quinta-feira, 26 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10198: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (15): A morte de Cabá Santiago, desertor do PAIGC e aliado das NT, em Bissorã, em outubro de 1974 (Henrique Cerqueira / Carlos Fortunato)




Guiné > Região do Oio > Bissorã > 13 de junho 1974 > "Cabá Santiago, ao meio, à sua esquerda o comandante do PAIGC da zona de Maqué, Joaquim Tó, que veio até Bissorã com um grande grupo de guerrilheiros. Vai existir uma reconciliação pacifica, sem retaliações, é o que é proclamado". Foto de Manuel Machado, ex-alf mil da CCAÇ 13. Legenda de Carlos Fortunato... Esta foto ter-lhe-á sido fatal... (Reproduzida aqui com a devida vénia...). (LG)


1. Comentário de Henrique Cerqueira ao poste P10189 (*)


Camarada Luís Gonçalves Vaz:

Eu estive em Bissorã desde finais de Novembro de 1972 até inícios de julho de 1974 [, como furriel mil da 3ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72]. Em Bissorã estava na CCaç 13 e foi o meu grupo de combate que teve o primeiro contacto com o PAIGC nos inícios de Maio de 1974 no ponto de encontro entre Bissorã e Olossato,durante uma picagem de protecção a uma coluna de reabastecimento.

Logo nessa altura houve grande euforia entre as nossas tropas e o PAIGC e só posteriormente vieram ao nosso encontro na referida estrada uma "caturba" de civis (comerciantes) e traziam como companhia alguns dos altos comandantes do nosso batalhão.

Honestamente chegou a ser caricato o teor das conversas entre esses Comandos e os guerrilheiros (mas isso são contas de outro rosário).

Esta conversa toda que tenho aqui é para dizer que a partir desse dia os guerrilheiros do PAIGC. tanto em grupos como individualmente, passaram a entrar e sair completamente à vontade em Bissorã.

Ás vezes era caricato que os nossos grupos de combate continuassem a sair em patrulhamento e quase sempre nos encontrarmo-nos com guerrilheiros que iam visitar os seus familiares a Bissorã.

Bom. o que é certo é que em junho de 1974 não houve nenhuma invasão do PAIGC para capturarem o Cabá [Santiago] e se o fizeram teve de ser com auxílio dos nossos comandos e em segredo, caso contrário e pelo que ouvi mais tarde e já em Bissau vários desses "tropas" (ponho aspas porque o Cabá Santiago era totalmente autónomo e só saía em operações próprias e quase sempre na certeza de apanhar homens ou armamento,pois que ele, Cábá, era um antigo combatente do PAIGC e desertou para as nossas tropas,mas não obedecia a ninguém das tropas portuguesas).

Essa situação já era esperada pois que sempre que eramos atacados ficava sempre recados para o Cabá.

Nota: Os nossos soldados da CCAÇ 13 não foram maltratados e actualmente um dos meus antigos soldados, de nome Branquinho, até é chefe de tabanca, penso eu que em Inhamate. Por tudo isso acho estranho que seja verdade essa captura em Junho.

Desculpem lá este enorme texto mas o meu jeitinho para narrar é mesmo do piorzinho e daí esse texto enorme para expor pouca coisa.

Um grande abraço Henrique Cerqueira



2.  Comentário de L.G. e extratos de um texto de Carlos Fortunato:


Talvez o Carlos Fortunato, que foi fur mil da CCAÇ 13 (1969/71), meu contemporãneo (fomos no mesmo navio, o Niassa, a 24 de maio de 1974, eu pertencente à CCAÇ 2590 e ele à CCAÇ 2591) e que é hoje presidente da direção da ONGD Ajuda Amiga, mantendo frequentes e amistosos contactos com os seus antigos soldados e com as gentes de Bissorã (vai lá todos os anos...), talvez o Carlos Fortunato, dizia eu, nos possar dar mais pormenores sobre a morte do Cabá Santiago, que sabemos não ter sido em junho de 1974 (como sugere o Paulo Reis) mas sim outubro de 1974. O Carlos  não viveu esses trágicos acontecimentos, mas teve informação privilegiado sobre as represálias do PAIGC em Bissorã, em 1974 e anos seguintes, de que também foram vítimas alguns dos seus antigos camaradas da CCAÇ 13 (com quem continua a manter, ainda hoje, uma relação de amizade e de ajuda).

Aqui fica um excerto da sua página Guiné - História, em que "os massacres" (no plural) de Bissorã, baseando em testemunhos de antigos soldados seus (, constantes de 2 duas cartas, uma de 1982 e outra de 1988:

(...) Na primeira carta de 1982, é referido o nome de Cabá Santiago, conheci o Cabá Santiago, e posso contar um pouco da sua história, tendo por base aquilo que ele me contou, e o que eu conhecia a seu respeito.

Cabá Santiago era um individuo inteligente e com alguma cultura, tinha sido professor até aderir ao PAIGC, ai passou a ser professor e guerrilheiro, após muitos anos de luta, sem ver um fim à vista para esta, e percebendo que o PAIGC mentia nas suas mensagens de propaganda, acreditou que o melhor caminho a seguir era o apontado por Portugal, e aproveitou as campanhas de aliciação para os guerrilheiros abandonarem a luta, para se entregar.

Quando se entregou, Cabá Santiago passou a colaborar com as nossas tropas, integrando as milícias de Bissorã, como chefe de um grupo de milícias, e regressou à sua zona para combater o PAIGC.

Conhecendo alguns guerrilheiros, que viviam com a população, utilizava o seu estatuto de guerrilheiro, e mandava-os ir buscar as suas armas (cada um tinha escondido a sua no mato), e quando estes chegavam armados eliminava-os.

A guerrilha tinha o seu sistema de informação, nomeadamente através dos elementos da população de Bissorã, e Cabá arriscou muito naqueles dias, pois bastava ir a um local onde já se soubesse o que se passava, para ele ser um homem morto, e em breve a sua "cabeça ficou a prémio".

Cabá mesmo depois da sua "cabeça estar a prémio" pelo PAIGC, continuava a ser uma das armas mais destruidora existente em Bissorã, e não deixava de sair por vezes sozinho, e atacar os acampamentos inimigos, eliminando guerrilheiros, e capturando várias armas.

Escusado será dizer que para o PAIGC Cabá Santiago era um homem a abater a todo o custo, e por isso ele era sempre o último da coluna de milícias que comandava, pois tinha medo de ser morto pelas costas pelos seus próprios homens.

Pergunto aos leitores: o que acham que iria acontecer ao Cabá Santiago, quando fosse entregue o poder em Bissorã ao PAIGC, se mesmo durante o período de cessar fogo, o PAIGC continuavam a capturar soldados africanos, que nunca mais apareciam?

Cabá foi um dos que manifestou desconfiança, sobre o que iria acontecer.

Na verdade existia alguma desconfiança entre as forças africanas, e muitos aguardavam a decisão dos comandos africanos de entregarem as armas, para entregarem as suas, pois os comandos eram quem arriscava mais, dado o clima de animosidade que existia contra eles da parte do PAIGC.

O PAIGC também sentia desconfiança quanto ao rumo das negociações, e temia que o seu estatuto de estado independente, não fosse reconhecido por Portugal.

Aristites Pereira o secretário geral do PAIGC, refere no seu livro " Uma luta, um partido, 2 países", essa situação de desconfiança: "Na realidade, o PAIGC tinha razões de sobra para desconfiar das intenções do Governo português, na medida em que acrescia ao ambiente de suspeição reinante o facto de os comandos africanos se recusarem a desarmar-se, apresentando uma postura reivindicativa em relação ao Governo português pelos serviços prestados ao seu Exército e uma clara hostilidade em relação ao PAIGC. Em abono da verdade, o PAIGC chegou a estar preocupado com a situação, razão pela qual teve iniciativas unilaterais, que resultaram em contactos com os comandos africanos, chegando esse contacto a efectuar-se a 22 de Julho de 1974, em Cacine, com a presença dos capitães Saiegh e Sisseco, o alferes Barri e um sargento."

Como era previsível, Cabá Santiago foi o primeiro a ser morto. De acordo com o que me foi relatado por vários familiares de Cabá Santiago, a sua morte ocorreu em Outubro de 1974 a mando do comandante militar do PAIGC da zona. (...)

Cabá foi levado para o mato e morto juntamente com mais duas pessoas, passado algum tempo levaram e mataram mais dois chefes da milícia, Quebá Camará e Sitafá Camará, mais outra pessoa, depois foi um grupo de 25 pessoas que levaram e mataram.

Os africanos, graduados pelo exército português,  foram um dos principais alvos a abater, não sei se algum comandante da milícia conseguiu escapar com vida.

Os ex-comandos africanos do exército português eram outro dos alvos a abater, e muitos foram fuzilados pelo PAIGC.

As companhias de comandos africanos,  desde a sua criação em 1970, tornaram-se uma das forças de intervenção mais importantes, mas o seu número de baixas era elevado, recorrendo o exército às companhias de soldados africanos, para repor rapidamente a sua capacidade operacional.

Tenha Taca e Intonga Tchudá foram dois dos soldados da CCaç 13 que ingressaram nos comandos, mas muitos outros soldados da CCaç 13 seguiram esse caminho, e como é sabido o destino de muitos deles foi a morte após a independência, Tenha Taca e Intonga Tchudá foram dois dos que morreram. (...).









Em poste de 25 de maio de 2006, já tínhamos abordado, na I Série do nosso blogue, o caso do Cabá Santiago, bem como de militares da CCAÇ 13 que foram mortos pelas autoridades da Guiné-Bissau, a seguir à independência... A fonte era a mesma: Leões Negros (Página pessoal do Carlos Fortunato, CCAÇ 13, 1969/71). Tudo indica que o Paulo Reis tenha ido beber à mesma fonte... Ele, de resto, nunca chegou a ir à Guiné-Bissau, para recolher em primeira mão depoimentos de testemunhas oculares... E mostrou pouco rigor (, o que é indispensável em jornalista, e para mais em jornalismo de investigação) na transcrição dos dois chefes de milícia, Quebá Camará e Sitafá Camará, que terão sido mortos a seguir ao Cabá Santiago... O texto do Carlos Fortunato foi "publicado no site em 24/02/2003, e revisto em 09/04/2008" (!)...


 ________________

Nota do editor.

(*) Vd. poste de 24 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10189: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (11): Dos planos de evacuação do território aos graves acontecimentos de Bissorã, em junho de 1974 (Paulo Reis, jornalista, freelancer / Luís Gonçalves Vaz)

Excerto do texto de Paulo Reis:

(...) "Encontrei documentação da 2ª Rep interessante, onde se fala dos problemas de disciplina das unidades do exército português e das dificuldades em fazer a simples rotação de efectivos, já prevista há muito tempo. A partir de certo momento, a própria cadeia de comando estaria em risco, uma vez que os soldados portugueses só queriam ir para Bissau e embarcar para a Metrópole.

"A ponto de em Junho de 1974, tropas do PAIGC terem entrado em Bissorã, a propósito de confraternizar. Depois de algumas cervejas, com os soldados portugueses, espalharam-se pela vila e capturaram o Cabá Santiago, um chefe de milícia muito conhecido, desertor do PAIGC, o Bajeba e o Sitafa Camará (ou Quebá), ambos chefes de milícia. Levaram-nos e fuzilaram-nos sem que as forças portuguesas reagissem, de acordo com o testemunho de habitantes locais e soldados portugueses." (...)

9 comentários:

MANUELMAIA disse...

HOUVE MUITOS CABÁ SANTIAGO TRAÍDOS MISERAVELMENTE PELA TROPILHA LUSA. QUALQUER INDIVÍDUO MINIMAMENTE INTELIGENTE SABIA QUE DO PAIGC VIRIA A VINGANÇA CONTRA OS GUINÉUS QUE OS COMBATERAM... FORAM ABANDONADOS DE FORMA IGNOMINIOSA E IRRESPONSÁVEL PELOS RESPONSÁVEIS MILITARES PORTUGUESES QUE VERGONHOSAMENTE CONTINUARAM A OSTENTAR OS GALÕES MANCHADOS DE SANGUE DESSA GENTE QUE LHES DEFENDEU O SUJO E NOJENTO COIRO... E NÃO PENSEM QUE FORAM SÓ OS MILÍCIAS E OS MILITARES GUINÉUS POIS EM BISSUM ATÉ OS FAXINAS FORAM FUZILADOS.

Henrique Cerqueira disse...

Caros Camaradas
Aí está...A narrativa do Carlos Fortunato é muitos mais realista,que o enxerto do Paulo Reis.É que em Junho ainda estávamos todos em euforia chegamos mesmo a tentar controlar o comportamento de alguns civis que de um momento para o outro passaram a querer demonstrar que sempre foram apoiantes do PAIGC.E até alguns comerciantes e outros civis bem instalados na vida tentaram "vender a alma ao diabo"tenho fotos com alguns guerrilheiros presenteados com bicicletas novas e outros bens.Bens esses que eles nunca tinham tido na sua vida.Até o meu comandante de batalhão na altura (era um major)teve conversas de total sobserviência com os comandantes da guerrilha que eram de baixa patente.Durante a noite é que se ouviam rebentamentos de granadas e que se vinha a saber no outro dia que eram ajustes de contas com os informadores da PIDE/DGS.E aí ninguem se manifestava.Além disso havia uma grande anarquia (o que era natural pois cá tambem se passava o mesmo).Daí eu ter sido descrente que a morte de Cabá Santiago tenhga sido em Junho.
Tambem não entendo como ele se deixou ficar em Bissorã.Talvês tivesse que pagar pelo relacionamente que tinha com tudo e todos,pois que sendo ele uma pessoa afável(falei diversas veses com ele pessoalmente),era no entanto muito independsente e práticamente ele é que ditava as suas actuações e também sabia qual seria a sua sorte se fosse apanhado .
Malta isto é só mais um comentário.
Henrique Cerqueira

Antº Rosinha disse...

Houve julgamentos e execuções públicas também de régulos respeitáveis.

Os dirigentes, tanto guineenses como caboverdeanos do PAIGC, ao reagirem desta maneira violenta, era a maneira mais fácil de subjugarem as diversas regiões e etnias.

O PAIGC nunca tirou o dedo do gatilho até hoje, mesmo entre eles uns a desconfiar dos outros.

O revoltante disto tudo, foi o comportamento de Portugal, dos Cubanos e Soviéticos, e das próprias Nações Unidas, que assistiam e viravam a cara para o lado.

Mas esse mundo "moderno, progressista" principalmente a Suécia (mãe adoptiva) que investiu dinheiro e gente técnica, na "ajuda" aqueles governantes, assistiram a todos os crimes, humanos, ecológicos e ao calarem-se, ainda ajudavam a fomentar esses crimes.

Já não falo na Igreja católica e Maometanos porque esses estão habituados há 1000 anos a ver pior que aquilo.

Eu pessoalmente que considero um crime aquelas independências, porque conheci as fronteiras do Congo e vi gente simples a fugir do congo para Angola, e sanzalas de Angola a fugir do MPLA e UNITA, atribuo à Europa colonial a maior responsabilidade das desgraças africanas.

As independências foi a cereja em cimo do bolo.

Por isso, talvez a Europa já esteja em agonia e decadência, porque se esgotou com tantas asneiras.

Respeitemos o 25 de Abril, condenemos sem vergonha nem complexos a "after day".

Foi ainda dentro de toda a dignidade que se fechou o ciclo do Estado Novo, com Salgueiro Maia e Marcelo Caetano no largo do Carmo.

Luís Graça disse...

Henrique, se tens fotos da malta do PAIGC, "presenteada" pelos comerciantes e outros civis de Bissorã, em junho de 1974, com bicicletas (novas) e outros "roncos", estás "intimado" a partilhá-lhas com o resto dos grã-tabanqueiros e demais amigos leitores... Essas fotos têm seguramente interesse documental... Já não podem funcionar mais como "peças de propaganda", para um lado ou para o outro..

E eu estou convencido de que, quando tu, eu, nós todos morrermos (o que vai seguramente acontecer um dia!), essas fotos e outros documentos correm o sério risco de ir parar ao caixote do lixo!... Temos por isso o "dever" (sem adjetivos) de as "salvar" e divulgar...

Diz-me outra coisa: conheceste o Cabá Santiago, em vida... A que etnia pertencia ? Manjaco ?

Um abração, LG

PS - O Paulo Reis afinal não teve direito a nenhum "título de caixa alta"... Tudo indica que ele tenha lido (, mal e à pressa,) a citada crónica do nosso querido amigo e camarada Carlos Fortunato (, publicada 3 anos antes antes, em 2003!), sendo ele, o Carlos, um dos nossos primeiros ex-combatentes a marcar presença na Net... (Aliás, Honra te seja feita, Carlos Grandalhão!).

Luís Graça disse...

O Carlos Fotunato decidiu voltar à Guiné, em 2006:

(...) "Em 2006 resolvi fazer uma viagem ao passado, e reencontrar os bons amigos que deixei na Guiné, durante o serviço militar de 1969/1971 na região do Óio, e numa posterior viagem de trabalho a Bissau, num projecto para o Ministério do Comércio, em 1986." (...)

Voltou a Bissorã, como se impunha... E "ali tinha alguns antigos soldados da CCaç. 13 à minha espera, o Domingos Manfande (soldado do 4º pelotão, e meu aluno), Manuel Cuna (soldado do 1º pelotão, e meu aluno), e o Braima Camará (2º pelotão), pois previamente tinha escrito uma carta ao Domingos Manfande a avisar da minha chegada, e a pedir-lhe para me arranjar alojamento em Bissorã" (...).

Foi um acontecimento social:

" (...) A noticia da minha chegada deve ter corrido Bissorã, pois foram muitos os que me foram visitar, para "dar mantenha" (cumprimentar), deixo aqui o nome de alguns:

- Joaquim Santiago - milícia e irmão de Cabá Santiago, chefe da milícia morto após a independência;
- Braima Santiago - irmão mais velho de Cabá Santiago, nunca combateu, nem se envolveu, mas esteve preso durante 2 anos após a independência;
- Boré Siga - milicia de Cabá Santiago;
- Braima Cissé - milicia, perguntou-me pelo furriel Calé, do 1º pelotão da 1661, que era da 1661, e esteve lá entre 1973 e 74, e pelo furriel Fabião de Coimbra;
- Abu Camará - soldado da CCaç. 13, integrou a CCaç. 13 em 1971, no 2º pelotão;
- Malan Cambai - milicia desde 1965, no grupo de Quebá Camará, perguntou-me pelo capitão Silveira;
- Nuá Xixe - milicia desde 1969, no grupo de Quebá Camará;
- Faia Djaló - carpinteiro, e construtor, que gostava de conhecer o pai, o qual segundo a sua mãe Binta Camará, sobrinha do Quebá Camará, era um oficial. Faia pensa que nasceu em 1967, mas não tem a certeza, pode ter sido depois." (...)

(Continua)
.

Luís Graça disse...

(Continuação)
Mas eis o mais interessante da crónica do Carlos Fortunato:

(...) "Uma troca de impressões deu para perceber que os tempos da minha guerra já estavam esquecidos, e que não existia qualquer animosidade entre os combatentes guineenses que estiveram de lados opostos no período de 63 a 74, normalmente denominada pelos guineenses, como a guerra da independência.

"Muitas vezes a conversa começava na guerra de independência, mas acaba na guerra de 98 contra as forças senegalesas, penso que essa guerra teve o condão de unir todos os antigos combatentes, pois colocou-os a lutar lado a lado.

"O meu amigo Domingos Manfande teve um papel destacado nos combates contra os senegaleses, tendo a seu cargo a defesa do flanco esquerdo, zona onde os senegaleses eram mais fortes. Segundo a suas palavras estes não sabiam combater, "não marcavam distância, não sabiam se pôr-se em posição de disparar, matamos também 2 franceses que estavam lá a combater".

"O facto de Domingos durante o tempo em que esteve na CCaç 13, acompanhar os especialistas de armas pesadas, como eu, o Petronilho, etc., tornou-o especialistas de armas pesadas nessa guerra, dando instrução sobre as mesmas e combatendo ao mesmo tempo". (...)

Em 1998, os senegaleses - apoiados pelos franceses - levarma nas trombas... Hoje parece que está a crescer, na Guné-Bissau, de novo o sentimento anti-francês... O "imperialismo gaulês" não é alheio aos acontecimentos que levaram, ao golpe de estado de 12/13 de abril de 2012... O "imperialismo gaulês" não se conformou com a existência de dois "quistos" no seu naco de carne que era a "África Ocidental Francesa": esses quistos eram/são a Gâmbia (anglófona) e a Guiné-Bissau (lusófona)...

Atenção: procuro ler os sinais dos tempos... E em matéria de política externa, os interesses da França estão acima dos homens e dos partidos que ganham as eleições... È bom que os lusófonos percebam isto...

Henrique Cerqueira disse...

Luís Graça
Estou plenamente de acordo com a narrativa do Carlos Fortunato.Aliás eu fui conduzido a este blogue porque na altura,pesquisando eu na NET temas da Guiné,fui cair no blogue do Fortunato e de imediato me reconheci numa foto por ele publicada em que estou formado com a companhia numa receção ao novo Governador da Guiné Betencur Rodrigues.E vai daí há que ler avidamente tudo sobre o referido blogue.
Posteriormente descobri o teu(nosso)Blogue e deu no que deu,hoje são 3:00 horas da manhã estou com insónias e toca a falar para a malta sobre os nossos "velhos pecados"
Quanto ás fotos eu as enviarei ,penso que algumas já foram publicadas neste blogue,mas provávelmente não terão sido as que mais destacam as ditas "prendas".Em relação á Etnia do Cabá,muito sinceramente acho que nunca lhe perguntei,mas quase de certeza não era Balanta nem Mandinga , pois que o pessoal do meu grupo não podia com ele nem um bocadinho e penso que era sentimento geral mesmo em alguma população e como disse ele era afável mas muito cautelôso nas conversas com os brancos.Eu consegui falar varias veses com ele mas sempre em conversas sobre banalidades e uma das veses sobre o facto de eu ter levado a minha mulher e meu filho lá para Bissorã e aí vi que nutria respeito por mim e por esse facto.
Bom camarada Luís é pouco provável que a estas horas esteja a ler este comentário mais ao menos pessoal ,mas o resto da tabanca que não me leve a mal,pois sempre que aqui se escreve é para todos.Até porque é tão bom falar com a malta através deste espaço,mesmo quando anda tudo ás "turras e á massa".
Então uma boa noite ,bom dia como quiserem e um abraço.
Henrique Cerqueira

Rogerio Cardoso disse...

O que se passou em Bissorã a seguir á independência, foi-me contado por um amigo que tenho lá ainda hoje, cujo nome não interessa de momento saber, pelas represálias que dai podem surgir. Segundo esse meu amigo, o PAIGC andava a "caçar" os que os combatiam, juntava a população de todas as idades obrigatoriamente, e assistiam aos condenados a abrirem as suas covas, e uns iam matando os outros. Isto é verdade, ao ponto de este meu amigo também teve de fugir para o Senegal, por ser meu amigo, lidar conosco no quartel, assim como para outros camaradas . Estou de acordo com o Manuel Maia, foram traidos. Os meus amigos Mandingas Quebá Camará e Sitafá Camará foram dos primeiros.
Rogerio Cardoso
Cart643-AGUIAS NEGRAS

Anónimo disse...

Já que aqui se fazem desabafos..eu também quero fazer alguns.

O PAIGC sempre teve durante a guerra uma política justiceira do tudo ou nada..só existia uma sentença..a condenação à morte mais ou menos violenta,apesar de Amílcar Cabral não preconizar esse sistema, até era de certa forma compreensível..tinha que haver uma disciplina muito rígida, e os fins justificavam os meios e ainda não se podiam dar ao luxo de ter cadeias para os próprios.
Ora o "hábito" faz o monge..por isso ainda hoje se vão matando uns aos outros..alegremente.
Se entre eles faziam e fazem isso..qual é admiração de matarem os antigos INs.
As nossas chefias lavaram daí as suas mãos..não fomos os únicos,mas isso não serve de consolação nem de desculpa.

Toda a gente sabe que os "francius" são feios..toda agente sabe que são..não, não era isto..toda a gente sabe que na França são muito democratas..mas nas antigas colónias continuam a praticar o mais puro e duro colonialismo...e estão-se completamente nas "tintas"para o que os outros pensam.
A Guiné é uma espinha cravada na laringe deles, só que ainda não encontraram um "otorrino"..que fizesse a extracção.

C.Martins