quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24627: Historiografia da presença portuguesa em África (384): Grandes surpresas na revista "As Colónias Portuguesas" e a Guiné na Exposição Internacional de Antuérpia, 1930 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Fevereiro de 2023:

Queridos amigos,
É compensador andar a bisbilhotar em publicações que à primeira vista não nos fazem pensar que dali salta pepita de ouro. Sugeriram-me na Biblioteca da Sociedade de Geografia que começasse a ver os primeiros volumes da revista As Colónias Portuguesas, e fiquei assombrado por encontrar um mapa com a localização dos estabelecimentos comerciais portugueses nas margens do Rio Grande de Buba, tratou-se, sem margem para dúvidas, do primeiro grande empreendimento económico do século XIX, teve vida efémera devido às sangrentas guerras no Forreá, mas aqui fica a ilustração desta nossa presença, eram fundamentalmente portugueses e cabo-verdianos; não deixa de ser interessante folhear o catálogo português, a apresentação da Guiné no contexto da Exposição Colonial Portuguesa na Grande Exposição de Antuérpia de 1930, publicação da Agência-Geral das Colónias, edição em francês.

Alude-se à descoberta da Guiné, aos primeiros navegadores, ao primeiro povoado protuguês, Porto da Cruz, fundado em 1584 pelos frades em Guinala, nas margens do Rio Grande de Buba; repertoriam-se as primeiras fortalezas, e as companhias comerciais; não escapa uma referência à questão de Bolama e às campanhas de Teixeira Pinto, tudo para se dizer que reinava agora uma paz profunda. Não falta um esquisso fisiográfico com rios, estações do ano e dados meteorológicos. Não havia então censo demográfico, mas são apresentadas as principais etnias, menciona-se que em 1925 havia na Guiné 768 europeus e sírios; depois de se falar nas 11 circunscrições administrativas, mencionam-se 2800 km de estradas, uma rede de 685 km para as comunicações telegráficas e duas estações de cabos submarinas. Quanto a dados económicos, toda a riqueza da Guiné provinha da agricultura e da criação de gado: arroz, amendoim, óleo de palma, couros, cera e borracha. Não deixa de surpreender a imagem com a cultura do algodão, é facto que ela existiu, embora sem continuidade. Obviamente para atrair os caçadores alerta-se para o facto da Guiné ser uma região privilegiada para a caça.

Um abraço do
Mário



Grandes surpresas na revista "As Colónias Portuguesas" e a Guiné na Exposição Internacional de Antuérpia, 1930

Mário Beja Santos

A revista "As Colónias Portuguesas" publicou-se entre 1833 e 1891, era inequivocamente dirigida à atração de investimentos, de funcionários da administração colonial, potenciais estudiosos do Terceiro Império. Comecei, na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa, por percorrer o volume referente a 1933 e a 1934. E fui surpreendido por gravuras para mim totalmente inéditas, mesmo que conhecesse o conteúdo. Por exemplo, desconhecia por inteiro a marcação das feitorias portuguesas no Rio Grande de Buba, na sua época áurea, foi um período flamejante que acabou de forma caótica por causa da guerra do Forreá, mesmo quando as autoridades portuguesas conseguiram encontrar um régulo fiel que estabilizasse as relações entre Fulas e Biafadas, os estabelecimentos comerciais apagaram-se. A imagem deixou para a posteridade a localização desses empreendimentos que depois se reduziram à insignificância ou ao apagamento.
Pedro Ignacio de Gouveia, brilhante oficial da Marinha, é depois de Augusto Frutuoso Figueiredo de Barros, Governador interino, o primeiro Governador da Guiné (1881-1884), haverá um segundo mandato. A primeira vez que me confrontei com a sua prosa, e que muito me impressionou, foi a carta que ele dirigiu ao ministro da Marinha e Ultramar referindo a viagem do alferes Marques Geraldes até Selho (hoje no Senegal), para ir buscar mulheres raptadas de um parente do régulo local, é um belíssimo documento.
A Igreja de São José de Bolama era o templo religioso da capital da colónia. Será devorada por um incêndio e deu origem à atual igreja.
Duas imagens, Cacheu e Bissau, respetivamente, desconhecia inteiramente estas gravuras, ajuda-nos a entender a relação entre as povoações e a fortificação de cada uma. Aspeto curioso é a minucia do artista que nos mostra a navegação do Geba, ainda não existe o cais do Pidjiquiti.


A participação portuguesa na Exposição Internacional de Antuérpia, 1930:
A Guiné no catálogo da Exposição Colonial Portuguesa


Rosto, a cores, da apresentação da Guiné
Uma imagem idílica de uma estrada da Guiné. A autora deste conjunto de ilustrações foi uma reputada ilustradora e pintora, Raquel Roque Gameiro Ottolini, filha de um famosíssimo aguarelista, Alfredo Roque Gameiro, que tem uma cativante casa-museu em Minde, aí se podem ver obras que revelam o seu excecional talento. É bem provável que a autora tenha recebido informações sobre as estradas de terra batida da Guiné e idealizou esta atmosfera de sonho
Três imagens da Guiné para visitantes da Exposição Internacional de Antuérpia. Raquel Roque Gameiro era uma artista modernista, pendo para este arrozal, linhas sóbrias, com um arroz fora da moldura, para nos sugerir a pujança da cultura orizícola, já muito importante neste tempo. A segunda imagem é esclarecedora que havia cultura do algodão, o capataz branco segue atentamente o trabalho guineense.
Um curioso mapa da época, atribuindo o nome de Senegâmbia ao Senegal. A Africa Ocidental francesa era vastíssima e o nome Senegâmbia vinha do passado remoto. Veja-se os nomes do que se consideravam as povoações principais e como se procura caracterizar o Boé.
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Nota do editor

Último post da série de 30 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24601: Historiografia da presença portuguesa em África (383): Um importante ensaio sobre a missionação franciscana na Guiné e Rios da Guiné, século XVIII na "Revista Itinerarium", ano LXVIII, n.º 228, julho-dezembro de 2022 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24626: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (9): Requiem para um paisano



Foto nº 1



Foto nº 2

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > 1969 > Sinchã Mamajã... Algures, numa tabanca do regulado de Badora, já no limite sul, fazendo fronteira com o regulado do Corubal; uma tabanca em autodefesa, reforçada pelo 3º Gr Comb, com os respetivos furrieis mlicianos, "periquitos": o Luciano Almeida (foto nº 1) e o Luís Graça Henriques (foto nº 2), junto a um dos abrigos e posando com o RPG 2 para a fotografia... O fotógrafo foi o Arlindo Roda, o grande fotógrafo da CCAÇ 12, juntamente com o Humberto Reis,

Fotos  © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona Leste >  Regiáo de Bafatá > Sector L1  > BART 2917 (Bambadinca, 1970/72  >  Bambadinca  > 1970 > Uma das poucas fotos que temos do malogrado fur mil at inf Luciano Severo de Almeida,  do 3º pelotão da CCAÇ 12, que morreria, em circunstâncias desconhecidas (mas presumivelmente violentas), depois de regressar à metrópole.  

Foto (e legenda): © Vitor Raposeiro (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


À memória do Luciano Severo de Almeida 
(que terá morrido de morte violenta, já como paisano), 
 meu camarada da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 
(Contuboel e Bambadinca, 1969/71)
e de mais camaradas da Guiné, desconhecidos,
que morreram, de morte violenta,
por homicídio, suicídio ou acidente,
já depois do regresso á pátria.


Requiem para um paisano

por Luís Graça (*)


Disseram-me que tinhas morrido, meu infortunado camarada,  já depois do nosso regresso a casa. Talvez nos finais dos anos 70 do século passado, não posso precisar.

Morrido, "lerpado", para usar o nosso calão de caserna, bruto e feio. "Lerpado", assim, sem mais nada, sem uma palavra,  sem uma oração, talvez até sem um ai nem um ui, sem um grito de dor, sem um ato de contrição, sem direito sequer  a um último desejo, um cigarro, uma palavra de despedida... Imagino ou suspeito  que nem sequer tinha havido um xeque-mate, do tipo "a bolsa ou a vida!"... 

"Lerpado", morrido, de morte matada, morrido, como um cão, com um tiro na nuca, como os cães que abatemos (dezenas!|), uma noite, em Bambadinca, nessa alucinante e sangrenta  "Noite das Facas Longas", lembras-te?!... (Precisávamos de dormir, e eles eram uma alcateia selvagem de vira-latas,  famintos, sem-abrigo,  que todas as noites invadiam a parada, e uivavam às nossas janelas!)

Disseram-me que tinhas sido encontrado, morto, longe da nossa Guiné, dessa terra verde e vermelha que tu tanto amaste, longe da tabanca de  Sinchã Mamajã, e da morança da tua bela e sensual Fatumatá, de mama firme, que se escapulia para a tua morança, nas noites de cio e lua cheia, em que uivava a hiena (o "lobo", para os guineenses)… 

Longe do tarrafo do Geba, da Ponta Varela e do Poindom, do Mato Cão, dos Nhabijões, da Ponta do Inglês, da Missão do Sono, da Ponte do Udunduma, da orla da bolanha, do poilão, do bagabaga, do tarrafe… Longe de Bambadinca, de Badora, do Corubal,,,

Onde, afinal ? Não longe do lugar dos teus verdes anos, não longe do arco-íris do teu céu de menino, quiçá perto do estuário do teu Tejo, numa qualquer praia do mar da Palha, ou numa valeta suja de uma rua escura da tua cidade (S
e bem recordo, moravas no Afonsoeiro,  Montijo, na Rua Damão, rodeada de outras ruas com topónimos ultramarinos, Luanda, Ilha do Príncipe, Ilha de Sáo Tomé, Moçambique, Cabo Verde),,,

Em que encrencas te meteste, meu irmão ?  E com quem jogavas à lerpa, camarada ? Ou em que emboscada caíste, meu amigo ?  

Que morte tão crua, a ser verdade, oxalá fosse boato a notícia de fait-divers que alguém leu no jornal, a notícia de uma morte em que eu não te (re)vejo, nem nenhum de nós, teus velhos camaradas de Bambadinca.

Oxalá tenhas simplesmente desaparecido, emigrado!... Oxalá, tenhas sido sequestrado, tenhas mudado de código postal ou até de identidade, sempre era menos mal. Sinal ao menos, que estavas vivo, algures!... E poupavas-me este requiem, o teu elogio fúnebre, que é a pior das missões que se pode pedir a um camarada de armas.

Oxalá,  Inshallah, Enxalé!

Disseram-me (mas eu não quis crer) que tinhas sido morto, sem honra nem glória, depois de cumprido o teu dever para com a Pátria que te foi madrasta, cruel Jocasta.

Já depois da última nau da Índia ter naufragado no mar da Palha da tua infância, já muito depois dos últimos guerreiros do império terem feito o espólio de todas as guerras e o relatório da sua errância desde Quinhentos.

No século passado, meu amigo, no século transato, meu irmão!...

Lembro-me de o velho Uíge, navio da Companhia Colonial de Navegação, nos ter devolvido a terra, à nossa cidade e capital. Nas praias da Rocha Conde d' Óbidos, no cais de todas as saudades, no cais de pedra donde havíamos partído em 24 de maio de 1969, quase às escondidas, vindos do comboio noturno e soturno de Santa Margarida, do Campo Militar de Santa Margarida.

Não sei quem te esperava nesse dia 22 de março de 1971, mas seguramente os mesmos entes queridos (pais, manos, namoradas, noivas, mulheres...) que nos esperavam,  a quase todos nós, que ali, no cais, passávamos à condição de paisanos, depois de nos depedirmo-nos, a bordo, na noite anterior,  bebendo o último gole de uísque sem gelo e fazermos promessas de amizade para sempre. 

Vestidas as calças à boca de sino, e as camisas às florinhas que estavam na moda, na época,  regressávamos ao doce lar, com as exóticas bugigangas compradas c
om o patacão da guerra em Bissau, na loja do libanès Taufik Saad.

Regressávamos da guerra, com a morte na alma e mazelas no corpo, num navio, quase fantasma,  da marinha mercante,  o T/T Uíge.

Como se tudo continuasse como dantes e a vida corresse normalmente, "contra os ventos da história" (como então se dizia), nessa viagem de regresso à pátria servia-se a bordo, na chamada classe turística, reservada aos sargentos: (i) uma sopa de creme de marisco; (ii) seguido de um prato de peixe (pescada à baiana); e (iii) um prato de carne (lombo estufado à boulanger)... sem esquecer (iv) a sobremesa: a bela fruta da época, o bom café colonial, o inevitável cigarro a acompanhar um uísque velho, antes de mais uma noitada de lerpa ou de king...

Não sei se "lerpaste" nessas noites, se perdeste (ou ganhaste) algum patacão... Sim, esse 17 de março de 1971, em que largámos do estuário do rio Geba,  foi o primeiro dia do resto das nossas vidas...  E, nas costas da ementa de um desses jantares a bordo, talvez o do último dia, deixámos escritos os nossos nomes e moradas. 

Três de nós, que iam na classe turística,  já não estão mais entre os vivos, tu, o sargento Piça e o furriel António Branquinho... Bolas, já lá vai meio século depois do nosso regresso... E todos jurámos ficar amigos... para sempre !

Regressávamos ao lar e à rotina das nossas vidas, pequenas, insignificantes. E a uma outra guerra, a da lufa lufa do quotidiano, com outras picadas, com outras minas e armadilhas, com outras emboscadas e golpes de mão.

Tu tinhas um lar, todos tínhamos um lar, uma família, alguns um emprego, muitos uma namorada ou uma noiva ou uma mulher e até filhos à sua espera… Mas eu…, o que sabia eu de ti ? O que sabíamos nós uns dos outros ? E dos nossos sonhos de meninos que foram obrigados a crescer tão cedo e tão rãpido ?

Muito pouco, afinal… Casaste ? Tiveste filhos ? Não, não deves ter tido tempo e pachorra para ser pai, um bom pai,   e muito menos avô babado…  

Não, nunca mais voltei a ver-te,  depois desse dia 22 de março de 1969, ao longo de todos estes anos, em que tantas coisas aconteceram, para o pior e o melhor, na nossa Pátria...  
Uma palavra, repara, que saiu do léxico dos tugas, e já não se usa mais, a  Pátria... Afinal o que é a Pátria, camarada ? Ou era ?

Em 1994, encontrámo-nos,  alguns de nós, em Fão, Esposende, mas tu já não estavas no rol dos vivos... Julgo que foi aí que soube, pela primeira vez, da notícia de que tinhas morrido (segundo constava)...

A imagem mais forte, não a última, que retenho de ti, é a do menino e moço que saiu, fardado, garboso,  bem escanhoado, da casa de seu pai e sua mãe...É a imagem do puto reguila, quiçá rebelde, temperamental, belicoso mas generoso, da margem sul do Tejo. Com jeito para o desenfianço, o desenrascanço, que a vida era dura para os homens da CCAÇ 12, brancos e pretos. E com lábia para as bajudas de mama firme e para os "dubis", os putos da companhia, alguns ainda meninos de sua mãe.

Retenho ainda,  sem qualquer sentimento de pudor nem de culpa, 
a imagem do nosso patético duelo, numa noite de desvario,  no bar de sargentos de Bambadinca, tendo por arma, letal, uma garrafa de VAT 69. (Ou era Jonhnie Walker ? Ou White Horse, a tal do cavalinho branco ? Já não me lembro do rótulo, sei apenas que era scotch, e do bom, daquele que vinha From Scotland for the Portuguese Armed Forces with love!, da Escócia para os tugas com amor.)

Um duelo de morte, gole a gole, até ao gole ou golpe final, em menos de 15 minutos!... Com árbitro e tudo, apostas a dinheiro, mirones e claques de apoio, como mandavam as regras dos apanhados do clima de Bambadinca!... Já não sei quem ganhou: seguramente perdemos os dois...

Apanhados do clima, cacimbados, dizes bem, Exaustos, usados e abusados, filhos de Sísifo, filhos de um deus menor, condenados ao mais insano dos suplícios, uma guerra a que chamavam de baixa intensidade,  de contraguerrilha, do gato e do rato, de contrassubversão…

Não, não, era a roleta russa, ninguém tinha pistolas de tambor, era o fado lusitano, era o fado da Guiné, meu camarada, meu amigo, meu irmão.

Era a nossa triste condição, era a nossa quiçá estúpida, mas viril, maneira de matar… o tempo, o escasso tempo de lazer em tempo de guerra, , cronometrado, o tempo de espera entre uma operação e outra, o tempo de espera que podia ser entre a vida e a morte, que estava quase sempre emboscada nos trilhos que levavam do Xime à Ponta do Inglês. 

Era a insanidade mental, era a raiva, traiçoeira, era a lucidez da loucura a tomar conta de nós….

Foi esse fado que te matou, essa maldita toxina, essa adrenalina, que trouxeste das águas do Geba e do Udunduma, e das bolanhas do Corubal, do cacimbo das manhãs de Sinchá Mamajá, e que te impedia de parar para pensar, simplesmente parar, simplesmente pensar, simplesmente viver, simplesmente respirar à tona de água. meu irmão, meu camarada, meu amigo.

Foi o sobressalto da vida, foi a vida em sobressalto, foi a vida em saldo, foi a alma em carne viva, foi a dor em lume brando... 
Foi isso que te matou. No pós  guerra, na guerra dos paisanos.

Foi isso, foi a Guiné que te matou. Ao retardador.

© Luís Graça (2015). Revisto em 6set2023



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Carta do Xime (1955) (Escala 1/50 mil) Subsetor de Bambadinca > Detalhe > Tabancas fulas em autodefesa, Samba Juli, Sare Adé, Sinchã Mamajá e Sansacuta, situadas entre os rio Quéuol e Timinco, a leste da estrada Bambadinca-Mansambo. na frinteiras entre os regulados de Badora e Corubal 
Sansancuta faz parte dum eixo de aldeias estratégicas, como se diz no Vietname, no limite sul do regulado de Badora, no Sector L1, e que funciona como uma espécie de pequena muralha da China, cortando as linhas de infiltração das forças da guerrilha que eventualmente se dirijam para o interior daquele regulado a partir do rio Corubal (infiltração facilitada pela retirada de Madina do Boé, Béli,  Ché-Ché, Madina Xaquili...) Estavam ali reagrupados os habitantes de três tabancas, uma das quais Sare Ade cuja população, sobretudo os mais jovens, não se conformou com a ordem de deportação dada pelo comando militar de Bambadinca, tendo fugido para o nordeste (Gabu) e inclusivamente para o Senegal, que também é chão fula.

Lugares que continuam no nosso imaginário, ao fim de mais de meio século, fazendo parte das nossas geografias emocionais...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 30 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24599: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (8): Bonjour tristesse!

(...) Nada fazia prever, quando o Teodoro nasceu, que estaria predestinado a ser padre. Pelo menos não havia nenhum sinal exterior dessa predestinação, desse chamamento de Deus.

− Nenhum rasto de estrela ou cauda de cometa a apontar para a minha casinha de xisto. (Apesar de tudo, sempre era melhor do que a loja da vaca e do burro, em cuja manjedoura nascera o Menino Jesus, em Belém.) − comentaria ele, com um misto de ironia e melancolia, mais tarde, em 2008, quarenta anos depois da sua partida para França, onde fixara residência. Nunca mais voltara à sua aldeia, na Serra da Lousã, a não ser então, depois da reforma. (...)


Postes anteriores da série "Contos com mural ao fundo":

21 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24572: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (7): Sozinho, como um cão

(...) Estive no seu leito de morte. Um fatal cancro dos pulmões, porventura curável nos nossos dias, roubara-lhe a vida, há uns trinta anos atrás. Teria hoje os seus 80 anos, se fosse vivo. Morreu jovem, demasiado jovem.

Era um dos meus heróis da adolescência, o Doc. Tinha lentamente recuperado a alegria de viver, depois de uma grave crise que ele próprio qualificara de “existencial”. (...)


26 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24504: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (5): O "Felgueiras", de 1º cabo hortelão a comendador (1943-2017) (Parte I)

27 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24506: Contos com Mural ao Fundo (Luís Graça) (6): O "Felgueiras", de 1º cabo hortelão a comendador (1943-2017) - II (e última) Parte

(...) Conhecemo-nos, por um mero acaso, num casamento em Braga, a terra dos arcebispos (um dos quais, o Dom Lourenço Vicente, do séc. XIV, meu longínquo conterrâneo, senhor das terras da Lourinhã).

A história do "Felgueiras" já me tinha sido contada, muito por alto, pelo pai do noivo. Antigos camaradas da Guiné, tinham estado numa companhia independente, colocada no setor de Teixeira Pinto (hoje Canchungo), na região do Cacheu.

− Fomos e viemos no mesmo navio: para lá no "Niassa", para cá no "Uíge"... − acrescentou o Arlindo, o pai do noivo. (..)

20 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24491: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (4): Amigos para sempre!

(...) Foi o primeiro encontro da Companhia, depois do regresso da Guiné... Vinte anos depois (!)... Na Anadia, em 1991, o ano em que nasceu a Internet, pelo menos a Internet que conhecemos hoje, em que as pessoas estão familiarizadas com as redes sociais, e usam o telemóvel e o correio eletrónico.

A organização coube ao "Vagomestre", auxiliado pelo "Transmissões"... Não lhes foi fácil descobrir nomes, moradas, telefones e até faxes... E juntar "boas vontades". (Ainda não havia endereços de e-mail, comunicava-se por telefone, telegrama e fax.) (...)


8 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24459: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (3): Um tiro de misericórdia!


(...) Conheceste-o no Chez Toi, em Bissau. Ou melhor, reconheceste-o, de Tavira, do CISMI, do Centro de Instrução de Sargentos Milicianos. Haviam pertencido, ambos, à Companhia de Instrução comandada por uma figura impagável, um tenente gordinho, que, dizia-se, tinha-se coberto de “honra & glória” no Norte de Angola. Já esqueceste o seu nome, para bem da tua higiene mental.

Em Bissau, estavas hospedado naquela espelunca, de paredes de tabique, que à noite funcionava como boite. (Era assim que, na época, se chamavam, “en français, comme il faut!”, todas as espeluncas da noite, em Lisboa e, onde se bebia uísque marado, "de Sacavém", e havia umas miúdas de minissaia e cueca vermelha, peludas, que te faziam olhos remelosos, e cócegas no pescoço… Tinham unhas compridas, como os felinos, pintadas de um verniz vermelho horroroso. Faziam, pela vida, coitadas. E viviam nas periferias de Lisboa que cresciam então como cogumelos, em arredores como a linha de Sintra, começando na Reboleira.) (...)


(...) A guerra. Essa coisa tão primordial que é a guerra. Que estaria inscrita no nosso ADN, a acreditar nos sociobiólogos para quem o comportamento humano
seria geneticamente determinado.

A guerra é a continuação da evolução por outros meios, dirão os entomólogos, especialistas em insetos sociais. Para eles, a morte de uma ou de um milhão de formigas (ou de seres humanos...) é-lhes totalmente indiferente. Desde que triunfe o ADN, um projecto de ADN musculado, duma "raça" nova e superior... (Onde é que o leitor já leu isto?) (...)

8 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24379 Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (1): À porta do IPO, à espera de Deus e de remédio para as suas obras imperfeitas...

(...) O que é que um gajo faz, das oito às nove, junto à entrada de um hospital, para mais oncológico ?

Aqui, esperas, desesperas, esperas. Que a esperança é a última coisa a morrer, diziam-te na tropa os gajos mais otimistas, os safados dos instrutores, sobretudo dos coirões, velhos, dos cabos RD, readmitidos, que sabiam que já não iam à guerra, nem nunca morreriam docemente pela Pátria. (...)

Guiné 61/74 - P24625: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (4): Mampatá, maio-julho de 1973


Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Mampatá > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Buba, 1973/74) > Junho/lulho de 1973 > Mina anticarro levantada na estrada Cumbijã/Nhacobá. Com todo o cuidado, a mina estava armadilhada. Foi neutralizada pelo ex-furriel mil Reis e ex-alferes mil Torres, do 4º pelotão da 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513/72.



Fotos nº 2 e 2A > Guiné > Região de Tombali > Mampatá > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Buba, 1973/74) > Junho/julho de 1973 > Levantamento de mina A/C na estrada Cumbijã / Nhacobá. À esquerda, de faca de mato na mão, o ex-fur mil Reis; ao centro com a HK 21, um camarada de quem  não recordo o nome; e à direita, o ex-alf mil Torres. (Infelizmente o Reis e o Torres já não estão entre nós.)


Foto nº 3 > Guiné > Região de Tombali > Mampatá > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Buba, 1973/74) > Junho/julho de 1973 > Eu, na tabanca de Mampatá, com dois grandes amigos: à direita o ex-furriel Reis, e à esquerda o ex-furriel Victor.


Foto nº 4 > Guiné > Região de Tombali > Mampatá > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Buba, 1973/74) > Junho/julho de 1973 > Eu, com a tabanca ao fundo.


Foto nº 5 > Guiné > Região de Tombali > Mampatá > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Buba, 1973/74) > Junho/julho de 1973 > Eu, com uma menina ao colo.


Foto nº 6 > Guiné > Região de Tombali > Mampatá > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Buba, 1973/74) > Junho/julho de 1973 > Crianças da tabanca



Fotos nº 7 e 7A > Guiné > Região de Tombali > Mampatá > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Buba, 1973/74) > Junho / julho de 1973 > Eu, num posto de vigia junto à enfermaria virado para a estrada do Cumbijã. Vamos ver quem identifica esta metralhadora, de carregador curvo.... (É uma Madsen, dinamarquesa, de 1902!)


Foto nº 8 > Guiné > Região de Tombali > Mampatá > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Buba, 1973/74) > Junho/julho de 1973 > Heliporto, à direita a estrada para o Cumbijã, Colibuia e Nhacobá.


Foto nº 9 > Guiné > Região de Tombali > Mampatá > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Buba, 1973/74) > Junho/julho de 1973 > Durante um patrulhamento o descanso do 3º pelotão para comer uma latita da ração de combate, este pontão estava numa estrada abandonada há muito que ia de Mampatá para Sinchã Cherno e Empada.


Foto nº 10 > Guiné > Região de Tombali > Mampatá > 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Buba, 1973/74) > Junho/julho de 1973 > Eu, mais uma vez...

Fotos (e legendas): © António Alves da Cruz (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos do álbum do António Alves da Cruz (ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 45113/72, Buba, 1973/74).

Estamos a seguir a ordem cronológica da comissão de serviço na Guiné. Partida do BCaç 4513/72: Embarque em 16mar73; desembarque em 22mar73.

A 1ª Comp, após o treino operacional no subsector de Buba com a CCaç 3398, sob orientação do BCaç 3852, passou a reforçar a actividade daquela subunidade no esforço realizado de contrapenetração no referido subsector e depois integrada no seu batalhão, na função de intervenção que lhe foi atribuída, tendo-se instalado, a partir de 17,ai73, em Mampatá.

Mensagem do António Alves da Cruz, ex-fur mil, 1ª C/BCAÇ 45113/72 (Buba, 1973/74)

Data - sexta, 1/09/2023, 14:55
Assunto - Fotos

Boa tarde, Luís
De maio a julho de 1973, a 1ª Companhia do BCAÇ 4513/72 esteve sediada em Mampatá para reforçar as operações na zona de Nhacobá.

Durante 3 meses andámos como companhia de intervenção. Junto fotos.

Forte abraço amigo Luis
Cruz

PS - Para os senhores censores do blogue, esclareço que a farda que usava, na ocasião, era Pestana & Brito e o boné Dolce & Gabbana.

Fotos > Legenda:

Foto 1 - Mina anticarro levantada na estrada Cumbijã/Nhacobá. Com todo o cuidado, a mina estava armadilhada. Foi neutralizada pelo ex-furriel mil Reis e ex-alferes mil Torres, do 4º pelotão da 1ª C/BCAÇ 4513/72.
Foto 2 - Levantamentode mina A/C na estrada Cumbijã / Nhacobá. À esquerda, de faca de mato na mão, o ex-fur mil Reis; ao centro com a HK 21, um camarada de quem  não recordo o nome; e à direita, o ex-alf mil Torres. (Infelizmente o Reis e o Torres já não estão entre nós.)
Foto 3 - Eu, na tabanca de Mampatá, com dois grandes amigos: à direita o ex-furriel Reis, e à esquerda o ex-furriel Victor.
Foto 4 - Eu, com a tabanca de Mampatá ao fundo.
Fotos 5 e 6 - Crianças de Mampatá
Foto 7 - Mampatá, unho de 73
Foto 8 - Posto de vigia junto à enfermaria virado para a estrada do Cumbijã.
Foto 9 - Mampatá, geliporto, à direita a estrada para o Cumbijã , Colibuia e Nhacobá.
Foto 10 - Durante um patrulhamento o descanso do 3º pelotão para comer uma latita da ração de combate, este pontão estava numa estrada abandonada há muito que ia de Mampatá para Sinchã Cherno e Empada.
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Nota do editor:

Útimo poste da série > 3 de setembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24614: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (3): Bolama, lugar de passagem

Guiné 61/74 - P24624: Efemérides (407): Rescaldo da homenagem aos Antigos Combatentes da Guerra do Ultramar naturais da União das Freguesias de Felgueiras e Feirão, Concelho de Resende, levada a efeito no passado dia 2 de Setembro de 2023 (Fátima Soledade / Fátima Silva)

São Cristóvão. Vista panorâmica


HOMENAGEM AOS ANTIGOS COMBATENTES DA GUERRA DO ULTRAMAR NATURAIS DA UNIÃO DAS FREGUESIAS DE FELGUEIRAS E FEIRÃO, CONCELHO DE RESENDE

No dia 2 de setembro de 2023, os combatentes naturais da União das Freguesias de Felgueiras e Feirão do concelho de Resende e todos os seus amigos e familiares e demais pessoas conseguiram vivenciar um momento ímpar na valorização da coragem dos Homens que cumpriram missão no Ultramar.

O local que foi eleito para a cerimónia é irrepreensível. Nele o Céu, a Lua, as estrelas e demais elementos da Natureza se combinam e partilham as melhores confidencias que por vezes se fazem ouvir aqueles que o visitam e se deixam baloiçar pela beleza que o rodeia. Num só dia, o São Cristóvão pôde oferecer ao ser humano as quatro estações do ano e foi isso que aconteceu no dia em que os combatentes naturais dessas freguesias foram homenageados. Era por este local que os Combatentes passavam, a pé, quando se dirigiam para o Regimento de Infantaria 14, em Viseu ou para o Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE), atual Centro de Tropas de Operações Especiais (CTOE), em Lamego.

O segundo momento da homenagem decorreu no recinto da Capela de S. Cristóvão e teve início às 15h00, com a celebração de uma missa em que se homenagearam os dois Combatentes de Feirão: Augusto Pereira Dias, soldado aplicador de metralhadora, que cumpriu comissão em Angola, integrando a Companhia de Caçadores 773 do Batalhão de Caçadores 774, tendo sido ferido em Combate e falecendo no dia 4 de agosto 1967, no Hospital Militar em Lisboa, após ter sido evacuado e Armando Pereira Coelho, 1.º Cabo Mecânico Auto que cumpriu comissão em Angola, integrando a Companhia de Caçadores 1311 do Batalhão de Caçadores 2855, falecendo no dia 25 de outubro de acidente e todos os restantes que ainda se encontram vivos e os que já faleceram durante a visa civil.

Também foram lidos pelos netos os testemunhos reais recolhidos, em vida, de dois combatentes: Albino Rodrigues Rocha, que cumpriu comissão de 1973- 1974 ,em Moçambique, pertencendo à CCS do Batalhão de Cavalaria 8421, tendo sido evacuado para a metrópole, após ter sido gravemente ferido e Manuel Fernando de Almeida Matos, 1.º Cabo, cumpriu comissão na Índia de 1960-1962, integrando a Companhia de Caçadores 12, onde foi feito prisioneiro em Goa.

No último momento do evento, todos aos presentes foram abrilhantados com um delicioso lanche, onde foram possíveis vários reencontros e partilha de experiências que perduram na memória dos combatentes.

Estiveram representadas várias instituições civis e militares, entidades autárquicas e Hugo Carvalho, deputado da Assembleia da República eleito pelo Distrito de Viseu.

Também se salienta a presença dos representantes do CTOE, Capitão Pereira; da GNR de Lamego, Capitão Luís Moreira e, ainda, um dos assessores do Sr. Presidente da República, coronel Pedro Leandro. Similarmente o Núcleo de Lamego da Liga dos Combatentes, esteve representado por elementos dos seus órgãos sociais, associados e respetivo Estandarte Heráldico.

Em suma, as emoções vividas e os afetos partilhados foram possíveis graças à colaboração de todos os combatentes, aos seus familiares e amigos, que com seriedade acreditaram, desde o primeiro momento, no objetivo de tal evento. Indiscutivelmente, foram colaboradores confiáveis e veículos de muito conhecimento.

Combatentes falecidos que foram homenageados
Quadro de fundo
Memorial. Placa evocativa
Memorial inaugurado no São Cristóvão
Autoras do projeto e Presidente da União das Freguesias
Capitão Pereira do CTOE de Lamego, Capitão Luís Moreira da GNR de Lamego e Coronel Pedro Leandro, Assessor do Gabinete da Casa Militar da Presidência da República
Cap Luís Moreira e Cor Pedro Leandro
Coronel Valdemar Lima, Presidente da Direcção do Núcleo de Lamego da LC; Nuno Pereira, Presidente da União das Freguesias e  Bruno Carvalho, Deputado da Assembleia da República.
Convívio
Lembranças oferecidas pelo senhor Presidente da União das Freguesias de Felgueiras e Feirão
Luciano Carneiro testemunhou a emboscada de que foi vítima Augusto Pereira Dias
O neto Bruno Pereira lendo o testemunho do avô Albino Rocha
O neto José Diogo Matos Silva lendo o testemunho do avô Manuel Fernando Almeida Matos
Os quatro irmãos Loureiro que foram ao Ultramar
Rafael Loureiro, Presidente da Assembleia das Freguesias; Jorge Duarte, Presidente da Junta e Vereadores
O senhor Presidente da União das Freguesias de Felgueiras e Feirão oferece a lembrança ao Presidente da Assembleia Municipal
O senhor Presidente da União das Freguesias de Felgueiras e Feirão oferece a lembrança ao senhor Coronel Pedro Leandro
O senhor Presidente da União das Freguesias de Felgueiras e Feirão oferece a lembrança ao senhor Coronel Valdemar Lima
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Fotos: © Foto Ideal (Editadas por CV)
Texto: Fátima Soledade e Fátima Silva

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Nota do editor

Vd. post de 10 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24545: Efemérides (406): Homenagem aos Antigos Combatentes da Guerra do Ultramar naturais da União de Freguesias de Felgueiras e Feirão, Concelho de Resende, a levar a efeito no dia 2 de Setembro de 2023 (Fátima Soledade / Fátima Silva)

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24623: Fauna e flora (23): o hipopótamo-comum, pis-cabalo em crioulo (Hippopotamus amphibius) apanhado nas bolanhas de Farim (Carlos Silva, ex-fur mil arm pes inf, CCaç 2548 / BCaç 2879, Jumbembem, 1969/71)


Guiné : Região do Oio > Farim > 1970 > "Quem não se acredita que não havia hipopótamos no rio Cacheu? Aqui está o malandro que dava cabo dos arrozais". Foto do precioso álbum do Carlos Silva, ex-fur mil arm pes inf,  CCaç 2548 / BCaç 2879 (Jumbembem, 1969/71).(*)

Foto (e legenda): © Carlos Silva  (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 

Pis-Cabalo (em crioulo) ou hipopótamo-comum (Hippopotamus amphibius) > Um dos mamíferos protegidos na Guiné-Bissau. Não confundir com o hipopótamo-pigmeu, dado como extinto na Guiné-Bissau há 50 anos (**). 

Fonte: Guia de Identificação dos Animais da Guiné-Bissau. República da Guiné-Bissau, Direcção Geral dos Serviços Florestais e Caça, Deparatmento da Fauna e Protecção da Natureza, s/l, 34 pp. s/d. (Já não está disponível em formato pdf, no sítio do IBAP,  fomos recuperá-lo através do Aqruivo.pt).

https://ibapgbissau.org/Documentos/Estudos/Animais%20da%20Guine-Bissau.pdf


Temos uma série dedicada à "Fauna e flora", em especial da  Guiné-Bissau. Esperamos mais contributos dos nossos amigos e camaradas da Guiné que fazem também deste blogue uma importante fonte de informação e conhecimento  (***).
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Guiné 61/74 - P24622: Parabéns a você (2203): José Marcelino Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5 (Canjadude, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Setembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24616: Parabéns a você (2202): Armor Pires Mota, ex-Alf Mil Cav da CCAV 488/BCAV 490 (Mansoa, Bafatá e Jumbembém, 1963/65) e José Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Brá, Mata dos Madeiros, Bassarel e Tite, 1971/73)

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24621: A minha máquina fotográfica (21): A primeira que levei para o CTIG era uma Canon Demi 1.7, uma câmara de meio-quadro ("demi", em francês) que proporcionava 72 fotografias num rolo completo de filme de 35 mm (António Alves da Cruz, ex-fur mil, 1.ª C/BCAÇ 4513/72, Buba, 1973/74)


A minha primeira máquina fotográfica: a Canon demi 1.7, lançada no Japão em 1963... 

Vd. Canon Camera Museum: A Olympus-Pen, em setembro de 1959, foi a primeira câmera, no Japão a oferecer o formato meio quadro ("half-frame"), que dobrava o número de exposições em um rolo de filme 35mm. A Canon também iniciou o desenvolvimento de uma câmera "half-frame" compacta e de aparência luxuosa. 

A Canon Demi que daqui resultou, oferecia recursos de alto desempenho numa máquina  de bolso, analógica: incluíam um visor direto, uma lente 28mm f/2.8 (5 elementos em 3 grupos) e um medidor de exposição de selénio com agulha combinada que usava um programa de valor de luz atrás da lente para medição precisa. Quando a Canon Demi foi lançada, já existiam doze modelos concorrentes no mercado. A Demi, porém, tornou-se muito  popular. “Demi” vem da palavra francesa que significa “metade”.

Foto: Câmera de Filme 35mm Canon Demi S 30mm f/1.7 Half Frame. Fonte: Ebay (com a devida vénia...)





 

António Alves da Cruz, foto atual:
lisboeta, vive em Almada


1. Mensagem do António Alves da Cruz, novo tabanqueiro, nº 880 (foi fur mil , 1ª C/BCAÇ 4513/72, Buba, mar 73 / set 74)

Data - segunda, 28/08/2023

Assunto - Fotos

Bom dia

Luís, a diferença de resolução em várias fotos e slides é que a primeira máquina que levei (*) era uma Canon Demi 1.7, que tinha a particularidade de dobrar os rolos ou seja rolo 36/72. Na foto como era revelada ficava normal, no slide como a própria pelicula é revelada e colocada no caixilho ficava metade do tamanho.

Os "slides" que vou enviar por altura da entrega de Buba já foram com outra máquina. Não é necessário criar nenhum álbum. 

Guiné 61/74 - P24620: Memórias de Gabú (José Saúde) (99): Recordando o saudoso enfermeiro Dinis (José Saúde)



Enfermeio Dinis, militar e amigo



O Alfredo Dinis, já falecido




Fotos (e legendas): © José Saúde (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem rebuscada nas suas memórias.



As minhas memórias de Gabu:
Recordando o saudoso enfermeiro Dinis

Camaradas,

Contemplando alguns dos momentos em que a “pica” da guerrilha guineense atormentava o mais paciente combatente, eis-nos perante uma manhã onde o calor imperava, o que aliás era normal, e um imprevisível estrépito som que impôs momentos de autêntica aflição aos camaradas que, entretanto, descansavam ou que passavam algum do seu tempo disponível no quartel, este o quartel novo construído na orla de Nova Lamego, ou seja, rente à estrada que nos levava a Bafatá, sendo o outro aquartelamento no interior da urbe.

O som, deveras enorme e que tudo fez tremer, foi, tão-só, o rebentamento de uma panela na messe de sargentos que, entretanto, já cozinhava o almoço para a rapaziada. É óbvio que alguns dos nossos camaradas cozinheiros foram apanhados de surpresa, sendo o mais fustigado o Filipe, com queimaduras no corpo.

Na verdade, o conflito armado que nos fora comum, trouxe, também, inevitáveis “chagas” em corpos de jovens que num qualquer instante se viam confrontados com alterações do seu próprio físico.

Era, no fundo, o agitar de uma guerrilha que se expandia por todo o território de uma Guiné que a todos incomodou, não obstante o lugar para qual tivéssemos sido arremessados.

Dinis na sua missão como enfermeiro a tratar das mazelas que ficaram bem patentes no corpo do camarada Filipe

De estatura física a atirar para o baixo, arrisco um metro e sessenta ou um pouco mais, franzino, mas sempre ágil na sua entrega à vida, o enfermeiro Dinis, camarada da minha companhia, era um rapaz cuja dedicação à causa que a tropa lhe concedera muito o terá notabilizado.

Lembro-me, perfeitamente, dele passar defronte às minhas instalações ao lado de um outro camarada, creio que de transmissões, e que muitas vezes apelidei como a sorte grande e a terminação.

A razão deste meu pequeno devaneio prendia-se com o facto do Dinis, pequeno em altura, mas com um coração enorme, ombrear lado a lado com um camarada alto e esguio que se mandava para mais de um metro e oitenta.

Curioso é que o Dinis, um militar simpático e afável, nunca impunha restrições para uma espontânea cavaqueira na missão que escrupulosamente cumpriu como antigo combatente na Guiné. De um outro modo, recordo as minhas idas à enfermaria e ser atendido, com pompa e circunstância, pelo meu amigo Alfredo Dinis que se predispunha a uma ajuda momentânea caso a necessidade assim o determinasse.

Por uma questão de ética olvidemos o Alfredo e falemos simplesmente do enfermeiro Dinis, como era hábito a malta tratá-lo no interior do aquartelamento. Na minha memória subsiste a imagem de um jovem, cara de menino, cuja pronuncia era tendencialmente marcada pela dicção de uma Invicta que todos conhecemos como a maravilhosa cidade do Porto.

Numa intromissão às temáticas de Gabu em memórias, revejo a irreverente ação militar do enfermeiro Dinis. Foram muitas as idas para o mato em que este nosso amigo acompanhava o grupo e vincava presunçosamente a sua próspera especialidade numa população onde o valor das carências impunha óbvias restrições humanitárias.

Recordo, por exemplo, as visitas às tabancas de Gabu em que o Dinis, munido com sua mochila entolhada em mesinhos, distribuía remédios santos para gentes nativas que viam nele um deus caído do céu. A patologia constatada implicava uma receita urgente. E o Dinis já conhecia os males e as suas curas. Tanto mais que naqueles lugares ermos nem o sol quase penetrava pela orla do denso mato que rodeava a tabanca e as queixas eram as rotineiras.

As minhas recordações guardam, igualmente, outras circunstâncias em que afabilidade do Dinis denotava uma mensurável devoção à causa que mui dignamente serviu.

Lembro, uma ocasião em que um gerador, adstrito à messe de sargentos, rebentou. O estrondo no quartel foi enorme e a manhã foi de autêntico sobressalto para toda a rapaziada. Uns ainda dormiam e outros matavam o tempo com premeditados afazeres. Uma carta para a namorada escrita sob um cenário de guerra, ou uma missiva, quiçá faustosa, para uns pais sempre carentes de notícias da peleja de além-mar e sobretudo do estado físico do seu querido descendente.

Estava eu sentado num confortável cadeirão, feito à maneira de um homem grande, situado à frente dos aquartelamentos dos sargentos, ao lado da messe, meditando num horizonte onde a guerra não perspetiva melhorias e eis-me a ouvir o tamanho estrondo.

Confesso que o estampido me pareceu que vinha das traseiras da messe de sargentos. Não hesitei e lá fui para saber o que acontecera. Viveram-se então momentos de pânico, sendo o infeliz contemplado da desgraça o camarada Filipe, um rapaz que trabalhava na copa da nossa messe.

O corpo do militar Filipe registava fartas queimaduras e a dor sentida pelo camarada era grande. Havia partes do seu corpo em que a pele queimada dera lugar a uma mancha vermelha que deixava antever preocupação. O rosto e os braços, em particular, indiciavam dor.

Perante o sucedido o Filipe ficou entregue aos cuidados do pessoal de enfermagem da nossa companhia. O furriel enfermeiro Navas e o Dinis prestaram-lhe os primeiros socorros, seguindo-se os cuidados diários do nosso saudoso homem do Norte. Sei que o enfermeiro Dinis foi incansável nos seus préstimos, sei também que este meu velho camarada portuense já partiu para a tal famigerada viagem sem regresso, que descanse em paz, restando, porém, alvíssaras ao nosso amigo Filipe que nunca mais soube da sua presença territorial.

Um abraço, camaradas
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série de 24 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 – P24585: Memórias de Gabú (José Saúde) (98): Histórias e explanações sobre a existência de Gabu (José Saúde)