sexta-feira, 11 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1748: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (45): A visita do Coronel, o Grande Inquiridor

Guiné > Zona leste > Sector L1 > Bambadinca > Missirá > Pel Caç Nat 52 > 1968 > "Quando cheguei a Missirá era este o balneário existente. As sanitas começaram a ser montadas em Outubro. Formava-se bicha à entrada para tomar banho, a água era imunda e muitas vezes cheirava a petróleo (usavam-se bidões de gasóleo para ir buscar o líquido fundamental à fonte de Cancumba). Este balneário pré-histórico foi substituido em Novembro por um conjunto de 4 bidões que mais tarde, quando chegou um sistema de 6, oferecido pela engenharia de Brá, foi oferecido à população civil, para seu uso exclusivo.

Foto e legenda: © Beja Santos (2007). (Com a devida vénia ao Luís Casanova, que foi o fotógrafo, e que era furriel miliciano no Pel Caç Nat 52). Direitos reservados.

45ª Parte da série Operação Macaréu à Vista, da autoria de Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1). Texto enviado a 19 de Abril de 2007. Subtítulos do editor do blogue.


Caro Luís, aqui vai o episódio 45. Neste episódio descrevo a visita do inquiridor a Missirá, na sequência do meu recurso, falo em minha defesa das deploráveis condições que encontrei, por exemplo, na higiene. Faço minhas aqui as palavras do mail anterior: tens aí em teu poder o velho balneário podre e até Ieró Djaló a brincar com as crianças. (O balneário que eu encontrei nem sequer existia na Pedreira dos Húngaros!).

Fico triste de vires como o Sócrates a Pombal, entrada por saída. Confio que estejas mesmo a falar verdade, que vais aceitar a minha hospitalidade em breve. Há muita beleza natural nesta região de floresta. Para a semana, a despeito do feriado e da excitação do nosso encontro, há novo episódio. Imagina tu que estou a reler deslumbrado o Aquilino Ribeiro que li na Guiné. Mais não fosse, eu devia estar a pagar pelo regresso a esta obras primas.

Aceita um abraço do teu amigo e admirador, Mário.


A visita do Grande Inquiridor

por Beja Santos


Para nosso desespero, a época das chuvas chegou pujante, em majestade. São águas que desabam dos céus e que se infiltram pelas goteiras do mundo, desde as botas de lona até às munições nos abrigos. Trazem mosquitos, líquenes nas costas e nas regiões húmidas do corpo, vermes que se instalam nos dedos dos pés, desfazem os tijolos de adobe, inundam as picadas desorientando a nossa vigilância quanto aos perigos das minas, e quando se afastam substituídas pelo sol ardente deixam a farda com a espessura da serapilheira apodrecida e do cartão encarquilhado.

Missirá ficava no cu de Judas, a 16 Km da sede do Batalhão

À pressa, investimos todo o dinheiro da cantina em géneros enlatados, desde a barrica de pé de porco, passando pelos hortícolas em conserva, até aos cafés e massas, isto para já não falar nos tacos de arroz para a população, o problema nº1 do calvário dos abastecimentos. Para quem não sabe, Missirá dista 16 Km de Bambadinca, atravessa-se um rio caprichoso que quando vasa deixa lama até aos nossos mamilos, uma bolanha de Finete que fica intransitável ou quase, como numa expedição do tipo das minas do Rei Salomão, trazemos a comida, as munições, os artigos de higiene, tudo o que justifica a nossa existência naquele esporão em que se afunda o mato mais ermo, tudo à cabeça, nas mãos, em padiola, às costas, em tudo quanto é bolso das nossas fardas.

Estamos em meados de Maio, nunca se viu tanta azáfama em Mato de Cão, muito provavelmente algo está a mudar nos contigentes que se deslocam para todo o Leste, é um rodopio de tropa que chega e tropa que parte, djilas que trazem panos e levam coconote e mancarra, momentos há em que os canhões das LDG perscrutam a mata para acautelar os equipamentos valiosos que levam no bojo.

A qualquer hora do dia e da noite, ouvimos o latejar destas embarcações, nós deitados ou de pé na orla dos palmeirais de Chicri, procurando avistar ou ouvir qualquer sinal da presença do inimigo. Nada entendo do terror que eles pretendem instalar em Mato de Cão: não aparecem, não há sinais de emboscada, no outro dia desesperaram com uma espera e mina anticarro, ainda ensaiaram destruir um pontão, sabe-se lá se convictos que está para ser reactivado o percurso entre Porto Gole-Enxalé-Missirá. Que andam perto, andam. De manhã cedo, ao entardecer, ouvem-se tiros isolados e Cibo Indjai sentencia:
- Cá andam eles à caça da gazela ou do porco do mato. - Além disso, usam itinerários novos, que são os velhos caminhos de quem não suspeitávamos há muito, e vêm-se abastecer aos Nhabijões e a Mero. Iremos assustá-los brutalmente na noite escura de 27 de Maio.


O longo braço do poder: apresenta-se o Senhor Coronel Inquiridor

A mensagem intrigante da vinda de uma ilustre patente acaba de chegar: "Esteja nesse amanhã para receber inquiridor justiça militar". Parto para Mato de Cão não sem primeiro dar indicações sobre as últimas obras essenciais ao Casanova e ao Pires, recordando-lhes a questão dos arrumos, mesmo na área da tabanca civil.

O Casanova está a deprimir e eu não dou por isso. É ele quem presentemente acompanha as emboscadas nocturnas (uma nova exigência de Bafatá), conto com o Pires sobretudo para a intendência e o acompanhamento das obras em Finete. É uma depressão insidiosa, o Casanova está ensimesmado, monossilábico e agreste. A tempestade irá eclodir em Agosto. Regresso ao amanhecer a Missirá, trago toda a chuvada no corpo, misturada de orvalho, lama abundante, mas venho preparado para essa justiça militar cujo fim desconheço.

A entidade de Bissau anuncia-se depois das 10h da manhã pelo zumbido do helicóptero que começa a fazer helicóides e pousa mansinho no amplo terreiro em frente à porta de armas, ainda mais amplo depois da desbastação dos cajueiros que pertenciam ao régulo Malã Soncó. Estou banhado e de farda lavada, com a agravante de ter dormido duas horas de sono ferrado.

O ilustre visitante traz galões de Coronel, é alto, esconde a calvície puxando todos o cabelo disponível na testa, tem aperto de mão enérgico, anuncia-me que vem a mando de Sua Excelência o Comandante Militar ouvir-me no recurso pela minha punição. Exige um espaço reservado para me ouvir, mas como eu sou acusado de não cuidar da higiene e limpeza, nem mesmo das regras de segurança, exige começar a visita do interior do aquartelamento para as fileiras de arame farpado. Percorre demoradamente as tarefas da população civil e vê as mulheres e as crianças a preparar o chabéu, vê o esmagar dos caroços transformados em óleo de palma, o preparar do bajiquiti (couves), do jacatu (beringela), faz perguntas sobre o milho, os mangos, o tempo das fainas .

Dou-lhe as explicações que sei, recordo que esta população depende da autoridade civil, com quem o entendimento é excelente. Quer saber o que foi feito dos grandes problemas de higiene de que fui acusado. Levo-o até ao balneário com 6 bidões, onde agora é possível tomar banho a qualquer hora do dia e digo-lhe:
- Meu Coronel, tenho ali uma fotografia para ver o escombro do velho chuveiro. Quando cheguei aqui não havia uma sanita, um mictório, era tudo em contacto com a Natureza. Vou mostrar-lhe o que entretanto se fez e pode ser observado pelos oficiais generais.

Fala-me depois da segurança e percorremos os abrigos, as valas e os taludes com bidões que garantem alguma segurança em caso de flagelação. Sinto uma moínha na cabeça, que eu sei que vem da alma, uma vergonha inenarrável de ter que me justificar do que fiz e não fiz. É um novelo espesso de raiva que procuro controlar agarrando-me ao autodomínio que não sei de onde parte nem para onde vai. O Coronel inquiridor viu o arame farpado, subiu às vigias onde se fazem os reforços, onde há sentinelas dia e noite, já foi à cantina, ouviu a ladainha do professor que discursa para as crianças, pede água engarrafada e exige ouvir-me num local fechado.


O fantasma de Kafka (2)

Começa a segunda fase da inquirição: sou identificado (aqui sinto a presença do Kafka, como se eu pudesse ter um agente duplo em Missirá), é lida a punição, o teor do meu recurso e a sua desconsideração pelo Coronel de Bafatá. Ouvido sobre a matéria, volto a defender-me: há cascas de batata em frente à messe porque todos estiveram a trabalhar até meia hora antes de eu determinar os preparativos do almoço; justifiquei os cartuchos que Sua Excelência, o Comandante Chefe encontrou no local donde partimos a qualquer hora do dia ou da noite e onde há sempre a ordem culatra à retaguarda!, o que não inibindo as nossas responsabilidades na sua recolha abona da prudência que usamos para evitar acidentes mortais; justifico as obras no arame farpado, nos abrigos, na preparação dos soldados e num dado momento não resisto a perguntar se há algum destacamento com o escasso contigente deste onde diariamente há um patrulhamento de 25 Km, uma emboscada nocturna e pequenas operações semanais, tão pequenas que têm contacto com o inimigo que é emboscado e nos trata com respeito.

Mas rapidamente volto ao essencial da matéria que é uma defesa argumentada com o conhecimento que os meus superiores de Bambadinca têm de tudo o que está a ser feito desde Agosto de 68 até passados estes 10 meses que levo de comissão ininterrupta neste ermitério. Caminha-se para a 1 da tarde e convido o meu inquiridor a almoçar connosco.

Agradece, mas vai partir para Bafatá, nunca mais saberei nada dele a não ser quando em Agosto assinar a nota de punição em que o meu recurso só parcialmente foi contemplado: continuo a ter dois dias de prisão simples por não ter dedicado o máximo do meu interesse às deficientes condições de defesa e limpeza de Missirá. Por pura coincidência, presumo, nessa mesma data o Coronel Felgas (3) presenteia-me com louvor, exaltando a mentalidade ofensiva que imprimi às tropas que comando, refere o meu destemor, a despeito das múltiplas dificuldades e carências no meio hostil que me envolve. E por pura coincidência, presumo, Sua Excelência o Comandante Militar considera dado por si este louvor.

A tragicomédia não me amesquinhou e trouxe-me um rico ensinamento: não basta fazer com denodo, tem que se aparentar, tem que se dar uma imagem de encenação e retórica, sobretudo para esconder o importante do que não se faz. Ora, no Cuor, e com tropa africana, duas coisas podem acontecer: ou fazemos e estamos de bem com a consciência e somos respeitados pelos nossos soldados e pelas populações, ou fingimos que fazemos e somos desprezados. Oiço às vezes o Queta referir-se a tantos oficiais e sargentos com quem ele conviveu na Guiné, falando deles como uns incapazes que contribuíram para levantar o ânimo do próprio inimigo. Não interessa fazer moralidade, não ajuízo ninguém, o que sempre me orientou foi ouvir a minha respiração no espelho da consciência. Aquela punição foi injusta, deixou-me a sangrar, tudo passou.

Voltámos à Aldeia do Cuor, porque houve notícia de que um grupo de homens andava a roubar vacas em Bissaque, junto a Mero, o que quer que tenha acontecido não houve sinais em terras do Cuor. Por essas noites ouvimos foguear em Amedalai, Demba Taco e Moricanhe, um dilúvio de sofrimento nessas populações civis suportadas por milícias. Para quem não sabe, os nossos relatórios não referem as crianças carbonizadas nessas flagelações.

Faz um ano que Finete foi alvo de um feroz ataque onde Braima Mané ficou estropiado, e eu temo novos castigos, acelero a preparação dos milícias com auxílio de Bacari Soncó, todas as munições disponíveis vão para Finete.

Confirma-se que terei que ir a Bissau depor no julgamento de Ieró Djaló, o nosso milícia que deixou fugir o prisioneiro de Quebá Jilã. Medito nesta contingência: Ieró é uma jóia de rapaz, mas tem um parafuso a menos. De vez em quando, pela surda, pega na G3 e vai visitar familiares a Finete e a Bambadinca. Quando me enfureço com ele, graças a uma gaguez muito especial, o rosto contrai-se como se quisesse ficar reduzido e depois explode as sílabas sacudidas. Numa rixa com Mamasaliu, enfiou-lhe um murro que o deixou inconsciente. É um gigantão que brinca com as crianças, eu não sei bem o que devo depor a seu favor, tenho que falar com juristas em Bambadinca.

O Furriel Pires veio-me mostrar cheio de orgulho o armazém recauchutado onde se guardam as nossas alfaias da reconstrução de Missirá: motoserra, catanas, machados, enxós, tesouras, por aí adiante. Está pronto o espaldão para o morteiro 81, mais largo e que permite acondicionar um maior número de granadas. Estou completamente exausto mas vivo um momento feliz com a Missirá renascida.


Palmeiras Bravas: A (re)descoberta de Faulkner em Missirá

Acaba de chegar correio. Dois concertos para piano de Mozart, os nr. 17 e 21, vêm trazer bonomia à minha existência e escuto-os na interpretação grandiosa de Géza Anda e da Camerata Académica do Mozarteum de Salzburgo. Para quem pensa que em Bafatá não é possível adquirir cultura, esclareço que comprei Monteverdi e Strauss. E fiz leituras de arromba, como passo a descrever. Primeiro Palmeiras Bravas, uma obra prima de William Faulkner. O seu tradutor, Jorge de Sena, considera este romance "um dos mais belos e audaciosos romances de amor que jamais se escreveram".

É a segunda vez que mergulho no estilo do Faulkner, gongórico, excessivo, por vezes delirante. Ele fala de Nova Orleans, dos escravos, da agricultura do Mississipi, do fim de uma aristocracia rural feita de elegâncias cavalheirescas que odeiam o pragmatismo dessa gente do Norte, que só pensa no dinheiro e no consumo. O amor de Charlotte Rittenmeyer e de Henry Wilbourne tem um nível e uma tragédia como a de Tristão e Isolda ou Romeu e Julieta. Charlotte abandona o casamento e os filhos com o médico recém formado, Henry e vão viver um amor intenso, numa atmosfera de penúria e sensualidade. Arrastam-se em fuga por metade dos Estados Unidos, galvanizados pela força do seu amor. Charlotte morre num aborto mal sucedido e Henry aceita as penas da prisão, desprezando a oportunidade de suicídio por cianeto que lhe oferece o marido de Charlotte, exigindo que a memória da mulher amada permaneça imbuída na dor mais completa.

Capa do romance Palmeiras Bravas, de Wiliam Faulkner. Lisboa: Portugal Editora. s/d. (Colecção Livro de Bolso, 19/20): Tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena. Capa de João da Câmara Leme. (Ed. original, The Wild Palms, 1939). William Faulkner (1987-1962), é um dos grandes nomes da literatura norte-americano e mundial do Séc. XX. Foi Prémio Nobel da Literatura em 1947. (LG).

Fopto: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007).


Mas é o fascínio do discurso narrativo que me prende do princípio ao fim. O médico, colega de Henry, que abre o romance quando é procurado quando Charlotte entra no seu calvário de sofrimento. A apresentação de Henry a Charlotte, e o conhecimento que ficamos a ter dos seus respectivos caracteres e de um casamento reduzido à podridão e meras conveniências; a fuga dos amorosos para Chicago, os trabalhos desqualificados, uma errância que em todas as linhas ainda nos recorda a crise de 1929; as condições de trabalho abomináveis numa mina que tanto pode estar no Árctico como noutro qualquer fim do mundo. A visita de Charlotte aos filhos e a intensidade do reencontro com o marido; a gravidez e o desejo do aborto; a retoma do discurso com o médico com que inicialmente abre o romance; os diálogos pungentes entre Charlotte e Henry; a deliberada entrega de Henry à Justiça, como se aquela sentença constituísse a única saída para a redenção.

Acaba de nascer a minha admiração pela obra de Faulkner. Correndo o risco de ser tomado como um cabotino, quero dar conta do prazer com que leio Mickey Spillane. Spillane é um produto acabado do macartismo, do negrume da Guerra Fria, um apóstolo declarado do antigo comunismo. Inventou vários cavaleiros andantes, com destaque para o detective Mike Hammer, um justiceiro que persegue mafiosos com a mesma senha com que abate os inimigos da América.

Capa do romance policial A Vingança é Minha, de Mickey Spillane (1918-2006). Lisboa: Livros do Brasil, s/d. (Colecção Vampiro, 143). Capa de Lima de Freitas.

Foto: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007).

Dotado de um poder narrativo ímpar, escreve policiais misturando a série negra com a saga aventureira e a moral da justiça própria. Parece óbvio , mas o seu discurso é poderoso e avassalador. Oiçamo-lo logo no início deste livro que acabo de ler A Vingança é Minha: "O tipo estava absolutamente morto. Jazia no soalho, com o pijama vestido, os miolos todos espalhados por cima da carpete e a minha pistola na mão. Continuei a esfregar a cara para afastar a névoa que envolvia a mente mas os chuis não me deixaram. Um deles afastava-me a mão e gritava-me uma pergunta que ainda fazia doer-me mais a cabeça e outro dava-me na cara com um pano molhado até eu sentir que estava completamente desfeito".

Mike Hammer, como se compreende, vai desvendar a teia do crime, vai descobrir quem matou o amigo através de um vendaval de tiros, cadáveres no asfalto, estranhas beldades em agências de modelos entregues a negócios pouco claros. Pelo meio, Velda, a secretária virgem de Mike, vai ajudando à festa, sempre à espera de se entregar nos braços do seu belo justiceiro. Há quem chame esta literatura entretenimento, considero a apreciação muito discutível quando se escreve com esta mestria, este desafogo, este caudal de imagens incendiadas, às vezes a roçar o lirismo puro. Felizmente, ainda lerei muito Mickey Spillane até ao fim da comissão e ainda depois.

Prestem atenção ao que se vai seguir. Não vou conseguir iludir mais a exaustão, desmaio e o David Payne vai animar-me, obrigar-me a ter juízo. Vou emboscar, e com resultados. E a seguir, no fim do mês, Bambadinca vai ser sujeita a uma duríssima prova de fogo e vários oficiais serão castigados. A guerra mudou de rumo , um PAIGC moralizado mostra que a Operação Lança Afiada não teve quaisquer consequências, quem vai ficar encurralado somos nós. A partir de agora, nem as autodefesas concebidas por Spínola vão conseguir levar por adiante o desejo de "uma Guiné melhor" onde nós, a tropa branca e africana, aparece como o grande vigilante da paz.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 4 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1730: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (44): Uma temerária e clandestina ida a Bucol

(2) Vd. post de 6 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1050: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (7): O espectro de Kafka nas guerras do Cuor

(3) Rerências ao coronel Hélio Felgas e à punição ao Alf Beja Santos: Vd. posts de

13 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1365: Operação Macaréu à Vista (24): Discutindo os destinos do Cuor com o Coronel Hélio Felgas

25 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1461: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (30): Spínola, o Homem Grande de Bissau, em Missirá

8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1504: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (32): Aruma Sambu, o prisioneiro de Quebá Jilã

16 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1531: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (33): O Sintex: A Marinha Mercante chega até Missirá

23 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1542: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (34): Uma desastrada e desastrosa operação a Madina/Belel

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1747: Tabanca Grande (8): Herlânder Simões, ex-Fur Mil, um dos Duros de Nova Sintra (1972/74)


Guiné > Região de Bolama > Nova Sintra > 1972 > Entrada do quartel dos Duros de Nova Sintra.



Guiné > Região de Bolama > Nova Sintra > Crachás das unidades que por ali passaram.



Guiné > Região de Bolama > Nova Sintra > Chegada dos piras...



Guiné > Região de Bolama > Nova Sintrra > Apresentação de boas vindas aos periquitos...


Guiné > Região de Bolama > Nova Sintra > Largada de frescos e correio, de paraquedas...


Fotos: © Herlander Simões (200). Direitos reservados.


1. Mensagem de Herlander Simões:

Assunto - Apresentação de um Ex-Combatente

Caro camarada Luís Graça:

Tomei conhecimento do teu Blogue,durante uma das minhas buscas na Net, procurando notícias dos meus antigos camaradas de armas.

Sou o ex-Furriel Miliciano Herlânder Simões e estive na Guiné entre Maio de 1972 e Janeiro de 1974.

Fui com destino à CCAÇ 16 onde nunca cheguei a ser colocado. Fuí primeiro para os Duros de Nova Sintra e depois para os Gringos de Guileje [CCAÇ 3477], entretanto já sediados em Nhacra.

Espero, através deste nosso sítio, conseguir algumas notícias dos meus antigos camaradas, colocando-me desde já totalmente dísponivel para dar o meu modesto contríbuto a esta nobre causa.

Vou tentar enviar algumas fotos tiradas com os Gringos nas proximidades de Nhacra.

Um abraço!

Herlânder Simões

PS - Já em Janeiro te tinha mandado um mail mas pelos vistos devo ter-me enganado na direcção e o mesmo deve-se ter extraviado.


2. Comentário do editor do blogue:

Camarada:

Obrigado pela documentação me mandaste. Oportunamente serão publicadas as tuas fotos sobre Nhacra, quando estiveste com os Gringos de Guileje. Já agora, vê se podes identificar a companhia onde estiveste, os Duros de Nova Sintra. Que sejas bem-vindo à nossa caserna virtual. Aparece. Um abraço.

Camaradas & amigos: De futuro, os novos camaradas (ex-combatentes do lado português) e amigos (por ex., filhos de camaradas nossos, jovens portugueses e guineenses que se interessam pela história da guerra colonial, antigos combatentes do PAIGC) entram directamente para a tabanca grande, que sempre é mais democrática que a tertúlia e mais arejada que a caserna... Sentamos-nos debaixo de um centenário poilão, fazemos as nossas apresentações e contamos as nossas estórias. As regras de convívio continuam a ser as mesmas.
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Nota de L.G.

(1) Vd. post de 10 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1162: Guileje: CCAÇ 3477, os Gringos Açorianos (Amaro Munhoz Samúdio)

Guiné 63/74 - P1746: Convívios (3): CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), Setúbal, 9 de Junho de 2007 (Benjamim Durães)


Mensagem enviada pelo nosso camarada Benjamim Durães (ex-furriel miliciano do Pel Rec, CCS do BART 2917, Bambadinca, 1970/72):

1º ENCONTRO-CONVIVIO DE EX-MILITARES DA CCS / BART 2917

Camarada e Amigo:

O 1º Encontro-Convívio da CCS do BART 2917 realiza-se ao fim de 37 anos do embarque (17 de Maio de 1970) do Batalhão para a Guiné, no próximo dia 9 de Junho de 2007 , em Setúbal, e é extensivo a todos os ex-militares, familiares e amigos, que de algum modo estiveram ligados a BAMBADINCA, em geral, e à CCS do BART 2917, em particular (1).

O almoço é no NOVOTEL em Setúbal, que fica no final da Auto-Estrada em Setúbal, junto aos sinais luminosos (e quem olhar em frente, lado esquerdo, vê-lo de imediato), pelo que terão de voltar à esquerda, seguindo a direcção da antiga Estrada Nacional 10 no sentido para o Algarve e virar logo à direita. Rola-se cerca de 500 metros e volta-se a virar à direita. Está sinalizado por placas informativas o NOVOTEL.

O almoço está marcado para as 13 horas, e a concentração será a partir das 11,30 horas na unidade hoteleira, que tem parque de estacionamento privativo.

Quem quiserem pernoitar na unidade hoteleira, poderá efectuar a sua reserva pelo telefone 265 739 370, pelo fax 265 739 393 ou ainda por E-mail hl557.sb@accor.com, falando com a Promotora de Vendas Dona Sara Trigueiro, e informando que é um dos convivas do 1º encontro de ex-militares da CCS/BART 2917.

A inscrição para o almoço, que se prolonga pela tarde com o correspondente lanche, é de 35,00 €uros e que engloba ainda uma recordação do respectivo encontro, para mais tarde recordar.

Solicita-se ainda a todos que seja portador de uma fotografia (ou mais) da época, e de preferência fardado, para efectuarmos um álbum de recordações já com uma fotografia actual que será obtida aquando do nosso convívio.

A inscrição deverá ser confirmada até ao próximo dia 21 de Maio com o número total de presenças, acompanhada de um cheque, (pela totalidade ou parte dado que tenho sinalizar a reserva), à ordem de Benjamim Durães ou efectuar o depósito com o NIB 0035 0774 00046264900 40 ou na conta nº 46264900 junto da Caixa Geral de Depósitos ou ainda junto do Millenniumbcp - NIB 0033 0000 00180970249 07 conta nº 180970249.

Contas para Depósito:

-CGD – NIB ou conta nº 0035 0774 00046264900 40 ou conta nº 46264900
-MILLENNIUM – NIB 0033 0000 00180970249 07 ou conta nº 180970249

Benjamim Durães
Rua Florbela Espanca, nº 10
2950 – 296 PALMELA

Telemóvel – 93 93 93 315
E-mail - benjamimduraes@hotmail.com

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Nota de Carlos Vinhal, co-editor do blogue:

(1) Vd. posts recentes sobre pessoal da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72):

12 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1655: Tertúlia: Apresenta-se o ex-Furriel Mil Trms Almeida (Bambadinca, CCS/BART 2917, 1970/72)

29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1635: Amigos, enquando vos escrevo, bebo um Porto velho à nossa saúde (Abílio Machado, CCS do BART 2917, Bambadinca, 1970/72)

21 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1618: Tertúlia: Benjamim Durães, ex-furriel mil da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)

1 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1556: 1º Convívio da CCS do BART 2917: Setúbal, 9 de Junho de 2007 (Benjamim Durães)

23 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCIX: Luís Moreira, de alferes sapador a professor de matemática (Luís Moreira)

23 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCV: 1 morto e 6 feridos graves aos 20 meses (CCAÇ 12, Janeiro de 1971) (Luís Graça)

15 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1527: Lista de ex-militares da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e unidades adidas (Benjamim Durães)

13 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1520: Bambadinca, CCS do BART 2917: Alferes Abílo Ferreira Machado, o Bilocas da Cooperativa (Humberto Reis)

Guiné 63/74 - P1745: Eu e o meu capitão e amigo Guimarães, morto aos 29 anos, na estrada de Geba para Banjara (A. Marques Lopes, CART 1690)



Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 > 1967 > O Cap Art Manuel Carlos Conceição Guimarães.




Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 > 1967 > O Alf Mil A. Marques Lopes e o Cap Art Manuel Carlos Conceição Guimarães.




Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 > 1967 > O Alf Mil A. Marques Lopes e o Cap Art Manuel Carlos Conceição Guimarães.






Guiné > Zona Leste > Subsector de Geba > CART 1690 > 1967 > O Cap Art Manuel C. C. Guimarães e o Alf Mil A. Marques Lopes, em diversas situações. O Marques Lopes era o seu braço direito.

Fotos: © A. Marques Lopes (2007). Direitos reservados.


1. Texto do A. Marques Lopes, coronel (DFA) na situação de reforma, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968) .


Caros amigos e camaradas:

Eles morreram mesmo e ficaram longe do convívio dos seus familiares e amigos. Mas ficou a lembrança e, como este caso que vos trago, a pena do estúpida situação da sua morte (como referiu o Beja Santos em relação a outro caso) (1).

O capitão Manuel Carlos da Conceição Guimarães era do quadro de Artilharia. Nas circunstâncias do regime, tinha estado como tenente na esquadra da PSP do Calvário, em Lisboa, depois de ter feito parte da Companhia de Polícia Móvel que esteve em Bissau.

Nesses contextos da juventude formou a sua mentalidade. Rigidez ideológica, fidelidade cega aos desígnios dos mandantes da guerra, alheamento total dos problemas, sentimentos e ambições das populações no terreno. Completa incompreensão das razões da guerra, nem desejo algum de as tentar compreender. Muitos houve assim naquela fase (1967). Ao longo do tempo de guerra muitos foram dando, e penso que ele também teria mudado.

Mas eu fui amigo dele e acompanhei-o desde o princípio, fui o seu braço direito. Tive a incompreensão dos outros alferes, meus amigos de coração actualmente e eu deles (há 38 anos que nos encontramos - os sobreviventes - três vezes por ano, pelo menos, no Restaurante Colina, em Lisboa). Eles compreendem, agora, as razões dessa minha actuação, pala formação que eu tinha, pelos objectivos que queria conseguir.

O Guimarães foi promovido a capitão e mobilizado para a Guiné. Conhecêmo-lo em 4 de Dezembro de 1966, no RAL1, aquando da formação da companhia (CART 1690) e durante a instrução da especialidae no GACA2, em Torres Novas (de 6 de Dezembro de 1966 a 23 de Fevereiro de 1967).

Lembro-me bem que partíamos os dois, aos fins-de-semana, no Alfa Romeo Sprint Special dele até Lisboa. Loucuras, sem auto-estrada! Grandes noites na Cave, D. Quixote, Comodoro... A experiência dele na polícia abria todas as portas (as raparigas abraçavam efusivamente o Carlinhos).

Nas vésperas de embarcarmos no Ana Mafalda (2), fomos todos ao Comodoro. Um homem, já velho, que conhecíamos por ser frequentador, administrador de um banco qualquer (não me lembro), e que costumava jogar ao par ou ímpar com as raparigas (mostrava uma nota de mil e perguntava qual era o número - par ou ímpar? -, se uma dela adivinhava entregava-lhe a nota... e muitos jogos fazia), disse-nos assim: - Vocês vão para a guerra, para se portarem bem peguem lá - deu-nos várias notas de mil - e vão com estas cinco. - E fomos (alferes e capitão) e foi uma noitada. Era assim, a guerra estava paga.

Era bom homem, o Cap Guimarães. Filho de um Sargento-Ajudante, sobrinho da Beatriz Costa (estive com ele, depois, e chorou a sua morte), morreu aos 29 anos na estrada de Geba para Banjara, a 21 de Agosto de 1967 (3). Lamentou-se-me o pai, que me visitou, estava eu ferido no hospital, que o filho (solteiro) era o sustento de duas irmãs de 14 anos que andavam a estudar, e que a vida dele estava complicada.

Todos sofreram com esta guerra. Nós sabemos e há que lembrar aos outros que não sabem, ou não os fazem saber. Todas as imagens servem para lembrar, ou fazer ver.

Abraço
A. Marques Lopes

________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 8 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1740: Há mortos que nunca se enterram (Beja Santos)

(...) Naquele dia [, 7 de Fevereiro de 1970, ] não tinha chegado o correio, de modo que subi a rampa para o quartel de Bambadinca a perguntar o que de tão extraordinário vinha naquela carta. À entrada do corredor, quando íamos almoçar, o Tenente Pinheiro deu-me o meu correio e, claro está, fui logo abrir o correio da Cristina. É de lá que sai a notícia necrológica que te envio, um verdadeiro coice que me atirou à parede, fui aos urros para o meu quarto, estupidificado a ver o Carlos Sampaio, li, voltei a ler, disse que era impossível, ontem chegara a sua carta cheia de promessas para o nosso futuro como editores. Lembro ainda a entrada no quarto do Abel Rodrigues (Alf Mil da CCAÇ 12) que conversou comigo. Lá me enxuguei e fomos almoçar" (...)

(2) Vd. post de 28 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXXVII: A caminho da Guiné, no "Ana Mafalda" (1967) (A. Marques Lopes):


(...) "Largámos às 12h00 do dia 8 de Abril de 1967. Foi uma bela viagem, como devem calcular, com os baldes dos dejectos do porão a serem despejados borda fora de manhã e ao fim da tarde (ao menos haja regras). Mas os "despejos" começaram logo à saída da barra do Tejo. Eu, pessoalmente, nunca tinha chamado tantas vezes pelo Gregório.

(...)" Às 16h00 do dia 15 de Abril de 1967 o Ana Mafalda chegou ao porto de Bissau. A 16 de Abril a companhia passou directamente do navio para LDGs e seguiu pelo Geba acima até Bambadinca" (...).

(3) Vd. post de 5 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - XLVI: Em memória dos bravos de Geba
(A. Marques Lopes)

(...) "Um dia, quando ia no caminho de Geba para Banjara, fui ferido (e sortudo, mais uma vez), assim como o soldado Lamine Turé, do meu grupo de combate ; na mesma altura morreu o comandante da CART 1690, que quis ir comigo nessa viagem, o capitão Manuel C.C. Guimarães (tinha 29 anos, era filho de um sargento-ajudante e sobrinho da Beatriz Costa), e morreu o soldado Domingos Gomes, também do meu grupo de combate.

"Levei o corpo do capitão, porque me pareceu que estava ainda vivo, e o Lamine, directamente para Bafatá... porque em Geba não havia médico, vejam lá! Não levei o do Domingos Gomes, porque ficou aos bocados, não deu tempo nem tive condições para os recuperar. De Bafatá fui evacuado para o HM241 [em Bissau], primeiro, e para o Hospital Militar Principal,[em Lisboa], passada uma semana"
...).

Guiné 63/74 - P1744: Camaradas que já nos deixaram (1): Sold condutor auto João Atalaia, CCS / BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (João Atalaia, filho)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS do BCAÇ 2852 > Maio de 1970 > Cartaz de despedida dos velhinhos da CCS do BCAÇ 2852, a que pertencia o Soldado Condutor Auto João Atalaia. Diálogo entre o velhinho e o pira (CCS do BART 2917):
- Toma, pira, leva-me ao barco [LDG, no Xime]. Ordem dum velhinho, mas toma cuidado, há minas no caminho [estrada Bambadinca-Xime].
- Sim, a velhice manda.

Bilhete de identidade militar do João José Antunes Atalaia, natural do Fundão.






Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS do BCAÇ 2852 > 25 de Maio de 1970 > Louvor atribuído ao soldado condutor auto João Atalaia, pelo comandante do BCAÇ 2852, tenente-coronel Pamplona Real.
Teor do louvor: "Louvo o soldado condutor auto (...) ATALAIA, daCCS, porque durante cerca de 22 meses de comissão no desempenho das suas funções ter mostrado em alto nível qualidades dignas de serem realçadas, designadamente na forma como contribuiu, com uma manutenção eficiente, para o bom estado operacional da sua viatura, quer na forma como acatou as diversas imposições, ditadas por necessidades de serviço constante quer em descargas no cais de Bambadinca, quer em colunas de reabastecimento ou em trsnportes de tropas aos diversos pontos do sector, sempre por trajectos bastante perigosos e estafantes. Militar muito correcto, educado, inteligente, sensato e dotado de extraordinário espírito de sacrifício, contribuiu de forma notoriamente eficiente para o bom nível atingido por todo o grupo de condutores. O soldado ATALAIA é bem digno de ser tomado como exemplo pelos seus camaradas e é merecedor de toda a estima e consideralção dos seus superiores".

Fotos: © João Atalaia (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem enviada por João C. O. Atalaia:

Caro senhor:
Sou filho do ex-combatente João José Antunes Atalaia, nascido em 14-01-1946, natural de Alcaide, concelho do Fundão, e ao mexer nos seu papéis, guardados com bastante estima, constatei que pertenceu ao Batalhão de Caçadores 2852 (CCS). Era Condutor Auto, desconhecendo eu o período [e o local em que serviu].
Gostaria de saber se o mesmo foi seu conhecido ou possíveis contactos de ex-militares que foram seus camaradas.
Informo-o que o meu pai faleceu em 1983. No entanto tinha muito gosto em me juntar aos seus camaradas num possível convívio que possam fazer. Junto lhe envio também cópia de alguns documentos para que possa melhor recordar.
Atentamente
João C.O. Atalaia
TM 91 636 87 47
Mail- joaoatalaia@sapo.pt

2. Comentário do editor do blogue:

Meu caro João:
O seu falecido pai foi meu/nosso contemporâneo na Guiné. Ou melhor, ele era um ano mais velho do que eu. Mais estivemos juntos em Bambadinca, na zona leste da Guiné, durante praticamente um ano (de Julho de 1969 a finais de Maio de 1970). Passei por Bambadinca, a caminho de Contuboel, escassos dias depois de ter havido o grande ataque aquele aquartelamento (em 28 de Maio de 1969). Estava longe de imaginar que menos de dois meses depois seria colocado - eu e o pessoal da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 - naquele aquartelamento, importante sede do Sector L1, Zona Leste.

É sempre com grande emoção que falamos dos velhos camaradas da Guiné. O seu pai pertencia à CCS (Companhia de Comando e Serviços) do BCAÇ (Batalhão de Caçadores) 2852, que esteve em Bambadinca entre 1968 e 1970. O seu pai deve ter regressado a casa em finais de Maio/princípios de Junho de 1970. Eu e outros camaradas meus da CCAÇ 12, que era uma unidade adida ao BCAÇ 2852, ficámos lá mais nove meses, até Março de 1971. O seu pai fez connosco diversas colunas logísticas (reabastecimentos das unidades de quadrícula do Sector L1, a partir de Bambadinca). Como noutras partes da Guiné, os condutores auto foram gente valente e competente, que nós, os operacionais, muito estimávamos. Já aqui fiz uma pequena homenagem, na pessoa do soldado condutor auto Dalot, da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, a toda essa rapaziada que nos levava - de Jeep, GMC, Berliet, Unimog - pelas incríveis picadas da Zona Leste (1).

O seu pai era de facto um dos melhores condutores auto da CCS do BCAÇ 2852, daí o louvor que tão justamente lhe foi atribuído pelo seu comandante, o tenente-coronel Pamplona Real, em Ordem de Serviço de 25 de Maio de 1970. De facto, não só era um competente condutor como um excelente camarada.

No nosso blogue, você tem imensas referências (textos, mapas, fotos ) sobre Bambadinca... No canto superior esquerdo do nosso blogue, escreva a palavra “Bambadinca” ou “BCAÇ 2852” e depois carregue no ícone ao lado (Search this blog)... Encontrará imensas referências que o ajudarão a reconstituir o ambiente em que viveu o seu pai, nessa época... O sector L1, da Zona Leste, com sede em Bambadinca é, seguramente, a região da Guiné que melhor está representada no nossso blogue - pelo número de camaradas que por lá passaram e que nos têm mandado as suas memórias...

Lamento que o seu pai tenha morrido tão precocemente, em 1983, ainda tão novo (com menos de 40 anos)...
Na nossa tertúlia, há mais mais camaradas que conheceram o seu pai (veja os nomes, fotos e contctos). O pessoal de Bambadinca de 1968/71 tem-se encontrado regularmente desde 194. O próximo convívio é em Lisboa, no dia 26 de Maio de 2007 (2).

Contacte o nosso camarada Fernando Calado, ex-Alferes Miliciano de Transmissões, que era da CCS do BCAÇ 2852, portanto da mesma unidade do seu pai, e que está a organizar este encontro... Ele poderá falar-lhe mais do seu pai...

Obrigado pela documentação que me mandou. Fica aqui divulgada, para que outros camaradas do João Atalaia o possam recordar, com saudade. Apareça sempre. Felicito-o por guardar, com tanto carinho e ternura, estes papéis que diziam respeito a seu pai, e que são importantes para si e para todos nós, que nos encontramos neste blogue, e a que você poderá pertencer, se assim o quiser. No nosso blogue temos publicado textos de vários familiares (incluindo filhos) de camaradas nossos que morreram, ou na Guiné, em combate, ou por doença, já depois do regresso a casa. E queremos continuar a fazê-lo. Um abraço. Luís Graça
______

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 11 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CLXX: As heróicas GMC e os malucos dos seus condutores (CCAÇ 12, Septembro de 1969) (Luís Graça)

Vd. também post recente > 5 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1732: Tertúlia: Apresenta-se o David Peixoto, soldado condutor auto-rodas, CART 3492 (Xitole, 1972/74)

(2) Vd. post de 9 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1742: Convívios (2): Lisboa, Casa do Alentejo, 26 de Maio de 2007: Bambadinca 68/71, BCAÇ 2852, CCAÇ 12, etc. (Fernando Calado)

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1743: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (5): A gesta heróica dos construtores de abrigos-toupeira em Gandembel

Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > Abril/Maio de 1968 > "Uma vasta área, tinha que ser inteiramente limpa. Só os troncos das árvores eram aproveitados para o reforço dos abrigos. O resto, teria de ser destruído"..

Foto 218 > E os homens iam-se espalhando, para a limpeza da mata. E, embora com as armas de perto, trabalhavam bem expostos ao perigo que os assombrava a todo o momento

Foto 219 > "E cada árvore após árvore ia sendo derrubada, e então cada tronco teria um destino no arranjo dos abrigos" .

Foto 220 > "Na densidade da mata, divisa-se uma pequena clareira. E os helicópteros, que num imenso ror de vezes aterraram em Gandembel, lá tinham o seu espaço para poisarem".

Foto 221 > "As pouco viaturas disponíveis, em funções de transporte dos troncos de árvores".


Foto 222 > "Mas se não existissem as viaturas, os troncos teriam de ser transportados com escoras e muito esforço braçal".


Foto 223> "E logo surgia uma outra tarefa de relevante importância, como a colocação do arame farpado".


Foto 224 > "E este grupo, empenhado na limpeza, teve um momento de incrível sorte. Esta granada de morteiro 82, caída ao seu lado, não deflagrou".



Foto 225 > "E um helicóptero, ao aterrar, danificou a parte frontal. E nessa noite nenhum de nós sossegou, já que estivemos confrontados com o mais diverso tiroteio, de um modo quase ininterrupto".


E havia que procurar água pelo leito do Balana, que escasseava enquanto a época das chuvas não despontasse



Foto 226 > "A ida à água, quantas vezes procurada ao longo do leito".

Foto 227 > "Com a ajuda de uma bomba manual, iam-se enchendo os bidões e outros depósitos, mesmo garrafões de 10 litros".



Foto 228 > "No regresso da água, que requeria sempre bastante segurança".

Fotos e legendas: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.

V Parte da história da CCAÇ 2317, contada pelo ex-Alf Mil Idálio Reis (ex-alf mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69) (1).

Resumo: Instalação e início da construção do aquartelamento de Gandembel (continuação) > Ilustração fotográfica (vd. acima): Incluí o período de tempo entre 8 de Abril de 1968 - partida de Guileje para Gandembel e início da construção do aquartelamento de Gandembel - e chegada da energia eléctrica, a 9 de Maio de 1968. A epopeia dos homens-toupeiras.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 2 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1723: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (4): A epopeia dos homens-toupeiras

Guiné 63/74 - P1742: Convívios (2): Lisboa, Casa do Alentejo, 26 de Maio de 2007: Bambadinca 68/71, BCAÇ 2852, CCAÇ 12, etc. (Fernando Calado)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS do BCAÇ 2852 (1968/70) > "Aí vai uma vista aérea de Bambadinca ainda antes da construção da estrada alcatroada de ligação ao Xime"


Foto: © Humberto Reis (2007). Direitos reservados.


Mensagem do Fernando Calado, ex-Alf Mil Trms, CCS do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), que, além de alentejano de alma e coração, está profissionalmente ligado à gestão de recursos e ao ensino universitário:


BAMBADINCA 68-71 > ENCONTRO-CONVÍVIO EM 26.05.2007


Caros Amigos e Família:

Desta vez será Lisboa. A mesma Lisboa de onde todos partiram, mas onde nem todos conseguiram regressar.

Nós somos dos que tiveram a sorte a seu lado e só isso bastaria como razão para comemorar e lembrar os dias e as noites de Bambadinca.

Esperamos por todos vocês, pelas mulheres que caminham convosco, pelos filhos, pelos netos e por todos os familiares que puderem e gostarem de trazer.

Teremos o nosso almoço na Casa do Alentejo seguramente a mais impressiva de todas as casas regionais existentes em Lisboa.

Um velho e tradicional palácio duma Lisboa de outros tempos, rico de salões e pátios, onde um deles se transformou no seu ex-libris.

Falamos do Pátio Árabe, que faz uma ligação perfeita entre o espírito da casa e os povos do sul, também marcados pelas heranças magrebinas e dos reinos taifas de El- Andaluz.

Venham equipados de boa disposição, espírito aberto, muitas histórias na bagagem, as fotografias que conseguirem reunir e tentem juntar mais um camarada ao nosso grupo.

Aproximam-se os 40 anos e é preciso começar a treinar, para um máximo de pessoal nessa data.

Bem, vamos ao que interessa.

O almoço vai realizar-se em Lisboa, no próximo dia 26 de Maio, pelas 13 horas, na Casa do Alentejo, Rua das Portas de Santo Antão, 58 1º (junto ao Coliseu dos Recreios). A inscrição é de 25,00 euros e engloba um vasto repasto que esperamos seja do vosso agrado.

Esta inscrição deverá ser confirmada até ao dia 12 de Maio, com indicação do nº total de participantes, acompanhada de cheque à ordem de Fernando Calado e remetida para o seguinte endereço:

Fernando de Carvalho Taco Calado
Rua Pinheiro Chagas, 46 – 5º. Esq.
1050- 179 Lisboa


A Organização

Fernando Calado (telem. 966936719)
Ismael Augusto (telem. 919797247)

Guiné 63/74 - P1741: Convívios (1): CCAÇ 4150, Guidaje e Bigene (1973/74): V.N. Gaia, 6 de Maio de 2007 (Albano Costa)

Vila Nova de Gaia > Restaurante Salgueirinhos 2 > 6 de Maio de 2007 > X Convívio do ex-militares da CCAÇ 4150 (Guidaje e Bigene, 1973/74). O camarada Albano Costa, membro da nossa tertúlia, é o primeiro da primeira fila, a contar do lado direito. É, até ao momento, o primeiro e o único daquela unidade na nossa tertúlia. Em Novembro de 2000, ele voltou à Guiné e visitou, entre outras localidades, Guidaje e Bigene.

Foto: © Guidaje e Bigene. Este ano foi em V.N. de Gaia, no Restaurante Salgueirinhos2.

É sempre agradável ver colegas de todos os pontos do País a devorar quilómetros para se juntar no encontro, e saber novidades de quem vem de novo. E este ano vieram três, ficaram muito admirados, não imaginavam encontrar colegas que lá longe e com tanto anos de distância ainda pudessem vir a encontrar.

Agora também começa e ser notícia, pela negativa, o caso dos colegas que vão partindo para o lado de lá. Paz à sua alma...

Envio a foto do grupo. Estavam todos bem dispostos.

Albano Costa

terça-feira, 8 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1740: Há mortos que nunca se enterram (Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) , a quem o editor do blogue pediu o favor de nos falar dos seus sentimentos pessoais ao saber da morte do seu grande amigo Carlos Sampaio, Alf Mil de Artilharia, mobilizado para Moçambique em 12 de Abril de 1969:


Caro Luís, conforme combinado, junto depoimento breve sobre mortos intangíveis, aqueles que se colam à existência, que ultrapassam a necessidade de os esquecermos.

Acerca do tema que agora circula no blogue (2), queria também dizer o seguinte: mortos que ficam são os que matamos com as nossas mãos; mortos dolorosos são os que não podemos enterrar e que nos culpam por um determinado acto precipitado; mortos são aqueles cuja morte não percebemos como Uam Sambu que morreu nos meus braços ao amanhecer de 1 de Janeiro de 1970, num estúpido acidente de G3. O morto que vou falar tem a ver com uma amizade profunda, o insólito da notícia no dia em que me casei pelo civil.

Um abraço para todos
do Mário.



Há mortos que nunca se enterram

por Beja Santos

A 7 de Fevereiro de 1970 consegui telefonar de Bambadinca para a Cristina. Era o nosso casamento por procuração, e havia festa lá em casa depois do conservador ter saído. Ela insistia, cautelosa, na pergunta:
- Já recebeste a minha carta?.

Naquele dia não tinha chegado o correio, de modo que subi a rampa para o quartel de Bambadinca a perguntar o que de tão extraordinário vinha naquela carta. À entrada do corredor, quando íamos almoçar, o Tenente Pinheiro deu-me o meu correio e, claro está, fui logo abrir o correio da Cristina. É de lá que sai a notícia necrológica que te envio, um verdadeiro coice que me atirou à parede, fui aos urros para o meu quarto, estupidificado a ver o Carlos Sampaio, li, voltei a ler, disse que era impossível, ontem chegara a sua carta cheia de promessas para o nosso futuro como editores. Lembro ainda a entrada no quarto do Abel Rodrigues (Alf Mil da CCAÇ 12) que conversou comigo. Lá me enxuguei e fomos almoçar.


A seu tempo, vão aparecer as fotografias do jantar do meu casamento. Não sei como foi possível eu festejar o meu casamento depois de ter perdido o meu mais querido amigo.


Norte de Moçambique > Alf Mil Art Carlos José Paulo de Sampaio, natural de Anadia, mobilizado para Moçambique, pelo BCAÇ nº 10, em 12 de Abril de 1969.




É verdade que já tinha perdido muita coisa (1) e até Abril de 1970 ainda irei perder mais. Estou à vontade para testemunhar que há mortos, inteiros ou aos pedaços, que nos acompanham e enformam o carácter. Até desaparecermos deste mundo.

Fotos: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. último post do Beja Santos > 4 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1730: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (44): Uma temerária e clandestina ida a Bucol

(2) Vd. posts de:

8 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1739: É ruim de se ver mas faz parte da(s) nossa(s) memória(s) (Luís Graça / David Guimarães / José Martins)

7 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1738: Hospital Militar de Bissau (2): O terminal da guerra, da morte e do horror (Carlos Américo Cardoso, 1º cabo radiologista)

Guiné 63/74 - P1739: É ruim de se ver mas faz parte da(s) nossa(s) memória(s) (Luís Graça / David Guimarães / José Martins)

Guiné > Zona Leste > SEctor L1 > Xitole > CART 2716 (1970/72)> 1970 : O fado da guerra, das minas e armadilhas... Os Fur Mil Guimarães (tocando viola) e Quaresma, os dois sapadores da CART 2716 ... Um deles, o Quaresma, não voltaria a casa, vivo e inteiro (1)...

Foto: © David J. Guimarães (2005). Direitos reservados.



1. Comentário do editor do blogue, que seguiu para a tertúlia, a propósito do conteúdo do post anterior (2):

Amigos & camaradas:

São imagens que podem chocar alguns de nós... Hesitei bastante antes de as inserir, desde há três meses... Pedi ao Carlos para as enquadrar... Chegou-me o texto há pouco tempo, já em Abril... Têm uma história, um contexto, que é preciso entender... De qualquer modo, não as podemos ignorar, apagar, destruir, retocar, esquecer... É ruim de se ver, como diz o Carlos, mas fazem parte de nós, das nossas vivências, emoções, memórias... O horror começava no teatro de operações e viajava, de helicóptero, até ao Hospital Militar 241, ao seu bloco operatório, ao seu serviço de RAio X, às suas enfermarias... Homens mutilados, presos por um fio à vida e ao frasco de soro... Dos mortos, ou dos seus restos, faziam-se embrulhos, e levavam-se às costas, ou em padiolas improvisadas até ao aquartelamento mais próximo. Para os entregar ao cangalheiro e aos caixões de chumbo... Os presuntos: era a cruel expressão que usavam os vivos para falar dos mortos ou do que restavam deles...

Algumas das fotos que me chegaram, tiradas pelo Carlos Cardoso ou pelos seus amigos e camaradas da radioligia, durante a sua comissão no HM 241 (Bissau, 1972/74), não as publico mesmo, por que são demasiadas mórbidas, chocantes ou gratuitas... ou podem ser vistas como tal.

De qualquer modo, é precisar lembrar que o Hospital Militar 241 era o terminal da guerra, da morte e do horror... Alguns de nós também passaram por lá, pelo HM 241... O HM 241 e os camaradas que lá trabalharam - médicos, cirurgiões, enfermeiros, radiologistas, maqueiros, etc. - merecem uma palavra de apreço e de homenagem... Sem esquecer os pilotos, os técnicos de manutenção aeronáutica e as enfermeiras-paraquedistas.... E em primeiros lugar em nossos valorosos e valiosos 1ºs cabos enfermeiros que alinhavam connosco no mato e que corriam os mesmos riscos...

No HM 241 trabalhava-se em condições difíceis, de grande sobrecarga, de grande stresse físico e psicológico, que a guerra não dava descanso ao seu pessoal. Em muitos casos, lá operaram-se verdadeiros milagres. O Marques, que caiu numa mina anticarro comigo, em 13 de Janeiro de 1971, é um deles. O HM 241 era simultaneamente inferno e porto de abrigo, terminal da morte e do horror, mas também porta de salvação...

Obrigado, Carlos, pela tua sensibilidade, pelas fotos que juntaste e nos enviaste, que inevitavelmente despertaram em nós emoções fortes, associadas à lembrança da morte, da mutilação e da dor dos nossos camaradas...


2. Comentário do David Guimarães:

Luís, restantes camaradas e em especial Carlos:

Creio que andamos a escrever por aqui coisas e mais coisas, contando verdades e mais verdades e a história continua....

Bem, chega à baila o assunto dos mortos... Mas que coisa, mortos!.... Não sendo que se fale em exagero, não os podemos esquecer, eles foram gente que como nós queriam viver mas lerparam - termo da gíria militar que tão bem conhecemos. .. A guerra, a maldita guerra, que a certa altura, mesmo dentro do blogue, parecia algo que nós passámos, com enfim um ou outro morto... Até pdoeria parecer que tinha uma coisa mais ou menos boa...

O assunto, ora abordado, vem mesmo a talho de foice, com todos os cuidados que possamos ter ou não...

Conto um episódio - para explicar Espadanedo e Bissau, o mesmo soldado enterrado em dois lados (3)... Aconteceu... está lá aonde ???

Contarei pela rama dado, que o fulcro da questão está num ponto.... Na CART 2716 houve mortes - mas porque não haveria de haver mortes? Houve - não me vou agora referi a nomes pois eles estão por aí já relatados... Um dos meus camaradas que morreu lá foi ele em caixa de pinho.... Já morto rumo ao Hospital Militar... Ficou o espólio à guarda do Delegado de Batalhão e ... foi roubado.

Eu estava na altura de férias e, como conhecia a casa desse camarada, o Delegado do Batalhão pediu para eu ir resolver o assunto juntos dos pais para que não reivindicassem uma máquina fotográfica e um rádio... Enfim, não interessa agora os pomenores...

Eu, David Guimarães, saio do Porto em comboio e vou falar com a mãe do ex-camarada... A primeira coisa que ela me perguntou, com a mágoa de mãe:
- Ele está inteirinho ? - Eu lá menti:
- Sim, minha senhora, esteja sossegada quanto a isso....
- E o fio de outro que ele usava?
- Bom, minha senhora, aqueles indígenas lá o acharam e levaram possivelmente ... Deixe lá, tenha lá paciência, seu querido filho está connosco...

Amigos, este nosso camarada morreu a armadilhar e a colocar a cavilha de segurança no local próprio de armadilha: a granada era aquela granada instantânea vermelha com um cordão de aço helicoidal em volta... Isso rebentou-lhe nas mãos e em frente à zona do peito e pescoço (1)....

Curioso, não resolvi caso nenhum de espólio, mas isso é outro assunto que não vem ao caso de agora, um dia virá noutro contexto...

Nós, todos os combatentes, sabíamos como é que um individuo ficava depois de morto - em caso de mina por baixo de pés, nas minas anticarros em que se era projectado ou com rocketadas na tromba... Mas para a família contava muito saber se o corpo ficou ao menos inteirinho...É assim porque é assim e temos que respeitar...

Mas agora, se alguém mais expedito, resolve ir ver o que sobra do filho, do marido, sei lá... nas tumbas espalhadas por esse Portugal fora e mesmo nos teatros das operações... Valerá a pena haver segundo luto agravado com (ou pelas) nossas mentiras? E se alguém resolve ir ver esse meu camarada e não lhe encontra a cabeça? E se... e se...

Lá vem a história de Espadanedo e Bissau (3) e tantos outros casos que desembarcavam em Bissau em caixinhas... Sim, caixinhas, de madeira, bem pequenas que chegavam perfeitamente para albergar o que sobrou do morto...

O Vinhal sabe - falei com ele - desta outra hitsória: eu conhecia o alferes que andou na guerra para os seus lados e era bom homem... Rebenta-lhe a mina, creio que não mão - Vinhal corrige-me, se não for caso disso - e o que que sobrou? Este assunto também já foi aqui falado por mim e bem corrigido pelo Vinhal (4)... Enfim, um caso do caraças.

Creio que aqui hoje fica dada a resposta a todos os casos idênticos... Não vale a pena esconder a verdade... Claro que temos que mostrar isto a todos dizendo:
- Isto é verdade, olhai, era assim...

E na morte não há os bons e os maus... E as balas são tão assassinas atiradas por nós ou aqueles a quem combatíamos... E nenhuma bala, nenhum mina, nenhuma bazukada era dada com amor... Ela ia e quem dera que acertasse, mesmo quando muitos de nós tinham preocupações éticas, que na guerra também as havia...

Creio que agora chegamos ao epíteto da questão dos mortos... Morreu-se, a tiro, à canhoada, à facada, com enfartes e o que sobrava na maioria das vezes era isso, que aí está patente, um braço, um perna, uma cabeça... Choca sim, mas é bom que não se ignore... No entanto creio que agora basta, não vamos nós criar novos lutos onde eles já tinham sido totalmente aliviados... Porque, se as peripécias de guerra eram diferentes, o resultado de um morto era assim - isso que está ai patente, e que na maioria dos casos está contado....

Não chocado, ciente dos casos, gostaria que ninguém venha ainda chocar-se ao descobrir que seu filho, marido ou irmão não existe no cemitério onde foi aberta a sua campa que ainda visitam e enfeitam com flores e onde rezam...

Espanadelo pou Bissau ? E aqueles que ficaram sepultados numa frondosa copa de uma árvore de onde só o camuflado sobrou naquele clima tropical ?

Abraço, David Guimarães
Ex-Furriel Miliciano Atirador
Minas e Armadilhas
CART 2716 - Xitole 1970/72

3. Comentário do José Martins:

Caros camaradas: As imagens são impressionantes (1). Mas esta tema - a morte, e tudo o que ela envolve - não deve ser esquecido.

Há mentiras, que os próprios acontecimentos geraram, e que agora se pretende apresentar como libelo acusatório contra quem as usou, que se traduziram numa mentira de amor para com aqueles que puderam fazer o seu luto, já que nada mais lhes restava.

Um dia - porque há sempre um dia - que conseguiremos falar disso e, sobretudo, desfazer alguns pruridos de consciência.

José Martins
Ex- Fur Mil Trms
CCAÇ 5 -ç Gatos Pretos
Canjaude (1968/70)
__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts de 10 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCIX: Estórias do Xitole: 'Com minas e armadilhas, só te enganas um vez' (David Guimarães)

(2) Vd. post de 7 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1738: Hospital Militar de Bissau (2): O terminal da guerra, da morte e do horror (Carlos Américo Cardoso, 1º cabo radiologista)

(3) Vd. post de 22 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1684: Sepultado em Cinfães e em Bissau: 1º Cabo Enfermeiro Correia Vieira, da CCAÇ 1419 (Casimiro Vieira da Silva / A. Marques Lopes)

(4) Vd. post de 18 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P968: A morte do Alf Couto, de minas e armadilhas, CART 2732, Mansabá, Outubro de 1970 (Carlos Vinhal)

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1738: Hospital Militar de Bissau (2): O terminal da guerra, da morte e do horror (Carlos Américo Cardoso, 1º cabo radiologista)




Guiné > Bissau > Hospital Militar 241 > 1972 > O 1º Cabo Radiologista Cardoso e os seus amigos

Fotos: © Carlos Américo Rosa Cardoso (2007). Direitos reservados.



II parte das memórias do 1º Cabo Radiologista Carlos Cardoso, dos Serviços de Saúde Militar (1972/74) (1):


No dia 18 de Novembro de 1972 ao desembarcar no aeroporto de Bissau tudo era novidade para mim, o cheiro da terra, as tabancas no percurso até ao hospital, enfim, a simpatia com que os meus camaradas do Raio X me dispensaram. Por sorte até cheguei a uma sexta feira ao fim do dia, pelo que só me tive de me apresentar na segunda feira.


O Manel Bolinhas que estava em fim de comisão e que era vizinho da minha namorada, combinou comigo no aeroporto que no sábado me ia buscar para irmos - penso que era a Safim - dar uns mergulhos na piscina e comer carne de porco frita naqueles estabelecimentos que existiam à beira da estrada.

No domingo fiquei no Hospital com os meus camaradas do Raio X: o Coelho, que era do Cadaval e que eu fui substituir; o Carvalho que era de Coimbra e que me deu a conhecer as canções do Zeca Afonso (que eu não sabia que não era permitido o Eles comem tudo, mas que eu achava piada porque era do contra); e o Teixeira que era de Ceira, perto de Coimbra.

Contavam-me histórias que eu, desconfiado, pensava:
- Não é bem assim, os gajos estão-me a meter medo... - Mas dizia-lhes que sim. Mais tarde confirmei que aquilo que me diziam até não andava muito longe da realidade.

Até ai tudo marchava bem, piscina, petiscos... E como eramos três cabos radiologistas, combinámos com os sargentos fazer entre os três o serviço nocturno de urgência e eles só fariam o serviço diurno quando estivessem de serviço. Assim dormiriamos no Raio X, passaríamos a ter mais qualidade de vida, teríamos ar condicionado e evitaríamos a bagunça da caserna. Ao mesmo tempo não estavamos tão dispersos quando houvese alguma eventualidade.

Entretanto chegou a segunda feira, dia de apresentação e entrada ao serviço. Deram-me uma G3 que nunca tinha disparado um tiro e aí vou eu direitinho ao Raio X. Nos primeiros dias nada se passou de anormal, a vida continuava com as consultas externas a que eu estava habituado em Lisboa no Hospital da Estrela quando estive a tirar a especialidade.




Guiné > Bissau > Hospital Militar 241> 1972 > O heliporto
Foto: © Carlos Américo Rosa Cardoso (2007). Direitos reservados
Mas um dia tinha de começar o meu baptismo... Deviam ser para aí umas cinco horas da tarde, ouço um burburinho, espreito à janela e vejo uma viatura do nosso exército com cinco ou seis corpos a monte. Perguntei a um camarada o que tinha acontecido, ao que ele me respondeu :
- É, pá, mararam todos, foi um acidente... Isto aqui é mato, é quase todos os dias. - E era verdade, muitos dos nossos camaradas morreram tambem por imprudência.

E eu pensei cá para com os meus botões:
- Se é assim, tens que te começar a habituar... - E assim foi durante a minha comissão de serviço, depois era o normal.

Entretanto o Carvalho estava a terminar a comissão e quem o vinha substituir era o Hermínio Clemente, o Bigodes, que era do meu curso e já tinhamos feito o estágio na Estrela juntos, sabia que era ele que marchava a seguir.

E aí começou a história das fotografias: o Hermínio Clemente era (e penso que ainda é) fotógrafo profissional... Anda por aí, algures em lisboa, quem souber dele diga porque tem muito mais fotos do que quando ele chegou ao Hospital com as suas máquinas fotográficas e a sua veia jornalistica... Ele disse-me:
- Ó Cardoso, temos que fotografar isto... - E como devem calcular, não era permitido e se fossemos apanhados teríamos graves problemas. Tivemo-lo que fazer às escondidas, com a colaboração de camaradas enfermeiros e de alguns médicos.

Eu, uma vez por volta das três da manhã, estava já a dormir assim como os meus camaradas. Fomos acordados pelo enfermeiro de serviço às urgências para estarmos preparados. Tinha rebentado uma granada num café em Bissau e havia muitos feridos. Não me lembro o nome mas sei que era na avenida principal do lado direito de quem ia para o cais. Talvez Ronda, será?

Seriam para aí uns trinta feridos e, como calculam, quando há estilhaços, é radiografia da cabeça aos pés. Terminámos o nosso serviço já era de madrugada. Aí entrava o cabo do rancho porque eu ´nãoo perdoava um bife com batatas fritas para todos.





Guiné > Bissau > Hospital Militar 241 > 1972/74 > Cenas do bloco operatório e restos humanos... Imagens que podem, ainda hoje, ferir a sensibilidade de alguns amigos e camaradas... Diz o Carlos: É mau de se ver, mas faz parte da nossa história... Aqui era o terminal da guerra, da morte, do horror (2)... Aqui chegavam, quase sempre com vida e alguma esperança, os nossos camaradas feridos pelas minas e pelos rockets...
Amputados, muitos sobreviveram. Mas desses, quantos não ficaram estropiados para o resto da vida ? Quantos sofrem, ainda hoje, de stresse pós-traumático de guerra ? Quantos estiveram em reabilitação no Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão ? Quantos tiveram apoio na reintegração na vida civil e profisisonal ? Quantos regressaram à Pátria e não perderam a esperança ? Infelizmente, não temos uma ideia de grandeza dos nossos feridos (graves) durante a guerra colonial. (LG)

Fotos: © Carlos Américo Rosa Cardoso (2007). Direitos reservados


Quando chegavam os feridos tanto da cidade como do mato e tínhamos oportunidade - porque nem sempre podia ser -, fechávamos as portas do Raio X e batíamos umas quantas fotos. Quando eramos chamados ao bloco operatório para fazer RX aos operados apercebemo-nos que havia material que nos interessava fotografar, então combinámos com o enfermeiro Jesus e à noite fotografávamos os restos dos nossos camaradas.

É mau de se ver mas tem que ficar para a história. Não sei o que faziam, se enterravam ou queimavam, mas se algum camarada me estiver a ler e puder complementar a informação, poderemos encontrar a verdade.

Quando em 73, nos confrontos em Guidaje e em Guileje recebemos a notícia que estavam para chegar cerca de cinquenta feridos. Passadas umas horas já só eram trinta, acabando por chegar ao hospital cerca de vinte, completamente destroçados, com o moral muito em baixo, em mísero estado.

O cheiro dos ferimentos putrefactos era insuportavél por não poderem ter sido socorridos com a devida urgência. Tivemos que andar com máscaras a socorrer os nossos camaradas.

Por tudo isto, camaradas, o meu testemunho é uma pequena amostra do que nós todos sofremos e passo a citar uma frase do nosso general Spínola quando se encontrava a visitar estes mesmos feridos no Hospital:
- É para isto que está guardada a juventude portuguesa ?

Depois veio o 25 de Abril.

Com um grande abraço
Cardoso RX

___________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 1 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1481: Hospital Militar de Bissau (1): Apresenta-se o ex-1º Cabo Radiologista Cardoso

(2) 10 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1578: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (37): O horror do Hospital Militar 241 e o grande incêndio de Missirá

domingo, 6 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1737: Confirmo que vi um de dois Fiat ser abatido, em 1968, quando fazia a cobertura de uma coluna para Gandembel (Zé Teixeira)

1. Mensagem do Zé Teixeira:

Saúdo fraternalmente o Vitor Barata e agradeço a sua preocupação em apurar a verdade dos factos (1).
Isto é fazer história. No entanto reforço a afirmação de que vi, com estes olhos que ainda tenho, um dos Fiat que faziam a cobertura aérea da coluna de mantimentos que seguia de Aldeia Formosa para Gandembel e ao mesmo tempo fazia a cobertura do pelotão da CCAÇ 2317 que vinha ao nosso encontro, dado que a coluna anterior tinha sido terrivelmente massacrada, tal como foi a seguinte, a qual teve de recuar, como já escrevi, face à agressividade do IN (2).

Ou será que era um Fiat clandestino ou uma aeronave do IN ? Umas coisa, é certa foi abatido por alguém que estava no meio da mata a vigiar-nos, quando estavamos já muito perto de Ponte Balana e despenhou-se na mata no lado oposto a Gandembel. Eu não vi o Piloto saltar em paraquedas, mas recordo-me muito bem de ouvir colegas afirmarem que o viram ser projectado. Vi o Avião largar um jacto de fumo negro e começar a perder altura muito rapidamente, despenhando-se com estrondo.

Não tenho dúvidas que os Fiat foram os nossos protectores nos céus da Guiné e muito especialmente nesse dia. Aliás o Idálio Reis (3), que desconheço se estava no aquartelamento em Gandembel ou se estava no Grupo de Combater quer veio ao nosso encontro, até identificou o Piloto, o Tenente coronel Piloto-Aviador Costa Campos. O local mais próximo para ser recuperado era Gandembel ou Chamarra/Aldeia Formosa e por esta banda não passou, pelo que só poderia ser recolhido em Gandembel

Sei que no dia seguinte apareceram os Páras em Aldeia Formosa e seguiram para Gandembel/Guileje fazer umas férias, para descanso psicológico dos camaradas de Gandembel, Guileje e Gadamael.

Caro Vitor, continua a pesquisar, para que seja esclarecido devidamente o caso do Fiat abatido.

Um abraço

J.Teixeira
Esquilo Sorridente
__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 4 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1731: Não há registo, no Arquivo Histórico da FAP, de nenhuma areonave abatida no sul da Guiné em 28 de Março de 1968 (Victor Barata)

(2) Vd. post de 3 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1724: Em 1968 eu vi ser abatido um Fiat G.91 sob os céus de Gandembel (Zé Teixeira)

(3) Vd. post de 2 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1721: O primeiro Fiat G-91 foi abatido em 28 de Março de 1968 (Idálio Reis)

Guiné 63/74 - P1736: CCAÇ 1419: Mortos na flor da idade (Casimiro Vieira da Silva)

Marco de Canaveses > Candoz > Quinta de Candoz > Maio de 2007 > For do campo

Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.



Legenda: "Companhia de Caçadores 1419 > Guiné Julho/65 a Maio/67 > Os companheiros que não regressaram porque a morte os levou, estando sempre presentes, entre nós, em espírito... Grande é a saudade que deixaram. Imewnsa seja a paz em que descansam"...
Foto: © Casimiro Vieira da Silva (2007). Direitos reservados.


Comentário do editor do blogue:
Eu acho uma ternura a anotação que o Casimiro Vieira da Silva, ex-1º Cabo Enfermeiro - desconheço a unidade - apôs nesta imagem, com a fotografia dos quatro mortos da CCAÇ 1419 (1965/67), entre os quais o seu amigo, vizinho, conterrâneo e também 1º cabo enfermeiro José Maria Correia Vieira, morto em combate na noite de 5 de Janeiro de 1966, na Ponte do Rio Blassar - Matar, Olossato (1).

O Casimiro, que é um inseparável companheiro e amigo do Xico Allen (estiveram ambos, em Pombal, no dia 28 de Abril de 2007), escreveu esta singela frase que vale um poema: "Meninos de 20 anos que também lá foram-se"...

Gostaria que ele fizesse parte da nossa tertúlia. Ele e o Xico recusam-se a ter email, mas estão sempre a espreitar o nosso blogue na casa dos amigos ou dos filhos... O Xico esteve em Pombal acompanhado do Casimiro, tendo no entanto cancelado, na véspera, a sua já periódica viagem à Guiné-Bissau, de jipe... Não houve tempo para os pormenores. Qualquer deles são tertulianos do coração. Daqui, de tão perto - estou no Porto, onde vim à festa da queima das fitas de dois sobrinhos -, vai um abraço especial para eles.
PS - De repente, ao olhar para cara dos meus sobrinhos (um deles, sobrinho-neto) que acabam agora os seus cursos superiores, dou-me conta que também eu já tive vinte e poucos anos... e que nessa altura, aos vinte e três, já estava na Guiné, em 1969... Estávamos todos na flor da idade... Sinto-me feliz por o meu país não estar hoje em guerra, e a geração dos meus filhos e dos meus sobrinhos não viver a angústia de ter morrer na flor da idade, na frente de batalha...


_____

Nota de L.G.:

(1) 22 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1684: Sepultado em Cinfães e em Bissau: 1º Cabo Enfermeiro Correia Vieira, da CCAÇ 1419 (Casimiro Vieira da Silva / A. Marques Lopes)

Guiné 63/74 - P1735: II Encontro em Pombal (14): Vídeo do Hugo Moura Ferreira

1. Mensagem do nosso camarada Hugo Moura Ferreira:

Caros amigos e camaradas

A todos os que foram (e também aos que não estiveram presentes), quero agradecer o excelente sábado que me proporcionaram, a mim e ao meu amigo Braima Baldé que na viagem de regresso me confidenciou ter sido para ele um dos dias mais felizes da sua vida. Só por isso, e porque sou muito amigo dele, lhes agradeço do fundo do coração, tal como já o fiz aos pessoalmente aos organizadores (Junqueira, Vinhal e Marques).

Tive pena por não ter estado mais tempo e ainda mais por saber que houve festa quase até às 4 da madrugada.

Paciência... sabemos que cada reunião que façamos sairá mais bem organizada. Bom..., da organização não se poderá fazer qualquer reparo pois estava de 5 estrelas, mas que no futuro se poderá fazer um programa mais objectivo, não tenho dúvidas. Eu mesmo, conjuntamente com alguns camaradas, acabámos por nos desencontrar e não visitar os locais interessantes que o Vitor Junqueira andou a divulgar. Outro dia lhe pedirei para o fazer.

Por agora quero apenas acrescentar mais algo àquilo que já foi divulgado no Blogue, com desejos de boa saúde para todos. Aqui fica um vídeo, de 6 m e 11 s, que está disponível no You Tube:

http://www.youtube.com/watch?v=bRxd65WDBN4

Moura Ferreira
Ex-Alf Mil (Mec 5409564)
Guiné 1966/1968
CCAÇ 1621 - Cufar
e CCaç6 - Bedanda

2. Comentário de L.G.:

Camarada Moura Ferreira: Deixa-me dizer-te, aqui do Porto onde me encontro, que foi-me muito grato conhecer-te pessoalmente, há dias em Bombal. No 10 de Junho de 2006, em Belém, desencontrámo-nos. Tive pena de não ter tido mais tempo, em Pombal, para conversar um pouco mais contigo e com o teu amigo Braima Baldé que, pelo que percebi, era natural de Bambadinca, ou tinha família lá, ou amigos lá... Ficará para a próxima. Ele será sempre bem vindo. É uma boa ocasião para o convidares a fazer parte da nossa tertúlia. Obrigado também pela surpresa do teu vídeo que capta muito bem a atmosfera, cordial e descontraída, com que se desenrolou o nosso almoço-convívio, no dia 28 de Abril de 2007, no Restaurante O Manjar do Marquês, em Pombal, sob a batuta do nosso maestro Vitor Junqueira.

sábado, 5 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1734: II Encontro em Pombal (13): Paco Bandeira: Lá longe, onde o sol castiga mais.. (J. L. Vacas de Carvalho / J. Mexia Alves)




Videoclipe (2 m 32 s) > "Lá longe, onde o sol castiga mais" ... (Letra e música de Paco Bandeira, n. 1945, e que fez a guerra do Ultramar em Angola, como 1º cabo de transmissões) ... Vozes: Joaquim Mexia Alves e J. L. Vacas de Carvalho. Viola: J. L. Vacas de Carvalho. Para reproduzir o vídeo, basta clicar duas vezes na imagem (1).

Vídeo: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.Vídeo alojado no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau_Videos. Copyright © 2003-2007 Photobucket Inc. All rights reserved.

Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º encontro da malta do nosso blogue > Restaurante O Manjar do Marquês > Fim de tarde > Audiência: Eu, o Paulo Santiago e o seu filho João, o Humberto Reis e a Teresa, o Victor Tavares, o Artur Soares e o António Barroso.... A este pequeno grupo ainda se juntaria depois o Tino Neves e a esposa (acabados de chegar... de Coimbra). Artistas: o J. L. Vacas de Carvalho, viola e voz; e o Joaquim Mexia Alves, voz. O resto da maralha, desafinada, também deu uma ajuda... Para a próxima, temos que ir a treinos e trazer as letras decoradas... Somos acometidos de saudade e de emoção ao ouvir estas velhas letras e músicas com que passámos as noites em branco, de Bambadinca ao Xitole, ou de Guidaje a Guileje... (LG).

A letra do Paco Bandeira rezava assim (e já agora com música)...

Refrão

Lá longe
Onde o Sol castiga mais,
Não há suspiros nem ais
Há coragem e valor.

À noite
Com os olhos postos no Céu
Pedimos ao nosso Deus
Que nos dê a salvação.

1

Quem nunca viu
Quem nunca andou a combater
Não dá valor, não faz ideia o que é sofrer
Ter de matar, para não morrer
Saber sofrer sem chorar, saber chorar e sorrir.

2

E quando algum do nosso grupo cai
Ainda é pior ainda sofremos mais
Faz-nos sentir, faz-nos pensar
Talvez da próxima vez
Seja eu quem vai tombar.
__________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de:
1 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1717: Tertúlia: Encontro em Pombal (8): Ah, tigres! Ou uma dupla de fadistas (J.L. Vacas de Carvalho / J. Mexia Alves)

1 de Maio de 2007 Guiné 63/74 - P1720: Tertúlia: Encontro em Pombal (9): (Não) me tirem daqui (Sousa de Castro / Vacas de Carvalho / Mexia Alves)