocar ideias com todos vós,com o respectivo dístico, pois acho que todos nós temos algo muito em comum: GUINÉ.
Um forte abraço.
Fernando Franco
BIG - Batalhão de Intendência, Bissau (1973 e 1974)
9. Texto do Albano Costa (6 de Junho de 2006)
Caro LG
Não tenho tido lá muito tempo para escrever ou comentar mas vou sempre dar uma espreitadela ao nosso blogue, e já agora só gostaria de saber se chegaste a receber umas fotos que enviei da ponte Balana actual, que tem pouco ou quase nada a ver do que era antigamente mas quem lá for dá bem para ver os vestigios do antigamente.
Era só para isso é que se por acaso não recebeste eu volto a enviar, é que eu acho que deve ter interesse para eles veres como é hoje a ponte Balana? (2)
Também em relação ao 10 de Junho mais uma vez não vai dar para lá ir neste dia com muita pena minha, sempre ia conhecer mais alguns tertuliano mas fica para uma próxima.
(ex-1º cabo, CCAÇ 4150, Guidaje, 1973/74)
__________
Notas de L.G.
(1) Vd. pots de 5 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P847: XXI Convívio da CART 3494 (1972/74), no Quartel Serra do Pilar, V.N. Gaia, em 10 de Junho
(2) Vd. pots de 6 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P850: O Álbum fotográfico do Albano Costa (2): a Ponte Balana (Gandembel)
quarta-feira, 7 de junho de 2006
Guiné 63/74 - P855: Do Porto a Bissau (26): leitão à moda de Jugudul (A. Marques Lopes)
Guiné-Bissau > Região do Oio (Mansoa) > Jugudul > Abril de 2006 > O antigo aquartalemento das NT, em Jugudul, cujas instalações foram cedidas, a seguir à independência, ao Manuel Simões, guineense branco de Bolama, para a sua fábrica de aguardente de cana.
Fotos: © A. Marques Lopes (2006)
Foto: © Inês (2006)
Foto: © Inês (2006)
Guiné-Bissau > Região do Oio (Mansoa) > Jugudul > Abril de 2006 > O leitão da região do Oio, feito à moda de Jugudul, em casa do Mauerl Simões, não ficava atrás, bem pelo contrário, do letão à moda da Bairrada. Foi comer e chorar por mais... (LG)
Foto: © A. Marques Lopes (2006)
Texto de A. Marques Lopes, com data de 30 de Maio de 2006:
Desculpem a enchente, mas é que hoje tive tempo... que já se acabou. Mas vou acabar com uma coisa alegre: uma grande almoçarada (um leitãozinho!!) que o nosso amigo Manuel Simões nos ofereceu nas instalações na sua destilaria de aguardente de cana.
Ele é o homem grande branco que eu indico nas fotografias tiradas pela Inês. É um guineense branco, nascido em Bolama, companheiro do Pepito e do Lúcio Soares, também nascidos em Bolama. Foi, mais novo, jogador de futebol e chegou a dirigir o clube Balantas.
Dedica-se à aguardente de cana, mas tem também uma ponta [herdade] onde explora caju. Após a independência conseguiu que lhe cedessem o aquartelamento de Jugudul para a sua fábrica de aguardente, deixando apenas uma parte destas instalações para ser montado um posto da polícia de viação lá do sítio... que ainda não existe.
É um amigo sempre de braços abertos, acolhedor, como vêem. Vale a pena visitá-lo.
Abraços
A. Marques Lopes
Guiné 63/74 - P854: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (10): A retirada de Madina do Boé
X parte do testemunho do Paulo Raposo (ex-Alf Mil Inf, com a especialidade de Minas e Armadilhas, da CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852 > Guiné, Zona Leste, Sector L1, Bambadinca, 1968/70 > Galomaro e Dulombi).
Extractos de: Raposo, P. E. L. (1997) - O meu testemunho e visão da guerra de África.[Montemor-o-Novo, Herdade da Ameira]. Documento policopiado. Dezembro de 1997. 27-31 (1).
Operação de retirada da guarnição de Madina do Boé (2)
Madina do Boé ficava junto à fronteira da Guiné-Conacri. A companhia que lá estava [ CCAÇ 1790]era flagelada quase todos os dias. Como estavam distantes, a sua capacidade ofensiva tinha sido praticamente anulada pelo IN.
O Comando-Chefe resolveu retirar aquela guarnição. Para a retirada, foi montada uma operação de grande envergadura [Op Mabecos Bravios] . Mais uma vez a nossa companhia [ CCAÇ 2405] foi chamada para tomar parte nessa operação, comandada superiormente pelo então Ten Cor Hélio Felgas [, comandante do Agrupamento 2947, de Bafatá].
Todas as companhias que tomavam parte nesta operação reuniram-se no quartel de Nova Lamego [, a meio caminho, entre Baftá e a fronteira leste, com a Guiné-Conacri]. Lá chegámos todos por fim, jantámos uma ração de combate e dormimos sabe Deus como. Estávamos em Fevereiro de 1969.
Como a operação tinha 10 dias de duração, quando passámos por Bafatá a caminho de Nova Lamego, deitei no correio uma aerograma para os meus pais, para não ficarem preocupados com a ausência de notícias durante aquele período. O aerograma era muito singelo e a minha mãe desconfiou de algo.
Desde que eu embarcara os meus pais escreviam-me todos os dias, além de outros amigos. Era coisa que melhor nos sabia, receber notícias de casa, quando estávamos a sofrer toda aquela adversidade.
No dia seguinte formou-se a grande coluna e largámos para Madina do Boé. Mais uma vez a Força Aérea tinha deslocado muitos meios para protecção. Estava sempre no ar a acompanhar a Coluna dois T6, fora os helis que andavam no seu vai-vem.
Chegados ao Cheche, junto ao Rio Corubal, encontrámo-nos com um destacamento a nível de grupo de combate, comandado pelo Alferes Dinis.
Para a travessia do rio havia uma jangada, que levava um carro pesado de cada vez. Nós fomos os primeiros a passar para montar a segurança no outro lado da margem. Por ali passámos a noite enquanto os carros da coluna iam atravessando o rio. No dia seguinte fizemos a pé o percurso até Madina do Boé. Foram 40 kms.
Aquela estrada parecia um cemitério de Unimog e de GMC. Até Madina havia para cima de 15 carros destruídos por efeito das minas. Geralmente o carro da frente, nas colunas, era chamado o arrebenta- minas. Ia cheio de sacos de areia para absorver a onda de choque da explosão da mina. O condutor, um voluntário, ia por sua vez, sentado em cima de um saco de areia. O problema às vezes era a falta de protecção das pernas.
Logo de manhã um T6, que nos sobrevoava, avisa-nos que havia IN à frente e portanto que devíamos ter cuidado. Por aqueles lados a vegetação era pouco densa e não havia população.
Em determinada altura sofremos um ataque de abelhas do mato. Foi terrível! O Alferes Rijo, [da CCAÇ 2405,] foi o mais massacrado. As abelhas não o largavam, ele bem pedia ajuda, mas ninguém se aventurava. Coitado, mal recomposto lá continuou. Bem podia ter pedido uma evacuação, mas não o fez.
À medida que o dia ia avançando, o cansaço, a fome e a sede iam dando cabo de nós. A noite começou a cair, e tal como é costume em África, caiu depressa. Foi nesta altura que nos começámos a desagregar, uns paravam outros não, e foi assim que começámos a entrar no quartel de Madina do Boé. Entrávamos em pequenos grupos. Se o inimigo andasse por ali, tinha- nos apanhado à mão.
O Capitão José Aparício, que comandava o aquartelamento, foi-nos espalhando pelos abrigos, recomendando para só nos deslocarmos entre abrigos pelas valas que por lá havia.
Como a cozinha já tinha sido desmantelada, deram-nos apenas uma sopa que nos soube muito bem. Os abrigos, onde dormimos no chão, eram muito abafados, devido a terem umas aberturas muito pequenas. Mais uma noite de primeira.
No dia seguinte e com a luz do dia, é que nos apercebemos dos pormenores daquele aquartelamento. Eles viviam com toupeiras. As partes laterais dos abrigos tinham uns troncos de palmeiras deitados para se protegerem quando respondiam ao fogo em caso de ataque.
Estes troncos estavam todos queimados por cima. Nos ataques mais prolongados que tinham tido, e que foram muitos, as armas faziam tanto fogo e ficavam tão quentes que queimavam os troncos de palmeira.
Ainda rebentados da véspera, não nos deram descanso e lá nos mandaram ainda mais para Sul, precisamente para junto da fronteira, para fazer protecção avançada. Ali passámos 24 horas, tempo necessário para as viaturas chegarem e serem carregadas com tudo o que a Companhia tinha.
Estas 24 horas foram passadas no maior silêncio pois o inimigo andava por perto. No nosso rádio bem o ouvíamos, em francês, a incitarem-se para nos atacarem.
No exterior e à volta de Madina do Boé, havia vários abrigos feitos e utilizados pelo inimigo para estarem mais protegidos quando lançavam qualquer ataque ao aquartelamento de Madina.
Por fim veio o regresso. De madrugada deram-nos ordem para fechar a coluna que já estava a serpentear a estrada. Se a nossa companhia fechava a coluna, o meu grupo de combate foi o último. Foi assim que a posição de Madina do Boé foi abandonada.
A nossa progressão até ao Rio Corubal, os mesmos 40 kms, foi novamente penosa, embora não tão perigosa uma vez que íamos todos em bloco. Recordo-me que a coluna à vinda tinha levantado várias minas e, curiosamente, no regresso levantaram-se mais umas tantas, lá colocadas entretanto pelo inimigo.
Estacionámos na margem sul do rio Corubal, nós e a companhia de Madina [CCAÇ 1790], durante toda a noite para protecção. Durante a noite a jangada foi transportando para a outra margem todas as viaturas. Já de madrugada [ do dia 6 de Fevereiro de 1969] e passados todos os carros, foi a nossa vez de atravessar o rio. Como tínhamos por hábito rodar as nossas posições assim que parávamos, a nossa companhia passou para a frente da de Madina e o meu grupo de combate., por sua vez, passou para a frente da minha companhia. Com o meu grupo de combate na frente, a companhia dirigiu-se para a jangada para fazer a travessia. A jangada já estava praticamente cheia e só coube o meu grupo. Para trás ficaram dois grupos da minha companhia [CCAÇ 2405]e toda a companhia de Madina [CCAÇ 1790].
Durante a travessia aproveitámos para nos lavarmos um pouco e encher o cantil de água. Uma vez terminada a travessia a jangada regressou para ir buscar o resto do pessoal. Como ninguém quiz ficar para trás, entre os que estavam do outro lado do rio, entraram juntos na jangada, para a última travessia.
Aqui facilitou-se. Eu estava do outro lado e assisti a tudo. A jangada ainda a poucos metros da margem, adornou para um dos lados (nascente) e atirou à água vários rapazes. Por falta de peso de um dos lados, a jangada adornou de repente para o outro lado, atirando outros tantos rapazes à água.
Depois disto a jangada ficou meio submersa. A meu lado estava um Major que deitou as mãos à cabeça e disse: - Deus meu!.
Como não vi ninguém a gritar ou a esbracejar, pensei para mim que talvez se tivessem afogado um ou dois rapazes. A jangada que estava de reserva, foi por duas vezes buscar o pessoal. No Cheche estavam no chão dois helis que levantaram vôo, nada podiam fazer ou ajudar.
Uma vez formadas as companhias, é que demos conta da extensão da tragédia: 45 homens afogados de ambas as companhias. Com as botas, o peso da cartucheira, das granadas e ainda a responsabilidade de não perder as armas, aqueles rapazes à medida que iam entrando na água, iam logo para o fundo, agarrando-se uns aos outros.
Pelo menos um dos rapazes da nossa companhia estava em França a trabalhar e regressara a Portugal só para cumprir o seu dever. Ali ficou.
A minha mãe assim que soube da notícia associou com o meu aerograma e ficou muito aflita. Telefonei-lhe de Nova Lamego para a descansar.
Acabada esta operação, quizeram responsabilizar pelo sucedido o Capitão Aparício e o Alferes Dinis. Quem lá estivesse, tinha feito o mesmo. Só quem está metido nelas é que sabe da sua vida.
Acho que as ambições do Brigadeiro Spínola aqui funcionaram em pleno. Ele não quis ficar com aquela nódoa na sua folha de serviço, pois já devia aspirar a voos mais altos, com Caetano no poder e Tomás no fim de um mandato.
Deixo aqui um pormenor que dá bem a ideia das voltas que o mundo dá. Na sequência do 11 de Março de 1975, Spínola segue para o Brasil, exilado. Com o General Eanes na Presidência é combinado o seu regresso a Portugal.
Quem é que o vai buscar ao aeroporto? O Ten Cor Aparício, Comandante Distrital da PSP de Lisboa. Acasos do Destino.
Regressámos à nossa rotina das Tabancas em Auto Defesa.
__________
Notas de L.G.
(1) Vd. último post > 22 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXVIII: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (9): Fome em Campatá e Natal em Bafatá
(...) "Foi em Campata que passámos o primeiro Natal na Guiné. O meu irmão, a pedido da minha mãe foi passar o Natal comigo. De avião em avião, chegou por fim a Bafatá, aonde solicitou autorização ao comando para eu passar aqueles dias com ele em Bafatá.
"O Ten Cor Banazol, que comandava o Batalhão que ali estava sediado, fez deslocar uma auto metralhadora Panhard para me ir buscar. Alugámos um quarto e, entre o cinema, os passeios e a Messe, assim passámos o Natal" (...).
(2) Sobre Madina do Boé temos já mais de três dezenas de referências no nosso blogue; e sobre Cheche existem 25 referências. Eis alguns dos principais posts sober a retirada da guarnição de Madina do Boé e do desastre de Cheche no Rio Corubal:
17 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIX: Antologia (7): Os bravos de Madina do Boé (CCAÇ 1790)
(...) "Apresentação do livro de Gustavo Pimenta, sairómeM - Guerra Colonial (Palimage Editores, 1999), no Porto, Cooperativa Árvore, em 10 de Dezembro de 1999. Autor do texto: José Manuel Saraiva, jornalista do Expresso" (...)
2 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXIII: O desastre do Cheche, na retirada de Madina ...
(...) "Este documento, que me chegou às mãos através do Humberto Reis, relata aa dramática operação em que participou a CCAÇ 2405, sedeada em Galomaro, e pertencente ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), operação essa que tinha em vista operação essa que tinha em vista retirar as NT da posição insustentável de Madina do Boé, cercada pelo PAIGC" (...)
8 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXX: A retirada de Madina do Boé (José Martins)
(...) "O mês de Fevereiro de 1969 tivera inicio há poucos dias quando passou, no aquartelamento de Canjadude, uma coluna cuja missão era retirar a Companhia de Caçadores nº 1790 do seu destacamento de Madina do Boé. Paralelamente a guarnição do posto do Cheche, pertencente à Companhia de Caçadores nº 5, também retiraria e juntar-se-ia à nossa companhia em Canjadude" (...)
8 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXXI: Comentário de Afonso Sousa ao texto sobre a retirada de Madina do Boé
(...) "Emociona este seu testemunho. Eu só faço uma pequena ideia do sofrimento de todos vocês, naquele momento trágico, nas horas e nos dias seguintes - em terras de solidão, em paragens dos confins da Guiné" (...).
12 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXVI: O desastre do Cheche: a verdade a que os mortos e os vivos têm direito (Rui Felício, CCAÇ 2405)
(...) "Em resumo e concluindo:
"(i) O desastre do Cheche ficou a dever-se, em minha opinião, ao excesso de peso entrado na jangada; (ii) E ela é corroborada por todos aqueles que, como eu, viajavam na jangada e que em conversas a seguir ao desastre manifestaram a mesma opinião;(iii) Note-se que a mesma jangada tinha já feito dezenas de travessias sob as ordens directas do Alf Diniz sem nunca se ter detectado qualquer problema;(iv) Esse problema surgiu de forma trágica na última travessia, ou seja, naquela em que o responsável Alf Diniz não pôde efectivamente proceder segundo o que estava estabelecido, deixando entrar na jangada o dobro da sua capacidade, por ordem do 2º Comandante da Operação a que, pela natureza da hierarquia militar, não poderia opor-se;(v) Mas fê-lo, e disso dei testemunho no âmbito do inquérito que se seguiu, advertindo previamente o seu superior hierárquico para o facto de estar a infringir as determinações que tinha sobre a forma de fazer a travessia do rio e da lotação definida para a embarcação;(vi) E estou convencido que a rapidez do desaparecimento das vítimas nas águas calmas, escuras e profundas do Corubal, se ficou a dever ao facto de todos transportarem consigo pesado equipamento de guerra que lhes tolheu os movimentos e os conduziu para o fundo do rio, de forma tão rápida, com a agravante de que a maior parte deles não sabia nadar" (...)
13 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXIX: A verdade sobre o desastre de Cheche (Paulo Raposo)
(...) "Alf Raposo da CCAÇ 2405, também assisti ao desastre do Corubal, tinha passado com o meu grupo de combate na travessia anterior. Estavamos de regresso da grande operação de Madina do Boé. O meu muito amigo Alf Felício estava na jangada acidentada. O testemunho dele é verdadeiro" (...).
Extractos de: Raposo, P. E. L. (1997) - O meu testemunho e visão da guerra de África.[Montemor-o-Novo, Herdade da Ameira]. Documento policopiado. Dezembro de 1997. 27-31 (1).
Operação de retirada da guarnição de Madina do Boé (2)
Madina do Boé ficava junto à fronteira da Guiné-Conacri. A companhia que lá estava [ CCAÇ 1790]era flagelada quase todos os dias. Como estavam distantes, a sua capacidade ofensiva tinha sido praticamente anulada pelo IN.
O Comando-Chefe resolveu retirar aquela guarnição. Para a retirada, foi montada uma operação de grande envergadura [Op Mabecos Bravios] . Mais uma vez a nossa companhia [ CCAÇ 2405] foi chamada para tomar parte nessa operação, comandada superiormente pelo então Ten Cor Hélio Felgas [, comandante do Agrupamento 2947, de Bafatá].
Todas as companhias que tomavam parte nesta operação reuniram-se no quartel de Nova Lamego [, a meio caminho, entre Baftá e a fronteira leste, com a Guiné-Conacri]. Lá chegámos todos por fim, jantámos uma ração de combate e dormimos sabe Deus como. Estávamos em Fevereiro de 1969.
Como a operação tinha 10 dias de duração, quando passámos por Bafatá a caminho de Nova Lamego, deitei no correio uma aerograma para os meus pais, para não ficarem preocupados com a ausência de notícias durante aquele período. O aerograma era muito singelo e a minha mãe desconfiou de algo.
Desde que eu embarcara os meus pais escreviam-me todos os dias, além de outros amigos. Era coisa que melhor nos sabia, receber notícias de casa, quando estávamos a sofrer toda aquela adversidade.
No dia seguinte formou-se a grande coluna e largámos para Madina do Boé. Mais uma vez a Força Aérea tinha deslocado muitos meios para protecção. Estava sempre no ar a acompanhar a Coluna dois T6, fora os helis que andavam no seu vai-vem.
Chegados ao Cheche, junto ao Rio Corubal, encontrámo-nos com um destacamento a nível de grupo de combate, comandado pelo Alferes Dinis.
Para a travessia do rio havia uma jangada, que levava um carro pesado de cada vez. Nós fomos os primeiros a passar para montar a segurança no outro lado da margem. Por ali passámos a noite enquanto os carros da coluna iam atravessando o rio. No dia seguinte fizemos a pé o percurso até Madina do Boé. Foram 40 kms.
Aquela estrada parecia um cemitério de Unimog e de GMC. Até Madina havia para cima de 15 carros destruídos por efeito das minas. Geralmente o carro da frente, nas colunas, era chamado o arrebenta- minas. Ia cheio de sacos de areia para absorver a onda de choque da explosão da mina. O condutor, um voluntário, ia por sua vez, sentado em cima de um saco de areia. O problema às vezes era a falta de protecção das pernas.
Logo de manhã um T6, que nos sobrevoava, avisa-nos que havia IN à frente e portanto que devíamos ter cuidado. Por aqueles lados a vegetação era pouco densa e não havia população.
Em determinada altura sofremos um ataque de abelhas do mato. Foi terrível! O Alferes Rijo, [da CCAÇ 2405,] foi o mais massacrado. As abelhas não o largavam, ele bem pedia ajuda, mas ninguém se aventurava. Coitado, mal recomposto lá continuou. Bem podia ter pedido uma evacuação, mas não o fez.
À medida que o dia ia avançando, o cansaço, a fome e a sede iam dando cabo de nós. A noite começou a cair, e tal como é costume em África, caiu depressa. Foi nesta altura que nos começámos a desagregar, uns paravam outros não, e foi assim que começámos a entrar no quartel de Madina do Boé. Entrávamos em pequenos grupos. Se o inimigo andasse por ali, tinha- nos apanhado à mão.
O Capitão José Aparício, que comandava o aquartelamento, foi-nos espalhando pelos abrigos, recomendando para só nos deslocarmos entre abrigos pelas valas que por lá havia.
Como a cozinha já tinha sido desmantelada, deram-nos apenas uma sopa que nos soube muito bem. Os abrigos, onde dormimos no chão, eram muito abafados, devido a terem umas aberturas muito pequenas. Mais uma noite de primeira.
No dia seguinte e com a luz do dia, é que nos apercebemos dos pormenores daquele aquartelamento. Eles viviam com toupeiras. As partes laterais dos abrigos tinham uns troncos de palmeiras deitados para se protegerem quando respondiam ao fogo em caso de ataque.
Estes troncos estavam todos queimados por cima. Nos ataques mais prolongados que tinham tido, e que foram muitos, as armas faziam tanto fogo e ficavam tão quentes que queimavam os troncos de palmeira.
Ainda rebentados da véspera, não nos deram descanso e lá nos mandaram ainda mais para Sul, precisamente para junto da fronteira, para fazer protecção avançada. Ali passámos 24 horas, tempo necessário para as viaturas chegarem e serem carregadas com tudo o que a Companhia tinha.
Estas 24 horas foram passadas no maior silêncio pois o inimigo andava por perto. No nosso rádio bem o ouvíamos, em francês, a incitarem-se para nos atacarem.
No exterior e à volta de Madina do Boé, havia vários abrigos feitos e utilizados pelo inimigo para estarem mais protegidos quando lançavam qualquer ataque ao aquartelamento de Madina.
Por fim veio o regresso. De madrugada deram-nos ordem para fechar a coluna que já estava a serpentear a estrada. Se a nossa companhia fechava a coluna, o meu grupo de combate foi o último. Foi assim que a posição de Madina do Boé foi abandonada.
A nossa progressão até ao Rio Corubal, os mesmos 40 kms, foi novamente penosa, embora não tão perigosa uma vez que íamos todos em bloco. Recordo-me que a coluna à vinda tinha levantado várias minas e, curiosamente, no regresso levantaram-se mais umas tantas, lá colocadas entretanto pelo inimigo.
Estacionámos na margem sul do rio Corubal, nós e a companhia de Madina [CCAÇ 1790], durante toda a noite para protecção. Durante a noite a jangada foi transportando para a outra margem todas as viaturas. Já de madrugada [ do dia 6 de Fevereiro de 1969] e passados todos os carros, foi a nossa vez de atravessar o rio. Como tínhamos por hábito rodar as nossas posições assim que parávamos, a nossa companhia passou para a frente da de Madina e o meu grupo de combate., por sua vez, passou para a frente da minha companhia. Com o meu grupo de combate na frente, a companhia dirigiu-se para a jangada para fazer a travessia. A jangada já estava praticamente cheia e só coube o meu grupo. Para trás ficaram dois grupos da minha companhia [CCAÇ 2405]e toda a companhia de Madina [CCAÇ 1790].
Durante a travessia aproveitámos para nos lavarmos um pouco e encher o cantil de água. Uma vez terminada a travessia a jangada regressou para ir buscar o resto do pessoal. Como ninguém quiz ficar para trás, entre os que estavam do outro lado do rio, entraram juntos na jangada, para a última travessia.
Aqui facilitou-se. Eu estava do outro lado e assisti a tudo. A jangada ainda a poucos metros da margem, adornou para um dos lados (nascente) e atirou à água vários rapazes. Por falta de peso de um dos lados, a jangada adornou de repente para o outro lado, atirando outros tantos rapazes à água.
Depois disto a jangada ficou meio submersa. A meu lado estava um Major que deitou as mãos à cabeça e disse: - Deus meu!.
Como não vi ninguém a gritar ou a esbracejar, pensei para mim que talvez se tivessem afogado um ou dois rapazes. A jangada que estava de reserva, foi por duas vezes buscar o pessoal. No Cheche estavam no chão dois helis que levantaram vôo, nada podiam fazer ou ajudar.
Uma vez formadas as companhias, é que demos conta da extensão da tragédia: 45 homens afogados de ambas as companhias. Com as botas, o peso da cartucheira, das granadas e ainda a responsabilidade de não perder as armas, aqueles rapazes à medida que iam entrando na água, iam logo para o fundo, agarrando-se uns aos outros.
Pelo menos um dos rapazes da nossa companhia estava em França a trabalhar e regressara a Portugal só para cumprir o seu dever. Ali ficou.
A minha mãe assim que soube da notícia associou com o meu aerograma e ficou muito aflita. Telefonei-lhe de Nova Lamego para a descansar.
Acabada esta operação, quizeram responsabilizar pelo sucedido o Capitão Aparício e o Alferes Dinis. Quem lá estivesse, tinha feito o mesmo. Só quem está metido nelas é que sabe da sua vida.
Acho que as ambições do Brigadeiro Spínola aqui funcionaram em pleno. Ele não quis ficar com aquela nódoa na sua folha de serviço, pois já devia aspirar a voos mais altos, com Caetano no poder e Tomás no fim de um mandato.
Deixo aqui um pormenor que dá bem a ideia das voltas que o mundo dá. Na sequência do 11 de Março de 1975, Spínola segue para o Brasil, exilado. Com o General Eanes na Presidência é combinado o seu regresso a Portugal.
Quem é que o vai buscar ao aeroporto? O Ten Cor Aparício, Comandante Distrital da PSP de Lisboa. Acasos do Destino.
Regressámos à nossa rotina das Tabancas em Auto Defesa.
__________
Notas de L.G.
(1) Vd. último post > 22 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXVIII: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (9): Fome em Campatá e Natal em Bafatá
(...) "Foi em Campata que passámos o primeiro Natal na Guiné. O meu irmão, a pedido da minha mãe foi passar o Natal comigo. De avião em avião, chegou por fim a Bafatá, aonde solicitou autorização ao comando para eu passar aqueles dias com ele em Bafatá.
"O Ten Cor Banazol, que comandava o Batalhão que ali estava sediado, fez deslocar uma auto metralhadora Panhard para me ir buscar. Alugámos um quarto e, entre o cinema, os passeios e a Messe, assim passámos o Natal" (...).
(2) Sobre Madina do Boé temos já mais de três dezenas de referências no nosso blogue; e sobre Cheche existem 25 referências. Eis alguns dos principais posts sober a retirada da guarnição de Madina do Boé e do desastre de Cheche no Rio Corubal:
17 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIX: Antologia (7): Os bravos de Madina do Boé (CCAÇ 1790)
(...) "Apresentação do livro de Gustavo Pimenta, sairómeM - Guerra Colonial (Palimage Editores, 1999), no Porto, Cooperativa Árvore, em 10 de Dezembro de 1999. Autor do texto: José Manuel Saraiva, jornalista do Expresso" (...)
2 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXIII: O desastre do Cheche, na retirada de Madina ...
(...) "Este documento, que me chegou às mãos através do Humberto Reis, relata aa dramática operação em que participou a CCAÇ 2405, sedeada em Galomaro, e pertencente ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), operação essa que tinha em vista operação essa que tinha em vista retirar as NT da posição insustentável de Madina do Boé, cercada pelo PAIGC" (...)
8 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXX: A retirada de Madina do Boé (José Martins)
(...) "O mês de Fevereiro de 1969 tivera inicio há poucos dias quando passou, no aquartelamento de Canjadude, uma coluna cuja missão era retirar a Companhia de Caçadores nº 1790 do seu destacamento de Madina do Boé. Paralelamente a guarnição do posto do Cheche, pertencente à Companhia de Caçadores nº 5, também retiraria e juntar-se-ia à nossa companhia em Canjadude" (...)
8 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXXI: Comentário de Afonso Sousa ao texto sobre a retirada de Madina do Boé
(...) "Emociona este seu testemunho. Eu só faço uma pequena ideia do sofrimento de todos vocês, naquele momento trágico, nas horas e nos dias seguintes - em terras de solidão, em paragens dos confins da Guiné" (...).
12 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXVI: O desastre do Cheche: a verdade a que os mortos e os vivos têm direito (Rui Felício, CCAÇ 2405)
(...) "Em resumo e concluindo:
"(i) O desastre do Cheche ficou a dever-se, em minha opinião, ao excesso de peso entrado na jangada; (ii) E ela é corroborada por todos aqueles que, como eu, viajavam na jangada e que em conversas a seguir ao desastre manifestaram a mesma opinião;(iii) Note-se que a mesma jangada tinha já feito dezenas de travessias sob as ordens directas do Alf Diniz sem nunca se ter detectado qualquer problema;(iv) Esse problema surgiu de forma trágica na última travessia, ou seja, naquela em que o responsável Alf Diniz não pôde efectivamente proceder segundo o que estava estabelecido, deixando entrar na jangada o dobro da sua capacidade, por ordem do 2º Comandante da Operação a que, pela natureza da hierarquia militar, não poderia opor-se;(v) Mas fê-lo, e disso dei testemunho no âmbito do inquérito que se seguiu, advertindo previamente o seu superior hierárquico para o facto de estar a infringir as determinações que tinha sobre a forma de fazer a travessia do rio e da lotação definida para a embarcação;(vi) E estou convencido que a rapidez do desaparecimento das vítimas nas águas calmas, escuras e profundas do Corubal, se ficou a dever ao facto de todos transportarem consigo pesado equipamento de guerra que lhes tolheu os movimentos e os conduziu para o fundo do rio, de forma tão rápida, com a agravante de que a maior parte deles não sabia nadar" (...)
13 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXIX: A verdade sobre o desastre de Cheche (Paulo Raposo)
(...) "Alf Raposo da CCAÇ 2405, também assisti ao desastre do Corubal, tinha passado com o meu grupo de combate na travessia anterior. Estavamos de regresso da grande operação de Madina do Boé. O meu muito amigo Alf Felício estava na jangada acidentada. O testemunho dele é verdadeiro" (...).
terça-feira, 6 de junho de 2006
Guiné 63/74 - P853: CCAÇ 2571 (Pirada, 1969/71) (Orlando Figueiredo)
Sr. Luís Graça:
Obrigado por esta oportunidade e pela atenção dispensada!
Encontrei casualmente o blogue sobre a Guiné há algumas semanas e, desde logo, tive vontade de me inscrever para fazer parte da lista, que vai crescendo. E concluí que não há outro modo de contacto senão por mail. Pelo menos não encontrei espaço onde pudesse escrever, a não ser em termos de comentário, cujo espaço é reduzido. A isto acresce o facto de ter lido que toda a correspondência passa por si.
Chamo-me Orlando Figueiredo, natural de Alvarenga, Arouca. Pertenci à companhia madeirense, independente, [CCAÇ] 2571 (Águias Negras), que iniciou a comissão no Cacheu em Agosto de 1969, no quartel junto ao cais (havia outro na Arribada, mais acima). Uns tempos depois rumámos a Pirada onde permanecemos até Março de 1971. Os restantes 3 meses ou quase, foram passados no AGRBIS em Bissau, mais conhecido por Adidos.
Há muitas histórias para contar, especialmente de Pirada. Hoje fico-me só pela minha apresentação e pelo envio das melhores saudações a todos quantos aqui figuram e aos demais que virão.
Vivamos todos!
Orlando
Comentário de L.G.:
1. Orlando, deixa o senhor na rua e entra na nossa caserna.
2. És bem vindo, para mais vindo de Arouca e de Pirada!
3. As regras são simples e já deves tê-las lido no sítio da tertúlia.
4. Confirmo que toda a correspondência passa cá, por enquanto, pelo meu SPM.
5. Manda-me uma ciber-aerograma com duas fotos (digitalizadas, de preferência, em formato.jpg...)
6. Conta-nos lá as tuas estórias de Pirada. Em troca oferecemos-te o mapa da região, além da nossa amizade e camaradagem.
7. Camaradas que estiveram em (ou passaram por) Pirada e que são membros da nossa tertúlia... Toma nota:
Fernando Gomes de Carvalho (V.N. Famalicão), Fur Mil, CCAÇ 2401 (1968/70)
Fernando das Neves Ferreira (Braga) (já falecido, represnetado pela filha Ana Ferreira), 1ºCabo, CCAÇ 616, do BCAÇ 619 (1964/66)
João Varanda (Coimbra), Fur Mil, CCAÇ 2636 (1969/71)
8. Podes pesquisar mais coisas sobre eles (ou sobre Pirada), utilizando o Search this blog, disponível no canto superior esquerdo deste blogue.
Obrigado por esta oportunidade e pela atenção dispensada!
Encontrei casualmente o blogue sobre a Guiné há algumas semanas e, desde logo, tive vontade de me inscrever para fazer parte da lista, que vai crescendo. E concluí que não há outro modo de contacto senão por mail. Pelo menos não encontrei espaço onde pudesse escrever, a não ser em termos de comentário, cujo espaço é reduzido. A isto acresce o facto de ter lido que toda a correspondência passa por si.
Chamo-me Orlando Figueiredo, natural de Alvarenga, Arouca. Pertenci à companhia madeirense, independente, [CCAÇ] 2571 (Águias Negras), que iniciou a comissão no Cacheu em Agosto de 1969, no quartel junto ao cais (havia outro na Arribada, mais acima). Uns tempos depois rumámos a Pirada onde permanecemos até Março de 1971. Os restantes 3 meses ou quase, foram passados no AGRBIS em Bissau, mais conhecido por Adidos.
Há muitas histórias para contar, especialmente de Pirada. Hoje fico-me só pela minha apresentação e pelo envio das melhores saudações a todos quantos aqui figuram e aos demais que virão.
Vivamos todos!
Orlando
Comentário de L.G.:
1. Orlando, deixa o senhor na rua e entra na nossa caserna.
2. És bem vindo, para mais vindo de Arouca e de Pirada!
3. As regras são simples e já deves tê-las lido no sítio da tertúlia.
4. Confirmo que toda a correspondência passa cá, por enquanto, pelo meu SPM.
5. Manda-me uma ciber-aerograma com duas fotos (digitalizadas, de preferência, em formato.jpg...)
6. Conta-nos lá as tuas estórias de Pirada. Em troca oferecemos-te o mapa da região, além da nossa amizade e camaradagem.
7. Camaradas que estiveram em (ou passaram por) Pirada e que são membros da nossa tertúlia... Toma nota:
Fernando Gomes de Carvalho (V.N. Famalicão), Fur Mil, CCAÇ 2401 (1968/70)
Fernando das Neves Ferreira (Braga) (já falecido, represnetado pela filha Ana Ferreira), 1ºCabo, CCAÇ 616, do BCAÇ 619 (1964/66)
João Varanda (Coimbra), Fur Mil, CCAÇ 2636 (1969/71)
8. Podes pesquisar mais coisas sobre eles (ou sobre Pirada), utilizando o Search this blog, disponível no canto superior esquerdo deste blogue.
Guiné 63/74 - P852: Guileje: um homem cercado de arame farpado (João Tunes)
Caríssimos,
Junto foto do meu arquivo referente a uma das alturas em que estive em Guileje, datada de Maio de 1970 (1). Em primeiro plano, a rede de protecção em arame farpado. Atrás, abrigos e porta de armas. Vêm-se ainda os telhados, da esquerda para a direita, da caserna, do refeitório e do posto de transmissões. Talvez interesse ao trabalho do Pepito [da Ad - Acção para o Desenvolvimento]...
Abraços.
João Tunes (2)
___________
Notas de L.G.
(1) Alf mil transmissões da CCS do BCAÇ 2884, Pelundo, 1969/70; transferido em 1970 mais para a CCS, de outro Batalhão, sito em Catió.
(2) Vd. post de 6 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXXXII: Os sitiados de Guileje
(...) "Ia para passar uma semana em Guileje, como fazia quase todos os meses, para tratar de problemas com as transmissões e trocar os códigos das cifras da criptografia. E, daquela vez, seria companheiro de viagem do Tenente Aparício. E uma ida a Guileje era sempre uma emoção, pelo risco e por rever os camaradas martirizados e isolados bem junto da fronteira com a Guiné-Conacri. Para mais, com o aviador mais marado da Guiné" (...).
Guiné 63/74 - P851: O Álbum fotográfico do Albano Costa (2): a Ponte Balana (Gandembel)
Texto e fotos: © Albano Costa (2006) (1)
19 de Abril de 2006
Caro amigo Luís Graça
Cá estou eu desta vez para enviar umas fotos da Ponte Balana para poderes ilustrar o texto e satisfazer a curiosidade deste nosso colega tertuliano (2). As legendas podes fazer como achares melhor, eu só vou dar umas dicas: são todas tiradas em Ponte Balana, a ponte em madeira que já foi feita depois do 25 de Abril. Esse sítio é de importância estratégica para a circulação daquela zona.
As fotos foram tiradas por mim, aquando da nossa viagem em grupo, em Novembro de 2000. A estórias que estava a ouvir naquele momento estavam a apaixonar-me, foi realmente uma zona muito complicada no tempo de guerra e eles [os do PAIGG] chegaram a derrubar a ponte para que as nossas tropas não pudessem passar (3).
Um abraço, Albano
PS - Depois vão enviar também fotos de Quebo(Aldeia Formosa). Quanto aos nossos mosqueteiros [o grupo que fez o safari Porto-Bissau, em Abril de 2006... ] eles têm andando pelo mato e não têm internet mas o Hugo já medisse que mal chegue a Bissau irá enviar fotos.
__________
Notas de L.G.
(1) Vd. post de 27 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXCII: Album fotográfico do Albano Costa (1): O Geba
(...) "O Albano Costa já era fotógrafo (profissional) quando fez a sua comissão de serviço, como 1º cabo, operacional, na CCAÇ 4150 (Guidage, Bigene, Binta, 1973/74).
"A sua paixão pela fotografia fez com que ele seja, de longe (com o Humberto Reis), um dos nossos tertulianos com mais documentação sobre a Guiné, de ontem e de hoje.
"Ele já aqui nos contou como, em Novembro de 2000, quebradas as últimas resistências psicológicas, voltou à Guiné, agora como simples turista, revisitando sítios por onde estivera vinte e seis anos antes e conhecendo muitos outros de que só ouvira falar...
"Nessa viagem de 15 dias (...), com um grupo de camaradas, ele não só fez um excelente vídeo (realização, montagem e insorização do Hugo Costa, seu filho) como tirou muitas e óptimas fotografias, que eu já tive o privilégio de ver, em Guifões, Matosinhos, no seu estabelecimento comercial"...
(2) Vd. posts de
19 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXIV: Um sobrevivente de Gandembel/Ponte Balana (Idálio Reis, CCAÇ 2317)
18 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXX: Um pesadelo chamado Gandembel/Ponte Balana (Idálio Reis, CCAÇ 2317, 1968/69)
(3) Vd. post de 29 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXII: A tragédia da ponte sobre o Rio Balana (José M. Samouco)
Guiné 63/74 - P850: Os roncos da CCAÇ 6 em Lanchandé, em aerograma de 22/10/1970, do furriel graduado 'comando' da 1ª CCmds Africanos, antigo cmdt do Pelotão de Milícia de Bedanda, Tala Djaló (Hugo Moutra Ferreira, ex-alf mil, CCAÇ 1621,Cufar, e CCAÇ6, Bedanda, 1966/1968)
1. O Hugo Moura Ferreira (ex-alferes miliciano de infantaria, CCAÇ 1621 e CCAÇ 6, Bedanda e Cufar, 1966/1968) (1) mandou-cópia de um aerograma de um seu antigo soldado.
O seu autor foi o Tala Djaló, furriel graduado 'comando', da 1ª Companhia de Comandos Africanos, oriundo da CCAÇ 6, sediada em Bedanda. A missiva foi escrita um mês antes da Op Mar Verde (invasão de Conacri, em 22 de novembro de 1970), onde o Djaló foi dado como "desaparecido em combate") (2).
A publicação deste tipo de documentos é muito importante para se conhecer e perceber melhor a mentalidade dos africanos que combatiam o PAIGC sob a nossa bandeira.
O seu autor foi o Tala Djaló, furriel graduado 'comando', da 1ª Companhia de Comandos Africanos, oriundo da CCAÇ 6, sediada em Bedanda. A missiva foi escrita um mês antes da Op Mar Verde (invasão de Conacri, em 22 de novembro de 1970), onde o Djaló foi dado como "desaparecido em combate") (2).
A publicação deste tipo de documentos é muito importante para se conhecer e perceber melhor a mentalidade dos africanos que combatiam o PAIGC sob a nossa bandeira.
Repare-se como o Djaló, fula ou futa-fula, descreve a entrada da CCAÇ 6 na base de Lanchandé, a sul de Bedanda, em perseguição a um grupo que havia atacado o aquartelamento das NT. Os turras são sinónimo de balantas... Foram apanhados a dormir: 11 foram mortos, à queima-roupa, desarmados (presume-se!), 4 foram capturados... Era a cultura do ronco, em pleno consulado spinolista...
Obrigado ao Hugo Moura Ferreira, pela tua sensibilidade e cultura, por teres sabido conservar em arquivo este singelo aerograma que o teu amigo Dajló te enviou para Portugal há 35 anos !!!...
Obrigado ao Hugo Moura Ferreira, pela tua sensibilidade e cultura, por teres sabido conservar em arquivo este singelo aerograma que o teu amigo Dajló te enviou para Portugal há 35 anos !!!...
2. Transcrição, revisão e fixação do texto por L.G., com respeito pelo original (que, além de erros ortográficos, não trazia praticamente nenhuma pontuação).
Fá Mandinga [.] 22/10/70
Caro amigo Moura F[er]reira
Recebi a sua carta na qual fiquei muito contente contigo.
Amigo Moura [.] Eu ainda não esqueço de ti [.] Aquela revista que tu me mandou eu já mostrei aos meus colegas [.] Todo ficamos muito contente e toda a companhia por saber da sua [?][.]
Eu já lhe mostrou a revista [.] Eu quero que tu me manda uma fotografia sua que [é] para eu a mostrar meus colegas todo [.] Já te conheço pela carta e falta pela cara [.] Eu agradeço-te me mandar uma fotografia sua bem tirada [.]
Olha [,] a nossa antiga companhia CC[AÇ] 6 fizeram ronco no [?] tempo os turras venha atacar Bedanda.
(2) Depois quando [a]tacaram[,] retiraram no Lanxandé e depois do ataque o capitão mandou logo sair a companhia atrás dos turras [.] Quando chegaram a companhia no Lanxandé [,] alguns dos turras estavam a dormir e logo chegou a companhia e cercaram a tabanca
(3) em toda a volta[.] Depois [entraram] nas casas dos Balanta [.] Na dentros das casa encontra[vam]-se lá alguns a dormir e logo é só chegar[.] 1ª coisa é [a]panhar ainda armas e, logo a seguir [,] é que se cerca os turras nas cama [.] Resultado [:] foi assim 11 mortos, 4 capturados, 14 armas [a]panhadas
(4) e muitas coisas [a]panhadas [.] Os comandantes daquele grupo foi [a]pnhado e 2ºchefe dele também foi [.] a]apanhado[.] Mais 2 soldados dos turra também foi [a]panhado [.] Amigo Moura Ferreira [,] a companhia de Bedanda continou [a] ser valente no mato [.]
(5) Toda a sua família cumprimento e teu irmão [.] E eu quero que tu me [ar]ranja um boné de sargento mas não é [a]quele branco e [a]quele da farda nº 2 [.] É que eu quero que [ar]ranja nada mais [,] amigo.
Remetente: Manuel Talabiu Djaló, Furriel , SPM 0798.
Destinatário: Hugo Fernando de Moura Ferreira, Stº António, Costa da Caparica
____________
Notas de L.G.
(1) Vd. post de 22 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXCV: CCAÇ 16121 (Cufar); CCAÇ 6 (Bedanda) (1966/68)
2) Vd. post de 1 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P827: 'Retido pelo IN': o caso do meu amigo Tala Djaló (Hugo Moura Ferreira)
Fá Mandinga [.] 22/10/70
Caro amigo Moura F[er]reira
Recebi a sua carta na qual fiquei muito contente contigo.
Amigo Moura [.] Eu ainda não esqueço de ti [.] Aquela revista que tu me mandou eu já mostrei aos meus colegas [.] Todo ficamos muito contente e toda a companhia por saber da sua [?][.]
Eu já lhe mostrou a revista [.] Eu quero que tu me manda uma fotografia sua que [é] para eu a mostrar meus colegas todo [.] Já te conheço pela carta e falta pela cara [.] Eu agradeço-te me mandar uma fotografia sua bem tirada [.]
Olha [,] a nossa antiga companhia CC[AÇ] 6 fizeram ronco no [?] tempo os turras venha atacar Bedanda.
(2) Depois quando [a]tacaram[,] retiraram no Lanxandé e depois do ataque o capitão mandou logo sair a companhia atrás dos turras [.] Quando chegaram a companhia no Lanxandé [,] alguns dos turras estavam a dormir e logo chegou a companhia e cercaram a tabanca
(3) em toda a volta[.] Depois [entraram] nas casas dos Balanta [.] Na dentros das casa encontra[vam]-se lá alguns a dormir e logo é só chegar[.] 1ª coisa é [a]panhar ainda armas e, logo a seguir [,] é que se cerca os turras nas cama [.] Resultado [:] foi assim 11 mortos, 4 capturados, 14 armas [a]panhadas
(4) e muitas coisas [a]panhadas [.] Os comandantes daquele grupo foi [a]pnhado e 2ºchefe dele também foi [.] a]apanhado[.] Mais 2 soldados dos turra também foi [a]panhado [.] Amigo Moura Ferreira [,] a companhia de Bedanda continou [a] ser valente no mato [.]
(5) Toda a sua família cumprimento e teu irmão [.] E eu quero que tu me [ar]ranja um boné de sargento mas não é [a]quele branco e [a]quele da farda nº 2 [.] É que eu quero que [ar]ranja nada mais [,] amigo.
Remetente: Manuel Talabiu Djaló, Furriel , SPM 0798.
Destinatário: Hugo Fernando de Moura Ferreira, Stº António, Costa da Caparica
____________
Notas de L.G.
(1) Vd. post de 22 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXCV: CCAÇ 16121 (Cufar); CCAÇ 6 (Bedanda) (1966/68)
2) Vd. post de 1 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P827: 'Retido pelo IN': o caso do meu amigo Tala Djaló (Hugo Moura Ferreira)
segunda-feira, 5 de junho de 2006
Guiné 63/74 - P849: Os que lutaram contra a guerra, mesmo fazendo-a, também fazem parte da nossa história (João Tunes)
Texto do João Tunes, com data de 1 de Junho de 2006:
Caro Luís,
Este blogue é, também, uma caixa de surpresas. Não só pelo que vamos recordando e sabendo, também pela forma viva e fraternal como reconstruímos a camaradagem forjada nos tempos de guerra (agora mais alargada, vencendo as barreiras da quadrícula ou das épocas diferentes em que por lá passámos). E as surpresas não ficam por aqui, pois, entre tantos que fomos, acabamos por nos reencontrar de outros caminhos, outras ocupações, o que, provavelmente, não aconteceria sem este ciber-quartel.
Já disse da minha surpresa no (re)encontro com um antigo colega profissional (o camarada António Levezinho). Estivemos em simultâneo a trabalhar na mesma empresa para aí uns trinta anos, julgo que nunca nos cruzámos, não nos supúnhamos ex-combatentes no mesmo tempo e na mesma guerra e até fomos embarcados no mesmo Cruzeiro conhecido como Niassa. E acabámos por repor este laço comum, via blogue, permitindo-me sabê-lo de boa saúde e disposição no seu retiro algarvio. O que muito me alegra.
Agora, fiquei banzado ao ler o Post nº 823 do camarada Jorge Cabral. Não pelo seu conteúdo, que assino por baixo. Sem espinhas. Mas porque ele disse que me conhecia da recruta na EPI em Mafra e alude a um amigo comum, também recruta, o João Resende. Primeiro, o Jorge mostra ter muito melhor memória que eu (o que não é difícil, diga-se). É que depois de dar voltas e mais voltas quer às suas fotografias publicadas do tempo na Guiné (talvez por causa dos disfarces com os roncos fulas ou mandingas) quer às da actualidade (talvez pela marca do tempo passado), não consigo reconstituir a sua esbelta e marcial figura nos tempos em que convivemos (esporadicamente) no casarão de pedra onde aprendemos a marcar passo. Talvez numa qualquer oportunidade de abraço ao vivo, a minha memória se recomponha.
Mas o Jorge Cabral, falando de nós e do nosso camarada Resende, acaba por trazer a lume um aspecto que julgo ainda não abordado e que falta na história da guerra para ela ficar composta. Ou seja, da luta anticolonial desenvolvida no interior das Forças Armadas por militares antifascistas (sobretudo, entre milicianos) e que acabariam por contaminar os oficiais do quadro de média e baixa patente que, depois, deu no que se sabe.
Como se sabe, muitos cadetes milicianos iam para Mafra depois de terem enfrentado o regime nas lutas estudantis e alguns deles estavam ali precocemente, sem os deixarem concluir os seus cursos, por terem sido punidos com a expulsão da Universidade. Daí que, quando fui enfiado em Mafra, em 1968, a maioria esmagadora dos cadetes tinha já convicções mais ou menos consolidadas contra o regime e contra a guerra colonial. Claro que havia os apolíticos e um ou outro que até aderia ao militarismo. Mas patriotas convictos e convencidos da justeza da guerra, contavam-se pelos dedos e acabavam por fazer figuras algo excêntricas nos sentimentos dominantes e nas conversas. Eram os que chamávamos de chicos e fachos que, por regra, acabavam por ficar isolados. E alguns mudaram posteriormente de posição quando da experiência concreta na guerra, o que pude também constatar em diversos casos.
A chegada do João Resende (referido pelo Jorge Cabral) a Mafra mudou muito as coisas. Ele foi com o curso concluído de engenharia química e tinha sido o líder estudantil no Porto (onde o conhecera e onde com ele acamaradara nas brigas contra os fachos). Era, pois, um veterano e organizado militante contra o regime, com grande capacidade de organização e bom conhecedor das regras conspirativas, mais um grande poder carismático aliado a uma profunda modéstia. Com ele, muito mudou em Mafra. A oposição à guerra evoluiu, entre os cadetes, dos desabafos soltos para uma organização estruturada de denúncia e combate à guerra colonial.
Se, desse grupo, não lembro o Jorge Cabral, lembro-me de outros antigos dirigentes e activistas estudantis, nomeadamente o engenheiro António Redol (filho do escritor Alves Redol) que havia sido Presidente da Associação de Estudantes do Técnico e o Miranda Ferreira, economista e activista nas lutas de Económicas. Éramos um grupo restrito, como se impunha, mas lá fomos mexendo. Nos fins-de-semana, tínhamos as nossas reuniões conspirativas em Lisboa, em casa da mãe do Redol, durante a semana fazia-se o que se podia - contactos com quem revelasse consciência anticolonial, umas tarjetas contra a guerra espalhadas à noite pelas casernas, pinchagens nos corredores ("Abaixo a Guerra Colonial!"), apelo a que se ouvissem as emissões da Rádio Voz da Liberdade (em Argel), etc.
Entretanto, eu saí de Mafra (quando o Resende lá chegou eu já tinha feito a recruta e estava a tirar a especialidade) e o Resende por lá continuou por mais tempo. E com bons resultados, pois num dos posteriores juramentos de bandeira deu-se o célebre protesto dos cadetes milicianos através de, no momento do juramento, perante a generalada e as famílias dos cadetes, ter havido um colectivo, alargado e simultâneo descuido de se carregar na patilha e deixar cair os carregadores da G3 no chão, coisa que foi uma realíssima bronca.
[O João Resende foi, mais tarde, parar ao quartel de Chaves e depois mobilizado para Moçambique. Então, desertou mas não saiu do país, passou à luta como militante clandestino. No meu regresso da Guiné, ele bateu-me à porta diversas vezes, irreconhecível no seu disfarce de clandestino (ele actuava na região de Lisboa), ficávamos noite fora a conversar e conspirar, depois dormia em minha casa e abalava cedo na manhã seguinte até uma próxima visita, deixando-me boas molhadas de material clandestino para ler e distribuir. E foi, graças a ele, que li bem cedo o Rumo à Vitória de Álvaro Cunhal, numa edição integral e clandestina. Assim como uma versão a stencil do Luuanda do Luandino Vieira, então preso no Tarrafal e com os livros proibidos. Poucos meses antes do 25 de Abril, foi apanhado pela PIDE e selvaticamente torturado (imagine-se o que era a PIDE caçar um desertor e militante clandestino!), não tendo passado muito tempo de prisão nem sido julgado porque, entretanto, deu-se o golpe. Por isso, desde a sua prisão até ao 25 de Abril, claro que eu, quando me deitava, sabia da alta probabilidade de ser acordado a meio da noite com visitas inesperadas e desagradáveis.]
Julgo, caro Luís, que esta parte, a luta contra a guerra pelos militares antifascistas e anticolonialistas, é uma parte não pouco importante na nossa história e na história da guerra. Pouco ou nada conhecida, para mais. Outros camaradas de muito mais saberão e talvez se disponham a ajudar a abrir o livro.
Quanto ao camarada Jorge Cabral, o reconhecimento fica para quando da oportunidade do estudo visual e ao vivo. Vamos lá ver como funciona a minha fraquíssima memória. Um grande abraço, entretanto.
Outro abraço para ti, camarada e amigo Luís, outros tantos para todos os estimados tertulianos. Com os pedidos de desculpa por tanto me aturarem (calma, eu prometo já uma pausa mais ou menos prolongada!).
João Tunes
Caro Luís,
Este blogue é, também, uma caixa de surpresas. Não só pelo que vamos recordando e sabendo, também pela forma viva e fraternal como reconstruímos a camaradagem forjada nos tempos de guerra (agora mais alargada, vencendo as barreiras da quadrícula ou das épocas diferentes em que por lá passámos). E as surpresas não ficam por aqui, pois, entre tantos que fomos, acabamos por nos reencontrar de outros caminhos, outras ocupações, o que, provavelmente, não aconteceria sem este ciber-quartel.
Já disse da minha surpresa no (re)encontro com um antigo colega profissional (o camarada António Levezinho). Estivemos em simultâneo a trabalhar na mesma empresa para aí uns trinta anos, julgo que nunca nos cruzámos, não nos supúnhamos ex-combatentes no mesmo tempo e na mesma guerra e até fomos embarcados no mesmo Cruzeiro conhecido como Niassa. E acabámos por repor este laço comum, via blogue, permitindo-me sabê-lo de boa saúde e disposição no seu retiro algarvio. O que muito me alegra.
Agora, fiquei banzado ao ler o Post nº 823 do camarada Jorge Cabral. Não pelo seu conteúdo, que assino por baixo. Sem espinhas. Mas porque ele disse que me conhecia da recruta na EPI em Mafra e alude a um amigo comum, também recruta, o João Resende. Primeiro, o Jorge mostra ter muito melhor memória que eu (o que não é difícil, diga-se). É que depois de dar voltas e mais voltas quer às suas fotografias publicadas do tempo na Guiné (talvez por causa dos disfarces com os roncos fulas ou mandingas) quer às da actualidade (talvez pela marca do tempo passado), não consigo reconstituir a sua esbelta e marcial figura nos tempos em que convivemos (esporadicamente) no casarão de pedra onde aprendemos a marcar passo. Talvez numa qualquer oportunidade de abraço ao vivo, a minha memória se recomponha.
Mas o Jorge Cabral, falando de nós e do nosso camarada Resende, acaba por trazer a lume um aspecto que julgo ainda não abordado e que falta na história da guerra para ela ficar composta. Ou seja, da luta anticolonial desenvolvida no interior das Forças Armadas por militares antifascistas (sobretudo, entre milicianos) e que acabariam por contaminar os oficiais do quadro de média e baixa patente que, depois, deu no que se sabe.
Como se sabe, muitos cadetes milicianos iam para Mafra depois de terem enfrentado o regime nas lutas estudantis e alguns deles estavam ali precocemente, sem os deixarem concluir os seus cursos, por terem sido punidos com a expulsão da Universidade. Daí que, quando fui enfiado em Mafra, em 1968, a maioria esmagadora dos cadetes tinha já convicções mais ou menos consolidadas contra o regime e contra a guerra colonial. Claro que havia os apolíticos e um ou outro que até aderia ao militarismo. Mas patriotas convictos e convencidos da justeza da guerra, contavam-se pelos dedos e acabavam por fazer figuras algo excêntricas nos sentimentos dominantes e nas conversas. Eram os que chamávamos de chicos e fachos que, por regra, acabavam por ficar isolados. E alguns mudaram posteriormente de posição quando da experiência concreta na guerra, o que pude também constatar em diversos casos.
A chegada do João Resende (referido pelo Jorge Cabral) a Mafra mudou muito as coisas. Ele foi com o curso concluído de engenharia química e tinha sido o líder estudantil no Porto (onde o conhecera e onde com ele acamaradara nas brigas contra os fachos). Era, pois, um veterano e organizado militante contra o regime, com grande capacidade de organização e bom conhecedor das regras conspirativas, mais um grande poder carismático aliado a uma profunda modéstia. Com ele, muito mudou em Mafra. A oposição à guerra evoluiu, entre os cadetes, dos desabafos soltos para uma organização estruturada de denúncia e combate à guerra colonial.
Se, desse grupo, não lembro o Jorge Cabral, lembro-me de outros antigos dirigentes e activistas estudantis, nomeadamente o engenheiro António Redol (filho do escritor Alves Redol) que havia sido Presidente da Associação de Estudantes do Técnico e o Miranda Ferreira, economista e activista nas lutas de Económicas. Éramos um grupo restrito, como se impunha, mas lá fomos mexendo. Nos fins-de-semana, tínhamos as nossas reuniões conspirativas em Lisboa, em casa da mãe do Redol, durante a semana fazia-se o que se podia - contactos com quem revelasse consciência anticolonial, umas tarjetas contra a guerra espalhadas à noite pelas casernas, pinchagens nos corredores ("Abaixo a Guerra Colonial!"), apelo a que se ouvissem as emissões da Rádio Voz da Liberdade (em Argel), etc.
Entretanto, eu saí de Mafra (quando o Resende lá chegou eu já tinha feito a recruta e estava a tirar a especialidade) e o Resende por lá continuou por mais tempo. E com bons resultados, pois num dos posteriores juramentos de bandeira deu-se o célebre protesto dos cadetes milicianos através de, no momento do juramento, perante a generalada e as famílias dos cadetes, ter havido um colectivo, alargado e simultâneo descuido de se carregar na patilha e deixar cair os carregadores da G3 no chão, coisa que foi uma realíssima bronca.
[O João Resende foi, mais tarde, parar ao quartel de Chaves e depois mobilizado para Moçambique. Então, desertou mas não saiu do país, passou à luta como militante clandestino. No meu regresso da Guiné, ele bateu-me à porta diversas vezes, irreconhecível no seu disfarce de clandestino (ele actuava na região de Lisboa), ficávamos noite fora a conversar e conspirar, depois dormia em minha casa e abalava cedo na manhã seguinte até uma próxima visita, deixando-me boas molhadas de material clandestino para ler e distribuir. E foi, graças a ele, que li bem cedo o Rumo à Vitória de Álvaro Cunhal, numa edição integral e clandestina. Assim como uma versão a stencil do Luuanda do Luandino Vieira, então preso no Tarrafal e com os livros proibidos. Poucos meses antes do 25 de Abril, foi apanhado pela PIDE e selvaticamente torturado (imagine-se o que era a PIDE caçar um desertor e militante clandestino!), não tendo passado muito tempo de prisão nem sido julgado porque, entretanto, deu-se o golpe. Por isso, desde a sua prisão até ao 25 de Abril, claro que eu, quando me deitava, sabia da alta probabilidade de ser acordado a meio da noite com visitas inesperadas e desagradáveis.]
Julgo, caro Luís, que esta parte, a luta contra a guerra pelos militares antifascistas e anticolonialistas, é uma parte não pouco importante na nossa história e na história da guerra. Pouco ou nada conhecida, para mais. Outros camaradas de muito mais saberão e talvez se disponham a ajudar a abrir o livro.
Quanto ao camarada Jorge Cabral, o reconhecimento fica para quando da oportunidade do estudo visual e ao vivo. Vamos lá ver como funciona a minha fraquíssima memória. Um grande abraço, entretanto.
Outro abraço para ti, camarada e amigo Luís, outros tantos para todos os estimados tertulianos. Com os pedidos de desculpa por tanto me aturarem (calma, eu prometo já uma pausa mais ou menos prolongada!).
João Tunes
Guiné 63/74 - P848: XXI Convívio da CART 3494 (1972/74), no Quartel Serra do Pilar, V.N. Gaia, em 10 de Junho
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Crachá dda CART 3494 (Os Fantasmas do Xime, 1972/74), pertence ao BART 3873 (Bambadinca, 1972/74).
Além do Sousa de Castro, pertenceram a esta unidade (que esteve no Xime e em Mansambo) os nossos tertulianos António J. Serradas Pereira, Carvalhido da Ponte e Manuel G. Ferreira.
Foto: © Sousa de Castro (2005).
Reprodução de folheto que nos chegou por e-mail do Sousa de Castro (ex-1º Cabo de Trms):
Caríssimo Amigo:
Uma vez mais nos iremos reunir em almoço de confraternização, o vigésimo primeiro desde 1974. Será no dia 10 de Junho, na Serra do Pilar em Vila Nova de Gaia, para nós, RAP 2.
Para a maioria de nós será como que um regresso às origens pois foi lá que nos vimos pela primeira vez, que com emoções indiscritíveis nos começamos a conhecer enquanto formávamos Batalhão nos idos de 1971.
Desejamos que, também por este atractivo, este encontro motive um maior número de participantes.
Do programa consta uma missa pelos nossos saudosos camaradas de armas falecidos, uma patrulha de reconhecimento ao quartel, o descerramento de uma lápide que perpetue esta nossa vivência e o almoço convívio.
Não temos os contactos de todos, por isso te pedimos que te certifiques junto daqueles de quem tens forma de contactar da sua vinda.
PROGRAMA
10.00 – Início da concentração no Quartel da Serra do Pilar
10H30 - Visita guiada ao Quartel
11H00 – Missa de Acção de Graças
12H00- Homenagem aos nossos já falecidos
12H15 – Descerramento de lápide alusiva ao encontro
12H30- Início do rancho
NOTA: Estacionamento automóvel autorizado no Quartel mediante exibição deste folheto
INSCRIÇÃO
Agradecemos que preenchas o formulário destacável e que o envies impreterivelmente até ao dia 26 de Maio para o remetente da carta ou que contactes, por telemóvel ou telefone, qualquer membro da comissão, a comunicar a tua presença.
Nome _____________________________
Morada ___________________________
__________________________________
N.º de presenças_____
Custo por pessoa incluindo despesas 10€
Pagamento no local do evento ? Sim ____ Não, junto o cheque____
n.º _____________, Banco___________________________
de € ________,00
Contactos >
Luís Domingues - 220 137 618 e 961 070 184
José Vilela Peixoto - 967 098 181
E-Mail: cart3494@sapo.pt
Comentário de L.G.:
Apesar da divulgação tardia desta convocatória, no nosso blogue, faço votos para que a festa do pessoal da CART 3494 seja muito concorrida, no próximo dia 10 de Junho, e decorra, se possível, ainda melhor do que nas edições anteriores, em ambiente de grande amizade e camaradagem. É de louvar o esforço de organização e a persistência destes camaradas que, desde o regresso, em 1974, têm-se encontrado todos os anos.
Julgo que a maioria do pessoal da CART 3494 era oriunda do Norte. Pela nossa parte, confiamos ao Sousa de Castro a tarefa, que ele tem desempenhado com grande carinho, voluntarismo e dedicação, de divulgação do nosso blogue e dos propósitos da nossa tertúlia... LG
Além do Sousa de Castro, pertenceram a esta unidade (que esteve no Xime e em Mansambo) os nossos tertulianos António J. Serradas Pereira, Carvalhido da Ponte e Manuel G. Ferreira.
Foto: © Sousa de Castro (2005).
Reprodução de folheto que nos chegou por e-mail do Sousa de Castro (ex-1º Cabo de Trms):
Caríssimo Amigo:
Uma vez mais nos iremos reunir em almoço de confraternização, o vigésimo primeiro desde 1974. Será no dia 10 de Junho, na Serra do Pilar em Vila Nova de Gaia, para nós, RAP 2.
Para a maioria de nós será como que um regresso às origens pois foi lá que nos vimos pela primeira vez, que com emoções indiscritíveis nos começamos a conhecer enquanto formávamos Batalhão nos idos de 1971.
Desejamos que, também por este atractivo, este encontro motive um maior número de participantes.
Do programa consta uma missa pelos nossos saudosos camaradas de armas falecidos, uma patrulha de reconhecimento ao quartel, o descerramento de uma lápide que perpetue esta nossa vivência e o almoço convívio.
Não temos os contactos de todos, por isso te pedimos que te certifiques junto daqueles de quem tens forma de contactar da sua vinda.
PROGRAMA
10.00 – Início da concentração no Quartel da Serra do Pilar
10H30 - Visita guiada ao Quartel
11H00 – Missa de Acção de Graças
12H00- Homenagem aos nossos já falecidos
12H15 – Descerramento de lápide alusiva ao encontro
12H30- Início do rancho
NOTA: Estacionamento automóvel autorizado no Quartel mediante exibição deste folheto
INSCRIÇÃO
Agradecemos que preenchas o formulário destacável e que o envies impreterivelmente até ao dia 26 de Maio para o remetente da carta ou que contactes, por telemóvel ou telefone, qualquer membro da comissão, a comunicar a tua presença.
Nome _____________________________
Morada ___________________________
__________________________________
N.º de presenças_____
Custo por pessoa incluindo despesas 10€
Pagamento no local do evento ? Sim ____ Não, junto o cheque____
n.º _____________, Banco___________________________
de € ________,00
Contactos >
Luís Domingues - 220 137 618 e 961 070 184
José Vilela Peixoto - 967 098 181
E-Mail: cart3494@sapo.pt
Comentário de L.G.:
Apesar da divulgação tardia desta convocatória, no nosso blogue, faço votos para que a festa do pessoal da CART 3494 seja muito concorrida, no próximo dia 10 de Junho, e decorra, se possível, ainda melhor do que nas edições anteriores, em ambiente de grande amizade e camaradagem. É de louvar o esforço de organização e a persistência destes camaradas que, desde o regresso, em 1974, têm-se encontrado todos os anos.
Julgo que a maioria do pessoal da CART 3494 era oriunda do Norte. Pela nossa parte, confiamos ao Sousa de Castro a tarefa, que ele tem desempenhado com grande carinho, voluntarismo e dedicação, de divulgação do nosso blogue e dos propósitos da nossa tertúlia... LG
Guiné 63/74 - P847: Do Porto a Bissau (25): Ruínas e lembranças de Mansambo (A.Marques Lopes)
Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Mansambo > Abril de 2004 > O Saagum e o António de Almeida (1) , ambos pertencentes à CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69), junto ao único monumento que resta de pé (erigido pela CART 2714, 1970/72 - "Bravos e Leais" - , pertencente ao BART 2917 (1970/1972). Já em 1996, quando o Humberto Reis lá esteve, era o único que restava das unidades de quadrícula ali sediadas... (LG)
Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Mansambo > Abril de 2004 > O pouco que resta do antigo aquartelamento, feito com sangue, suor e lágriams por homens como o Carlos Marques dos santos, o Torcato Mendonça, o Saagum, o António Almeida ou o Ernesto Ribeiro membros da nossa tertúla, que pertenceram, todos eles, à CART 2339 (1968/69), a unidade que construiu aquele aquartelamento.
Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Mansambo > Abril de 2004 > O José Clímaco Saagum, de regresso, à famigerada fonte de Mansambo, quase 40 anos depois (2): aqui foi gravemente ferido, em emboscada montada pelos guerrilheiros do PAIGC, em 19 de Setembro de 1968. O Saagum era soldado do 1º pelotão da CART 2339 (Mansambo, 1968/69). Nas duas fotos acimas, uma granada de morteiro, abandonada, e um aspecto da fonte, que continua a ser utilizada pela população local (LG).
1. Texto do A. Marques Lopes:
Caros camaradas e amigos:
O António Almeida e, sobretudo, o Saagum tinham de ir a Mansambo, [fazer] a catarse necessária. Como sabem, o Saagum sofreu na fonte de Mansambo (a cincoenta metros do quartel!) uma emboscada terrível que o feriu para toda a vida (2). Mais lembranças.
A. Marques Lopes
2. Comentário de L.G.:
Mansambo é dos sítios da Guiné, por onde passámos, que tem mais referências no nosso blogue (3): hoje, fazendo uma pesquisa em Blogue-fora-nada > Serach this blog, encontrei 79 referências a Mansambo!... As fotos que hoje se publiquem não precisamd e gardnes legendas: falam por si ... NO entanto, é preciso contextualizá-las... Obrigado ao A. Marques Lopes por estas "lembranças de Mansambo".
________
Notas de L.G.
(1) Vd. post de 12 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCXCIX: Boa viagem para o Almeida e o Saagum (CART 2339)
(2) Vd. post de 12 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXV: Do Porto a Bissau (12): A fonte de Mansambo (Albano Costa)
(3) Vd. entre outros posts mais os seguintes:
14 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCVIII: A emboscada na fonte de Mansambo (19 de Setembro de 1968) (Carlos Marques dos Santos)
9 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DIX: As baixas da CART 2339 (Mansambo, 1968/69)
30 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CDI: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (3): Memórias da CART 2339
Guiné 63/74 - P846: Do Porto a Bissau (24): As ruínas de Fulacunda (A. Marques Lopes)
Guiné-Bissau > Região de Quínara > Abril de 2006 > Restos do antigo aquartelamento de Fulacunda.
Fotos: © A. Marques Lopes (2006)
O A. Marques Lopes e o Xico Allen passaram por lá, de jipe... Fulacunda é hoje um... lago (para não dizer um mar, por que seria uma hipérbole) de ruínas, como Có (1) ou outros sítios que o grupo de tugas visitou, em Abril de 2006.
Não temos muitos camaradas, na nossa terútulia, que tenham passado por (ou estado em) Fulacunda. Nos meus registos consta apenas a CCAV 2862, que pertenceu ao BCAV 2867 (Março de 1969/Dezembro de 1970), e que esteve aquartelada em Fulacunda (2). A este Batalhão, mais exactamente à sua CCS, pertencia o Horácio Martinho Ramos, já aqui evoacado pelo seu filho Fernando Martinho (2). A CCS do BCAV 2876 esteve em Tite, segundo pesquisas feitas pelo nosso incansável José Martins.
Se quiserem saber mais coisas sobre Fulacunda, leiam o romance Rumo a Fulacunda, do Rui Alexandrino Ferreira, editado em 2000 e de que já aqui foi feita uma breve recensão bibliográfica pelo nosso camarada Jorge Santos (2). (LG)
_____________
Notas de L.G.
(1) Vd. post de 30 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXV: Do Porto a Bissau (22): As ruínas de Có (A. Marques Lopes)
(2) Vd posts de
25 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXIV: BCAV 2876, o batalhão do Horácio Ramos ? (José Martins)
3 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCII: Horácio Ramos, presente!! (BCAV 2867, Tite, 1979/70)
24 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXI: À procura de camaradas do meu pai, Horácio Martinho Ramos (conhecido por Papel)
(3) Vd. post de 12 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CVII: Bibliografia de uma guerra (3)
(...) "O autor nasceu em Angola (1943). Fez o curso de oficiais milicianos em Mafra (1964). Foi mobilizado para a Guiné, tendo rendido um desaparecido em combate e pertencido à CCAÇ 1420, sedeada em Fulacunda (1965/67). Depois de frequentar o curso de capitães, em Mafra (1970), volta à Guiné, para comandar a CCAÇ 18. Em 1973 faz uma comissão em Angola. Regressa a Portugal em 1975. Vive actualmente em Viseu. É Coronel de Infantaria na situação de reforma. Rumo a Fulacunda é a sua obra literária de estreia" (...).
domingo, 4 de junho de 2006
Guiné 63/74 - P845: As 95 longas milhas do Rio Cacheu (Manuel Lema Santos)
Texto de Lema Santos:
Caro Afonso Sousa (1),
Para já, fico grato pela leitura atenta que dedicaste ao texto que a Direcção da Caserna entendeu como interessante publicar.
Falar do Cacheu representa, para mim, quase metade do meu tempo de comissão. Parece-me pouco justo dedicar-lhe apenas meia dúzia de linhas a Ele, rio Cacheu, e a Todos os que naquelas 95 longas milhas estacionaram ou navegaram, sofreram, combateram ou até tombaram definitivamente.
De um ou do outro lado e foram muitos. Certamente demasiados.
Poderemos sempre recordá-los-los apelando pessoal ou colectivamente à homenagem, invocando o exemplo e a coragem de alguns pela segurança de todos.
Colectivamente, o mais válido e mais sério esforço, será evitar repetições mas ainda que legislação sobre guerra fosse publicada, como se fiscalizaria, multaria ou penalizaria quem não cumprisse ou pisasse o risco?
Para mim, num eventual regresso à Guiné, uma das prioridades de viagem seria revisitar aquele curso de água com características únicas, de Cacheu até Farim, num irresistível e saracoteante misticismo.
Também nas recordações em que me envolvo sempre que o revejo, ainda que apenas em fotografia.
O curso de água com um leito de perfil em U na quase totalidade da extensão e para montante de S. Vicente, embora com açoreamentos pontuais, permitia aquilo que não conheço em nenhures ou seja, navegação com calado de 2,20 m quase a roçar as pernadas do alto tarrafo, como se de um canal se tratasse.
Em algumas zonas diria mesmo a escafear as antenas de comunicações e, com algumas tangentes mal calculadas, até a deixar lá algumas de recordação.
Nestas condições de navegação, forçoso será reconhecer que em alguns locais, para nós representadas pelas abertas na frondosa vegetação dos mangais, lalas, matas, resumidamente tudo o que não fosse o habitual e muito amigável tarrafo, funcionando como um muro de protecção, representava uma excessiva e perigosa exposição a ataques dos nossos amigos de pêto à época.
Admitamos que não era muito fácil esconder 42 metros de patrulha e, como todos os que se sentem acossados, não podendo evitar as passagens sistemáticas por aquelas zonas menos hospitaleiras, procurávamos nas duas Boffors anti-aéreas de 40 mm e mais umas entradas de que dispunhamos antes do prato principal, a sempre excelente companhia nesses momentos, quer como profilaxia quer como terapêutica.
Como rotinas, a simples ficalização ou a escolta a LDG, LDM, LDP ou batelões comerciais, transportando pessoal, material ou víveres.
Como alternativas, o embarque de DFE em Bissau com uma ordem de operações na mochila, rumar até ao Cacheu e, navegando para montante, executar as instruções previstas na ordem de operações, utilizando as LDM - as grandes heroínas da navegação nos baixos, no tarrafo e do encalhe - para efectuar o transbordo do pessoal para terra, normalmente durante a noite.
O controlo da operação a partir da LFG para o CDMG e, na manhã seguinte, o regresso a Bissau aos camarões e às ostras com as respectivas bazookas.
Voltarei à vaca fria no Cacheu e, mais tarde, também para Sul.
Quanto à costureirinha que referes, julgo tratar-se da Pistola-Metralhadora PPSH, de origem soviética, calibre 7.62 (russo), de tambor redondo e que nos anos 60 também fez parte do armamento dos movimentos africanos de independência que se opuzeram a Portugal. Também se ouviam no Cantanhês. Tinha um matraquear próprio com ruído especialmente irritante (haverá algum que o não seja?).
Um abraço de amizade para todos,
Manuel Lema Santos
_____________
Nota de L.G.
(1) Vd. post anterior, nº 843.
Caro Afonso Sousa (1),
Para já, fico grato pela leitura atenta que dedicaste ao texto que a Direcção da Caserna entendeu como interessante publicar.
Falar do Cacheu representa, para mim, quase metade do meu tempo de comissão. Parece-me pouco justo dedicar-lhe apenas meia dúzia de linhas a Ele, rio Cacheu, e a Todos os que naquelas 95 longas milhas estacionaram ou navegaram, sofreram, combateram ou até tombaram definitivamente.
De um ou do outro lado e foram muitos. Certamente demasiados.
Poderemos sempre recordá-los-los apelando pessoal ou colectivamente à homenagem, invocando o exemplo e a coragem de alguns pela segurança de todos.
Colectivamente, o mais válido e mais sério esforço, será evitar repetições mas ainda que legislação sobre guerra fosse publicada, como se fiscalizaria, multaria ou penalizaria quem não cumprisse ou pisasse o risco?
Para mim, num eventual regresso à Guiné, uma das prioridades de viagem seria revisitar aquele curso de água com características únicas, de Cacheu até Farim, num irresistível e saracoteante misticismo.
Também nas recordações em que me envolvo sempre que o revejo, ainda que apenas em fotografia.
O curso de água com um leito de perfil em U na quase totalidade da extensão e para montante de S. Vicente, embora com açoreamentos pontuais, permitia aquilo que não conheço em nenhures ou seja, navegação com calado de 2,20 m quase a roçar as pernadas do alto tarrafo, como se de um canal se tratasse.
Em algumas zonas diria mesmo a escafear as antenas de comunicações e, com algumas tangentes mal calculadas, até a deixar lá algumas de recordação.
Nestas condições de navegação, forçoso será reconhecer que em alguns locais, para nós representadas pelas abertas na frondosa vegetação dos mangais, lalas, matas, resumidamente tudo o que não fosse o habitual e muito amigável tarrafo, funcionando como um muro de protecção, representava uma excessiva e perigosa exposição a ataques dos nossos amigos de pêto à época.
Admitamos que não era muito fácil esconder 42 metros de patrulha e, como todos os que se sentem acossados, não podendo evitar as passagens sistemáticas por aquelas zonas menos hospitaleiras, procurávamos nas duas Boffors anti-aéreas de 40 mm e mais umas entradas de que dispunhamos antes do prato principal, a sempre excelente companhia nesses momentos, quer como profilaxia quer como terapêutica.
Como rotinas, a simples ficalização ou a escolta a LDG, LDM, LDP ou batelões comerciais, transportando pessoal, material ou víveres.
Como alternativas, o embarque de DFE em Bissau com uma ordem de operações na mochila, rumar até ao Cacheu e, navegando para montante, executar as instruções previstas na ordem de operações, utilizando as LDM - as grandes heroínas da navegação nos baixos, no tarrafo e do encalhe - para efectuar o transbordo do pessoal para terra, normalmente durante a noite.
O controlo da operação a partir da LFG para o CDMG e, na manhã seguinte, o regresso a Bissau aos camarões e às ostras com as respectivas bazookas.
Voltarei à vaca fria no Cacheu e, mais tarde, também para Sul.
Quanto à costureirinha que referes, julgo tratar-se da Pistola-Metralhadora PPSH, de origem soviética, calibre 7.62 (russo), de tambor redondo e que nos anos 60 também fez parte do armamento dos movimentos africanos de independência que se opuzeram a Portugal. Também se ouviam no Cantanhês. Tinha um matraquear próprio com ruído especialmente irritante (haverá algum que o não seja?).
Um abraço de amizade para todos,
Manuel Lema Santos
_____________
Nota de L.G.
(1) Vd. post anterior, nº 843.
Guiné 63/74 - P844: Ouvir as 'costureirinhas' a bordo de uma LDG (Afonso M.F. Sousa)
Texto do Afonso M. F. Sousa (ex-furriel miliciano de transmissões, CART 2412, Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70)
Caro senhor e amigo Lema Santos (1):
A propósito deste seu interessante descritivo: "...os RPG (lança-granadas do IN) no Cacheu, a montante de Barro (Porto Coco, Jagali, Tancroal) e antes de Binta, também eram aperitivos a evitar..."
Deixe-me transmitir-lhe isto:
Quando ainda periquitos (Agosto de 1968), subimos o Cacheu, de LDG (2), rumo a Bigene. Lembro-me que antes de chegarmos a esse ancoradouro que servia Ganturé, com a lancha a navegar quase encostada à margem esquerda (tecnicamente não sei o porquê), fomos saudados por rajadas de armas que alguém apelidava de costureirinhas que vinham (suponho) dos lados da densa mata do Oio.
Foi o nosso primeiro contacto com o som de armas de fogo do IN. Dentro da LDG, o silêncio imperou e quase continhamos a respiração.
Um abraço.
Afonso Sousa
______________
Notas de L.G.
(1) Meu caro Afonso: Desculpa fazer-te o reparo mas o tratamento por tu é, à boa maneira romana, uma das regras de convívio na nossa caserna...
(2) Vd post de 4 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXI: A Marinha, as LDG e as LFG (Lema Santos)
Caro senhor e amigo Lema Santos (1):
A propósito deste seu interessante descritivo: "...os RPG (lança-granadas do IN) no Cacheu, a montante de Barro (Porto Coco, Jagali, Tancroal) e antes de Binta, também eram aperitivos a evitar..."
Deixe-me transmitir-lhe isto:
Quando ainda periquitos (Agosto de 1968), subimos o Cacheu, de LDG (2), rumo a Bigene. Lembro-me que antes de chegarmos a esse ancoradouro que servia Ganturé, com a lancha a navegar quase encostada à margem esquerda (tecnicamente não sei o porquê), fomos saudados por rajadas de armas que alguém apelidava de costureirinhas que vinham (suponho) dos lados da densa mata do Oio.
Foi o nosso primeiro contacto com o som de armas de fogo do IN. Dentro da LDG, o silêncio imperou e quase continhamos a respiração.
Um abraço.
Afonso Sousa
______________
Notas de L.G.
(1) Meu caro Afonso: Desculpa fazer-te o reparo mas o tratamento por tu é, à boa maneira romana, uma das regras de convívio na nossa caserna...
(2) Vd post de 4 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXI: A Marinha, as LDG e as LFG (Lema Santos)
Guiné 63/74 - P843: Memórias do Rio Cacheu (Manuel Lema Santos)
Texto do nosso tertuliano Manuel Lema Santos , ex-1º Tenente da Reserva Naval, 1965/72, Guiné 1966/68 - NRP Orion.
Caro Marques Lopes (1):
Nos posts que tenho efectuado tenho sido bastante parco em explicações, mas esse aspecto tem alguns motivos relevantes:
Ao longo dos anos de conflito na Guiné, quando se estabelece um comparativo global de condições de vida nas unidades - humanas, sociais, psicológicas, conforto e até de risco considero, em consciência, haver claro pendor favorável aos ramos da Marinha e da Força Aérea, embora possa haver casos pontuais de sinal contrário. Estou a lembrar-me de algumas LDM, LDP ou FZE.
No Exército teria muito a ver, também, com factores meramente fortuitos como a unidade para que cada militar era nomeado (diria quase saída em sorteio), a sua localização, enquadramento na área, importância estratégica, etc. Mais não me alongo por desconhecimento.
A consideração e conhecimento do que acima digo relativamente a alguns aquartelamentos de topo de gama como por exemplo Madina do Boé, Guileje, Aldeia Formosa (falando apenas no corredor Sul) e tantos outros a nomear, transporta-me a alguma prudente contenção no relato de proezas heróicas, sobretudo porque o respeito devido aos que lá ficaram, de ambos os lados, me condiciona prioritariamente.
Outro aspecto é muito pessoal e tem a ver com a memória de minha mãe que, quando o meu pai faleceu, tinha três dos quatro filhos em teatros de guerra e apenas o mais novo estava presente para lhe proporcionar algum conforto. Não creio que até hoje tenha sido evocado de maneira minimamente digna o contributo de cada mãe portuguesa, tantas vezes com tão pesada retribuição.
Pela minha parte, que fique claro que, à época e nesse contexto histórico, voltaria a efectuar o mesmo percurso ao serviço do país onde nasci, no cumprimento de um dever de cidadania.
Talvez sem tanta expressão, a minha irmã casada com um oficial da FA em Angola mas, pormenor adicional interessante e controverso, é que tanto eu como o meu irmão estávamos na Guiné, simultaneamente. Eu na Marinha, de 1966-1968 e o meu irmão, como alferes médico, no Exército, de 1967 a 1969, no Batalhão 1933, das célebres Companhias 1790, 1791 e 1792.
Deixo as conjecturas para quem as quiser fazer mas estávamos ambos presentes no convívio da cidade universitária, aquando da greve da fome de 17 estudantes em 1962 - fui ter com o meu irmão para ver como estava aquilo e aproveitar a boleia de carro com ele para casa...o que já não consegui, pelo que a seguir digo.
Pela calada do noite, os cerca de 1500 estudantes presentes (entre os quais um ex-presidente incluído!) foram brindados com guarda especial, seguida de visita guiada pela PIDE e PSP, às estâncias turísticas de Caxias e quartel da polícia de choque na Parede (já extinto). Durante um dia e apenas para identificação, justificou-se na época. A esta distância no tempo, ocorre-me que o episódio até teve algo de ridiculamente cómico/trágico.
Não quero deixar de te agradecer os pormenores a que vou acrescentar alguns que podem ser-te interessantes:
- Em 28 de Julho de 1968 estava presente no Cacheu a LFG Orion que permaneceu lá de 25 a 30 desse mês mas eu já tinha zarpado. Concluí a minha comissão, com regresso a 12 de Maio;
- Não era normal efectuarmos qualquer disparo, mesmo de reconhecimento, abaixo da Ponta de S. Vicente. Para montante e quando referes o Ingoré estamos, para nós, a falar das zonas de Maca, Canja e Barro onde já efectuávamos a navegação atentos, vigilantes, em estado de prontidão bordadas (uma peça guarnecida);
- Claro que tínhamos em atenção o facto de haver aquartelamentos próximos e apenas efectuaríamos fogo se fôssemos atacados. Para nós, isso era rígido nessa zona. Ainda mais para montante de Barro passávamos a postos de combate, normalmente até Farim e nas zonas críticas especialmente referenciadas, como Porto Coco, Jagali e Tancroal fazíamos, embora nem sempre, fogo de reconhecimento e protecção;
- Em Tancroal, no Cacheu, em 14 Janeiro de 1968 as LFG tiveram o mais violento ataque. No caso a LFG Lira - sorte minha porque substituiu a LFG Orion que acabou por não sair de Bissau por avaria do motor de estibordo à descolagem - efectuava a escolta à LDG Alfange que transportava para Bissau o Batalhão estacionado em Farim (penso que aí conseguem referenciá-lo com facilidade pela data). Foi atingida na ponte e no rufo da casa das máquinas com granadas de RPG 3 (2) com 2 mortos e 7 feridos, entre os quais o imediato, meu camarada, que ficou surdo de um ouvido. Com um destacamento de fuzileiros a bordo...
- Provavelmente ter-te-ás cruzado, vagamente ou não, com o meu irmão pois entre Junho de 1968 e Maio de 1969 esteve, como médico, na companhia estacionada no Ingoré. Mais ainda julgo que terá uma vez ido a Barro ao correio ... Tenho bastantes fotos cedidas por ele que publicarei caso ele não veja inconveniente e que vão desde o Ramadão até fotos da Messe, Parada, arredores do Ingoré, etc.;
- Tenho bastantes documentos e fotos que terei prazer em ir expondo mas gosto de efectuar a articulação lógica com factos directamente relacionados que permitam correctas interpretações das situações que relato e são mesmo muitas.
Quando começo a puxar os fios do novelo alastro até me puxarem as orelhas! Puxem e com força.
Um abraço de amizade,
Manuel Lema Santos
_________
Nota de L.G.
(1) Vd. post anterior, nº 841.
Caro Marques Lopes (1):
Nos posts que tenho efectuado tenho sido bastante parco em explicações, mas esse aspecto tem alguns motivos relevantes:
Ao longo dos anos de conflito na Guiné, quando se estabelece um comparativo global de condições de vida nas unidades - humanas, sociais, psicológicas, conforto e até de risco considero, em consciência, haver claro pendor favorável aos ramos da Marinha e da Força Aérea, embora possa haver casos pontuais de sinal contrário. Estou a lembrar-me de algumas LDM, LDP ou FZE.
No Exército teria muito a ver, também, com factores meramente fortuitos como a unidade para que cada militar era nomeado (diria quase saída em sorteio), a sua localização, enquadramento na área, importância estratégica, etc. Mais não me alongo por desconhecimento.
A consideração e conhecimento do que acima digo relativamente a alguns aquartelamentos de topo de gama como por exemplo Madina do Boé, Guileje, Aldeia Formosa (falando apenas no corredor Sul) e tantos outros a nomear, transporta-me a alguma prudente contenção no relato de proezas heróicas, sobretudo porque o respeito devido aos que lá ficaram, de ambos os lados, me condiciona prioritariamente.
Outro aspecto é muito pessoal e tem a ver com a memória de minha mãe que, quando o meu pai faleceu, tinha três dos quatro filhos em teatros de guerra e apenas o mais novo estava presente para lhe proporcionar algum conforto. Não creio que até hoje tenha sido evocado de maneira minimamente digna o contributo de cada mãe portuguesa, tantas vezes com tão pesada retribuição.
Pela minha parte, que fique claro que, à época e nesse contexto histórico, voltaria a efectuar o mesmo percurso ao serviço do país onde nasci, no cumprimento de um dever de cidadania.
Talvez sem tanta expressão, a minha irmã casada com um oficial da FA em Angola mas, pormenor adicional interessante e controverso, é que tanto eu como o meu irmão estávamos na Guiné, simultaneamente. Eu na Marinha, de 1966-1968 e o meu irmão, como alferes médico, no Exército, de 1967 a 1969, no Batalhão 1933, das célebres Companhias 1790, 1791 e 1792.
Deixo as conjecturas para quem as quiser fazer mas estávamos ambos presentes no convívio da cidade universitária, aquando da greve da fome de 17 estudantes em 1962 - fui ter com o meu irmão para ver como estava aquilo e aproveitar a boleia de carro com ele para casa...o que já não consegui, pelo que a seguir digo.
Pela calada do noite, os cerca de 1500 estudantes presentes (entre os quais um ex-presidente incluído!) foram brindados com guarda especial, seguida de visita guiada pela PIDE e PSP, às estâncias turísticas de Caxias e quartel da polícia de choque na Parede (já extinto). Durante um dia e apenas para identificação, justificou-se na época. A esta distância no tempo, ocorre-me que o episódio até teve algo de ridiculamente cómico/trágico.
Não quero deixar de te agradecer os pormenores a que vou acrescentar alguns que podem ser-te interessantes:
- Em 28 de Julho de 1968 estava presente no Cacheu a LFG Orion que permaneceu lá de 25 a 30 desse mês mas eu já tinha zarpado. Concluí a minha comissão, com regresso a 12 de Maio;
- Não era normal efectuarmos qualquer disparo, mesmo de reconhecimento, abaixo da Ponta de S. Vicente. Para montante e quando referes o Ingoré estamos, para nós, a falar das zonas de Maca, Canja e Barro onde já efectuávamos a navegação atentos, vigilantes, em estado de prontidão bordadas (uma peça guarnecida);
- Claro que tínhamos em atenção o facto de haver aquartelamentos próximos e apenas efectuaríamos fogo se fôssemos atacados. Para nós, isso era rígido nessa zona. Ainda mais para montante de Barro passávamos a postos de combate, normalmente até Farim e nas zonas críticas especialmente referenciadas, como Porto Coco, Jagali e Tancroal fazíamos, embora nem sempre, fogo de reconhecimento e protecção;
- Em Tancroal, no Cacheu, em 14 Janeiro de 1968 as LFG tiveram o mais violento ataque. No caso a LFG Lira - sorte minha porque substituiu a LFG Orion que acabou por não sair de Bissau por avaria do motor de estibordo à descolagem - efectuava a escolta à LDG Alfange que transportava para Bissau o Batalhão estacionado em Farim (penso que aí conseguem referenciá-lo com facilidade pela data). Foi atingida na ponte e no rufo da casa das máquinas com granadas de RPG 3 (2) com 2 mortos e 7 feridos, entre os quais o imediato, meu camarada, que ficou surdo de um ouvido. Com um destacamento de fuzileiros a bordo...
- Provavelmente ter-te-ás cruzado, vagamente ou não, com o meu irmão pois entre Junho de 1968 e Maio de 1969 esteve, como médico, na companhia estacionada no Ingoré. Mais ainda julgo que terá uma vez ido a Barro ao correio ... Tenho bastantes fotos cedidas por ele que publicarei caso ele não veja inconveniente e que vão desde o Ramadão até fotos da Messe, Parada, arredores do Ingoré, etc.;
- Tenho bastantes documentos e fotos que terei prazer em ir expondo mas gosto de efectuar a articulação lógica com factos directamente relacionados que permitam correctas interpretações das situações que relato e são mesmo muitas.
Quando começo a puxar os fios do novelo alastro até me puxarem as orelhas! Puxem e com força.
Um abraço de amizade,
Manuel Lema Santos
_________
Nota de L.G.
(1) Vd. post anterior, nº 841.
Guiné 63/74 - P842: Quando os nharros da CCAÇ 3 foram alvejados pela... nossa Marinha (A. Marques Lopes)
Caro Lema Santos:
Tenho lido os teus posts sobre as lanchas (1) e tenho-me lembrado de um episódio. Tenho grande apreço por todo o pessoal marinheiro e pelo seu papel relevante na Guiné.
Este é um episódio que encarei, na altura, com normalidade e que, se calhar, não era assim tão fora do normal. Conto-o agora: a meio do dia 28 de julho de 1968, andava eu com o meu grupo de combate da CCAÇ 3 pela margem esquerda do Cacheu, por entre o tarrafe e outra vegetação, entre Barro e Ingoré, fazendo correr os craques em todas as direções, com o objectivo de descobrir (mais) uma passagem dos abastecimentos do PAIGC.
Eis senão quando surgiu uma lancha, viram os meus nharros e começaram a disparar para a margem, de G3 e metralhadora pesada. Felizmente não acertaram à primeira. Alguns dos meus ainda levantaram os braços para alertar que era gente amiga. Mas eu vi a determinação dos homens da lancha e dei ordem de cavanço e internámo-nos na mata.
Contei o facto, é claro, e mais tarde vim a saber que o pessoal da lancha tinha pensado que eram turras... Mas, felizmente, não morreu ninguém com o fogo amigo.
Abraços
A. Marques Lopes
____________
Nota de L.G.
(1) Vd. poste de 25 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXC: Os marinheiros e os seus navios (Lema Santos)
Tenho lido os teus posts sobre as lanchas (1) e tenho-me lembrado de um episódio. Tenho grande apreço por todo o pessoal marinheiro e pelo seu papel relevante na Guiné.
Este é um episódio que encarei, na altura, com normalidade e que, se calhar, não era assim tão fora do normal. Conto-o agora: a meio do dia 28 de julho de 1968, andava eu com o meu grupo de combate da CCAÇ 3 pela margem esquerda do Cacheu, por entre o tarrafe e outra vegetação, entre Barro e Ingoré, fazendo correr os craques em todas as direções, com o objectivo de descobrir (mais) uma passagem dos abastecimentos do PAIGC.
Eis senão quando surgiu uma lancha, viram os meus nharros e começaram a disparar para a margem, de G3 e metralhadora pesada. Felizmente não acertaram à primeira. Alguns dos meus ainda levantaram os braços para alertar que era gente amiga. Mas eu vi a determinação dos homens da lancha e dei ordem de cavanço e internámo-nos na mata.
Contei o facto, é claro, e mais tarde vim a saber que o pessoal da lancha tinha pensado que eram turras... Mas, felizmente, não morreu ninguém com o fogo amigo.
Abraços
A. Marques Lopes
____________
Nota de L.G.
(1) Vd. poste de 25 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXC: Os marinheiros e os seus navios (Lema Santos)
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