Amigo Vinhal, um grande abraço.
Continuando na “Viagem à volta das minhas memórias”, Adeus Binar… até sempre fecha mais uma etapa da minha passagem pela Guiné e vai abrir uma nova, de certo modo diferente, noutros contextos e noutras condições.
Um abraço para todos os que têm a pachorra de me irem lendo.
Luís Faria
Adeus Binar... até sempre!
As primeiras molhas começavam a desabar, de volta em vez verdadeiros dilúvios que davam para tomar banho ensaboado e desensaboar, como se estivéssemos num chuveiro de forte jacto de água da civilização!!
Os ponchos saíram dos sacos e viram a luz do dia. O ribombar dos trovões a par com os riscos aleatórios dos relampejos, traduzia-se num espectáculo quase único e de rara beleza, especialmente na noite, criando a par um outro, este mais fantasmagórico, o da dança do arvoredo como se de figuras de Dante se tratasse !
Estávamos em Maio de 1971 e as minhas primeiras férias na Metrópole já à vista.
Aí pelos vintes, a “FORÇA” a dois GCOMB (1.º e 2.º), começa a arrumar as trouxas e a despedir-se das instalações do antigo sanatório da Doença do Sono - onde ficou aquartelada cerca de dois meses - e daquela boa gente de Binar que connosco foi convivendo sem quaisquer problemas, durante esse tempo.
Para trás iam ficar os jogos futebolísticos, os reordenamentos e seus (do 1.º GCOMB) engulhos, os jogos da treta improvisados, as tardes de sorna, o primata equilibrista, os belos manjares na Tabanca, o bordel ao ar livre, o tenor canino, os voluntários da noite e as jogatinas de Póker… enfim !!
Vão ficar para trás os dias de relativa calma operacional não interventiva que a 1.ª REP do CTIG nos tinham ofertado, talvez como paga das muitas Operações desenvolvidas pela Companhia - creio terem sido dezanove no curto espaço de tempo – que originaram mais de uma dúzia de confrontos directos com as forças inimigas, - alguns dos quais por mim já referenciados em “Viagem à volta das minhas memórias” – que por sua vez nos causaram nas matas um morto e vários feridos, infelizmente.
Éramos uma Companhia de Intervenção e como tal, ao que parecia íamos lá para Teixeira Pinto, fazer protecção aos trabalhos na estrada Teixeira Pinto – Cacheu, onde já se encontrava o nosso 4.º GCOMB desde Janeiro. O 3.º GCOMB continuaria em Bissum.
Se assim fosse, o que me custava a acreditar, tudo bem, não devia haver problemas ou perigos de maior, comparando com o que já tínhamos passado em Ponta Matar e Choquemone, onde pelo menos para já, não voltaríamos a meter as botas, felizmente.
Assim, na hora aprazada, a coluna arranca a 25 de Maio de 1971, pelo meio dos olhares e acenares de adeus e algazarra do Pessoal, entrando preparados e bem atentos na estrada/picada em direcção a Bula , não fosse as gentes amigas do Choquemone nos querer proporcionar uma festa surpresa de despedida menos simpática !?
A viagem continua em direcção ao novo destino
O início das minhas férias está a uma quinzena. A contagem é regressiva e imagens do futuro próximo no Puto pintalgam-me os pensamentos.
Para trás fica Bula e o desvio para João Landim e enquanto as viaturas aceleram pela estrada alcatroada em andamento normal e com distâncias, os olhos atentos a qualquer eventualidade, vão-se também passeando por paisagens que começam a ser desconhecidas.
Có, à nossa esquerda fica para trás, assim como umas bocas e nova algazarra ao avistamento de bajudas ou militarada. A viagem prossegue com boa disposição, e ao que julgo recordar, apesar de já estarmos na época das chuvas nem um pingo caiu sobre nós!
Chegada ao Pelundo, a coluna pára, não recordo porque e o pessoal desentorpece as pernas, talvez a mãos com umas bazucas e uns dedos de conversa com o Pessoal lá aquartelado, recomeçando pouco depois a viagem.
Na minha cabeça para além de pensar como seria Teixeira Pinto e o que nos esperava por lá, perfilavam-se dois pensamentos: as férias, daí a quinze dias e o Cap. Mamede a dar-me o patacão que me devia das jogatanas de Póker, e que me pagaria a passagem de avião… ida e volta !!!
Porreiro… a vida era bela!!?!!
Teixeira Pinto está à vista… porra esta merda parece uma cidade… tem avenida e tudo.!!!? Isto é o quartel…? Espectáculo… fo…!!
Luís Faria 1971
Entrados no novo quartel, o pessoal salta das viaturas.
Teixeira Pinto ia passar a ser parte do nosso futuro, não sabia por quanto tempo.
Luís Faria
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4844: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (19): Dias em Binar - 4