1. Em mensagem do dia 6 de Fevereiro de 2013, o nosso camarada Belmiro Tavares (ex-Alf Mil, CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), enviou-nos mais uma memória do seu tempo de estudante.
HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE BELMIRO TAVARES
38 - O Carinhas
(1ª parte)
Algumas figuras mais ou menos castiças passaram pelo COA, como não poderia deixar de ser. Existem casos semelhantes em todos os estabelecimentos de ensino; o nosso não foi exceção – não podia sê-lo.
Hoje, o Carinhas, de seu nome completo, Adelino Carinhas Pinto, é o alvo escolhido da nossa escrita. Não nos move qualquer outra intenção que não seja narrar assuntos verídicos ocorridos, durante alguns anos. Nenhum, entre tantos alunos, poderia pretender ser “levado” ao colo durante a sua permanência no COA, pois não haveria braços (nem abraços) para todos – absolutamente impossível!
O Carinhas não terá frequentado o COA durante mais de três anos (creio) mas é certamente um elemento marcante, até pelo seu nome pouco ou nada vulgar; não é, porém, do seu nome que vamos tratar.
O pai do Carinhas era natural de Sever do Vouga e era ali que o Adelino passava alguns fins-de-semana e as férias em casa da tia, irmã de seu pai, durante os anos em que frequentou o COA, e terá continuado.
O progenitor terá “emigrado” para Angola, onde casou com uma senhora nativa. Notava-se claramente que nas veias do Carinhas corria um pouco de “sangue quente” africano; a avaliar pela aparência, a mãe, no entanto, não seria mulata, talvez até nem fosse mesmo uma “cabrita pura”. A sua débil ascendência africana não era tão notória assim.
Quem estudou as “leis de Mendel” – creio que na Biologia do então 3º ciclo – poderá fornecer uma achega mais abalizada (que não a minha) que não enveredei por essa via.
O Carinhas era alto, um tanto esguio, sempre pronto, pelo menos quando acompanhado e desafiado, a entrar pela mini asneira; resposta sempre pronta na ponta da língua, (o pobre podia ir sem esmola, mas não ia sem resposta); era um brincalhão nato; apesar de tudo não deixava de ser um bom rapaz, amigo do seu amigo e também um bom aluno (bem acima da média), pois no 2º ano dispensou de oral e não foi tangencialmente.
Terá entrado no COA em 1955, e no ano seguinte concluiu o 2º ano, integrado numa célebre turma em que 54% dos alunos dispensaram da oral - caso extraordinário. É a prova evidente da elevada qualidade daqueles alunos, mas acima de tudo, da superior eficácia do ensino ministrado no COA já que, nesse ano, a média nacional de dispensados rondou os 20%. A ninguém poderá restar dúvidas!
Terá abandonado o COA no fim do 3º ano, transferindo-se, vá lá saber-se porquê, para o Colégio de Albergaria-a-Velha, vila um pouco a sul de Oliveira de Azeméis, onde continuou os estudos por mais algum tempo – não sei até quando.
Consta que teve uma abundante sequência de empregos; que eu saiba, passou pelos CTT, jornalismo, taxista, entre outros, mas parece que nunca terá ocupado por largo tempo qualquer dos cargos.
A história que hoje vamos narrar ocorreu num domingo ao fim da tarde; o Tó Zé e/ou Zé Beto, os filhos dos nossos saudosos diretores, poderão dar, certamente, uma prestante ajuda, pois, o que vai ser contado, ocorreu no dia em os seus avós de Santiago, os pais do Sr. Almeida, comemoraram 50 anos de casados, as bodas de ouro; o banquete teve lugar no COA, mais precisamente, no recém-construído ginásio. Creio que era um dia de inverno e havia por ali muitos convidados, gente estranha para nós. Posso mesmo afirmar que havia no ginásio muitos lugares sentados, segundo tive oportunidade de observar pessoalmente, in loco, como mais à frente se verá.
Durante a tarde desse dia (Domingo) alguns alunos internos saíram do COA, dirigindo-se ao jardim da Vila, para mudar de ares, lavar os olhos e dar umas voltas, vulgo “fazer picadeiro”! A dado momento, o grupo de que o Carinhas fazia parte cruzou com outro grupo – rapazes e raparigas – que não seriam, pelo menos na sua maioria, alunos do COA; uma das moças ia com certeza “bem acompanhada” por um rapaz que os alunos do COA desconheciam. Sem que ninguém se apercebesse que algo de anormal acontecera, o Carinhas caiu desamparado no solo como se fulminado por um violento raio… do qual ninguém se deu conta e que não deixou qualquer rasto… pois o hipotético raio não existiu mesmo.
O Carinhas ficou inanimado no meio daquela rapaziada abismada e atónita; ninguém vislumbrou uma saída prática para pôr termo àquela situação embaraçosa e até potencialmente perigosa. Houve a costumeira confusão própria de casos semelhantes; todos se empurravam para dar uma olhadela ao sinistrado mas ninguém se lembrou sequer de chamar os bombeiros… do nosso caríssimo professor Santos.
Entre os alunos ali presentes havia dois jovens severenses: Eugénio Bastos e Valdemar Coutinho. Por serem conterrâneos, colegas e bons amigos do “sinistrado”, deliberadamente assumiram o encargo (fardo bastante pesado) de “levar” o Carinhas para o COA. Solícitos e corajosos, levantaram a custo “aquele corpo morto” (salvo seja), apoiaram os braços do “doente” sobre os seus robustos ombros jovens e, literalmente arrastaram-no” para o colégio.
Recordo aquela imagem meio caricata, quase cómica, se o caso não fosse sério. O Carinhas era bem mais alto que os acólicos e os pés dele rojavam mais de 1 metro atrás dos amigos auxiliadores. O Carinhas sem prestar qualquer ajuda aos amigos e voluntários (continuava a não dar visíveis sinais de vida) para diminuir o esforço inaudito dos dois companheiros, permitia, inconscientemente, que o arrastassem para lugar seguro.
Assim entraram, já extenuados, no salão de estudo. Os alunos ali presentes rodearam-no, ansiosos por informações sobre o acidentado e acerca do que tinha acontecido. O doente ficou estendido no estrado; havia ali um sobretudo velho e sem dono que, à falta de melhor, serviu de almofada àquela “cabecinha tonta”.
De repente, o Carinhas abocanhou aquele casacão (que lhe servia para apoiar a cabeça) e, agitando freneticamente a cabeça para um e outro lado, fez o dito casacão voar sobre si como se dum delicado lenço se tratasse. De vez em quando, autenticamente “urrava” como qualquer animal feroz.
Alguém se apressou a descer até ao ginásio para avisar os nossos diretores do que estava a passar-se; ali se comemoravam as bodas de ouro dos pais do Sr. Almeida. O Sr. Dr. Matos, o nosso médico, era uma dos convivas e, logo que foi informado, galgou as escadas até ao salão onde se encontrava o “doente” para prestar rápida assistência médica e medicamentosa ao nosso colega que de vez em quando, dava sinais de profunda agitação. Tirou da sua maleta uma seringa e logo lhe aplicou uma daquelas injeções milagrosas. Em breve, o Carinhas deu sinais claros de acalmia mas logo, ainda inconsciente, tinha novos acessos de fúria, ficando profundamente agitado, qual parida leoa à qual “roubaram os filhos enquanto ela alimento lhes buscara”.
A srª Dª Maria Adília, sempre atenta e cuidadosa, ouvido o parecer do médico, ordenou que o paciente fosse transportado para um quarto na zona dos seus aposentos.
Mais uma tarefa complicada de executar que foi conseguida com sucesso total devido à solícita colaboração de vários alunos. A Srª Diretora entendeu que o Carinhas necessitava de acompanhamento que na camarata não poderia ter.
Não sei como nem porquê (nunca soube) o Armando Figueiredo e eu fomos incumbidos de acompanhar, vigiar e apoiar o Carinhas naquele quarto por tempo indeterminado; entendeu-se que, no mínimo, ali permaneceríamos até ao fim da festa.
Um pouco mais tarde, o Carinhas, devidamente bem aconchegado na sua nova cama, com a voz ainda muito “arrastada”, tartamudeou, compassadamente: luz!... Luz!
Logo um de nós se abeirou do interruptor e... Fez-se luz!
Ele repetiu: luz!... Luz! Um de nós desligou imediatamente a corrente elétrica!
O Carinhas, porém, com iluminação ou às escuras, com a língua entaramelada, ia repetindo: luz!... Luz!…
O Dr. Matos compareceu no local para se certificar da evolução do estado do “doente”; permaneceu ali durante largos minutos e aconselhou que a iluminação continuasse desligada pelo menos até o Carinhas ficar suficientemente calmo.
Entretanto, alguns colegas passaram também pelo local a fim de colher informação sobre a evolução do estado do companheiro e amigo; estavam todos preocupados… e não era para menos.
Na conversa com as visitas (alunos) recebemos certas informações que se manifestaram cruciais para “ligar as pontas” da estória que se desenrolaria à volta do eixo principal – entendíamos nós – que seria aquele pedido insistente de “luz” quer as lâmpadas estivessem acesas ou apagadas.
Entretanto passou a hora do jantar e ninguém se preocupou se nós, os vigilantes de serviço, estávamos ou não devidamente alimentados; nós éramos jovens de muito alimento – eu falo por mim! Nós porém não nos inquietámos: em primeiro lugar, porque o jantar, como de costume, seria massa de meada guisada com carne, e por tradição ou qualquer outro motivo, ninguém caía de amores por aquele prato; em segundo lugar porque entretanto descortinámos uma saída airosa para saciar o nosso apetite de jovens.
Sem colocar em causa a vigilância ao doente, um de cada vez descia ao piso de baixo onde a funcionava uma cozinha “improvisada” para a festa daquele dia e solicitámos encarecidamente ao pessoal de serviço que nos aconchegasse a “barriguinha”.
Cada um comia no local que lhe era apresentado e levava alimento, também para o outro que continuava de atalaia, no tal aposento.
Com os estômagos minimamente bem compostos – a quantidade, qualidade e variedade dos alimentos ingeridos superavam largamente a quantidade usualmente necessária para satisfazer os nossos estômagos sempre ávidos de alimento – iniciámos a exploração do “filão” que nos havia sido proporcionado pelas informações soltas e desconexas que nos haviam sido prestadas pelos nossos colegas que por ali passaram.
Muito calmamente iniciámos uma profícua conversa com o nosso “doente”. Meio adormecido e com a língua, ainda encortiçada, o Carinhas foi taramelando palavras mais ou menos soltas e que nós fomos encadeando entre si e as informações de que já dispúnhamos, com maior ou menor dificuldade; continuámos a arrancar dele palavras a saca-rolhas, autenticamente, e assim apanhámos o enredo completo do que tinha acontecido e que havia causado aquele atroz sofrimento ao Carinhas e enorme preocupação aos colegas e diretores.
Com a necessária segurança – e pequena margem de erro – concluímos: o Carinhas caiu de amores – paixão puramente platónica – por uma moça que vivia do outro lado da avenida, num prédio em cujo rés-do-chão havia uma oficina onde reparavam, vendiam e alugavam velocípedes (o tal veículo em que a besta puxa sentada!). Segundo apurámos, a tal moça chamava-se Maria da Luz e não tinha conhecimento da tal paixão tão “assolapada” no jovem coração avantajado do Carinhas. Eis o motivo por que ele clamava, tão insistentemente por Luz! (Aqui já era Luz!).
O Carinhas logo que viu, inesperadamente a sua “amada” idolatrada, no jardim “pendurada “num outro rapaz (que não ele próprio) ficou desvairado… caiu desamparado no solo como se fulminado por um raio. A Maria da Luz não sabia que era o alvo de tão profunda e doentia paixão. Já depois da meia-noite, o Carinhas dormia repousadamente como qualquer anjo papudo; apareceu a Srª Dª Maria Adília que logo quis saber novidades sobre o estado do “doente”… e se tínhamos jantado.
À 2ª pergunta logo respondemos negativamente; quanto à 1ª narrámos, com os pormenores possíveis, o que, com paciência de santo, havíamos “decifrado”.
Ela manifestou o seu contentamento pelo nosso trabalho “detectivesco” e convidou-nos a segui-la até ao ginásio; já não havia lá qualquer convidado. “Descobriu” algumas mesas, baixando as pontas das toalhas e ordenou que comêssemos o que quiséssemos de tudo o que ali havia – e eram muitas a iguarias ali à mão de semear.
Bem comidos e bem bebidos – naqueles bons velhos tempos, os jovens até bebiam vinho, e nós tivemos direito, também a espumante – a srª diretora continuava ávida por mais minudências; agradeceu a nossa proveitosa e exaustiva colaboração e decidiu que não nos levantássemos às 6h30, como os outros alunos; apenas devíamos comparecer ao pequeno-almoço – às 8:45 – a que se seguiam as habituais aulas.
Um inesquecível fim de domingo!
(2ª Parte)
Como atrás foi dito, o Carinhas transferiu-se para o Colégio de Albergaria-a-Velha, provavelmente no fim do 3º ano.
Um amigo comum (meu conterrâneo) que o acompanhou na nova escola contou-me algumas peripécias mais ou menos disparatadas, um pouco trágicas ou cómicas, segundo o ponto de vista dos intervenientes em que o Carinhas, por vontade própria, tomou parte.
Alguns companheiros falavam de cortes de cabelo à “Rosa Coutinho”; o Carinhas, logo se manifestou disponível para rapar a cabeça, com navalha de barba, caso os colegas lhe entregassem uma determinada quantia em dinheiro vivo. Os colegas conseguiram juntar as moedas solicitadas (não sei qual o montante) e de seguida o Carinhas “barbeou” a cabeça.
Dada a sua estatura, as feições e a cor de pele, o Carinhas ficou com ares de autêntico palhaço ou mesmo pior que isso.
Na noite seguinte, os colegas que perderam a aposta decidiram tornar a situação ainda mais cómica – era a hora da vingança, que sempre se serve… fria.
Comparam um frasco de tintura de iodo e, munidos de penas de galinha para servirem de pincel, enquanto o Carinhas dormia a sono solto, besuntaram a sua cabeça já descabelada; ele ficou com um aspeto quase pavoroso – terrível vingança!
Os alunos internos deslocaram-se às instalações sanitárias para a higiene matinal. Ao verem o Carinhas naquele estado deplorável, todos riram desalmadamente da nova e real aparência do colega. Quando se apercebeu que era ele próprio o alvo de tanta chacota, o Carinhas espumava de raiva; urrava furiosamente; virou fera! Comentou o meu informador: “se, naquela hora, ele imaginasse quem tinham sido os autores de tão severa “vingança” (foram vários), o Carinhas mataria um, tal era o seu estado de fúria; ele parecia um touro indómito, bramando!
Saudações colegiais!
PS – há meses que tenho tentado contactar o Carinhas Pinto por telemóvel, mas ele nunca atende. Não sei o paradeiro dele; o telefone chama mas ninguém atende.
Saudações Colegiais
Belmiro Tavares
Fevereiro 2013
____________
Nota do editor:
Vd. último poste da série de 18 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11113: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (37): A "ida ao toco"
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
Guiné 63/74 - P11134: Notas de leitura (459): "Olhares Sobre Guiné e Cabo Verde", organização de Manuel Barão da Cunha e José Castanho (2) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Janeiro de 2013:
Queridos amigos,
Para todos os efeitos, vale a pena ler estes “Olhares sobre a Guiné”.
Desta feita, temos os contributos dos coronéis Raul Folques, Moura Calheiros e Mira Vaz sobre as atividades dos Comandos e do BCP 12.
Segue-se o consistente dossiê da Marinha, elaborado com muito apuro, a Marinha sente legítimo orgulho pela multiplicidade de operações desde o apoio logístico e levantamentos hidrográficos, fiscalização das vias fluviais e a intervenção dos seus Fuzileiros.
Temos aqui um excelente resumo de consulta obrigatória nos tempos vindouros.
Um abraço do
Mário
Olhares sobre Guiné e Cabo Verde (2)
Beja Santos
“Olhares sobre Guiné e Cabo Verde” é o mais recente volume da coleção Fim do Império, teve como organizadores Manuel Barão da Cunha e José Castanho Paes, DG Edições e Caminhos Romanos, 2012. Colaboraram neste volume cerca de 30 autores que se debruçaram sobre matérias díspares em que o pano de fundo foi a guerra vista fundamentalmente por militares dos três ramos das Forças Armadas. No texto anterior deu-se primazia a atividades terrestres desenvolvidas pelas forças em quadrícula, agora pretende-se destacar a intervenção dos Comandos e do Batalhão de Caçadores Para-quedistas nº12 (BCP12).
Coube ao coronel Raul Folques, que comandou o Batalhão de Comandos da Guiné sumarizar as atividades dos Comandos Guineenses, dando voz a Gabriel José Haik, é como se este estivesse a contar a história de todos os comandos africanos, uma viagem de recordações em que se dá relevo a três operações de indiscutível importância: a Ametista Real, com assalto ao aquartelamento de Cumbamori, a Galáxia Vermelha, em que foi desarticulado o dispositivo inimigo no Cantanhez, e a Neve Gelada, em que conseguiu aliviar a pressão que o inimigo mantinha sobre a guarnição de Canquelifá, quase no termo da guerra.
Muito está escrito sobre a Ametista Real, que decorreu em Maio de 1973, ao tempo em que as forças do PAIGC tinham cercado completamente Guidage. São descritos com detalhe os terríveis combates, que chegaram a ter corpo-a-corpo, em que se temeu sempre a ameaça dos mísseis Strela, e conclui: “Nesta ação, os homens do Agrupamento Centauro, experientes, ardorosos, combatidos e muito calejados, correram risco excessivos, mantendo-se em combate com pertinácia, até à quase exaustão física e à míngua de munições, à chegada a Guidage, se contavam, para cada comando mais abonado, pelos dedos das mãos”.
A Galáxia Vermelha foi lançada na região do Cantanhez Sul, entre 22 de Dezembro de 1973 e 1 de Janeiro de 1974, envolveu quatro companheiros de comandos com reforço com três destacamentos de Fuzileiros, teve apoio de fogo de três pelotões de artilharia e o apoio do Agrupamento AR, seis helicópteros, dois Fiat e um avião DO27 a missão era a de reconhecer, desarticular e destruir as organizações inimigas em Cachamba Balanta, Cachamba Sosso, Cabanta e Darsalame e aliviar a pressão sobre o eixo Cadique-Jemberem e guarnições da região. Embocadas não faltaram, inclusive no dia de Natal. Todos os objetivos da missão foram alcançados.
A Neve Gelada decorreu de 2 a 31 de Março de 1974, o PAIGC tinha montado uma ofensiva sobre Canquelifá, bombardeando-a diariamente com fogo pesado e morteiros 120mm, canhões sem recuo e foguetões, o que levou a guarnição ao limite da resistência física e psíquica. A missão que coube ao Batalhão de Comandos foi a de desarticular os elementos inimigos da região, garantindo a consolidação da posição de Canquelifá. Constituíram-se três agrupamentos que se lançaram sobre a base de fogos do inimigo, este deu uma boa réplica ao assalto, quando retirou o inimigo deixou 26 mortes no terreno, a região foi sujeita a uma batida após a recolha de material deixado pelo inimigo, desde três morteiros de 120mm completos até uma espingarda automática AK 47, a missão foi integralmente cumprida, pois o inimigo foi desarticulado, deixou ser capturado importante material e Canquelifá deixou de estar pressionada.
Raul Folques, a voz de Patrício Haik, deplora a forma como os Comandos Guineenses foram deixados à deriva: “Fomos enganados, manipulados, alguns comprados e, finalmente, abandonados e vendidos”.
Coube aos coronéis Moura Calheiros e Mira Vaz dissertarem sobre o BCP12. Voltando um pouco atrás, é lembrado que quando começou a luta armada havia um pelotão no Aeródromo Base nº 2, em Janeiro de 1964 chegou o segundo pelotão de para-quedistas que interveio na Operação Tridente. Como a situação em geral se deteriorou, o comandante-chefe solicitou ao Ministro da Defesa-Nacional a colocação de uma companhia de para-quedistas. No final de 1966 foram lançadas as primeiras ações simultâneas de heliassalto. Nesse ano foi criado o BCP12, com duas companhias operacionais, com os números 121 e 122. Faz-se um inventário breve das intervenções, com especial destaque aos que tiveram lugar na região Sul. Em Maio de 1968, Spínola assume as funções de comandante-chefe, de imediato reduziu a autonomia operacional à Armada e à Força Aérea, alterou o dispositivo das forças militares no terreno, visando a concentração de meios humanos. O BCP12 passou a intervir mais em missões de reforço de tropas de quadrícula e menos em heliassaltos. Nos finais de Junho de 1969, chegou à Guiné a CCP 123, novamente se inventariam as operações em que participaram as diferentes companhias. Recorda-se a Operação Muralha Quimérica, desenvolvida na região Unal-Guileje, na altura em que se pretendia mostrar aos membros da delegação da ONU a existência de regiões libertadas. Destruiu-se uma Loja do Povo e um hospital, e foram abatidos 30 guerrilheiros e capturados 17. Os para-quedistas participaram ativamente numa das maiores, mais complexas e mais bem-sucedidas operações, reocupação do Cantanhez, quebrou-se o mito da invencibilidade de que o PAIGC aí gozava. É esmiuçada a Operação Grande Empresa cujo sucesso irá ser abandonado depois do cerco de Guidage, do cerco de Guileje e o do ataque brutal a Gadamael-Porto, bem como devido ao aparecimento dos mísseis terra-ar na Guiné. Em Gadamael, as três companhias do BCP12 irão arrostar a fúria de um inimigo altamente apetrechado, aguentou e fez retroceder um inimigo que parecia contar com o abandono de Gadamael. E escreve-se, em jeito de conclusão: “ O BCP12 foi uma unidade fundamental na conduta da guerra na Guiné. Pode mesmo afirmar-se que a leitura da história do BCP12 nos dá uma perceção muito aproximada dos acontecimentos mais importantes ocorridos na guerra, na Guiné, e da forma como esta evoluiu ao longo do tempo”.
E assim chegamos à secção mais coesa, dedicada à Marinha da Guiné. Recorda-se o papel preponderante desempenhado pela Marinha, dada a configuração geográfica do território. Enumera-se as lanchas existentes e como, ao longo da guerra, cresceu a dotação de meios com uma fragata, um navio hidrográfico, mais lanchas de desembarque, sete destacamentos de Fuzileiros, três dos quais basicamente de recrutamento local, bem como um destacamento de mergulhadores sapadores. Em síntese, o papel da Marinha revelou-se determinante no apoio logístico (reabastecimento de forças terrestres de quadrícula), levantamentos hidrográficos, fiscalização das vias fluviais, forças de intervenção que podiam trabalhar isolada ou conjuntamente com o Exército e a Força Aérea, não esquecendo a importância das comunicações, em que as estações radionavais asseguravam as ligações quer entre eles próprios quer com os centros de comunicações do comando-chefe. Descreve-se com alguma minúcia o apoio logístico e naval e as guerras dos rios, a sua colaboração com unidades do Exército. De igual modo são pormenorizadas as operações de fiscalização e o controlo das vias fluviais e o desempenho das lanchas de fiscalização e desembarque, ao longo da guerra. Conta-se a história de uma lancha mártir, a LDM 302, ativa logo em 1964, foi atacada violentamente em Fevereiro de 1965, alvejada em Setembro seguinte, em Dezembro de 1967 foi violentamente atacada com canhão sem recuo, RPG7, metralhadoras pesadas e ligeiras, frente a Porto Coco (rio Cacheu). Depois de muitas peripécias, a lancha acabaria por se afundar. Uma equipa e alguns mergulhadores puseram-na a flutuar e em Junho do ano seguinte estava recuperada. Quase no mesmo local do primeiro afundamento voltou a ser duramente atacada, uma outra lancha recolheu todos os elementos da guarnição, isto quando o incêndio se tinha propagado por toda a lancha. Novamente recuperada, recomeçou a sua missão de fiscalização em Novembro de 1968. Em Fevereiro de 1969 foi duramente atingida na foz do rio Uajá (um dos afluentes do rio Grande de Buba). Foi abatida em finais de Novembro de 1972, até aí esteve no ativo.
(Continua)
____________
Notas do editor
(*) Vd. poste anterior de 18 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11111: Notas de leitura (457): "Olhares Sobre Guiné e Cabo Verde", organização de Manuel Barão da Cunha e José Castanho (1) (Mário Beja Santos)
Vd. último poste da série de 19 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11115: Notas de leitura (458): Consequências Jurídico-Constitucionais do Conflito Político-Militar da Guiné-Bissau (Francisco Henriques da Silva)
Queridos amigos,
Para todos os efeitos, vale a pena ler estes “Olhares sobre a Guiné”.
Desta feita, temos os contributos dos coronéis Raul Folques, Moura Calheiros e Mira Vaz sobre as atividades dos Comandos e do BCP 12.
Segue-se o consistente dossiê da Marinha, elaborado com muito apuro, a Marinha sente legítimo orgulho pela multiplicidade de operações desde o apoio logístico e levantamentos hidrográficos, fiscalização das vias fluviais e a intervenção dos seus Fuzileiros.
Temos aqui um excelente resumo de consulta obrigatória nos tempos vindouros.
Um abraço do
Mário
Olhares sobre Guiné e Cabo Verde (2)
Beja Santos
“Olhares sobre Guiné e Cabo Verde” é o mais recente volume da coleção Fim do Império, teve como organizadores Manuel Barão da Cunha e José Castanho Paes, DG Edições e Caminhos Romanos, 2012. Colaboraram neste volume cerca de 30 autores que se debruçaram sobre matérias díspares em que o pano de fundo foi a guerra vista fundamentalmente por militares dos três ramos das Forças Armadas. No texto anterior deu-se primazia a atividades terrestres desenvolvidas pelas forças em quadrícula, agora pretende-se destacar a intervenção dos Comandos e do Batalhão de Caçadores Para-quedistas nº12 (BCP12).
Coube ao coronel Raul Folques, que comandou o Batalhão de Comandos da Guiné sumarizar as atividades dos Comandos Guineenses, dando voz a Gabriel José Haik, é como se este estivesse a contar a história de todos os comandos africanos, uma viagem de recordações em que se dá relevo a três operações de indiscutível importância: a Ametista Real, com assalto ao aquartelamento de Cumbamori, a Galáxia Vermelha, em que foi desarticulado o dispositivo inimigo no Cantanhez, e a Neve Gelada, em que conseguiu aliviar a pressão que o inimigo mantinha sobre a guarnição de Canquelifá, quase no termo da guerra.
Muito está escrito sobre a Ametista Real, que decorreu em Maio de 1973, ao tempo em que as forças do PAIGC tinham cercado completamente Guidage. São descritos com detalhe os terríveis combates, que chegaram a ter corpo-a-corpo, em que se temeu sempre a ameaça dos mísseis Strela, e conclui: “Nesta ação, os homens do Agrupamento Centauro, experientes, ardorosos, combatidos e muito calejados, correram risco excessivos, mantendo-se em combate com pertinácia, até à quase exaustão física e à míngua de munições, à chegada a Guidage, se contavam, para cada comando mais abonado, pelos dedos das mãos”.
A Galáxia Vermelha foi lançada na região do Cantanhez Sul, entre 22 de Dezembro de 1973 e 1 de Janeiro de 1974, envolveu quatro companheiros de comandos com reforço com três destacamentos de Fuzileiros, teve apoio de fogo de três pelotões de artilharia e o apoio do Agrupamento AR, seis helicópteros, dois Fiat e um avião DO27 a missão era a de reconhecer, desarticular e destruir as organizações inimigas em Cachamba Balanta, Cachamba Sosso, Cabanta e Darsalame e aliviar a pressão sobre o eixo Cadique-Jemberem e guarnições da região. Embocadas não faltaram, inclusive no dia de Natal. Todos os objetivos da missão foram alcançados.
A Neve Gelada decorreu de 2 a 31 de Março de 1974, o PAIGC tinha montado uma ofensiva sobre Canquelifá, bombardeando-a diariamente com fogo pesado e morteiros 120mm, canhões sem recuo e foguetões, o que levou a guarnição ao limite da resistência física e psíquica. A missão que coube ao Batalhão de Comandos foi a de desarticular os elementos inimigos da região, garantindo a consolidação da posição de Canquelifá. Constituíram-se três agrupamentos que se lançaram sobre a base de fogos do inimigo, este deu uma boa réplica ao assalto, quando retirou o inimigo deixou 26 mortes no terreno, a região foi sujeita a uma batida após a recolha de material deixado pelo inimigo, desde três morteiros de 120mm completos até uma espingarda automática AK 47, a missão foi integralmente cumprida, pois o inimigo foi desarticulado, deixou ser capturado importante material e Canquelifá deixou de estar pressionada.
Raul Folques, a voz de Patrício Haik, deplora a forma como os Comandos Guineenses foram deixados à deriva: “Fomos enganados, manipulados, alguns comprados e, finalmente, abandonados e vendidos”.
Coube aos coronéis Moura Calheiros e Mira Vaz dissertarem sobre o BCP12. Voltando um pouco atrás, é lembrado que quando começou a luta armada havia um pelotão no Aeródromo Base nº 2, em Janeiro de 1964 chegou o segundo pelotão de para-quedistas que interveio na Operação Tridente. Como a situação em geral se deteriorou, o comandante-chefe solicitou ao Ministro da Defesa-Nacional a colocação de uma companhia de para-quedistas. No final de 1966 foram lançadas as primeiras ações simultâneas de heliassalto. Nesse ano foi criado o BCP12, com duas companhias operacionais, com os números 121 e 122. Faz-se um inventário breve das intervenções, com especial destaque aos que tiveram lugar na região Sul. Em Maio de 1968, Spínola assume as funções de comandante-chefe, de imediato reduziu a autonomia operacional à Armada e à Força Aérea, alterou o dispositivo das forças militares no terreno, visando a concentração de meios humanos. O BCP12 passou a intervir mais em missões de reforço de tropas de quadrícula e menos em heliassaltos. Nos finais de Junho de 1969, chegou à Guiné a CCP 123, novamente se inventariam as operações em que participaram as diferentes companhias. Recorda-se a Operação Muralha Quimérica, desenvolvida na região Unal-Guileje, na altura em que se pretendia mostrar aos membros da delegação da ONU a existência de regiões libertadas. Destruiu-se uma Loja do Povo e um hospital, e foram abatidos 30 guerrilheiros e capturados 17. Os para-quedistas participaram ativamente numa das maiores, mais complexas e mais bem-sucedidas operações, reocupação do Cantanhez, quebrou-se o mito da invencibilidade de que o PAIGC aí gozava. É esmiuçada a Operação Grande Empresa cujo sucesso irá ser abandonado depois do cerco de Guidage, do cerco de Guileje e o do ataque brutal a Gadamael-Porto, bem como devido ao aparecimento dos mísseis terra-ar na Guiné. Em Gadamael, as três companhias do BCP12 irão arrostar a fúria de um inimigo altamente apetrechado, aguentou e fez retroceder um inimigo que parecia contar com o abandono de Gadamael. E escreve-se, em jeito de conclusão: “ O BCP12 foi uma unidade fundamental na conduta da guerra na Guiné. Pode mesmo afirmar-se que a leitura da história do BCP12 nos dá uma perceção muito aproximada dos acontecimentos mais importantes ocorridos na guerra, na Guiné, e da forma como esta evoluiu ao longo do tempo”.
E assim chegamos à secção mais coesa, dedicada à Marinha da Guiné. Recorda-se o papel preponderante desempenhado pela Marinha, dada a configuração geográfica do território. Enumera-se as lanchas existentes e como, ao longo da guerra, cresceu a dotação de meios com uma fragata, um navio hidrográfico, mais lanchas de desembarque, sete destacamentos de Fuzileiros, três dos quais basicamente de recrutamento local, bem como um destacamento de mergulhadores sapadores. Em síntese, o papel da Marinha revelou-se determinante no apoio logístico (reabastecimento de forças terrestres de quadrícula), levantamentos hidrográficos, fiscalização das vias fluviais, forças de intervenção que podiam trabalhar isolada ou conjuntamente com o Exército e a Força Aérea, não esquecendo a importância das comunicações, em que as estações radionavais asseguravam as ligações quer entre eles próprios quer com os centros de comunicações do comando-chefe. Descreve-se com alguma minúcia o apoio logístico e naval e as guerras dos rios, a sua colaboração com unidades do Exército. De igual modo são pormenorizadas as operações de fiscalização e o controlo das vias fluviais e o desempenho das lanchas de fiscalização e desembarque, ao longo da guerra. Conta-se a história de uma lancha mártir, a LDM 302, ativa logo em 1964, foi atacada violentamente em Fevereiro de 1965, alvejada em Setembro seguinte, em Dezembro de 1967 foi violentamente atacada com canhão sem recuo, RPG7, metralhadoras pesadas e ligeiras, frente a Porto Coco (rio Cacheu). Depois de muitas peripécias, a lancha acabaria por se afundar. Uma equipa e alguns mergulhadores puseram-na a flutuar e em Junho do ano seguinte estava recuperada. Quase no mesmo local do primeiro afundamento voltou a ser duramente atacada, uma outra lancha recolheu todos os elementos da guarnição, isto quando o incêndio se tinha propagado por toda a lancha. Novamente recuperada, recomeçou a sua missão de fiscalização em Novembro de 1968. Em Fevereiro de 1969 foi duramente atingida na foz do rio Uajá (um dos afluentes do rio Grande de Buba). Foi abatida em finais de Novembro de 1972, até aí esteve no ativo.
(Continua)
____________
Notas do editor
(*) Vd. poste anterior de 18 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11111: Notas de leitura (457): "Olhares Sobre Guiné e Cabo Verde", organização de Manuel Barão da Cunha e José Castanho (1) (Mário Beja Santos)
Vd. último poste da série de 19 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11115: Notas de leitura (458): Consequências Jurídico-Constitucionais do Conflito Político-Militar da Guiné-Bissau (Francisco Henriques da Silva)
Guiné 63/74 - P11133: Memória dos lugares (215): Cameconde (António J. Pereira da Costa, CART 1962, 1968/69) / Manuel Ribeiro , CART 6552/72, 1973/74, a companhia do célebre Lemos, do FC Porto que marcou 4 golos ao Benfica, em 31/1/1971)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Setor de Cacine > Cameconde > 1968 > Três aspetos gerais do destacamento > Fotos do álbum do nosso camarada António José Pereira da Costa, que era na altura alferes QP da CART 1692/BART 1914 (Cacine, Cameconde, Sangonhá e Cacoca, 1967/69) e mais tarde cap e cmdt das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74).
Fotos: © António J. Pereira da Costa (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]
(i) Cameconde, ó Cameconde, terra da morteirada, do foguetão e da canhoada, onde os domingos eram iguais à semana.
Cameconde, local da Guiné onde passei os 13 melhores e piores meses da minha vida, local em que só se saía acompanhado por mais de 20 camaradas devidamente armados, e os destinos eram normalmente para Cacoca, Caboxanque, Cabonepo, Cassomo, Cafála balanta, Cafála Nalú, algumas pequenas incursões no Quitafine... Mas as mais agradáveis eram até à tabanca nova de Cacine pois sempre se podia apreciar alguma bajuda, já que Cameconde não tinha qualquer tipo de população, ou melhor, só Homens (mulheres cá tinha).
(ii) Aproveito para informar o ex- furriel amanuense Abilio Magro de que a companhia que ele assistiu a chegar a Cacine (**) e o destino era S.Tomé e Principe quando saíu da carreira da tiro de Espinho já sabia que o destino final era a Guiné e também não foi render a CCAÇ 3520, mas sim reforçar o sul da Guiné após o abandono de Guileje, na mesma altura também chegou a Cacine uma CCAV que tinha como destino Angola, tendo essa CCAV [8452/72] sido colocada em Gadamael e a nossa em Cameconde e aí sim rendemos a CCAÇ 3520, ficando ainda alguns meses em Cacine até serem rendidos.
Lembro-me bem do Juvenal Candeias, e do ex-capitão Margarido ], da CCAÇ 3520,], de quem guardo um comentário feito por ele em Cameconde, a dizer:
- Vamos embora depressa porque elas agora (, as canhoadas, ) já começam a cair cá dentro!
Para eles um forte abraço pois ainda passei bons momentos com eles, a CCCAÇ 3520, em Cacine.
(iii) Quanto ao Lemos, ex-jogador do F.C.Porto [, António José de Lemos, n. 1950] (**), acabou a comissão a jogar no UDIB em Bissau, não deixando de ter alinhado no mato até à sua transferência. [ Foto do Lemos, à direita; cortesia do blogue Estrelas do FCP].
(iv) Vi uma foto de um abrigo tirada em 2008 (*) onde se encontra uma pessoa com uma máquina fotográfica na mão junto desse abrigo e quase posso afirmar que esse abrigo se encontra em Cameconde e foi construido pelo pessoal da minha companhia com material fornecido pelo BENG.
Fico aguardar as fotos de Cameconde tiradas e prometidas pelo Professor e cooperante na Guiné até 2012 [, Carlos Afeitos,] para recordar, pois ainda não perdi as esperanças de voltar a Cameconde e assim poder enterrar os meus fantasmas.
Aproveito para me apresentar, sou Manuel Ribeiro, ex-furriel mil da CART 6552, RAL 5, Penafiel, Carreira de tiro de Espinho, Cumeré, Cameconde, Cabedú, Catió, Cumeré e Lisboa. [Partiu de Lisboa em 26/5/1973 e regressou a 5/9/1974; comandante: cap mil inf Fernando Manuel Vialalobos Filipe]
Um forte abraço para todos.
2. Comentário de L.G.:
Caro camarada Manuel Ribeiro: És o mais célebre camarada da CART 6552/72, a tal que que, em vez de aterrar na terra do cacau, foi parar a Cameconde, Cabedu e Cufar, no sul da Guiné... És o mais célebre porque és o único representante dos bravos dessa companhia, que até agora visitou a nossa Tabanca Grande. Ficamos também a saber que, além de ti, há o António José Lemos e o vosso ex-capitão, Fernando Manuel Vialalobos Filipe... Pergunto: o que é feito de vocês ? Têm-se encontrado anualmente ? E o Lemos e o capitão aparecem ?...
Bom, está na altura de te convidar para ficares por aqui mais tempo, sentando-te à sombra do nosso mágico e fraterno poilão. Só precisas de nos mandar as duas fotos da praxe, um endereço de email e, já agora, dizeres em que terra vives (, esta informação é facultativa)... Boa sorte para o teu sonho de voltar a rever Cameconde e Cacine... E responde-me na volta do correio. O nosso endereço é: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com
PS - Sobre o Lemos, escreve o blogue das Estrelas do FCP, este delicioso apontamento biográfico:
(...) "Em 1973 (decorria a época 1972/73) Lemos – que não obtivera o estatuto de 'Atleta de Alta Competição', imprescindível para o subtrair à guerra do 'Ultramar' – foi mobilizado para Cabo Verde pelo Exército Português. Mas o inesperado aconteceu: o avião, que transportava Lemos e a sua 'Companhia de Operações Especiais' fez um 'desvio' na rota e aterrou em… Bissau (Guiné). E todos aqueles soldados que julgavam ir para uma 'guerra' branda no arquipélago das belas mulatas e da romântica morna, lá ficaram naquela que era a colónia portuguesa com a conjuntura militar mais difícil e perigosa. Acresce que, no início do ano de 73, o PAIGC (movimento independentista) incrementara as acções de guerra criando muitas dificuldades às tropas portuguesas que combatia desde Janeiro de 1963. A Guiné estava a 'ferro e fogo' e, talvez por isso, a "Companhia" de Lemos tenha sido desviada para aquele território.
Voltou da Guiné em 1974 ainda a tempo de participar na época de 1974/75, a última que faria pelo F.C. Porto." (...)
_______________
Notas do editor:
(*) Vd. útimo poste da série > 20 de fevereiro de 2013 >Guiné 63/74 - P11127: Memória dos lugares (214): Cameconde, no subsetor de Cacine, o destacamento mais a sul do CTIG... (José Vermelho / Augusto Vilaça / Juvenal Candeias)
(**) Vd. poste de 20 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11125: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (5): Curtas férias em Cacine, CCAÇ 3520 (2)
(...) Entretanto, chega finalmente a Companhia que vinha substituir a CCAÇ 3520. Esta entra em euforia e empenha-se rapidamente nas actividades para recepção dos novos "piras".
Não possuindo máquina fotográfica, vi-me impedido de registar aqueles actos solenes hilariantes.
Os "piras" não acharam muita piada à recepção. Pudera, entraram no avião em Figo Maduro com destino a S. Tomé e, quando aterraram, estavam na Guiné! Pois é verdade, iam para S. Tomé e, a meio da viagem, o Comandante do avião terá recebido ordens para rumar a Bissalanca.
Pertencia a esta companhia o soldado Lemos, ex-futebolista do Boavista e, depois do F.C.Porto, onde ficou célebre por ter marcado 4 golos ao Benfica [, de Eusébio & Companhia, em 31/1/1971] no Estádio das Antas em jogo a contar para o Campeonato Nacional de Futebol, jogo que, por acaso, assisti ao vivo.
Em Cacine, esta Companhia tratou logo de abrir valas por todo lado, pois tendo Guileje sido abandonada e estando Gadamael a ferro e fogo, Cacine seria, muito provavelmente, o "freguês que se seguia".
Entretanto, saído não sei de onde, aparece-me um camarada e pergunta-me:
- Tu é que és o Magro?
Respondi que sim e ele:
- Deves ter uma cunha do "caraças"!
- Então porquê?
- Venho-te substituir. Estava sossegadinho em Bolama e mandaram-me para aqui para te substituir.
Nunca tive conhecimento de cunha alguma e atribuo o facto a pressões que o Dr. Dias terá feito junto do Chefe - Major Mário Lobão, por se encontrar, provavelmente, atafulhado em papelada. Nunca o soube. Aproveitei boleia na LDM que transportou a CCAÇ 3520 para Bissau. Saímos de Cacine ao fim da tarde e chegamos a Bissau na manhã do dia seguinte,
A partir dessa data eu seria, talvez, o Furriel/Sargento que melhor fazia a Guarda de Honra ao Brigadeiro Alberto da Silva Banazol!
Recordo-me de, logo após o meu regresso de Cacine e, estando de Sargento da Guarda, ter dado ordem de: "Apresentar armas!" quando ele se colocou em sentido frente à Guarda, e o ter feito com tal vigor que o homem, depois de bater a pala e desandar, ao passar perto de mim, disse:
- Isso, assim com garra!.
Estavam feitas as pazes! (...)
- Isso, assim com garra!.
Estavam feitas as pazes! (...)
Marcadores:
Abílio Magro,
António J. Pereira da Costa,
Cameconde,
CART 1692,
CART 6552/72,
CCAÇ 3520,
CCAV 8452,
futebol,
Manuel Domingos Ribeiro,
Memória dos lugares
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
Guiné 63/74 - P11132: Vivências em tempo de guerra (Hugo Guerra)
1. Mensagem do nosso camarada Hugo Guerra* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60, Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70, hoje Coronel, DFA, na reforma) com data de 8 de Fevereiro de 2013:
Amigos e camaradas
Não devem saber, mas depois de ser ferido em São Domingos em março de 1970, fiz-me à vida e fui trabalhar e viver para Angola em Setembro desse mesmo ano.
Como era Regente Agrícola de formação, não tive qualquer dificuldade em arranjar bons empregos e por lá estive até Agosto de 1974 quando optei por reingressar no Exército e vir prá Capital.
Corri Angola de Norte a Sul, exceptuando as Terras do Fim do Mundo, e depois da experiência traumatizante que foi Gandembel/Ponte Balana e São Domingos tive oportunidade de formar opinião comparativa entre as três colónias.
Também passei algum tempo em Moçambique.
Se virem que estas minhas recordações são interessantes para o blogue vamos a isso. Caso contrário, 6ª de papéis.
Um abraço amigo do
Hugo
Vivências em tempo de guerra
- Como está, Senhor Capitão? E os senhores Alferes, sentem-se bem? Está uma óptima tarde para o nosso chazinho, só tenho pena que não possamos ficar mais tempo aqui fora porque os mosquitos não nos largam... Vamos entrar.
Assim falava a Dona, mulher do Gerente da Fazenda Tabi, a maior produtora de banana do Norte de Angola com o à-vontade do seu estatuto, dirigindo-se depois ao subgerente e à mulher deste que também faziam parte deste ritual.
Com o grunhido de assentimento do marido, homem feito nas roças de cacau um São Tomé sempre de chibata na mão e acompanhado do seu fiel cão, entrámos.
Um dos criados, fardado de branco e com luvas da mesma côr, habituado a estas andanças, providenciou as bebidas para todos em copos de cristal e um dos Alferes dirigiu-se ao piano e dedilhou qualquer melodia, que já se sabia fazia os encantos da Dona.
A conversa naquele dia girou à volta do acidente que poucos dias antes tivera lugar, quando um Unimog carregado de militares havia sido alvo de uma emboscada no percurso para as salinas a poucos quilómetros da sede da Companhia, tendo os soldados sido apanhados à mão ( parece que levavam as armas debaixo dos bancos) e não podendo resistir foram dizimados e a viatura queimada.
- Uma desgraça… Um lamentável acidente…
- Um enorme desleixo - disse eu, ainda fresquinho de dois anos de porrada na Guiné.
- Mas eles não foram culpados - logo se levantou a Dona.
Pois não, a culpa é da bandalheira a que se deixa chegar esta situação nas Fazendas onde os Senhores Oficiais são tratados a uísque, gin e tapas, onde os Furriéis têm um belo bar com piscina, jogos de cartas ou de mesa e onde as patrulhas são efectuadas por civis armados.
O ambiente ficou de cortar à faca. Veio-me à cabeça que àquela hora, na Guiné estariam a começar os ataques aos desgraçados que iriam passa a noite em claro a levar e dar porrada e sem lhe passar pela cabeça que noutras paragens como aquela onde agora eu me encontrava se jantava com todos os requintes, se bebiam os melhores vinhos de mesa com café, conhaque e charutos.
Se não estou pirado, esta cena passou-se em Outubro de 1970.
____________
Nota do editor:
(*) Vd. poste de 8 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9714: Memória dos lugares (179): Eu e o João Barge na Ponte Balana, em dezembro de 1968 (Hugo Guerra)
Amigos e camaradas
Não devem saber, mas depois de ser ferido em São Domingos em março de 1970, fiz-me à vida e fui trabalhar e viver para Angola em Setembro desse mesmo ano.
Como era Regente Agrícola de formação, não tive qualquer dificuldade em arranjar bons empregos e por lá estive até Agosto de 1974 quando optei por reingressar no Exército e vir prá Capital.
Corri Angola de Norte a Sul, exceptuando as Terras do Fim do Mundo, e depois da experiência traumatizante que foi Gandembel/Ponte Balana e São Domingos tive oportunidade de formar opinião comparativa entre as três colónias.
Também passei algum tempo em Moçambique.
Se virem que estas minhas recordações são interessantes para o blogue vamos a isso. Caso contrário, 6ª de papéis.
Um abraço amigo do
Hugo
Vivências em tempo de guerra
- Como está, Senhor Capitão? E os senhores Alferes, sentem-se bem? Está uma óptima tarde para o nosso chazinho, só tenho pena que não possamos ficar mais tempo aqui fora porque os mosquitos não nos largam... Vamos entrar.
Assim falava a Dona, mulher do Gerente da Fazenda Tabi, a maior produtora de banana do Norte de Angola com o à-vontade do seu estatuto, dirigindo-se depois ao subgerente e à mulher deste que também faziam parte deste ritual.
Com o grunhido de assentimento do marido, homem feito nas roças de cacau um São Tomé sempre de chibata na mão e acompanhado do seu fiel cão, entrámos.
Um dos criados, fardado de branco e com luvas da mesma côr, habituado a estas andanças, providenciou as bebidas para todos em copos de cristal e um dos Alferes dirigiu-se ao piano e dedilhou qualquer melodia, que já se sabia fazia os encantos da Dona.
A conversa naquele dia girou à volta do acidente que poucos dias antes tivera lugar, quando um Unimog carregado de militares havia sido alvo de uma emboscada no percurso para as salinas a poucos quilómetros da sede da Companhia, tendo os soldados sido apanhados à mão ( parece que levavam as armas debaixo dos bancos) e não podendo resistir foram dizimados e a viatura queimada.
- Uma desgraça… Um lamentável acidente…
- Um enorme desleixo - disse eu, ainda fresquinho de dois anos de porrada na Guiné.
- Mas eles não foram culpados - logo se levantou a Dona.
Pois não, a culpa é da bandalheira a que se deixa chegar esta situação nas Fazendas onde os Senhores Oficiais são tratados a uísque, gin e tapas, onde os Furriéis têm um belo bar com piscina, jogos de cartas ou de mesa e onde as patrulhas são efectuadas por civis armados.
O ambiente ficou de cortar à faca. Veio-me à cabeça que àquela hora, na Guiné estariam a começar os ataques aos desgraçados que iriam passa a noite em claro a levar e dar porrada e sem lhe passar pela cabeça que noutras paragens como aquela onde agora eu me encontrava se jantava com todos os requintes, se bebiam os melhores vinhos de mesa com café, conhaque e charutos.
Se não estou pirado, esta cena passou-se em Outubro de 1970.
____________
Nota do editor:
(*) Vd. poste de 8 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9714: Memória dos lugares (179): Eu e o João Barge na Ponte Balana, em dezembro de 1968 (Hugo Guerra)
Guiné 63/74 - P11131: Humor de caserna (30): Estou a fazer voar o meu pensamento (Tony Borié) (3): Outra vez guerra?
1. Em mensagem do dia 17 de Janeiro de 2013, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos mais este pensamento voador...
O Cifra tem dias que anda de um lado para o outro, “não pára em ramo verde”, como diz o povo, alguns amigos dizem que é stress de guerra, mas não é, desta vez anda mesmo ansioso com o que vê, e os leitores, perdão, primeiro as digníssimas leitoras, que têm a gentileza e a amabilidade de visitar o blogue de “Luis Graça e Camaradas da Guiné”, vão mais uma vez desculpar este texto, é escrito com linguagem mais ou menos educada, não tem qualquer comparação com a linguagem do Curvas, alto e refilão, portanto mais uma vez, perdoem, mas agora dirigindo-se aos amigos antigos combatentes, o Cifra já sabe que vão dizer, se viverem no mundo que fala inglês:
- War again?.
No mundo que fala francês, dizem:
- Nouveau en guerre?.
No mundo que fala germânico, friamente, dizem:
- Wieder Krieg?.
No mundo que fala espanhol, entre dois ou três “zzz”, dizem:
- Guerra de nuevo?.
Os chineses, põem os pauzinhos de parte, se estiverem a comer, e depois dizem:
Perceberam?. Não. Deixem lá, pois o Cifra, também não percebeu!
E nós portugueses dizemos, com uma cara de enjoo:
- Outra vez, guerra?.
Sim guerra, mas desta vez com mágoa, pois reparem nestas fotografias que ilustram o texto, onde esta pobre rapariga, com uma cara de desespero e denunciando alguma angústia, pois pertencia a muito boas famílias, andava a estudar na universidade, portanto ia receber uma educação superior, foi tirada, talvez à força da sua aldeia, verificaram que tinha um corpo desenvolvido, portanto podia receber um treino mais forçado, tiram-lhe toda a roupa que usava na universidade, vestiram-na com uns farrapos, que diziam eram camuflados de guerra, deram-lhe o tal treino forçado, e depois de a usarem no campo de treino, debaixo de obstáculos, em terrenos pantanosos, na floresta, talvez dentro do paiol das munições, pois tinha que ter conhecimento dos diversos tipos de explosivos, a enviaram para a frente de combate, onde está na fotografia, em frente a uma G-3, das modernas, onde ela apesar do treino forçado a que foi submetida, não sabia por onde lhe pegar, sabia só que podia meter o olho através da lente, mas está aflita, pois não sabe onde vai apoiar a sua coronha, pois o seu peito desenvolvido, talvez devido ao treino forçado, não lhe deixa muito espaço livre.
Mais à frente, nesta fotografia, no campo de batalha, onde perdeu parte dos farrapos que compunham o seu uniforme camuflado, desesperada, depois de ter usado todas as munições, suas e de alguns companheiros, vendo-se sem a sua querida G-3, que também perdeu em combate, pois se a tivesse, talvez pegando no cano, que não era lá muito grosso, podia usar a coronha como se fosse um pau, como aqueles que os seus avós usavam em certas regiões de Portugal, a que chamavam uma “moca”, pois a área de combate estava destroçada. De repente, na sua ideia de lutadora, lembro-se das duas granadas que eram as preferidas do Curvas, alto e refilão, e que sempre trazia escondidas no bolso, roubou-lhas e o resultado foi o que se previa, pois o Curvas, alto refilão, às vezes, não era lá muito responsável quando o provocavam e vai daí, atira-se a ela, numa luta de corpo a corpo, e o Curvas, alto e refilão, pensando que era um valentão, lá por ter a medalha “cruz de guerra”, nunca contou com o intenso e forçado treino que ela recebeu, e vai daí, ela dá-lhe um “golpe de rins”, coloca-o debaixo de si, e ele não conseguindo aguentar a pressão do corpo dela, acabou por se render, e ela vitoriosa, sai de cima do Curvas, alto e refilão, acaricia as granadas, em sinal de vitória, com as suas mãos ainda quentes da luta, com um ar de vencedora, abaixa-se de novo, passa-lhe a mão pelo peito e rouba-lhe a medalha “cruz de guerra”, ali na frente de todos!
____________
Nota do editor:
Vd. último poste da série de 31 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11032: Humor de caserna (29): Estou a fazer voar o meu pensamento (Tony Borié) (2): Ela queria um canhão
O Cifra tem dias que anda de um lado para o outro, “não pára em ramo verde”, como diz o povo, alguns amigos dizem que é stress de guerra, mas não é, desta vez anda mesmo ansioso com o que vê, e os leitores, perdão, primeiro as digníssimas leitoras, que têm a gentileza e a amabilidade de visitar o blogue de “Luis Graça e Camaradas da Guiné”, vão mais uma vez desculpar este texto, é escrito com linguagem mais ou menos educada, não tem qualquer comparação com a linguagem do Curvas, alto e refilão, portanto mais uma vez, perdoem, mas agora dirigindo-se aos amigos antigos combatentes, o Cifra já sabe que vão dizer, se viverem no mundo que fala inglês:
- War again?.
No mundo que fala francês, dizem:
- Nouveau en guerre?.
No mundo que fala germânico, friamente, dizem:
- Wieder Krieg?.
No mundo que fala espanhol, entre dois ou três “zzz”, dizem:
- Guerra de nuevo?.
Os chineses, põem os pauzinhos de parte, se estiverem a comer, e depois dizem:
Perceberam?. Não. Deixem lá, pois o Cifra, também não percebeu!
E nós portugueses dizemos, com uma cara de enjoo:
- Outra vez, guerra?.
Sim guerra, mas desta vez com mágoa, pois reparem nestas fotografias que ilustram o texto, onde esta pobre rapariga, com uma cara de desespero e denunciando alguma angústia, pois pertencia a muito boas famílias, andava a estudar na universidade, portanto ia receber uma educação superior, foi tirada, talvez à força da sua aldeia, verificaram que tinha um corpo desenvolvido, portanto podia receber um treino mais forçado, tiram-lhe toda a roupa que usava na universidade, vestiram-na com uns farrapos, que diziam eram camuflados de guerra, deram-lhe o tal treino forçado, e depois de a usarem no campo de treino, debaixo de obstáculos, em terrenos pantanosos, na floresta, talvez dentro do paiol das munições, pois tinha que ter conhecimento dos diversos tipos de explosivos, a enviaram para a frente de combate, onde está na fotografia, em frente a uma G-3, das modernas, onde ela apesar do treino forçado a que foi submetida, não sabia por onde lhe pegar, sabia só que podia meter o olho através da lente, mas está aflita, pois não sabe onde vai apoiar a sua coronha, pois o seu peito desenvolvido, talvez devido ao treino forçado, não lhe deixa muito espaço livre.
Mais à frente, nesta fotografia, no campo de batalha, onde perdeu parte dos farrapos que compunham o seu uniforme camuflado, desesperada, depois de ter usado todas as munições, suas e de alguns companheiros, vendo-se sem a sua querida G-3, que também perdeu em combate, pois se a tivesse, talvez pegando no cano, que não era lá muito grosso, podia usar a coronha como se fosse um pau, como aqueles que os seus avós usavam em certas regiões de Portugal, a que chamavam uma “moca”, pois a área de combate estava destroçada. De repente, na sua ideia de lutadora, lembro-se das duas granadas que eram as preferidas do Curvas, alto e refilão, e que sempre trazia escondidas no bolso, roubou-lhas e o resultado foi o que se previa, pois o Curvas, alto refilão, às vezes, não era lá muito responsável quando o provocavam e vai daí, atira-se a ela, numa luta de corpo a corpo, e o Curvas, alto e refilão, pensando que era um valentão, lá por ter a medalha “cruz de guerra”, nunca contou com o intenso e forçado treino que ela recebeu, e vai daí, ela dá-lhe um “golpe de rins”, coloca-o debaixo de si, e ele não conseguindo aguentar a pressão do corpo dela, acabou por se render, e ela vitoriosa, sai de cima do Curvas, alto e refilão, acaricia as granadas, em sinal de vitória, com as suas mãos ainda quentes da luta, com um ar de vencedora, abaixa-se de novo, passa-lhe a mão pelo peito e rouba-lhe a medalha “cruz de guerra”, ali na frente de todos!
____________
Nota do editor:
Vd. último poste da série de 31 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11032: Humor de caserna (29): Estou a fazer voar o meu pensamento (Tony Borié) (2): Ela queria um canhão
Guiné 63/74 - P11130: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte V): Deambulando pela região do Gabu...
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > Nova Lamego > "Porta de armas"
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > Nova Lamego (?) > 1969 (?) > "Preparaçao da companhia para uma saída"
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > "Distribuição da ração de combate"
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > "Deslocação em coluna auto"
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > S/l > S/d > "O furriel Cunha, grande amigo do Renato Monteiro"
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > "O obus [10.5] de Paunca"
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > "Refrescando-em Paunca, [1970]"
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > S/l> S/d > O Abílio, "para quem não conhece, posando num... bagabaga"...
Fotos (e legendas): © Abílio Duarte (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Abílio Duarte, ex-fur mil art da CART 2479 (mais tarde CART 11 e finalmente, já depois do regresso à Metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa companhia de “Os Lacraus de Paunca”) (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (*).
____________
Nota do editor
Guiné 63/74 - P11129: (Ex)citações (213): Cameconde, hoje seria um lugar de absurdo, de pesadelo e de loucura... (Alexandre Margarido, ex-cap mil, CCAÇ 3520, Cacine e Cameconde, 1972/74)
1. Comentário, de 20 do corrente, do nosso leitor (e camarada) Alexandre Margarido, ex-cap mil da CCAÇ 3520 (Cacine e Cameconde, 1972/74), ao poste P11127, e a quem a Tabanca Grande cumprimenta e convida para se sentar aqui, debaixo do nosso mágico e fraterno poilão:
Cameconde era um daqueles locais onde apenas os combatentes portugueses conseguiam manter-se durante anos, sem enlouquecerem, face à falta de condições mínimas de subsistência. Inclusive a água e os mantimentos tinham que ser transportados, numa coluna diária por um trilho rasgado na selva.
As altas temperaturas dentro dos abrigos, os insectos, as cobras que deslizavam da selva durante a noite, procurando o calor dessas fortificações, autênticos fornos, a exposição a atiradores e às flagelações por RPG, tudo isso, recuando 40 anos nas minhas memórias, era impensável ser suportado nos dias de hoje.
Obrigado por manterem vivas essas memórias.(*)
Alexandre Margarido, ex-Capitão Miliciano da CCaç 3520. (**)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Setor de Cacine > Cameconde > 1968 > Disparo noturno do obus 8.8 > Foto do álbum do António J. Pereira da Costa, que era na altura alferes QP da CART 1692/BART 1914 (Cacine, Cameconde, Sangonhá e Cacoca, 1967/69).
Foto: © António J. Pereira da Costa (2013). Todos os direitos reservados
________________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 12 de fevereiro de 2013 > Guiiné 634/74 - P11091: (Ex)citações (212): Afinal, todos fomos expulsos do Paraíso e condenados à solidariedade (J. L. Pio de Abreu, psiquiatra, ex-alf mil med, CCS/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1971/73)
(**) CCAÇ 3520 - ficha da unidade, segundo a Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 7º vol - Fichas das Unidades, Tomo II (Guiné), Lisboa, EME/CECA, 2002:
CCAÇ 3520:
(i) Mobilizada pelo BII 19 (Funchal);
(ii) Parte para o TO da Guiné em 20/12/1971 e regerssa a 37/3/1974;
(iii) Passou por Cacine (mas também Cameconde) e Quinhamel;
(iv) comandantes: cap inf Herberto Amaro Vieira Nascimento; cap mil Jaime Cipriano da Costa Rocha Quaresma; cap mil inf Armando Pimenta Cristóvão; e cap mil grad inf Alexandre Augusto Martins Margarido.
Julgo que a CCAÇ 3520 já não estaria em Cacine quando Cameconde foi atacada na véspera do Carnaval de 1974... Eis aqui um apontamento do Diário da Guiné, do nosso camarada António Graça de Abreu (Lisboa, Editora Guerra e Paz, 2007):
(...) Cufar [CAOP1], 25 de Fevereiro de 1974
Véspera de Carnaval e houve grande folia pelas terras do sul da Guiné. Foram rebentamentos uns atrás dos outros, de manhã à noite. São agora nove horas, às oito ainda os Fiats largavam bombas e mais bombas sobre os refúgios do PAIGC. Os guerrilheiros resolveram atacar Bedanda, três vezes ao longo do dia, mais Caboxanque, duas vezes, Cadique, Jemberém e Cameconde. Em Caboxanque houve três feridos entre a população, nos outros, apenas os estragos materiais do costume. (...).
Segundo o relatório da 2ª rep/QG/CTIG, sobre a situação militar no TO da Guiné em 1974, o PAIGC montou 4 minas A/P na região de Cameconde, a 10 de maio de 1974, e 1 mina A/P no itinerário Cacine-Cameconde, a 20 de maio.
As altas temperaturas dentro dos abrigos, os insectos, as cobras que deslizavam da selva durante a noite, procurando o calor dessas fortificações, autênticos fornos, a exposição a atiradores e às flagelações por RPG, tudo isso, recuando 40 anos nas minhas memórias, era impensável ser suportado nos dias de hoje.
Obrigado por manterem vivas essas memórias.(*)
Alexandre Margarido, ex-Capitão Miliciano da CCaç 3520. (**)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Setor de Cacine > Cameconde > 1968 > Disparo noturno do obus 8.8 > Foto do álbum do António J. Pereira da Costa, que era na altura alferes QP da CART 1692/BART 1914 (Cacine, Cameconde, Sangonhá e Cacoca, 1967/69).
Foto: © António J. Pereira da Costa (2013). Todos os direitos reservados
________________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 12 de fevereiro de 2013 > Guiiné 634/74 - P11091: (Ex)citações (212): Afinal, todos fomos expulsos do Paraíso e condenados à solidariedade (J. L. Pio de Abreu, psiquiatra, ex-alf mil med, CCS/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1971/73)
(**) CCAÇ 3520 - ficha da unidade, segundo a Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 7º vol - Fichas das Unidades, Tomo II (Guiné), Lisboa, EME/CECA, 2002:
CCAÇ 3520:
(i) Mobilizada pelo BII 19 (Funchal);
(ii) Parte para o TO da Guiné em 20/12/1971 e regerssa a 37/3/1974;
(iii) Passou por Cacine (mas também Cameconde) e Quinhamel;
(iv) comandantes: cap inf Herberto Amaro Vieira Nascimento; cap mil Jaime Cipriano da Costa Rocha Quaresma; cap mil inf Armando Pimenta Cristóvão; e cap mil grad inf Alexandre Augusto Martins Margarido.
Julgo que a CCAÇ 3520 já não estaria em Cacine quando Cameconde foi atacada na véspera do Carnaval de 1974... Eis aqui um apontamento do Diário da Guiné, do nosso camarada António Graça de Abreu (Lisboa, Editora Guerra e Paz, 2007):
(...) Cufar [CAOP1], 25 de Fevereiro de 1974
Véspera de Carnaval e houve grande folia pelas terras do sul da Guiné. Foram rebentamentos uns atrás dos outros, de manhã à noite. São agora nove horas, às oito ainda os Fiats largavam bombas e mais bombas sobre os refúgios do PAIGC. Os guerrilheiros resolveram atacar Bedanda, três vezes ao longo do dia, mais Caboxanque, duas vezes, Cadique, Jemberém e Cameconde. Em Caboxanque houve três feridos entre a população, nos outros, apenas os estragos materiais do costume. (...).
Segundo o relatório da 2ª rep/QG/CTIG, sobre a situação militar no TO da Guiné em 1974, o PAIGC montou 4 minas A/P na região de Cameconde, a 10 de maio de 1974, e 1 mina A/P no itinerário Cacine-Cameconde, a 20 de maio.
Guiné 63/74 - P11128: Inquérito online: "As praxes aos piras, no meu tempo, só lhes fizeram bem"... (6): Noum total de 81 respondentes, mais de metade manifestou uma opinião favorável...
1. Resultados da sondagem que acaba de correr no nosso blogue, de 14 a 20 do corrente: O tema era as praxes (militares). Pedia-se a opinião do leitor em relação à frase "As praxes aos piras, no meu tempo, não lhes fizeram mal"...
Responderam 81 leitores. Os resultados evidenciam um certa fratura relativamente à questão em apreço. De qualquer modo, as respostas negativas poderão estar enviesadas pelas denúncias, nestes últimos anos, de abusos cometidos com as praxes quer académicas quer militares, abusos de que a comunicação social se tem feito eco... Mas também pelas experiências individuais, cá na Metrópole, no período de instrução militar (recruta e especialidade)..
(i) Apenas 1 em cada cada 4 dos respondentes à nossa sondagem discorda do enunciado, revelando por isso uma opinião negativa em relação às praxes a que eram submetidos, no TO da Guiné, os "piras", abreviatura de "periquitos" (ou sejam, os recém-chegados):
(ii) Um em cada cinco não tem opinião sobre o assunto, não se tendo prounciado a favor ou a contra:
(iii) Pelo contrário, mais de metade (53%) dos respondentes manifestou uma opinião favorável às praxes e aos efeitos benéficos sobre os "piras"...
Moçambique > Mueda > CART 2369 (1968/70) > O 2º sargento miliciano Sérgio Neves, irmão do nosso camarada Tino Neves, junto a um mural onde se lê: "Em Mueda, os cordeiros que entram, são lobos que saem. Adeus checas". Recorde-se que o checa, em Moçambique, era o nosso pira ou periquito. (**)
Foto: © Tino Neves (2007). Todos os direitos reservados.[Editada por L.G.]
2. Damos agora mais tempo de antena aos que, tendo respondido à nossa sondagem, manifestaram, em comentários, opinião crítica ou reservas em relação às praxes, nomeadamente no seio da instituição militar.
(i) Henrique Cerqueira [, comentário ao poste P11119]
(...) Em minha opinião qualquer tipo de praxe tem tendência a descambar em abuso.E basta que uma só pessoa saia magoada dessa situação, para que seja considerada por mim uma inusitada situação, a praxe.
Ainda em minha opinião e na nossa sociedade a "iniciação" de qualquer criança para o seu percurso de vida deve ser sempre através do amor, carinho, boa moral , bons exemplos familiares, boa educação. Enfim, muito amor e carinho.Vi na Guiné na altura do Fanado crianças com graves infecções no pénis porque após a circuncisão tiveram que sarar o corte com o pénis metido em terra e completamente sós num retiro forçado. Só para provarem que já eram adultos???... Eu sei lá o quê. Daí, quanto a iniciações, nada prova que seja benéfico no caráter da pessoa.
Em outras situações acontece que grande parte dos praxados fica com "mazelas" ainda que momentâneas.
Assim sendo, e mais uma vez, eu sou contra qualquer tipo de praxe e até contra o que é chamado de "iniciação".
Esta é a minha opinião e não é por qualquer trauma por ter sido violentamente praxado em Tavira. Quanto a mim, e em especial em todos os organismos do Estado, sejam eles militares ou civis, deveriam ser banidas as praxes e severamente castigados aqueles que as praticam .Um jovem ou uma criança quando entra nessas instituições normalmente está tão desamparado e assustad0, já que é um "alvo" apetecível para os potenciais abusadores das praxes. (...)
(ii) C.Martins [, comentário ao poste P11100]
(...) Tem piada que apenas vejo aqui contadas umas brincadeiras sem grande maldade e até com alguma graça. O que eu gostava era de ver contadas aquelas com violentações, humilhações e outras "ções"..sádicas e afins. Desafio qualquer praxista, daqueles puros e pseudo-duros a contar se tem "tomates"..
É que com "pseudo-praxistas" estilo AGA [, António Graça de Abreu,] ou "nosso alfero J.Cabral".
posso eu bem.. É que V. Exas não passavam de uns brincalhões.
Quero realçar que na Guiné nunca fui praxado... É que lá para as bandas do sul não havia tempo nem disposição para isso. Até uma simples voltinha em redor do aquartelamento poderia ser a "morte do artista ou artistas". Como tudo na vida uns mais sortudos do que outros. (...).
2. Damos agora mais tempo de antena aos que, tendo respondido à nossa sondagem, manifestaram, em comentários, opinião crítica ou reservas em relação às praxes, nomeadamente no seio da instituição militar.
(...) Em minha opinião qualquer tipo de praxe tem tendência a descambar em abuso.E basta que uma só pessoa saia magoada dessa situação, para que seja considerada por mim uma inusitada situação, a praxe.
Ainda em minha opinião e na nossa sociedade a "iniciação" de qualquer criança para o seu percurso de vida deve ser sempre através do amor, carinho, boa moral , bons exemplos familiares, boa educação. Enfim, muito amor e carinho.Vi na Guiné na altura do Fanado crianças com graves infecções no pénis porque após a circuncisão tiveram que sarar o corte com o pénis metido em terra e completamente sós num retiro forçado. Só para provarem que já eram adultos???... Eu sei lá o quê. Daí, quanto a iniciações, nada prova que seja benéfico no caráter da pessoa.
Em outras situações acontece que grande parte dos praxados fica com "mazelas" ainda que momentâneas.
Assim sendo, e mais uma vez, eu sou contra qualquer tipo de praxe e até contra o que é chamado de "iniciação".
Esta é a minha opinião e não é por qualquer trauma por ter sido violentamente praxado em Tavira. Quanto a mim, e em especial em todos os organismos do Estado, sejam eles militares ou civis, deveriam ser banidas as praxes e severamente castigados aqueles que as praticam .Um jovem ou uma criança quando entra nessas instituições normalmente está tão desamparado e assustad0, já que é um "alvo" apetecível para os potenciais abusadores das praxes. (...)
(...) Tem piada que apenas vejo aqui contadas umas brincadeiras sem grande maldade e até com alguma graça. O que eu gostava era de ver contadas aquelas com violentações, humilhações e outras "ções"..sádicas e afins. Desafio qualquer praxista, daqueles puros e pseudo-duros a contar se tem "tomates"..
É que com "pseudo-praxistas" estilo AGA [, António Graça de Abreu,] ou "nosso alfero J.Cabral".
posso eu bem.. É que V. Exas não passavam de uns brincalhões.
Quero realçar que na Guiné nunca fui praxado... É que lá para as bandas do sul não havia tempo nem disposição para isso. Até uma simples voltinha em redor do aquartelamento poderia ser a "morte do artista ou artistas". Como tudo na vida uns mais sortudos do que outros. (...).
(iii) Hélder Sousa [, comentário ao poste P11095]:
(...) Parece que é preciso ter opinião sobre esta 'coisa' da praxe. Ora bem, tenho por aqui um problema, pois não atino com uma resposta certa.
Por um lado percebo que uma 'certa praxe', com graça, com ironia, com civilidade, que não se estribe na humilhação do(s) visado(s) acabe por ajudar a cimentar um 'certo espírito de corpo', seja no meio militar, estudantil, clubístico ou outro qualquer.
Por outro lado entendo que o acto de 'praxar', possibilitando o anonimato ou a cobertura de grupo, pode potenciar a revelação de atitudes ou comportamentos bem primários, cobardes e desumanos.
É portanto, entre estas 'balizas' que a 'coisa' se movimenta e confesso que não tenho opinião 'definitiva' sobre a 'bondade' da praxe. Compreendo quem a defende mas sinto-me afastado da sua aplicação. (...)
______________
Por um lado percebo que uma 'certa praxe', com graça, com ironia, com civilidade, que não se estribe na humilhação do(s) visado(s) acabe por ajudar a cimentar um 'certo espírito de corpo', seja no meio militar, estudantil, clubístico ou outro qualquer.
Por outro lado entendo que o acto de 'praxar', possibilitando o anonimato ou a cobertura de grupo, pode potenciar a revelação de atitudes ou comportamentos bem primários, cobardes e desumanos.
É portanto, entre estas 'balizas' que a 'coisa' se movimenta e confesso que não tenho opinião 'definitiva' sobre a 'bondade' da praxe. Compreendo quem a defende mas sinto-me afastado da sua aplicação. (...)
______________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 19 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11119: Sondagem: "As praxes aos piras, no meu tempo, só lhes fizeram bem"... (5): "É pela dor que te fazes homem e... bravo guerreiro"... O Ritual da Tucandeira... na Amazónia (Luís Graça)
(*) Último poste da série > 19 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11119: Sondagem: "As praxes aos piras, no meu tempo, só lhes fizeram bem"... (5): "É pela dor que te fazes homem e... bravo guerreiro"... O Ritual da Tucandeira... na Amazónia (Luís Graça)
(**) Luís Graça escreveu sobre este mural o seguinte (excerto):
(...) É um pensamento que é válido
para todas as situações de guerra.
Os jovens, quase imberbes,
os meninos de sua mãe
(como escreveu o grande Pessoa),
que chegam à frente de batalha,
ainda são cordeiros,
inocentes,
virgens,
imaculados...
O horror e a violência da guerra
irão transformá-los em lobos,
em duros,
em violentos,
em conspurcados...
Não necessariamente predadores,
assassinos,
criminosos...
(que é o estereótipo
que o ser humano ainda guarda
do pobre do lobo mau!)...
Mas há, seguramente, uma perda de inocência:
nenhum de nós foi para a Guiné
e veio de lá impunemente,
igual...
Os nossos amigos e familiares deram conta disso:
já não éramos os mesmos,
nunca mais fomos os mesmos...
Acho que é isto
que o inspirado autor do mural de Mueda quis dizer.
É claro que há também aqui
a dose habitual de bravata e de fanfarronice:
é uma frase para intimidar
os 'checas', os 'piras', os 'maçaricos', os novatos...
Também os militares, profissão de risco,
têm a sua ideologia defensiva,
as suas crenças,
os seus talismãs,
os seus mesinhos
(usavam-nos os guerrilheiros
na Guiné,
em Angola,
em Moçambique,
não obstante a sua 'formação' racionalista,
marxista-leninista,
dita revolucionária)...
A bravata e a fanfarronice,
além das praxes e do álcool,
ajudavam-nos, a todos nós,
a lidar com o medo,
as situações-limite,
a morte,
o sofrimento, físico e moral,
a impotência,
o desespero… (...)
In: Luís Graça > Blogpoesia > Quarta-feira, Abril 15, 2009 > Blogantologia(s) II - (78): A guerra como forma (heróica) de suicídio... altruista
para todas as situações de guerra.
Os jovens, quase imberbes,
os meninos de sua mãe
(como escreveu o grande Pessoa),
que chegam à frente de batalha,
ainda são cordeiros,
inocentes,
virgens,
imaculados...
O horror e a violência da guerra
irão transformá-los em lobos,
em duros,
em violentos,
em conspurcados...
Não necessariamente predadores,
assassinos,
criminosos...
(que é o estereótipo
que o ser humano ainda guarda
do pobre do lobo mau!)...
Mas há, seguramente, uma perda de inocência:
nenhum de nós foi para a Guiné
e veio de lá impunemente,
igual...
Os nossos amigos e familiares deram conta disso:
já não éramos os mesmos,
nunca mais fomos os mesmos...
Acho que é isto
que o inspirado autor do mural de Mueda quis dizer.
É claro que há também aqui
a dose habitual de bravata e de fanfarronice:
é uma frase para intimidar
os 'checas', os 'piras', os 'maçaricos', os novatos...
Também os militares, profissão de risco,
têm a sua ideologia defensiva,
as suas crenças,
os seus talismãs,
os seus mesinhos
(usavam-nos os guerrilheiros
na Guiné,
em Angola,
em Moçambique,
não obstante a sua 'formação' racionalista,
marxista-leninista,
dita revolucionária)...
A bravata e a fanfarronice,
além das praxes e do álcool,
ajudavam-nos, a todos nós,
a lidar com o medo,
as situações-limite,
a morte,
o sofrimento, físico e moral,
a impotência,
o desespero… (...)
In: Luís Graça > Blogpoesia > Quarta-feira, Abril 15, 2009 > Blogantologia(s) II - (78): A guerra como forma (heróica) de suicídio... altruista
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
Guiné 63/74 - P11127: Memória dos lugares (214): Cameconde, no subsetor de Cacine, o destacamento mais a sul do CTIG... (José Vermelho / Augusto Vilaça / Juvenal Candeias)
Guiné > Mapa geral da província ( 1961) > Escala 1/500 mil > Posição relativa de Cameconde, a guarnição militar portuguesa mais a sul, na região de Quitafine, na estrada fronteiriça Quebo-Cacine... Em 1968 era o batalhão que estava em Buba (BART 1896, 1966/68) quem defendia esta importante linha de fronteira...
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
1. Há mais de duas dezenas de referências a Cameconde, no nosso blogue, mas há informação este destacamento, que dependia de Cacine (*). Fomos recolher alguns apontamentos:
Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > c. maio de 72/abril 73) > O José Vermelho, quando passou pela CCAÇ 6, as "Onças Negras".
Foto: © Vasco Santos (2010). Todos os direitos reservados.
(i) José Vermelho, nosso grã-tabanaqueiro nº 471, fur mil, CCAÇ 3520 - Cacine, CCAÇ 6 - Bedanda, CIM - Bolama, 1972/74):
(...) Cameconde era um destacamento de Cacine, distando 6/7 Kms entre si.
Tinha uma forma mais ou menos rectangular, talvez aí de uns 50 por 70 mts., encravado no meio da mata, completamente isolado, sem qualquer população civil.
Era o destacamento das N/T situado mais a sul da Guiné.
Tinha em permanência 1 Pelotão de Artilharia + 1 Grupo de Combate de Cacine, sendo este substituído mensalmente por outro, em regime rotativo.
Era feita uma coluna diária Cacine - Cameconde (com picagem) e volta.
Nos primeiros meses de 1972, também fui um dos "turistas voluntários à força", convidado a visitar Cacoca...isto é...o pouco ou nada que restava dela!
Um abraço para todos os camaradas
José Vermelho [ Comentário ao poste P11109]
(ii) Augusto Vilaça [ex-Fur Mil da CART 1692/BART 1914, Sangonhá e Cacoca, 1967/69]
Quando viemos para Cacine, tínhamos o destacamento, Cameconde, onde tínhamos de estar 15 dias. Quando haviam flagelações, bastava uma "obussada " para que os turras desistissem. Eu tirei a especialidade em artilharia, mais concretamente em armas pesadas, como bazuca, morteiros de 60 ou 120 mm. Chefiava uma secção de 5 homens.
Pergunta do J. Casimiro Carvalho:
Ó Gusto, isso aí deve ser um 10,5 [,. referência a foto, a seguir, do Augusto Vilaça junto a um obus que me parece ser 8.8] ?! Cameconde era com abrigos, casamatas ? Eu estive aí em 73.
Resposta de Augusto Vilaça:
Olá. Quando lá estive, o nosso refúgio eram os abrigos, um em cada quadrado. Como sabes, esses abrigos eram muito frágeis. Felizmente nunca caíu um morteiro neles, senão.....
Comentário de Silvério Lobo:
Amigo augusto estive lá, em 2008, com o Luís Graça, vi um abrigo bem forte, com alguns frases do vosso tempo [Eu e o Silvério Lobo, estivemos em Cacine, não em Cameconde]
Comentário de J. Casimiro Carvalho:
Eu estive de passagem em Cacine. Cameconde tinha casamatas fortificadas e estava desativado. Ou estou enganado ?
[Fonte: Página do Facebook da Tabanca Grande, Grupo Antigos Combatentes da Guiné, 30/7/2012]
Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Setor de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao sul > Por aqui passou a CART 1692... Esta tosca placa em cimento, delicioso vestígio arqueológico dos "tugas", diz-nos que em dois dias, de 16 a 18 de Abril de 1968, foi construído este abrigo, em tempo seguramente recorde, a avaliar pelas "60 bebedeiras neste 'priúdo'... TRABALHO RÁPIDO". Estão também gravados dois topónimos portugueses, Nisa e Alenquer.
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine > 2 de março de 2008 > Visita no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 março de 2008) > O Silvério Lobo junto a uma "bunker", construído pelas NT em cimento armado (, seguramente pelo BENG...).
Fotos: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados
(iii) Quem tem estórias, deliciosas, de Cameconde (e de Cacine) é o Juvenal Candeias (, ex-alf mil, CCAÇ 3520, Estrelas do Sul, Cacine e Cameconde e Guileje, 1971/74] [, foto à esquerda]
Reproduzo aqui, a do Viente Piu (**)
(...) Vicente era o Furriel de Minas e Armadilhas do 2º Grupo de Combate da CCaç 3520! Popularmente era conhecido por Piu, alcunha que nada tinha a ver com um temperamento piedoso, mas simplesmente com o seu vício de caçador de passarada!
Era ele, provavelmente, quem mais contribuía para o moral elevado das nossas tropas. Embora não fosse aquilo a que habitualmente chamamos uma figura carismática, o Vicente era a boa disposição permanente e contagiante, que nos permitia rir com gosto e facilidade!
Era o homem sempre pronto a pregar partidas aos camaradas!
O Vasconcelos, Furriel de Artilharia em Cameconde, homem dos obuses 14, era uma das suas principais vítimas! Pequenino e bom de bola, fazia inveja ao Garrincha, de tal modo as suas pernas eram arqueadas, e, segundo o Piu, bastante feias! Por essa razão, andava sempre de calças e só tomava banho à noite e sozinho! Salvo quando o Vicente lhe colocava baldes de água em cima das portas por onde ele ia passar!
Era o homem sempre pronto a pregar partidas aos camaradas!
O Vasconcelos, Furriel de Artilharia em Cameconde, homem dos obuses 14, era uma das suas principais vítimas! Pequenino e bom de bola, fazia inveja ao Garrincha, de tal modo as suas pernas eram arqueadas, e, segundo o Piu, bastante feias! Por essa razão, andava sempre de calças e só tomava banho à noite e sozinho! Salvo quando o Vicente lhe colocava baldes de água em cima das portas por onde ele ia passar!
O Vasconcelos veio à Metrópole de férias e terá conhecido, numa festa, uma miúda por quem se apaixonou! Quem escolheu para confessar a sua paixão? Exactamente o Piu, que explorou exaustivamente a situação, obtendo informação detalhada! Estava em marcha mais uma partida!
O correio enviado diariamente por Cameconde aguardava transporte em Cacine. A correspondência chegava e partia de Cacine, na melhor das hipóteses uma vez por semana, em avioneta Dornier 27. O pessoal que estava destacado em Cameconde recebia o correio no dia seguinte, através da coluna auto que todas as manhãs ligava os dois aquartelamentos.
Com alguém em Cacine feito com o Piu, o Vasconcelos começou a receber correspondência da sua paixão, aerogramas que eram escritos e falsificados em Cameconde pelo Piu, vinham a Cacine e voltavam a Cameconde, sempre que havia correio geral a distribuir. Naturalmente que as respostas do Vasconcelos nunca passavam de Cacine, voltando a Cameconde, onde eram entregues ao Piu.
O detalhe da tramóia incluía carimbos e restantes pormenores que faziam acreditar no realismo da correspondência! O conteúdo, inicialmente erótico, posteriormente pornográfico, com inclusão de sexo virtual, era do conhecimento de todos, apenas o Vasconcelos desconhecia a partida! Estava cada vez mais apaixonado… e continuava a confessá-lo ao Piu com quem, ainda por cima, comentava o correio que recebia da sua paixão!
A partida durou as semanas que o Piu entendeu e quando se fartou… escreveu uma última missiva, identificando-se, descompondo o Vasconcelos e chamando-lhe alguns nomes que pouco abonavam a sua masculinidade!
Acabou, assim, deste modo abrupto, um passatempo que animou, durante algum tempo, o destacamento de Cameconde, buraco do… cú do mundo, onde nada existia e nada acontecia, para além de umas bazucadas com maior frequência que a desejada! (...)
A partida durou as semanas que o Piu entendeu e quando se fartou… escreveu uma última missiva, identificando-se, descompondo o Vasconcelos e chamando-lhe alguns nomes que pouco abonavam a sua masculinidade!
Acabou, assim, deste modo abrupto, um passatempo que animou, durante algum tempo, o destacamento de Cameconde, buraco do… cú do mundo, onde nada existia e nada acontecia, para além de umas bazucadas com maior frequência que a desejada! (...)
(iv) Sobre esta região, o Quitafine, leia-se o excelente enquadramento feito pelo Juvenal Candeias [, foto à direita, então alf mil da CCAÇ 3520] (***):
(...) A região do Quitáfine, a Sul de Cacine, era considerada o santuário do PAIGC, que aí estava fortemente instalado e provido de dispositivos de segurança, que tornavam os nossos movimentos impossíveis, salvo com utilização de meios excepcionais. Trilhos minados e sentinelas avançadas, permitiam-lhes uma tranquilidade apenas quebrada pelos obuses de 14 cm, disparados do nosso destacamento de Cameconde!
Os efectivos de que dispunham com um grupo especial de 20 lança-granadas, responsável pelas constantes flagelações a Cameconde, apoiado por um bigrupo disperso pela zona de Cassacá e Banir (onde se supunha estar o comando), eram reforçados por uma vasta população armada em auto-defesa, distribuída, entre outras, pelas tabancas de Ponta Nova, Bijine, Dameol, Cassacá, Banir, Campo, Cassebexe e Caboxanque.
O PAIGC furtava-se sistematicamente ao contacto, optando por uma estratégia defensiva de protecção às populações que controlava, privilegiando as flagelações e a colocação de engenhos explosivos! Quem circulava a Sul de Cambaque (que distava cerca de 3 Km de Cameconde) tinha como certo algumas surpresas no trilho! Provavelmente um campo de minas e a seguir (algum humor-negro), munições de Kalash espetadas no chão formando a palavra PAIGC!
O Quitáfine permitia ainda, ao PAIGC, um reabastecimento regular e seguro, processado a partir da República da Guiné, através de vários rios, em especial o Caraxe e o Camexibó! Ao dispositivo militar juntava-se uma mata densa intransponível!
Os pára-quedistas, após uma operação no Quitáfine, só à noite conseguiram chegar a Cameconde, com grande dificuldade e orientados pelo clarão da queima de cargas de obus, em cima dos abrigos! O grupo de Marcelino da Mata, largado de helicóptero, fez um golpe de mão a Cabonepo, a base do PAIGC mais a Norte do Quitáfine, onde estaria instalado um posto transmissor. Quando chegou, após lenta progressão através da mata… não havia lá nada… a base tinha sido abandonada momentos antes!
O Quitáfine era, efectivamente, o santuário do PAIGC, desde o início da guerra! Foi ali que se realizou, na tabanca de Cassacá – a 15 Km de Cacine e a 8 Km de Cameconde -, em meados de Fevereiro de 1964, o 1º Congresso do PAIGC, com a presença de Amílcar Cabral, Luís Cabral, Aristides Pereira e outras individualidades do Partido!
O PAIGC furtava-se sistematicamente ao contacto, optando por uma estratégia defensiva de protecção às populações que controlava, privilegiando as flagelações e a colocação de engenhos explosivos! Quem circulava a Sul de Cambaque (que distava cerca de 3 Km de Cameconde) tinha como certo algumas surpresas no trilho! Provavelmente um campo de minas e a seguir (algum humor-negro), munições de Kalash espetadas no chão formando a palavra PAIGC!
O Quitáfine permitia ainda, ao PAIGC, um reabastecimento regular e seguro, processado a partir da República da Guiné, através de vários rios, em especial o Caraxe e o Camexibó! Ao dispositivo militar juntava-se uma mata densa intransponível!
Os pára-quedistas, após uma operação no Quitáfine, só à noite conseguiram chegar a Cameconde, com grande dificuldade e orientados pelo clarão da queima de cargas de obus, em cima dos abrigos! O grupo de Marcelino da Mata, largado de helicóptero, fez um golpe de mão a Cabonepo, a base do PAIGC mais a Norte do Quitáfine, onde estaria instalado um posto transmissor. Quando chegou, após lenta progressão através da mata… não havia lá nada… a base tinha sido abandonada momentos antes!
O Quitáfine era, efectivamente, o santuário do PAIGC, desde o início da guerra! Foi ali que se realizou, na tabanca de Cassacá – a 15 Km de Cacine e a 8 Km de Cameconde -, em meados de Fevereiro de 1964, o 1º Congresso do PAIGC, com a presença de Amílcar Cabral, Luís Cabral, Aristides Pereira e outras individualidades do Partido!
A CCaç 3520 tinha chegado ao porto de Cacine, a bordo da LDG Montante, em 24 de Janeiro de 1972, para render a CCaç 2726 – companhia açoriana comandada pelo Capitão Magalhães -, o homem que retorcia as pontas do bigode com cera e a quem o tabaco nunca faltava! Dizia-se mesmo, à boca pequena, que, quando o tabaco acabava em Cacine, o PAIGC deixava, no mato, uns macitos para o Capitão! Rumor ou realidade… ninguém sabe! Ficou por provar!
Decorria ainda o período de sobreposição, que se prolongou até 22 de Fevereiro, quando foram recebidas instruções de Bissau, para ser preparada uma operação ao Quitáfine – Cabonepo e… Cassacá! (...)
Plano de retração das guarnições militares portuguesas, no pós-25 de abril. Região sul. Cameconde e Gadamael foram desativados no mesmo dia, 19 de julho de 1974. Cacinbe, uns dias mais tarde, a 12 de agosto. Nesta lista há 3 aquartelamentos que pertenciam ao leste, não ao sul: Bambadinca, Mansambo e Xime. Reprodução (parcial) da página 54 (de um total de 74) do relatório da 2ª rep/CC/FAG, publicado em 28 de fevereiro de 1975, e na altura classificado como "Secreto".
Sangonhá e Cacoca já tinham sido abandonados no início do consulado de Spínola, no 2º semester de 1968, como conta aqui o António J. Pereira da Costa, numa das histórias da sua "guerra a petróleo", e quando ele foi alferes QP da CART 1692.
[ Digitalização do documento: Luís Gonçalves Vaz (2012) / Edição das imagens: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2012) ]
________________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 17 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11107: Memória dos lugares (213): Gadamael Porto, vestígios da presença das NT (CART 1659, CART 6252...). Fotos de 2011 (Carlos Afeitos, professor, cooperante)
(*) Último poste da série > 17 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11107: Memória dos lugares (213): Gadamael Porto, vestígios da presença das NT (CART 1659, CART 6252...). Fotos de 2011 (Carlos Afeitos, professor, cooperante)
(**) Vd. poste de 16 de outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5113: Histórias de Juvenal Candeias (5): Vicente, o Piu
(***) Vd. poste de 16 de setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4961: Histórias de Juvenal Candeias (4): Há periquitos no Quitáfine-
Marcadores:
António J. Pereira da Costa,
Augusto Vilaça,
BART 1896,
Cacine,
Cacoca,
Cameconde,
CART 1692,
CCAÇ 3520,
José Vermelho,
Juvenal Candeias,
Memória dos lugares,
Quitafine,
Sangonhá,
Silvério Lobo
Guiné 63/74 - P11126: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (2): Estão abertas as inscrições (A Organização)
VIII ENCONTRO NACIONAL DA TABANCA GRANDE
Caros camaradas
Como foi dito no poste anterior, o nosso Encontro de 2013 ficou marcado para o dia 22 de Junho de 2013.
Em relação ao almoço a situação é pacífica, recebemos até já a ementa que publicamos mais abaixo, mas quanto às dormidas há que ter em atenção a seguinte mensagem de trabalho que hoje mesmo recebemos do nosso camarada Joaquim Mexia Alves:
Bom dia meus amigos
Avancemos, então!
Fui informado que para esse fim de semana está um pedido no Hotel, ainda não confirmado, para 90 quartos, pelo que quem quiser pernoitar no Hotel é bom que avance desde já com a reserva.
De qualquer modo o meu genro Rui Burguete, vai falar com os outros estabelecimentos hoteleiros de Monte Real para arranjar preços para essa/s noites também.
Um abraço
Joaquim
Posto isto, quem tiver preferência por ficar instalado no Palace Hotel de Monte Real, não perdia nada se avançasse já com o seu pedido de reserva.
Fica o alerta.
Segue-se a ementa deste ano:
As inscrições estão desde já abertas.
O ano passado, talvez com o incentivo da oferta do livro do nosso camarada Idálio Reis, pulverizamos o recorde de presenças, 181.
Apesar da crise que a todos afecta, gostaríamos de ter este ano uma boa afluência e rever alguns camaradas que nos últimos Encontros não puderam comparecer.
Pela Comissão organizadora do Encontro
Carlos Vinhal e Joaquim Mexia Alves
Em tempo:
Por motivos alheios à organização do evento, a data do nosso Encontro será no dia 8 de Junho, logo antecipado duas semanas em relação à data inicial.
Haverá alojamento no Palace Hotel de Monte Real para quem o solicitar na altura da inscrição para o almoço. Os preços foram alterados para 45 e 55 euros (single e duplo, com pequeno almoço incluído).
____________
Nota do editor:
Vd. poste anterior de 17 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11108: VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (1): O nosso convívio anual vai-se realizar no próximo dia 22 de Junho de 2013 em Monte Real (A Organização)
Guiné 63/74 - P11125: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (5): Curtas férias em Cacine, CCAÇ 3520 (2)
1. Em mensagem do dia 24 de Janeiro de 2013, o nosso camarada Abílio Magro (ex-Fur Mil Amanuense (CSJD/QG/CTIG, 1973/74), enviou mais uma peripécia para a sua série Um amanuense em terras de Kako Baldé.
Um Amanuense em terras de Kako Baldé
(Para quem não sabe, Kako Baldé era o nome por que era conhecido, entre a tropa, o General Spínola. Kako – (caco) lente que o General metia no olho. Baldé – Nome muito comum na Guiné)
4.2 – Curtas férias em Cacine – CCAÇ 3520
Decorria o mês de Junho de 1973. Eu ainda era muito "pira", não tinha completado ainda 3 meses de Guiné. Vinha do "ar condicionado" e encontrava-me em Cacine, no meio de grande confusão, tropas pára-quedistas, fuzileiros, Marcelino da Mata, etc.
Felizmente em Cacine não faltava nada. Não faltava cerveja morna, não faltava uma pedra de gelo, por cabeça, às refeições, não faltava o arroz de "rolhas" (arroz com muito colorau e meia dúzia de rodelas de salsicha), etc., etc..
A CCAÇ 3520 era um Companhia farta. Farta de ali estar, farta de comer arroz de "rolhas", farta de esperar pela rendição.
Julgo que não cheguei a completar 4 semanas de "férias" naquela "estância balnear", mas foi o suficiente para imaginar uma estadia de 23 meses!
Tenho ideia de só ter comido arroz de "rolhas" durante aquele período. Posso estar enganado.
Comecei a dar mais valor ao "pessoal do mato".
Antes 527 serviços de Sargento da Guarda!
O Major Leal de Almeida lá continuava a fazer incursões por Gadamael e levava habitualmente consigo o outro Furriel.
O Major, além de me ter pedido, no início, para lhe dar um jeito no "estaminé", pouco mais me pediu para fazer. Apenas um ou outro "mail" para Bissau.
E eu..., andava por ali a ver as "bajudas"...!
Certo dia, ao fim da tarde, regressados os dois, via fluvial, a Cacine, o outro Furriel, visivelmente exausto, sujo e suado, vem ao meu encontro e, completamente alterado, atira-me:
- Porra, anda aqui um "gajo" a esfarrapar-se todo e a arriscar o "coiro" e tu aqui a "coçá-los"!
Eu, que nunca gostei que me falassem "de cima da burra" nem com aqueles modos e que, nestas situações, tinha o hábito de responder com alguma agressividade verbal, contive-me (acreditem que a cerveja morna faz um efeito "bestial") e, calma e sarcasticamente, retorqui-lhe:
- Djubi, eu sou Amanuense e não tenho lá muita queda para herói! Já viste bem este "cabedal"?! Além disso o Major nunca me "convidou para a festa"!
Deu meia volta a resmungar e não me recordo de ter tido mais qualquer conversa com ele.
Entretanto, eu ia jogando a "lerpa", bebendo umas "bejecas" mornas e convivendo com os Sargentos pára-quedistas (ah gente do "catano"!).
Recordo-me bem de um convívio nocturno na "messe" de Sargentos. Houve de tudo! Aguardente, fados, poesia, etc., tudo a roçar o "hard-core", claro! Gente espectacular, camaradagem excelente e com uma disciplina extraordinária, nomeadamente com o armamento.
Guardei na memória alguns versos de um fado cantado pelos "páras" com música do hino académico - "Amores de Estudante" e que, salvo erro, rezavam assim:
Quero, quero ir para Lisboa
Ai, ai, eu quero
Nem que seja de canoa
Eu quero ir
P'ra terra santa querida
Dizer adeus a esta merda
P'ro resto da minha vida
Pára-quedistas, homens nobres
Tanto ricos como pobres
Avançando pela mata
...
(e de mais não me recordo)
Ficou-me também na retina a imagem do 1º Sargento pára-quedista Vicente, evacuado para Cacine vindo de Gadamael, com um tiro numa perna, a aguardar evacuação para Bissau e com quem tinha convivido alegremente naquela noite.
A minha "guerra" lá foi continuando com a "lerpa", "as bejecas" mornas, o convívio com os "páras" e a excelente qualidade das instalações, nomeadamente o "balneário" de arrojado design e equipamento de conceituadas marcas.
O chuveiro apresentava uma característica completamente inovadora - era semi-automático, comandado por voz! Isto é: Em cima havia um bidão de lata que continha água e um furo na base inferior tapado com uma rolha acoplada à ponta de um pau. O "fabiano" que queria tomar banho tinha de "aparelhar" com outro que tivesse a mesma intenção. O primeiro colocava-se debaixo do bidão e o outro encarrapitava-se de modo a chegar ao pau. Quando o de baixo queria água, dizia: - "abre!" e a água caía. Se queria parar, dizia: - "pára", e a água parava! (sistema altamente sofisticado para a época). Findo o duche, era só trocar de posições e a coisa funcionava bem.
Entretanto, chega finalmente a Companhia que vinha substituir a CAÇ 3520. Esta entra em euforia e empenha-se rapidamente nas actividades para recepção dos novos "piras".
Não possuindo máquina fotográfica, vi-me impedido de registar aqueles actos solenes hilariantes.
Os "piras" não acharam muita piada à recepção. Pudera, entraram no avião em Figo Maduro com destino a S. Tomé e, quando aterraram, estavam na Guiné!
Pois é verdade, iam para S. Tomé e, a meio da viagem, o Comandante do avião terá recebido ordens para rumar a Bissalanca.
Pertencia a esta companhia o soldado Lemos, ex-futebolista do Boavista e, depois do F.C.Porto onde ficou célebre por ter marcado 4 golos ao Benfica no Estádio das Antas em jogo a contar para o Campeonato Nacional de Futebol, jogo que, por acaso, assisti ao vivo.
Em Cacine, esta Companhia tratou logo de abrir valas por todo lado, pois tendo Guileje sido abandonada e estando Gadamael a ferro e fogo, Cacine seria, muito provavelmente, o "freguês que se seguia".
Entretanto, saído não sei de onde, aparece-me um camarada e pergunta-me:
- Tu é que és o Magro?
Respondi que sim e ele:
- Deves ter uma cunha do "caraças"!
- Então porquê?
- Venho-te substituir. Estava sossegadinho em Bolama e mandaram-me para aqui para te substituir.
Nunca tive conhecimento de cunha alguma e atribuo o facto a pressões que o Dr. Dias terá feito junto do Chefe - Major Mário Lobão, por se encontrar, provavelmente, atafulhado em papelada. Nunca o soube.
Aproveitei boleia na LDM que transportou a CCAÇ 3520 para Bissau.
Saímos de Cacine ao fim da tarde e chegamos a Bissau na manhã do dia seguinte,
A partir dessa data eu seria, talvez, o Furriel/Sargento que melhor fazia a Guarda de Honra ao Brigadeiro Alberto da Silva Banazol!
Recordo-me de, logo após o meu regresso de Cacine e estando de Sargento da Guarda, ter dado ordem de: "Apresentar armas!" quando ele se colocou em sentido frente à Guarda, e o ter feito com tal vigor que o homem, depois de bater a pala e desandar, ao passar perto de mim, disse:
- "Isso, assim com garra!".
Estavam feitas as pazes!
____________
Nota do editor:
Vd. último poste da série de 6 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11067: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (4): Curtas férias em Cacine, CCAÇ 3520
Um Amanuense em terras de Kako Baldé
4.2 – Curtas férias em Cacine – CCAÇ 3520
Decorria o mês de Junho de 1973. Eu ainda era muito "pira", não tinha completado ainda 3 meses de Guiné. Vinha do "ar condicionado" e encontrava-me em Cacine, no meio de grande confusão, tropas pára-quedistas, fuzileiros, Marcelino da Mata, etc.
Felizmente em Cacine não faltava nada. Não faltava cerveja morna, não faltava uma pedra de gelo, por cabeça, às refeições, não faltava o arroz de "rolhas" (arroz com muito colorau e meia dúzia de rodelas de salsicha), etc., etc..
A CCAÇ 3520 era um Companhia farta. Farta de ali estar, farta de comer arroz de "rolhas", farta de esperar pela rendição.
Julgo que não cheguei a completar 4 semanas de "férias" naquela "estância balnear", mas foi o suficiente para imaginar uma estadia de 23 meses!
Tenho ideia de só ter comido arroz de "rolhas" durante aquele período. Posso estar enganado.
Comecei a dar mais valor ao "pessoal do mato".
Antes 527 serviços de Sargento da Guarda!
O Major Leal de Almeida lá continuava a fazer incursões por Gadamael e levava habitualmente consigo o outro Furriel.
O Major, além de me ter pedido, no início, para lhe dar um jeito no "estaminé", pouco mais me pediu para fazer. Apenas um ou outro "mail" para Bissau.
E eu..., andava por ali a ver as "bajudas"...!
Certo dia, ao fim da tarde, regressados os dois, via fluvial, a Cacine, o outro Furriel, visivelmente exausto, sujo e suado, vem ao meu encontro e, completamente alterado, atira-me:
- Porra, anda aqui um "gajo" a esfarrapar-se todo e a arriscar o "coiro" e tu aqui a "coçá-los"!
Eu, que nunca gostei que me falassem "de cima da burra" nem com aqueles modos e que, nestas situações, tinha o hábito de responder com alguma agressividade verbal, contive-me (acreditem que a cerveja morna faz um efeito "bestial") e, calma e sarcasticamente, retorqui-lhe:
- Djubi, eu sou Amanuense e não tenho lá muita queda para herói! Já viste bem este "cabedal"?! Além disso o Major nunca me "convidou para a festa"!
Deu meia volta a resmungar e não me recordo de ter tido mais qualquer conversa com ele.
Entretanto, eu ia jogando a "lerpa", bebendo umas "bejecas" mornas e convivendo com os Sargentos pára-quedistas (ah gente do "catano"!).
Recordo-me bem de um convívio nocturno na "messe" de Sargentos. Houve de tudo! Aguardente, fados, poesia, etc., tudo a roçar o "hard-core", claro! Gente espectacular, camaradagem excelente e com uma disciplina extraordinária, nomeadamente com o armamento.
Guardei na memória alguns versos de um fado cantado pelos "páras" com música do hino académico - "Amores de Estudante" e que, salvo erro, rezavam assim:
Quero, quero ir para Lisboa
Ai, ai, eu quero
Nem que seja de canoa
Eu quero ir
P'ra terra santa querida
Dizer adeus a esta merda
P'ro resto da minha vida
Pára-quedistas, homens nobres
Tanto ricos como pobres
Avançando pela mata
...
(e de mais não me recordo)
Ficou-me também na retina a imagem do 1º Sargento pára-quedista Vicente, evacuado para Cacine vindo de Gadamael, com um tiro numa perna, a aguardar evacuação para Bissau e com quem tinha convivido alegremente naquela noite.
A minha "guerra" lá foi continuando com a "lerpa", "as bejecas" mornas, o convívio com os "páras" e a excelente qualidade das instalações, nomeadamente o "balneário" de arrojado design e equipamento de conceituadas marcas.
O chuveiro apresentava uma característica completamente inovadora - era semi-automático, comandado por voz! Isto é: Em cima havia um bidão de lata que continha água e um furo na base inferior tapado com uma rolha acoplada à ponta de um pau. O "fabiano" que queria tomar banho tinha de "aparelhar" com outro que tivesse a mesma intenção. O primeiro colocava-se debaixo do bidão e o outro encarrapitava-se de modo a chegar ao pau. Quando o de baixo queria água, dizia: - "abre!" e a água caía. Se queria parar, dizia: - "pára", e a água parava! (sistema altamente sofisticado para a época). Findo o duche, era só trocar de posições e a coisa funcionava bem.
Entretanto, chega finalmente a Companhia que vinha substituir a CAÇ 3520. Esta entra em euforia e empenha-se rapidamente nas actividades para recepção dos novos "piras".
Não possuindo máquina fotográfica, vi-me impedido de registar aqueles actos solenes hilariantes.
Os "piras" não acharam muita piada à recepção. Pudera, entraram no avião em Figo Maduro com destino a S. Tomé e, quando aterraram, estavam na Guiné!
Pois é verdade, iam para S. Tomé e, a meio da viagem, o Comandante do avião terá recebido ordens para rumar a Bissalanca.
Pertencia a esta companhia o soldado Lemos, ex-futebolista do Boavista e, depois do F.C.Porto onde ficou célebre por ter marcado 4 golos ao Benfica no Estádio das Antas em jogo a contar para o Campeonato Nacional de Futebol, jogo que, por acaso, assisti ao vivo.
Em Cacine, esta Companhia tratou logo de abrir valas por todo lado, pois tendo Guileje sido abandonada e estando Gadamael a ferro e fogo, Cacine seria, muito provavelmente, o "freguês que se seguia".
Entretanto, saído não sei de onde, aparece-me um camarada e pergunta-me:
- Tu é que és o Magro?
Respondi que sim e ele:
- Deves ter uma cunha do "caraças"!
- Então porquê?
- Venho-te substituir. Estava sossegadinho em Bolama e mandaram-me para aqui para te substituir.
Nunca tive conhecimento de cunha alguma e atribuo o facto a pressões que o Dr. Dias terá feito junto do Chefe - Major Mário Lobão, por se encontrar, provavelmente, atafulhado em papelada. Nunca o soube.
Aproveitei boleia na LDM que transportou a CCAÇ 3520 para Bissau.
Saímos de Cacine ao fim da tarde e chegamos a Bissau na manhã do dia seguinte,
A partir dessa data eu seria, talvez, o Furriel/Sargento que melhor fazia a Guarda de Honra ao Brigadeiro Alberto da Silva Banazol!
Recordo-me de, logo após o meu regresso de Cacine e estando de Sargento da Guarda, ter dado ordem de: "Apresentar armas!" quando ele se colocou em sentido frente à Guarda, e o ter feito com tal vigor que o homem, depois de bater a pala e desandar, ao passar perto de mim, disse:
- "Isso, assim com garra!".
Estavam feitas as pazes!
____________
Nota do editor:
Vd. último poste da série de 6 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11067: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (4): Curtas férias em Cacine, CCAÇ 3520
Subscrever:
Mensagens (Atom)