segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2340: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (5) - Parte IV: Pami e Malan são feitos prisioneiros (Mário Fitas)

Guiné > Região de Tombali > Catió > Álbum fotográfico de Benito Neves, bancário, reformado, residente em Abrantes, ex-Fur Mil da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67) > Foto 10 : "Lagoa entre Catió e Priame".


Guiné > Região de Tombali > Catió > Álbum fotográfico de Benito Neves, bancário, reformado, residente em Abrantes, ex-Fur Mil da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67) > Foto 28: "Cufar, 1966 - Artilharia no quartel de Cufar, Obus 8,8 cm".


Guiné > Região de Tombali > Catió > Álbum fotográfico de Benito Neves, bancário, reformado, residente em Abrantes, ex-Fur Mil da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67) > Foto 14: "Catió 1967- Material capturado em Cabolol no decurso da Operação Penetrante em 27 de Junho de 1967".


Guiné > Região de Tombali > Catió > Álbum fotográfico de Benito Neves, bancário, reformado, residente em Abrantes, ex-Fur Mil da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67) > Foto 25: "Cachil 1965– Ilha do Como – Interior do aquartelamento".


Guiné > Região de Tombali > Catió > Álbum fotográfico de Benito Neves, bancário, reformado, residente em Abrantes, ex-Fur Mil da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67) > Foto 6: "Catió 1967- Meninos e bajudas na estrada de Ganjola".

Fotos e legendas: © Benito Neves (2007). Direitos reservados (1):


PAMI NA DONDO, A GUERRILHEIRA (2)
por Mário Vicente
Prefácio: Carlos da Costa Campos, Cor
Capa: Filipa Barradas
Edição de autor
Impressão: Cercica, Estoril, 2005
Patrocínio da Junta de Freguesia do Estoril
Nº de páginas: 112
Edição no blogue, devidamente autorizada pelo autor, Mário Vicente Fitas Ralhete (ex Fur Mil Inf Op Esp, CCAÇ : Revisão do texto, resumo e subtítulos: Luís Graça.



Parte IV - Pami e Malan são feitos prisioneiros pelos Lassas (pp. 35-40)

© Mário Fitas / (2007). Direitos reservados.


Resumo do episósio anterior (2):

Na actual região de Tombali (Catió), no sul da Guiné, o PAIGC, logo no início da guerra, ganha terreno e populações (nomeadamente, de etnia balanat). A resposta das autoridades portuguesas não se fez esperar, com uma grande contra-ofensiva para reconquista a Ilha do Como (Op Tridente, Janeiro-Março de 1964). Entretanto, começam a chegar a Catió chegam reforços significativos. O Cantanhês, zona libertada, assusta o governo Português. Em contrapartida, no PAIGC, Nino, o mítico comandante da Região Sul, manda reforçar os acampamentos instalados nas matas de Cufar Nalu e Cabolol.

Em finais de 1964, Sanhá, a mãe de Pami, morre de doença na sua morança na tabanca de Cadique Iála. O guerrilheiro Pan Na Ufna, acompanhado da sua filha, faz o respectivo choro, de acordo com a tradição dos balantas.

Em Março de 1965, os homens da CCAÇ 763 - conhecidos pela guerrilha como os Lassas (abelhas) - reconquistam ao PAIGC a antiga fábrica de descasque de arroz, na Quinta de Cufar, e respectiva pista de aterragem em terra batida. Nino está preocupado com a actuação dos Lassas, agora instalados em Cufar, juntamente com o pelotão de milícias de João Bacar Jaló, antigo cipaio, agora alferes de 2ª linha.

Entretanto, Pami e Malan continuam a viver a sua bela estória de anor, em tempo de guerra, de sacrifício e de heroísmo. Ela, instalada em Flaque Injá, onde é professora. Ele, guerrilheiro, visita-a sempre que pode.

A 15 de Maio de 1965, os Lassas destroem o acampamento do PAIGC na mata de Cufar Nalu. A guerrilha sofre baixas mas, durante a noite, consegue escapar com o equipamento para Cabolol. Na semana seguinte, os militares de Cufar tentam romper a estrada para Cobumba. Embrenham-se na mata de Cabolol, destruem várias tabancas na zona.

Em princípios de Junho de 1965, os Lassas (abelhas) (3) vão mais longe, destruindo o acampamento de Cabolol. Em Cafal, o comando político-militar do PAIGC está cada vez mais preocupado. Em Julho, Pami chora de dor, raiva e revolta ao ver a sua escola destruída, em Flaque Injã. Grande quantidade de material desaparece ou fica queimado. As casas de Flaque Injã ficam reduzidas a cinzas.

Mas a luta continua... Psiquicamente recuperada, a população começa a reconstrução de Flaque Injã e Caboxanque. A guerrilha recebe mais reforços e armamento novo. Pami entra voluntariamente numa coluna de reabastecimento que a leva à República da Guiné. Segue o corredor de Guilege, e sobe de Mejo para Salancaur, daqui para o Xuguê [Chuguè, segundo a carta de Bedanda,] terra de seus avós paternos. Desce até Cansalá, onde se encontra com seu marido. Não encontra seu pai, pois este fora transferido para o Cafal, e ali integrado numa companhia do Exército Popular.

Em meados de Agosto de 1965, Pami Na Dondo desce com Malan Cassamá até Cobumba. Malan e o seu grupo levam a cabo várias acções contra a tropa e o quartel de Bedanda. O grupo regressa a Cansalá. Uma delegação da OUA visita as zonas libertadas, a convite do PAIGC.



(i) Pami e Malan são feitos prisioneiros

Madrugada de 24 de Agosto de 1965. Pami dorme paulatinamente nos braços de seu marido, depois de uma noite de amor. Ao romper da aurora, uma leve neblina cobre a bolanha entre Cobumba e o rio Cumbijã. Os cães da Tabanca começam a latir e ouvem-se barulhos esquisitos que, aos poucos, se transformam em gritaria. Cobumba está cercada por tropas do exército Português. Há algumas fugas, e ouvem-se algumas rajadas de espingardas G3. Malan, desprevenido, apenas tem tempo de esconder a sua Kalashnikov num depósito de arroz. Os soldados portugueses fazem a busca, de casa em casa. O pessoal capturado é reunido numa clareira. Disfarçadamente, Pami afasta-se de Malan, por ordem deste, para que não haja mais confusão, e para tentar não comprometer sua mulher. Ele está perdido! Vai ser facilmente identificado como guerrilheiro, pois sabe que existe mandato de captura contra ele.

Pami pensa como poderia tudo isto acontecer? E repentinamente apercebe-se.Os Lassas! Verdade, ali estavam eles! Mas como? Não se ouvira nada! O roncar das lanchas de desembarque!? Terão vindo pela estrada! De certeza! São mesmo perigosos. É necessário muito sangue frio e inteligência para tratar com esta gente. Estamos no fundo, pensa Pami, enquanto, atentamente, observa a movimentação das tropas portuguesas, identificando quem manda quem, e o cumprimento irrepreensível desta máquina de guerra. Raro é o soldado que não tem barba crescida, o que lhe dá uma certa camuflagem. Agora vê nitidamente quem comanda tudo. Precisamente! É aquele indivíduo alto, magro, barba curta e óculos escuros, que apenas usa pistola. Tudo passa por ele, que recebe e dá informações através do elemento que transporta um enorme rádio às costas, e que responde pelo nome de Garcia. Não há confusão! Os homens movimentam-se, como que vivessem em Cobumba há longos anos.


(ii) O leão de Cufar

A população que não conseguira fugir ao golpe de mão, contínua toda reunida. E à ordem do homem dos óculos, um negro, magro e pequeno, começa a transmitir em balantaum discurso contra os malefícios da guerrilha, e a necessidade de entendimento com as autoridades legais. Dado não se encontrar o chefe da Povoação, terá de levar algumas pessoas, homens e mulheres, para conversar melhor sobre todos estes problemas, e sobre os guerrilheiros que se movimentam com muita facilidade em Cobumba e, também, para receber explicações pela inexistência de jovens. Pede aos que ficam para transmitirem ao chefe de Tabanca estas palavras, e que seria bom que o mais breve possível ele se apresentasse em Bedanda, ou de preferência em Cufar, no que teria imenso gosto. Seguidamente, iria ser escolhido o pessoal que acompanharia os militares. Falou baixinho com um elemento que Pami reconhece ser um residente da Tabanca de Priame, em Catió. Concerteza seria o chefe da milícia. E são os homens e mulheres escolhidos. No grupo estão incluídos Malan Cassamá e, inexplicavelmente, Pami na Dondo.

Porquê? Não veriam os militares a sua frágil constituição e a inexistência da sua mão esquerda? Ou seria por isso mesmo!?... Não é uma tropa qualquer, há algo de especial nestes indivíduos, adivinham as coisas. Os soldados que rodeiam os homens que os acompanharão, começam a movimentar-se, obrigando-os a segui-los. Como uma cobra a deslizar por entre o capim e em fila, Pami observa os Lassas a saírem das suas posições e a movimentarem-se na direcção do cais. As mulheres são agora mandadas caminhar entre um grupo, que se terá mantido invisível do lado Norte no sentido de Cansalá. Ao entrarem na picada que atravessa a bolanha, para acesso ao cais, em terreno descoberto os militares deslocam-se afastados uns dos outros, aproximadamente quatro a cinco metros, em andamento rápido, e verifica-se que têm a preocupação de colocarem os pés no mesmo local do companheiro da frente. Pelo alongamento, devem ser próximo de cem homens.

Pami compreende agora toda a manobra. Fizeram roncar as lanchas de desembarque no rio junto a Cadique, para as tropas se movimentarem mais facilmente pelo interior, e não serem detectadas.

(iii) O embarque dos prisioneiros em lanchas da Marinha

Chegada ao cais, embarque rápido. A primeira lancha enche rapidamente, e recua para meio do rio, para segurança. A segunda também é rápida na movimentação. O pessoal prisioneiro continua separado. Na primeira lancha, os homens, onde segue também o homem dos óculos sempre com o do rádio atrás. As mulheres, na segunda, com o grupo que se mantivera invisível a Norte da povoação, e começa a descida do rio.

Pami Na Dondo - incógnita sabedora da língua portuguesa -, vai observando e registando as conversas dos militares, ignorantes ainda sobre quem são as suas prisioneiras. Julgando-as apenas entenderem o dialecto Balanta, ou um pouco de Crioulo.

Quatro militares estão muito próximo de Pami e esta pode seguir perfeitamente o seu diálogo. Apercebe-se rapidamente que são os chefes deste grupo de homens. Fica um pouco incomodada com o olhar persistente de um deles. Boina preta na cabeça, lenço da mesma cor ao pescoço. Não pára de olhar o coto da sua mão, procurando depois os seus olhos, com uma intensidade profunda. Passados uns momentos, fala para o que estava a seu lado:
- Telmo! Temos de soltar a língua àquela gaja sem mão! Tem cara de inocente, mas é capaz de saber muito!
- Acredito! É bem possível! - retorquiu o outro.

Mas um terceiro, pequenino e magro, muda a conversa.
- É pá e as sacanas das formigas! Foda-se, fiquei todo picado. Vocês viram como os cabrões têm a estrada toda cortada e cheia de abatises!?

O que dá por nome de Telmo riposta:
- Qualquer dia vamos limpar aquela merda toda! Tambinha, o que é que dizes?
- O caralho! Vai tu!

O da boina preta olha para o Tambinha - diminutivo de nome balanta, apercebe-se Pami - e com escárnio diz:
- É melhor ires marcando as férias se não quiseres embarcar nessa! E tu, Taveira, não estás cá!? Ou estás a masturbar-te em pensamento!? Não dizes nada?

Entretanto, um soldado com aspecto boçal e de barba ruiva bastante crescida, chega-se mais a uma bajuda, que fazia parte das cinco prisioneiras, e por entre o pano com que esta cobria o corpo, mete-lhe a mão nos seios e sai-lhe:
- Rica chicha! Isto para o almoço era até esfolar a gaita!

Os militares riem, mas o de nome Telmo, autoritário e vendo a cena, repreende o soldado:
- Se lhe tocas mais uma vez, levas com a G3 no focinho! Seu porco! Assim é que queres fazer psico? É? Toma juizinho. Ninguém toca nas mulheres!

Faz-se silêncio por uns tempos, perturbado apenas pelo roncar do motor da lancha. Alguns militares começam a tirar cigarros dos bolsos e, fumando, vão mirando as prisioneiras com olhar muito distante.

Passado algum tempo de viagem, um militar de calção e camisa azuis - que deveria pertencer à guarnição da lancha -, informa o de nome Telmo:
- Estamos a chegar! É melhor mandar a malta desviar, para a prancha descer e acostar melhor!
- O.K.! Malta, vamos chegar mais para trás!

E, virando-se para os outros três companheiros, dá as seguintes ordens:
- Taveira, sai primeiro com os teus homens!

Depois, virando-se para o da boina atalha:
- Mamadu, com os teus leva as mulheres! Cuidado ao subir para as viaturas! Tambinha, vais no último Unimog!

(iv) A chegada a Cufar

E começam as despedidas do pessoal da lancha, enquanto a porta da frente da mesma desce e embate em terra, pelo que fica pronta para o desembarque. Os soldados começam a sair, agora com outro à vontade, e muita fala. Não sabendo onde se encontrava, Pami apercebe-se de que o terreno é já muito conhecido dos militares.

Apesar dos avisos recebidos, as mulheres são auxiliadas a subir para as viaturas, pelos soldados que aproveitam para as apalpar e passar as mãos pelas partes baixas das mesmas, satisfazendo assim o instinto animalesco, resultante de longa privação de sexo. Só quando as viaturas se põem em andamento, e atravessam a tabanca de Impungueda, Pami reconhece o local. Sim, é de certeza, passara por ali antes da ocupação de Cufar pelos militares. Atravessam Iusse, contornam a lagoa e entram ao fundo da pista de aviação, em direcção à antiga Quinta.

Ao chegarem ao portão da Quinta, Pami não reconhece nada. Está tudo modificado, só quando param em frente da moradia principal, identifica a antiga casa. Desce toda a gente, e alguns soldados curiosos aproximam-se dos prisioneiros que continuam separados. O militar dos óculos que, mais tarde Pami vem a saber tratar-se de Carlos, O Leão de Cufar, comandante do aquartelamento, reúne com os chefes dos grupos, e é dado destino aos prisioneiros. Na separação ainda há um olhar entre Pami e Malan, transmitindo em pensamento a mensagem secreta, de que a sorte os acompanhe. Não será assim! Pami e Malan fazem naquele breve, mas profundo olhar, o adeus para sempre. Ali terminará uma vontade, um querer, uma coisa diferente, aquele amor sofrido e vivido até à exaustão. É o fim de certeza! No seu interior eles sentem-no! Sentem vontade de correr um para o outro e morrer naquele momento. Mas já é tarde, lágrimas nos olhos, Pami sente a dor da separação para sempre. A solidão toma conta do seu pensamento e coração .

(v) Pami e as prisioneiros ficam à guarda da milícia de João Bacar Jaló

As mulheres prisioneiras ficam à guarda dos milícias do ex-cipaio. Os homens ficam sob a custódia dos soldados brancos. Nenhum prisioneiro conhece o seu destino. À noite é distribuída uma refeição de arroz com carne de vaca, cozinhada pelos soldados Lassas. Pami rejeita, não tem apetite, apenas bebe um pouco de água. Com as suas companheiras, são metidas numa palhota junto às moranças dos milícias. É-lhe solicitado silêncio, e o medo não deixa que haja qualquer comunicação entre as mulheres. Pami não consegue dormir um minuto, pelo que se apercebe dos movimentos nocturnos próximos da palhota. De quando em vez ouvem-se passos. Deverá ser o render das sentinelas.

No dia seguinte, ao romper da madrugada, começam a ouvir-se os bombalôs, tambores, no seu frenético tan-tan, para os lados das tabancas a sul, anunciando o Choro pela morte de alguém. Pami sentada no chão de capim - pensamento enevoado -, não sente os panos enrolados ao corpo, todos ensanguentados. A situação nem lhe dá a física percepção, de que lhe terá aparecido a menstruação.

Conforme o sol se vai erguendo por sobre o tarrafe da confluência dos rios Manterunga e Cumbijã, a vida no aquartelamento, vai tomando movimento. Pami pode agora ouvir e até ver perfeitamente, por entre as frestas das paredes de capim ao alto entrançado com lianas, tudo o que acontece por fora da palhota onde tinha passado a noite.

(Continua)
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Notas de L.G.:

(1) Um especial agradecimento é devido ao nosso camarada Benito Neves que pôs à disposição do Mário Fitas e da nossa Tabanca o seu álbum fotográfico. Sobre o Benito, vd. os seguintes posts:

Vd. posts de:

15 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2268: A falsificação da história da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67)(Benito Neves)

18 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1673: O blogue do nosso contentamento (Benito Neves, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)

2 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1559: Ex-Alf Mil Avilez, da CCAV 1484, hoje professor de arte, foi o autor do mural de Catió (Benito Neves)


(2) Vd. episódios anteriores:

Guiné 63/74 - P2298: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (2) - Parte I: O balanta Pan Na Ufna e a sua filha (Mário Fitas)


(...) A acção decorrer no sul da Guiné, entre os anos de 1963 e 1966, coincidindo em grande parte com a colocação da CCAÇ 763, como unidade de quadrícula, em Cufar (Março de 1965/Novembro de 1966)…

No início da guerra, em 1963 Pan Na Ufna, de etnia, balanta, trabalha na Casa Brandoa, que pertence à empresa União Fabricante [leia-se: Casa Gouveia, pertencente à CUF]. A produção de arroz, na região de Tombali, é comprada pela Casa Brandoa. Luís Ramos, caboverdiano, é o encarregado. Paga melhor do que a concorrência. Vamos ficar a saber que é um militante do PAIGC e que é através da sua influência que Pan Na Ufna saiu de Catió para se juntar à guerrilha, levando com ele a sua filha Pami Na Dono, uma jovem de 14 anos, educada das missão católica do Padre Francelino, italiano.

O missionário quer mandar Pami para um colégio de freiras em Itália mas, entretanto, é expulso pelas autoridades portugueses, por suspeita de ligações ao PAIGC (deduz-se do contexto). Luís Ramos, por sua vez, regressa a Bissau, perturbado com a notícia de que seu filho, a estudar em Lisboa, fora chamado para fazer a tropa.

É neste contexto que Pan Na Una decide passar à clandestinidade, refugiando-se no Cantanhês, região considerada já então libertada.(...)




28 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2307: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (3) - Parte II: A formação político-militar (Mário Fitas)23 de Novembro de 2007 >




(...) De etnia balanta, educada na missão católica, Pami Na Dondo, aos catorze anos, torna-se guerrilheira do PAIGC. Fugiu de Catió, com a família, que se instala no Cantanhês, em Cafal Balanta. O pai, Pan Na Ufna entra na instrução da Milícia Popular. Pami parte, com um grupo de jovens, para a vizinha República da Guiné-Conacri para receber formação político-militar, na base de Sambise. O pai, agora guerrilheiro, na região sul (que é comandada por João Bernardo Vieira 'Nino') , encontra-se muito esporadicamente com a filha. Num desses encontros, o pai informa a filha de que a mãe está gravemente doente. Pami fica muito preocupada e quer levá-la clandestinamente a Catió, enquanto sonha com o dia em que se tornará companheira do pai na Guerrilha Popular.

Entretanto, o destino prega-lhe uma partida cruel: na instrução, na carreira de tiro, tem um grave acidente, a sua mão esquerda fica decepada. No hospital, conhece Malan Cassamá, companheiro de guerrilha de seu pai, que recupera de um estilhaço de morteiro, que o atingiu na perna, no decurso da Batalha do Como, em Janeiro de 1964 (Op Tridente, Janeiro-Março de 1964, levada a cabo pelas NT) . Malan fala a Pami da coragem e bravura com quem seu pai se bateu contra os tugas.

Pami é destacada para dar aulas ao pessoal do Exército Popular e da Milícia Popular, em Flaque Injã, Cantanhês. No dia da despedida, canta, emocionada, o hino do Partido, 'Esta é a Nossa Pátria Amada', escrito e composto por Amílcar Cabral. Segue para Flaque Injã, com o coração em alvoroço, apaixonda por Malan Cassamá. De regresso à guerrilha, a Cansalá, Malan fala com o pai da jovem, e de acordo com os costumes gentílicos, Pami torna-se sua mulher. (...).



5 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2328: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (4) - Parte III: O amor em tempo de guerrilha (Mário Fitas)

(3) Lassas era a alcunha por que eram conhecidos os militares da CCAÇ 763, de que fazia parte o Mário Vicente, Fur Mil Fitas . No seu primeiro livro (Putos, Gandulos e Guerra, edição de autor, Cucujães, 2000, p. 75), pode ler-se:

"Por informações recebidas, a [CCAÇ 763] será conhecida no PAIGC com a alcunha de Lassas. Pelo que se veio a saber, lassa era "uma espécie de abelha existente na Guiné que, não sendo molestada, não tem problemas, mas se for atacada é terrivelmente perigosa quando enraivecida. Esta alcunha resultaria, portanto, da actuação da [Companhia] pois, quando chegava a uma povoação em que a população estivesse e não fugisse, não haveria problemas, pois falava-se com essa população e tentava-se resolver os problemas que houvesse. Se, caso contrário, a população fugisse e abandonasse as suas moranças, as mesmas eram literalmente destruídas" (...) .

O termo crioulo que eu ouvi, muitas vezes, aos meus soldados fulas, quando fugíamos das terríveis abelhas africanas era Bagera, bagera!!! (LG)

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