Vendo melhor a foto, parece-me improvável que tenha sido no decurso da Op Boga Destemida... Em primeiro palno, vê-se o 1º Cabo Valente, ferido por estilhaços de morteiro em Janeiro de 1970 (Op Borbeleta Destemida)...Depois estamos já na época seca... É possível que a foto (aliás, um diapositivo) tenha sido tirado ainda em 1969, no final da época das chuva, que também de intensa actividade operacional... Infelizmente não tenho as legendas das magníficas imagens que o Arlindo Roda teve a gentileza de me mandar, através do Benjamim Durães (CCS / BART 2917, 1970/72).
Ainda em 2º plano, vê-se o Fur Mil At Inf Roda, o Alf Mil Op Esp Francisco Moreia (comandante do 1º Gr Comb). Atrás deles, descortinam-se ainda as cabeças dos Fur Mil Humberto Reis e António Branquinho.
Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Direitos reservados
A história da CCAÇ 12 também tem uma história que merece ser contada:
(i) Escrita por mim, contou com a cumplicidade e a colaboração de vários camaradas, milicianos, incluindo um sargento do quadro: já não está no activo, vive em Évora, e faço questão de mencionar seu nome, o Sargento Piça, o Grande Piça, para os amigos!...
(ii) Oficialmente, o documento não tem (nem podia ter) autor, mas é unanimemente reconhecido que foi escrita por mim;
(iii) Mais, foi-me pedida expressamente pelo comandante da companhia, o afável Capitão Inf Carlos Brito (que hoje vive em Braga, e é coronel na reforma, devendo estar na casa dos 77/78 anos; não tem aparecido aos últimos encontros da companhia; não o vejo desde 1994, data do nosso 1º primeiro encontro, em Fão, Esposende;
(iv) O então Cap Brito (em vésperas de ser promovido a major, se não mesmo já major) não autorizou a sua divulgação, nem muito menos o comando do batalhão de quem estávamos hierarquicamente dependentes, o BART 2917, a partir de Junho de 1970 até Fevereiro de 1971); alegava ter informação "classificada" (o que era inteiramente verdade);
(v) Um versão, escrita e impressa à luz do dia, a stencil, na secretaria da companhia, foi discretamente distribuída aos alferes e furriéis milicianos (mesmo assim, não sei se a todos...), numa tiragem necessariamente reduzida, na véspera da partida; como era sabido, os quadros metropolitanos e os especialistas da CCAÇ 12, num total de 50, eram de rendição individual;
(v) Um versão, escrita e impressa à luz do dia, a stencil, na secretaria da companhia, foi discretamente distribuída aos alferes e furriéis milicianos (mesmo assim, não sei se a todos...), numa tiragem necessariamente reduzida, na véspera da partida; como era sabido, os quadros metropolitanos e os especialistas da CCAÇ 12, num total de 50, eram de rendição individual;
(vi) Em 1994, quando reencontrei o meu antigo Capitão, agora Cor Ref, dei-lhe conta desta deslealdade que cometi em Março de 1971 (julgo que foi a única, em relação a ele).
O único louvor que tive na tropa e onde se referência à elaboração da história da unidade... Foi coisa que nunca mostrei a ninguém. Pensando bem, deveria ter razões para sentir-me honrado pela distinção... Reprodução da página 12 da minha caderneta militar...
Foto: © Luis Graça (2010). Direitos reservados
Na I Série do nosso blogue, fiz questão de dizer que gostaria que aquele documento tivesse podido chegar às mãos de todos os meus camaradas, incluindo os nossos soldados e cabos metropolitanos. E até às mãos dos africanos, embora muito poucos (dois ou três) soubessem ler e escrever. Infelizmente, não chegou. Verifico agora que, no período de 1971/72, em que estiveram à frente da Comopanhia o Cap Inf Celestino Ferreira das Costa e depois o Cap QEO Humberto Bordalo Xavier já havia mais 1ºs cabos, para além do José Carlos Suleimane Baldé, a quem eu ajudei a fazer a 4ª classe, eu e outros camaradas como o Marques.
O único louvor que tive na tropa e onde se referência à elaboração da história da unidade... Foi coisa que nunca mostrei a ninguém. Pensando bem, deveria ter razões para sentir-me honrado pela distinção... Reprodução da página 12 da minha caderneta militar...
Foto: © Luis Graça (2010). Direitos reservados
Na I Série do nosso blogue, fiz questão de dizer que gostaria que aquele documento tivesse podido chegar às mãos de todos os meus camaradas, incluindo os nossos soldados e cabos metropolitanos. E até às mãos dos africanos, embora muito poucos (dois ou três) soubessem ler e escrever. Infelizmente, não chegou. Verifico agora que, no período de 1971/72, em que estiveram à frente da Comopanhia o Cap Inf Celestino Ferreira das Costa e depois o Cap QEO Humberto Bordalo Xavier já havia mais 1ºs cabos, para além do José Carlos Suleimane Baldé, a quem eu ajudei a fazer a 4ª classe, eu e outros camaradas como o Marques.
Sobre a divulgação, aqui, no nosso blogue, de partes desse documento, eu quero de novo declarar que a nossa actuação na Guiné não teve nada de heróico. Como muitas outras subunidades, cumprimos a nossa missão, pese embora o facto de eu julgar que fomos duramente explorados pelos batalhões que estiveram sediados em Bambadinca.
E a releitura da história da CCAÇ 12, sob o comando do Cap Inf Carlos Brito (foto à esquerda) vem confirmar, à distância de quase 40 anos, essa primeira impressão de quem, como eu, tendo sido actor, não pode ser advogado em causa própria. Procurei, mesmo assim, ser o mais possível objectivo, ou pelo menos factual, e distanciar-me dos acontecimentos que, muitos dos quais, eu próprio vivi como combatente sui generis (não levava granadas à cintura, andava com a G3 em posição de segurança...).
Cumprimos a nossa missão, com sangue, suor e lágrimas (um dos slogans preferidos dos nossos camaradas que faziam tatuagens no corpo). Recordo-me de algumas tatuagens: Guiné 69/71: Amor de mãe ou Guiné 69/71: Sangue, suor e lágrimas (Seria interessante estar esta forma de comunicação...).
Partimos tal como chegámos: discretamente. Na Guiné fomos amigos e solidários uns dos outros. Honrámos a Pátria, mesmo discordando (alguns, como eu) daquela guerra. Batemo-nos com dignidade e até coragem. Um terço dos operacionais foi ferido em combate. Fomos uma das primeiras unidades da nova força africana, criada por Spínola. Deixámos lá a nossa juventude...
Em contrapartida, nunca mais soube nada dos meus, dos nossos, soldados africanos. Soube há dias do José Carlos Suleimane Baldé. Soube há anos que o Umaru Baldé tinha morrido, em Portugal, de doença. (Era o puto da nossa Companhia, o nosso benjamim, não teria mais de 16 anos, quando nos foi entregue em Contuboel). Soube, com tristeza, que o Abibo Jau (entretanto tranferido para a CCAÇ 21, comandada pelo Cap Comando Graduado Jamanca e e onde terminou a sua carreira militar o Aferes Comando Graduado Amadu Djaló, membro da nossa Tabanca Grande) tinha sido fuzilado, com o Jamanca, em Madina Colhido... Portugal abandonou-os à sua sorte depois da nossa saída em Setembro/Outubro de 1974. Nós abandonámo-los à sua sorte. E isso dói-me, isso ainda nos dói...
A partir de 18 de Julho de 1969, finda a instrução de especialidade, a CCAÇ 12 foi dada como operacional, sendo colocada em Bambadinca (Sector L1), como subunidade de intervenção e reserva do CAOP2 (Bafatá), ficando pronta a actuar às ordens de qualquer um dos sectores da Zona Leste da Guiné (em especial dos Sectores L1, L3 e L5). Durante a sua primeira comissão (1969/71), actou sobretudo no Sector L1 (Bambadinca, correspondente ao triângulo Bambadinca-Xime-Xitole, mas incluindo também, a norte do Rio Geba, o regulado Cuor onde começava o famoso corredor do Morès...).
Em Março de 1973, rendeu a CART 3494 / BART 3873 (1972/74), passando a subunidade de quadrícula, aquartelada no Xime, e por lá terá ficado até ao fim da guerra (às ordens do BCAÇ 4616/73). Tal significou que os nossos soldados africanos, ou uma boa parte deles (exceptuando os mortos, os feridos graves, os inoperacionais...), fizeram três anos e nove meses como força de intervanção (andaram no mato com a canhota...) e mais um ano e tal, aquartelados no Xime (de Abnril de 1973 até à extinção, em Agosto de 1974). No mínimo, cinco anos de tropa, ao serviço dos tugas. A esse tempo deveria acrescentar-se os meses e os anos em que, muitos deles, foram milícias nas suas pobres tabancas dos regulados do Cossé, Xime, Badora e Corubal, organizadas em autodefesa...
Em Julho de 1969 (e até Junho de 1970), o dispositivo das NT no Sector L1 era o seguinte:
(i) Comando e Companhia de Comando e Serviços do BCAÇ 2852 (Bamdabinca, 1968/70);
(ii) Forças de intervenção (Bambadinca): CCAÇ 12 (1969/71); Pelotão de Caçadores Nativos 53;
(iii) Subunidades em quadrícula do BCAÇ 2852: CCAÇ 2520 (Xime), 2339 (Mansambo) e 2413 (Xitole)
Havia ainda a considerar o Pelotão de Cavalaria Daimler (Bambadinca), o Pel Caç Nat 52 (Missirá) e 63 (Fá Mandinga), além das forças militarizadas (pelotões de milícias aquarteladas em Taibatá, Dembataco e Finete).
Se excluirmos a população fula armada (nas tabancas em autodefesa), no Sector L1 (mais ou menos equivalente à Região do Xitole ou Sector2, para o PAIGC), as NT poderiam ser estimadas em cerca de 1250 homens, o que nos dava uma vantagem , em relação ao IN, de talvez cinco ou seis para um. De resto, estimava-se que, no final da guerra, o PAIGG em todas as frentes não tivesse mais do que 7 mil homens em armas, cinco vezes menos do que as NT. Em termos de populações controladas, teríamos cerca de 15 indivíduos no Sector L1, enquanto a população, balanta, beafada e mandinga, sob controlo do PAIGC, era estimada em 5 mil, concentrada sobretudo na margem direita do Rio Corubal e na região de Madina/Belel, a norte do Rio Geba.
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Notas de L.G.
(*) Vd. poste de 9 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXXVIII: Violenta emboscada em L (Op Boga Destemida, CCAÇ 12, CART 2520 e Pel Caç Nat 63, em Gundagué Beafada, Fevereiro de 1970) (Luís Graça)
Vd. também 13 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXIII: Op Borboleta Destemida: uma emboscada de meia-hora (Poindon/Ponta Varela, CCAÇ 12, Janeiro de 1970)
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