Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Algures na parada de Bambadinca, em cima de um Unimog 411, dois bons amigos e camaradas da CCAÇ 12, em vésperas de mais uma operação ou saída para o mato: os Fur Mil Henriques e Levezinho... A foto foi tirada na época das chuvas, em 1969 ou 1970. (LG)
O António Eugénio da Silva Levezinho - Tony para os seus muitos amigos - nasceu e cresceu na Amadora, quando a Amadora era uma terra, rural, nascida ao longo do caminho de ferro, com escasssos três a quatro mil habitantes, e aonde os lisboetas iam caçar ou fazer piqueniques aos domingos... Estamos a falar dos anos 40... Com os seus dois filhos criados, e já avô, o Tony vive hoje no seu retiro algarvio, Martinhal, Sagres, Vila do Bispo ... onde ao lado da sua querida Isabel continua, sempre de porta aberta, afável e disponível para os amigos. Já desistiu de insistir connosco para ir visitá-lo...E nós (eu, o Humberto Reis e outros) também já desistimos de o ameaçar com a fantasmagórica chegada, à sua porta, de uma camioneta, cheia de amigos e camaradas da Guiné... Um belo dia destes, lá terás, Tony, de nos dar guarida, até por que vives num lugar mágico, perto da ponta de Sagres, cuja simples invocação mexe com o nosso imaginário de portugas... (LG)
Fotos: © António Levezinho (2006). Direitos reservados
1. Mensagem de L.G. para o António José Pereira da Costa (1), com data de 1 de Dezembro:
Esqueci-me de referir que o Tony faz anos a 24 de Novembro... Essa data é-nos inesquecível, por várias razões, para além das de amizade: a 22 de Novembro de 1970, invadimos Conacri (nós, os nossos vizinhos de Fá, os comandos africanos e outros, em nosso nome) e a 26 sofremos seis mortos e uma porrrada de feridos na Ponta do Inglês, no Xime (2)...
Tony: Aquele velho abraço!... Saúdo à tua longevidade e à nossa amizade (3). E faz questão de lembrar à tua/nossa querida Isabel, que nessa altura teria 17/18 aninhos, que nós nunca a deixámos ficar viúva, tomando sempre bem conta de ti... Fizemo por ti e por ela...
Espero, entretanto, que já tenhas lido, no blogue, a carta que, há trinta e sete anos, te escrevi de Bissau para o Vietname, mas que nunca cheguei a pôr na caixa do correio (4)... Já agora vê também a foto que publicámos a 11 de Setembro de 2007, em que apareces tu numa renhida disputa de bola, com o Tigre de Missirá, no famoso campo de futebol de Bambadinca (5).
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Natal de 1969 > Cena de uma renhida disputa de bola protagonizada pelo Tony Levezinho, da equipa da CCAÇ 12, e pelo Beja Santos (da equipa dos velhinhos da CCS / BCAÇ 2852 mais unidades adidas, o que incluía o Pel Caç Nat 52, recentemente tarnsferido de Missirá para Bambadinca )... A CCAÇ 12 estava em Bambadinca desde finais de Julho de 1969... (LG).
Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.
2. Mensagem do António (Tony) Levezinho:
MEU MUITO BOM AMIGO
Começo por agradecer os teus votos, sempre em tempo, pelo 24 de Novembro.
Desta vez calhou-me o feito de entrar na casa dos sessenta, o que, confesso, era ideia que não me animava muito. Contudo, estes já cá cantam e, em boa verdade, “so far so good”.
É para mim grande motivo de orgulho perceber, cada vez com mais clareza, o quanto posso (e devo) sentir-me um privilegiado pelo facto do destino nos ter cruzado em determinada altura, aliás, muito particular, das nossas vidas, as quais, embora sem que então nos apercebêssemos, transbordavam ainda de uma genuína autenticidade, sem a qual nunca nos seria possível enfrentar e, mesmo, superar determinados momentos que partilhamos na terra do nosso desenraizamento.
Apesar de não ter uma participação activa, no seio da "nossa caserna" não deixo, no entanto, de me manter atento ao que nela se vai passando, registando com muita satisfação a sua evolução muito positiva, quer pela dimensão que já atingiu, quer pela qualidade que aqueles que nela habitam lhe vão emprestando, em cada momento.
Aos camaradas que só agora contigo começaram a co-habitar, faço questão em transmitir-lhes, com total conhecimento de causa, que só um homem com a tua generosidade teria a disponibilidade e o talento para arquitectar e lançar a primeira pedra (…e as outras que se seguiram) da dita "nossa caserna".
Assim, SAÚDO-TE FRATERNALMENTE com a certeza de que o abraço que aqui te deixo se multiplica por tantos quantos os que integram este nosso espaço.
Por curiosidade, andava já há uns tempos para te dar a conhecer o facto de, graças ao nosso espaço virtual, ter sido contactado, a partir da Holanda, por uma prima minha que já não vejo há décadas e que ela, por ser mais nova, nem tinha sequer a certeza se o Levezinho que via reportado no blogue tinha algo a ver com ela. Daí me ter aproximado, via email, de forma bastante tímida, de início, como se compreende. Hoje comunicamos com alguma regularidade.
E mais uma vez, graças ao nosso espaço de partilha fui surpreendido com o aparecimento de alguém de quem também já não tinha notícias há longos anos. Refiro-me ao António José Pereira da Costa, acabado de chegar ao nosso convívio (1).
Há mais de meio século atrás, separados pela distância entre o r/c onde eu morava (a casa do meu pai onde tu chegaste a estar, algumas décadas depois) e o 3º onde ele vivia, brincamos juntos durante os anos da nossa infância e até que abandonamos os calções, a bola de futebol, os índios, os cowboys e os soldadinhos de chumbo, estes como que a profetizarem o que o futuro ao Tó Zé (de António José só a mãe assim o chamava, do alto do terceiro andar) reservaria logo que terminasse o liceu.
Recordo vagamente o dia em que "tomou posse" do enxoval que o seu ingresso na Academia Militar, na altura, impunha.
Inevitavelmente, à medida que os anos foram passando os nossos destinos determinaram rumos diferentes às nossas vidas e hoje nem sequer sei por que paragens e em que contexto o Tó Zé gere o seu dia a dia, eventualmente, já fora da vida militar.
E já agora, porque também lhe vou fazer chegar este texto, aproveito para lhe enviar um GRANDE ABRAÇO e fazer votos para que este seja o ponto de partida para uma reaproximação das nossas vidas, embora a distância física a que nos encontramos não seja, agora, propriamente aquela que separa o rés de chão do 3º andar, do número 63, da Av. Gago Coutinho, na Amadora.
Um caloroso abraço para a nossa tertúlia a partir aqui de Sagres……e já agora que "SIGA A MARINHA"!!!
Tony Levezinho
3. Comentário de L.G.:
Tony: O que escreves é sincero, além de muito bonito. Desculpa-me se for abuso publicitar a tua mensagem (privada) mas eu tenho também o dever e a obrigação de levá-la ao conhecimento da nossa Tabanca Grande: não sendo tu um habitué destas blogarias, os nossos amigos e camaradas da Guiné - tirando os que estiveram connosco em Bambadinca, entre 1969 e 1971 - não te conhecem, nem sabem quão amigo e camarada, além de uma pessoa excepcional, tu és, tu foste (e continuarás felizmente a ser)... Eu tinha que o dizer, aqui, em público, no palanque da nossa Tabanca Grande, usando o respectivo bombolom... Não tanto para contrabalançar o teu sentimento pontualmente negativo ao ultrapassares o quilómetro sessenta (eu senti o mesmo!), mas sobretudo para te incentivar a continuares a tua bela caminhada pela vida fora...
Escusado será dizer quanto, para mim, é grande a honra, o prazer e o privilégio de te ter conhecido em Santa Margarida e de ter convivido contigo na Guiné. Apreciei a tua saudação fraternal, e retribuo-a. Parafraseando o belo poema de Caetano Veloso. Língua (... A língua é minha pátria / E eu não tenho pátria: tenho mátria / E quero frátria ... ), também nós poderíamos dizer que lá em baixo, no cú do mundo que nos coube em má sorte, todos eramos - uns mais, outros menos - órfãos de pai (pátria) e mãe (mátria), mas todos sentíamos a força de sermos irmãos (fátria)... Só numa situação-limite como é a guerra, alcançamos o significado da fátria, a última das tríades familiares... Por pudor, tratamo-nos apenas por camaradas... Tony, agora que não tens a obrigação de picar o ponto, aparece sempre que aparecer, por aqui, na nossa Tabanca Grande, agora enriquecida com o teu amigo e vizinho Tó Zé.
__________
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts de 11 de Dezembro de 2007 >Guiné 63/74 - P2341: Siga a Marinha que o Exército já lá está (Coronel Pereira da Costa)
(2) Vd. posts de:
25 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - VII: Memórias do inferno do Xime (Novembro de 1970) (Luís Graça)
26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1317: Xime: uma descida aos infernos (1): erros de comando pagam-se caros (Luís Graça)
26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1318: Xime: uma descida aos infernos (2): Op Abencerragem Candente (Luís Graça, CCAÇ 12)
(3) Vd. posts de:
20 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CXCVIII: Recordar é viver ou...a memória de elefante do Humberto Reis
9 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXV: Amigos para sempre (Tony Levezinho, CCAÇ 12)
(4) Vd- post de 14 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2264: Blogue-fora-nada: O melhor de... (3): Carta de Bissau, longe do Vietname: talvez apanhe o barco da Gouveia amanhã (Luís Graça)
(5) Vd. post de 11 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2094: Álbum das Glórias (25): O meu Natal de 1969, em Bambadinca (Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
Guiné 63/74 - P2342: Blogoterapia (37): Da Pátria pouco Mátria à Fátria lá no cu de Judas que nos coube em má sorte (Tony Levezinho / Luís Graça)
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