domingo, 28 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14089: Agenda cultural (366): Apresentação do livro "O Concelho de Fafe e a Guerra Colonial", levado a efeito no passado dia 12 de Dezembro de 2014, na Sala Manoel de Oliveira, em Fafe (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Dezembro de 2014:


Apresentação do livro "O Concelho de Fafe e a Guerra Colonial"

Beja Santos

O Núcleo de Artes e Letras de Fafe inspirou uma investigação inédita, com caráter local: o estudo da participação dos militares de Fafe nos três teatros de operações, assinalou deste modo o cinquentenário do início do conflito em África.

Tudo começou com um curso livre de história local sob a temática genérica "O concelho de Fafe e a guerra colonial", foi o conteúdo desta iniciativa que apareceu agora vazado em livro graças à investigação de Artur Coimbra, Artur Magalhães Leite, Daniel Bastos, José Manuel Lajes e Jaime Bonifácio da Silva.


Fui cumulado com o duplo convite de prefaciar a obra e de a apresentar a uma plateia fafense. A matéria do prefácio está publicada no blogue(*), seria rebarbativo insistir nos meus pontos de vista. Importa dizer que era comovente ver chegar os nossos contemporâneos que por ali tagarelaram, se abraçaram, nos escutaram e no fim renderam homenagem com um minuto de silêncio àqueles que já partiram.


A iniciativa merece todos os encómios, é um levantamento que merece ser refletido por todos aqueles que estudam história local. Aproveitei para expender alguns pontos de vista sobre as dificuldades em retratar de um modo mais fidedigno possível tudo quanto se passou: perderam-se relatos, há textos irrecuperáveis como correspondência entre líderes nacionalistas e os seus quadros, o que permitiria visualizar a evolução da guerra do outro lado; a documentação sobre as operações deixa muito a desejar, nem toda é verdadeira, o que altera o nosso próprio posicionamento, ficando assim dificultado o conhecimento do que efetivamente se controlava como território e populações, nas sucessivas conjunturas; e a postura ideológica mantém o seu caráter fraturante, na justa medida em que uns, a par considerar a descolonização um processo inevitável, não têm, regra geral, uma visão lisonjeira da condução da guerra, e outros continuam a insistir que havia condições para superar quaisquer condicionalismos conducentes a derrotas militares a prazo.

Enunciadas estas dificuldades para melhor iluminar todas as cenas da guerra colonial, concentrei-me no fenómeno literário, destacando a explosão de obras, nomeadamente desde o virar do século, de caráter memorial, e que revelam uma gradual desinibição de sexagenários e septuagenários que estão dispostos a dar a cara, revelando as suas experiências, sem ou com muito poucos palpos na língua.

Houve debate animado, um badaleiro da nossa geração espevitou a assistência com canções de várias tonalidades, ninguém saiu da sala sem levar vários volumes debaixo do braço.

Os fafenses estão de parabéns e são de prever, um pouco por toda a parte, iniciativas congéneres.
____________

Nota do editor

(*) Vd. poste de 8 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13988: Notas de leitura (655): Apresentação do livro "O Concelho de Fafe e a Guerra Colonial (1961-1974)", dia 12 de Dezembro de 2014, pelas 21h30, na Sala Manoel de Olivera, em Fafe (Beja Santos)

Último poste da série de 15 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14032: Agenda cultural (369): Rescaldo da apresentação do livro da autoria de Manuel Fernandes (ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 2796) levada a efeito no passado dia 7 de Dezembro de 2014 na freguesia de Arcozelo, Ponte de Lima (Sousa de Castro)

1 comentário:

Hélder Valério disse...

Esta iniciativa tem todo o mérito.

Durante muito tempo este período foi como que envolvido em neblina, com 'paixões' sobre os pontos de vista muito exacerbadas, que hoje se podem observar nos comentários que por aqui costumam aparecer e de que esta reportagem faz eco na frase:"...e a postura ideológica mantém o seu carácter fraturante, na justa medida em que uns, a par considerar a descolonização um processo inevitável, não têm, regra geral, uma visão lisonjeira da condução da guerra, e outros continuam a insistir que havia condições para superar quaisquer condicionalismos conducentes a derrotas militares a prazo".

Apesar disso e/ou talvez por causa disso, a iniciativa é bastante louvável também na medida em que pode ser precursora de outras semelhantes em outros locais.
Suscitar a discussão, reavivando a memória, é útil. É assim que as coisas podem sair da obscuridade. É assim que, também, se pode honrar a memória dos que participaram 'nas guerras de África', com convicção, por sentido de dever, por falta de alternativa, por gosto, contrariado, fosse lá porque fosse ou como fosse, esta é, pode ser, uma forma de não só os honrar como também de deixar legado.

Hélder S.