quinta-feira, 7 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14579: Agenda cultural (396): no 70º aniversário do final da II Guerra Mundial, uma sugestão iimperdível: três obras-primas do realizador de cinema italiano Roberto Rossellini: Roma, Cidade Aberta (1945), Paisá-Libertação (1946) e Alemanha, Ano Zero (1948)...Em cartaz, em cópias restauradas, em Lisboa (Espaço Nimas) e no Porto (Teatro do Campo Alegre)

1. Na comemoração dos 70 anos do fim da II Guerra Mundial (a 2 de maio de 1945, Berlim capitulava e, a 8 de maio, a Alemanha rendia-se incondicionalmente aos Aliados), é importante conhecer ou rever um dos grandes cineastas europeus, o italiano Roberto Rosselini (Roma, 1906- Roma, 1977) que, de algum modo, nos ajudou a reconciliarmo-nos,  a nós, homens e europeus.

Dez filmes do seu período mais célebre (grosso modo, os treze anos que medeiam entre 1945, ano de Roma, Cidade Aberta, e 1958, ano de Índia, com a exceção de A Força e a Razão, filme de 1971), estão em exibição no Espaço Nimas, em Lisboa – desde 26 de abril –´e no Teatro do Campo Alegre, no Porto – desde 9 de Abril.

Neste lote estão pelo menos três filmes que ainda não conheço e não quero perder: (i) Roma, Cidade Aberta (1945); (ii)  Paisá - Libertação (1946); e (iii)  Alemanha, Ano Zero (1948), todos tendo a ver com a guerra e o fim da guerra. E naturalmente com a nossa geração do pós-guerra...Mas também recomendo Stromboli (1950) e Viagem em Itália (1954), filmes que já vi em devido tempo. REcorde.se que Rossellini foi casado com a grandes atriz sueca Ingrid Bergmam (1915-1982), a inesquecível Ilsa Lund do filme Casablanca (1942).

Com a devida vénia, e sobre esta programação, transcrevo aqui  um oexcerto do artigo do Público, de 20/3/2105, assinado pelo crítico de cinema Luís Miguel Oliveira;

(...) “Roma, Cidade Aberta” não foi o primeiro filme de Rossellini, que já assinara, durante o regime mussoliniano, alguns filmes, pelo menos teoricamente, de “propaganda”. Mas “Roma” foi uma bomba, o pontapé de saída para as gloriosas décadas do cinema italiano que vieram a seguir. Não é tanto a questão do “neo-realismo” enquanto corrente estética e ideológica (que já tinha precedentes antes de Rossellini e teria no futuro apóstolos muito mais convictos do que ele próprio); é antes a questão do compromisso com a realidade, o cinema a fazer “corpo” com o quotidiano e as circunstâncias históricas. Nunca se tinha visto nada assim: alguém escreveu – salvo erro Godard, para variar – que com “Roma”, rodado ainda durante a guerra, Rossellini redimiu a Itália, e como medida da dimensão do gesto do cineasta, não é expressão exagerada. Tanto assim que, depois de redimir os italianos, Rossellini foi redimir os alemães, nesse absolutamente fulcral filme que foi “Alemanha, Ano Zero”, rodado nas ruínas de Berlim, onde de cada buraco saltam fantasmas e persistências nazis. O destino do miúdo protagonista – e o que ele “simboliza” – deve ser das coisas mais discutidas em toda a história do cinema, sendo certo que ele representa algo de profundamente importante para Rossellini: a tragédia de uma educação “falsa” (o nazismo), o drama de um condicionamento contra o homem em vez de a favor dele. 

Veremos também o sofrimento, quase Sado-masoquista, que Rossellini infligiu a Ingrid Bergman, ao transplantá-la do luxo de Hollywood para as agruras da vida numa desolada e vulcânica ilha de pescadores: “Stromboli”, outro filme essencial, que ganha em ser visto tendo presente esse “moralismo” rosselliniano, castigando o “espectáculo” (Bergman, Hollywood) que entrou pelo seu cinema adentro e castigando-se a si próprio. Ou o mais generoso – e “milagroso” – mas nem por isso menos castigador “Viagem em Itália”, doce e violenta anatomia de um casamento, porventura a mais contundente incursão de Rossellini na introspecção autobiográfica. E mais “Europa 51”, “O Medo” (ambos com Bergman), “Paisá”, “O Amor”, “A Máquina de Matar Pessoas Más”, “Ìndia”. Que sentido se encontrará ainda, hoje, na ética humanista de Rossellini? (...)



Libertação
Título original:Paisà
Classificação:M/12
Outros dados: ITA, 1946, Preto e Branco, 128 min.

Um dos mais míticos filmes realizados em Itália no período que se seguiu ao fim da guerra. "Paisà" retrata, em seis episódios, a progressão das tropas americanas de libertação, desde o desembarque na Sicília até aos pântanos do vale do Pó. A descrição da realidade imediata, na linha de "Roma Città Aperta", a utilização de não profissionais, o aspecto de documentário da fotografia, tudo faz de "Paisà" uma obra em completa ruptura com o cinema italiano da década anterior.

Texto: Cinemateca Portuguesa.  [Fonte: Cortesia de Público, Cinecartaz]


Alemanha, Ano Zero
Título original:Germania anno Zero
Género:Drama
Classificação:M/12
Outros dados: ALE/ITA, 1948, Cores, 75 min.

O mais pungente e desesperado filme sobre o pós-guerra. A crise económica e moral na Alemanha, através do drama de uma criança sobrevivendo de pequenos tráficos e expedientes, sustentando um pai doente, e que acabará por envenenar por influência de um seu professor nazi. Texto: Cinemateca Portuguesa. [Fonte: Cortesia de Público, Cinecartaz]


Roma, Cidade Aberta
Título original:Roma, Citta Aperta
Género:Drama, Guerra
Outros dados: ITA, 1945, Cores, 100 min.

Quando Roberto Rosselini começou a rodar "Roma, Cidade Aberta", os Aliados tinham acabado de expulsar os nazis da cidade de Roma, perto do final da II Guerra Mundial. Considerado como uma das suas melhores obras, o filme que Rosselini filmou em pequenas partes de película danificada ajudou a definir o neorealismo italiano. 

A história é narrada num estilo semi-documental, usando cenários reais, e envolve membros da resistência italiana em plena acção contra a ocupação nazi. Giorgio Manfredi (Marcello Pagliero), líder da Resistência italiana, é descoberto pelos nazis. Procura ajuda em casa do amigo Francesco (Francesco Grandjacquet), mas é a noiva Pina (Anna Magnani) que o vai ajudar, avisando o padre Don Pietro Pellegrini (Aldo Fabrizi) que Giorgio tem de deixar a cidade imediatamente. 

Anna Magnani tornou-se uma estrela de cinema internacional com esta interpretação de uma mulher grávida e solteira que é apanhada pelos acontecimentos no dia do seu casamento. "Roma, Cidade Aberta" recebeu o Grande Prémio do Festival de Cannes de 1946. Sergio Amidei e Federico Fellini foram nomeados para o Óscar de melhor argumento de 1947. Pùblico .[ Fonte: Cortesia de Público, Cinecartaz],

2. Lisboa > Espaço Nimas > 10 obras restauradas, imperdíveis, de Roberto Rossellini

Do portal da Medeia Filmas, com a devida vénia, transcreve-se o seguinte... 

(...) Face ao sucesso da exibição das obras restauradas de Roberto Rossellini no Espaço Nimas em Lisboa, os Cinemas Medeia prolongam a exibição destes filmes, que contarão com uma nova programação durante quatro semanas, entre 30 de abril e 27 de maio.

Todos estes filmes serão exibidos em versões restauradas digitais, resultado de um trabalho audaz de restauro levado a cabo por várias prestigiadas entidades: Cinecitta Luce, CSC – Cineteca Nazionale, Cineteca di Bologna e Coproduction Office.

(...)

Nova Programação das dez obras restauradas:

 (,,,) Quinta - 7 Maio- Horários: 16h, 18h, 20h, 22h
O MEDO (1954)

Sexta - 8 Maio - Horários: 16h, 18h, 20h, 22h
O MEDO (1954)

Sábado - 9 Maio - Horários: 16h30, 19h, 21h30
STROMBOLI (1950)

Domingo - 10 Maio - Horários: 16h, 18h, 20h, 22h
VIAGEM EM ITÁLIA (1954)

Segunda - 11 Maio - Horários: 16h30, 19h, 21h30
EUROPA 51 (1952)

Terça - 12 Maio - Horários: 16h30, 19h, 21h30
O AMOR (1948) + A FORÇA E A RAZÃO (1971)

Quarta - 13 Maio - Horários: 16h30, 19h, 21h30
O AMOR (1948) + A FORÇA E A RAZÃO (1971)

Quinta - 14 Maio- Horários: 16h, 18h, 20h, 22h
ALEMANHA, ANO ZERO (1948)

Sexta - 15 Maio - Horários: 16h, 18h, 20h, 22h
ALEMANHA, ANO ZERO (1948)

Sábado - 16 Maio - Horários: 16h, 18h, 20h, 22h
ÍNDIA (1958)

Domingo - 17 Maio - Horários: 16h30, 19h, 21h30
ROMA, CIDADE ABERTA (1945)

Segunda - 18 Maio - Horários: 16h30, 19h, 21h30
PAISÀ – LIBERTAÇÃO (1946)

Terça - 19 Maio - Horários: 16h, 18h, 20h, 22h
MÁQUINA DE MATAR PESSOAS MÁS (1952)

Quarta - 20 Maio - Horários: 16h, 18h, 20h, 22h
MÁQUINA DE MATAR PESSOAS MÁS (1952)

Quinta - 21 Maio- Horários: 16h30, 19h, 21h30
STROMBOLI (1950)

Sexta - 22 Maio - Horários: 16h30, 19h, 21h30
STROMBOLI (1950)

Sábado - 23 Maio - 16h30, 19h, 21h30
EUROPA 51 (1952)

Domingo - 24 Maio - Horários: 16h, 18h, 20h, 22h
O MEDO (1954)

Segunda - 25 Maio - Horários: 16h30, 19h, 21h30
O AMOR (1948) + A FORÇA E A RAZÃO (1971)

Terça - 26 Maio - Horários: 16h, 18h, 20h, 22h
VIAGEM EM ITÁLIA (1954)

Quarta - 27 Maio - Horários: 16h, 18h, 20h, 22h
VIAGEM EM ITÁLIA (1954)

 (...) Todos os filmes em projecção digital. (...) Consultar esta programação aqui.

__________

Nota do editor:

2 comentários:

Luís Graça disse...

Para que a Europa e o Mundo não esqueçam... até onde a deriva totalitária nos pode levar... O poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente... (LG)
_______

Reprodução de excerto de notícia do portal DW -
Deutsche Welle

Solenidade lembra 70 anos do fim da Guerra em Berlim

DW, 2/5/2015

Cerimônia dos 70 anos da capitulação da capital alemã tem a participação de diplomatas e sobreviventes da Segunda Guerra Mundial. Fim da guerra foi também a libertação da Alemanha, diz ministro do Exterior alemão.

Uma solenidade na Câmara dos Deputados de Berlim lembrou neste sábado (02/05) os 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial na capital alemã.

O evento contou com a presença do ministro do Exterior da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier; do prefeito da cidade, Michael Müller; além de diplomatas e sobreviventes da guerra.

Para Steinmeier, o fim da guerra foi também a libertação do país que estava sob controle do nazismo. E, assim, nunca mais o ódio racial e a minorias deve encontrar lugar na Alemanha.

"Não soltaremos nunca mais a mão que vocês e suas pátrias estenderam para nós alemães", disse o ministro, dirigindo-se aos embaixadores dos EUA, Rússia e Polônia.

O ministro reforçou ainda o dever alemão de garantir a paz mundial. A Alemanha, devido à sua história, precisa fazer "talvez mais do que outros".

Já o prefeito da capital alemã reforçou a importância da capitulação do país para a evolução da cidade. Sem a libertação do nazismo e sem as incontáveis vítimas, Berlim não teria tido a chance de se desenvolver como "metrópole diversa, multicultural, cosmopolita e crescente de hoje", disse Müller.

(...) A guerra na capital da Alemanha terminou uma semana antes da capitulação das Forças Armadas de Hitler, a Wehrmacht. No dia 2 de maio de 1945, as últimas unidades do exército alemão dispersas em Berlim se renderam. Dois dias antes, em 30 de abril, o ditador Adolf Hitler cometeu suicídio em seu bunker na cidade.

A queda de Berlim foi anunciada por emissoras britânicas de rádio. "Berlim caiu. O marechal Josef Stalin acaba de anunciar a ocupação completa da capital da Alemanha, Berlim, a capital do imperialismo germânico e da agressão", noticiaram ao interromper sua programação.

A ofensiva soviética em direção a Berlim começou em janeiro de 1945. No dia 12 daquele mês, o Exército Vermelho preparou sua ofensiva no Rio Vístula. Uma semana depois, soldados soviéticos pisavam em solo alemão.

CN/dpa/epd

http://www.dw.de/solenidade-lembra-70-anos-do-fim-da-guerra-em-berlim/a-18425020

Antº Rosinha disse...

Luís Graça, os anos 2014/15 a Europa está a comemorar dois aniversários «exemplarmente» horríveis para a Europa e o mundo.

Foi I e a II GG.

E fazes muito bem em trazer para aqui essas lembranças, para ajudar a compreender as guerras que se seguiram, inclusive a nossa guerra da Guiné.