terça-feira, 29 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20286: O segredo de... (32): Manuel Oliveira Pereira (ex-fur mil, CCAÇ 3547, 1972-74) e o mistério do "triângulo Contuboel, Sonaco e Jabicunda"... Um "encontro de cavalheiros" com o IN


Guiné > Região de Bafatá > CCAÇ 3547 / BCAÇ 3884 (Contuboel, 1972//74) > O Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, membro da nossa Tabanca Grande, da primeira hora. Aqui no "barco turra", a navegar no rio Geba... num embarque de reabastecimento cokmo delegado de batalhão ou j+a integrado na Companhia de Terminal.

Foto (e legenda): © Manuel Oliveira Pereira (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Desde 2008 que temos vindo a contar "segredos", pequenos e grandes segredos", da nossa vida militar, coisas passadas há meio século, mas que só agora, por razão ou outra, temos vindo a partilhar uns com os outros...  E já são mais de trinta,o que dá uma média anual de 3 (três)!...

Recordo que o  propósito deste série, "O segredo de...", é esse mesmo: ser uma espécie de confessionário (ou de livro aberto) onde se vem, em primeira mão, revelar "coisas" do nosso tempo  da tropa e da guerra que estavam guardadas só para nós...

É esperado que os nossos leitores não façam nenhum comentário crítico, e nomeadamente condenatório, em relação às "revelações" aqui feitas, mesmo que esses factos pudessem eventualmente, à luz da época, constituir matéria do foro do direito penal, militar ou civil, infringir a disciplina ou ética militar, etc. ...

Saibamos ouvir sem julgar!... É o caso da "revelação" que, aqui há dias, o nosso camarada Manuel Oliveira Pereira, de Ponte de Lima, aqui deixou, em comentário ao poste P20267 (**).

Recorde.se: (i)  o Manuel [Oliveira] Pereira foi fur mil, CCAÇ 3547, "Os Répteis de Contuboel", (Contuboel 1972/74), subunidade que pertencia ao BCaç 3884 (Bafatá, 1972/74); (ii) é hoje advogado;  (iii) vive em Ponta de Lima; (iv) é membro sénior da nossa Tabanca Grande, tendo cerca de 20 referências no nosso blogue.


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Mapa de Sonaco (1957) (Escala 1/50 mil) > Pormenor da posição relativa de Sonaco, na margem esquerda do Rio Geba, a nordeste de Contuboel, com Jabicunda a sudoeste.. Era uma região bastante povoada e próspera...

Os vagomestres das nossas companhias no Leste conheciam Sonaco, onde iam comprar vacas... Apesar da intensificação da guerra na região fronteiriça, a norte,  já nos anos 70, era uma região calma... Referimo-nos ao truàngulo Contuboel, Sonaco e Jabicunda.

Temos apenas uma dezena  de referências a Sonaco no nosso blogue... 

Era posto administrativo e pertencia ao subsetor de Contuboel. Tenho ideia de que, no meu tempo (junho/julho de 1969) havia lá um pelotão destacado, da unidade de quadrícula de Contuboel (, que já não recordo qual fosse, mas em princípio não podia ser a CART 2479 / CART 11; seria talvez a CCAÇ 2436, 1968/70: passou por Bissau, Galomaro, Contuboel e Fajonquito; ou ainda a CCAÇ 2435, que esteve em Quinhamel, Fajonquito, Contuboel e Nhacra; ambas pertenciam, tal como CCAÇ 2437,  ao BCAÇ 2856, sediado em Bafatá).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).


2. O segredo de... Manuel Oliveira Pereira (ex-fur mil, CCAÇ 3547, 1972-74): o mistério do "triângulo Contuboel, Sonaco e Jabicunda"...  Um "encontro de cavalheiros" com o IN


Sonaco  era, quando lá cheguei, em abril de 72,  um Destacamento militarizado. Vindo do Cumeré onde fiz (fizemos) o IAO, e depois de uma curta passagem (dois dias) pela sede da Companhia, em Contuboel, fui render o Pelotão da Companhia “velhinha”.

A guarnição era composta por 30 militares europeus (Grupo de Combate + Cabo Enf + Condutor auto + Sold Transmissões + Cozinheiro civil, o Malan) e um Pelotão de Milícias com 21 elementos.

O aquartelamento era uma antiga casa colonial, esventrada, sem janelas mas com alguma habitabilidade. Situava-se logo à entrada da parte “urbana” da vila, lado esquerdo e junto ao “mercado”. Ou seja a nascente da “avenida” .

A poente tínhamos o Posto de Correio a Igreja (capela),  o “Palacete” do Chefe da Circunscrição, um Chefe de Posto de “nível mais elevado”, e já à saída na direcção de Nova Lamego a Pista de Aviação e a “Estação Meteorológica”. Ao longo da “Avenida” situavam-se muitas casas comerciais e o “Café do Sr. Orlando Gomes”,  o homem que vendia vacas...

Sobre os contactos com o IN muito poderia dizer mas vou resumir. A minha Companhia era composta nos seus quadros por “milicianos” . A única excepção eram o 1º e 2º Sargentos. O Capitão era um quase Engenheiro civil, dois dos Alferes, andavam em Direito. O terceiro Alferes era já médico (exerceu na Companhia).

Dos Furriéis, um a caminho de Direito, outro de Economia e ainda mais dois dos Institutos Industriais o um quinto do Instituto Comercial. Não cito os outros, porque não faziam parte das “conversas privadas antirregime”, nem tão pouco as suas leituras passavam pelo jornal “República”,  nem eram ouvintes da BBC, Rádio Portugal Livre, Rádio Moscovo ou voz da América. Do mesmo modo pouco lhes interessava a “corrente Marcelista" da Assembleia Nacional e desconheciam nome da "ala liberal" como Miller Guerra, Francisco Lumbrales (Sá Carneiro), Francisco Balsemão, etc..

Éramos um grupo, aparentemente acomodado, mas andávamos  preocupados com o rumo que a guerra estava a tomar. Tínhamos oss problemas de quem  vivia no terreno. Andámos eslocados quase permanentemente da nossa base [, Contuboel,]  em reforço de outras unidades.

Fomos, além disso,   ocupar zonas – uma delas, Bambadinca Tabanca – sem que houvesse um aquartelamento. Para nos abrigarmos nos primeiros dias “requisitamos/tomamos posse” de umas moranças (palhotas de cana e colmo. Depois cavaram-se as valas e os abrigos. A alimentação, inicialmente “ração de combate” e depois a eterna “bianda”, por vezes, acompanhada por mais vianda. A água era recolhida a alguma distância onde o perigo espreitava a todo o instante.

 A morte e feridos de companheiros no Batalhão levaram a um repensar na forma de actuar, principalmente no perímetro de actuação da Companhia (Contuboel) e Destacamento (Sonaco).

Num dos períodos em que estou como comandante do Destacamento de Sonaco, tomo a iniciativa – já vinha abordando de forma subtil o velho comerciante Libanês e a sua esposa (uns anos bem mais nova que o marido), com quem por vezes jantava –  de alargar o meu leque de “amigos” (ficaram mesmo amigos) entre os Homens Grandes, o Cmdt da Milícia o Mali e o Cmdt de uma das secções do Pelotão de Milícias, o Djassi. Basicamente a questão era:

 –  Como vocês acham que o IN reagiria se lhe propusemos um “encontro de cavalheiros” ?

A vila de Sonaco era um centro de comércio muito importante. No meio de tanta multidão que diariamente ali  faziam suas trocas, compras e vendas era impressionante. Obviamente, o IN tinha aqui a sua oportunidade para se infiltrar.

Assim, de forma persistente, mas cautelosa, fui alimentando junto dos meus interlocutores a vantagem de uma aproximação da qual ambas as partes beligerantes beneficiariam. Entretanto a acção psicológica – a mesma que o Capitão – prosseguia com “oferta”,  à população, de víveres (farinha, arroz, sal, etc.),  acesso ao médico e/ou ao serviço de enfermagem, medicamentos, transporte para Bafatá e para reuniões da Assembleia Popular,  etc. Numa palavra: dentro do possível, sempre disponíveis!

O tempo foi passando e em mais um jantar na casa do comerciante Libanês, este atira-me com esta:

 – Alguém do PAIGC está aberto a um encontro, mas você terá que ir desarmado...

Incrédulo, perguntei:

 –  Onde e quando?
 – Aguarde, disse ele.

No dia seguinte, fui a Contuboel e chamei o Capitão de parte para lhe comunicar que, sem ele saber, andei a tentar chegar à fala com o IN. Olha-me de alto a baixo, puxa uma “passa” mais forte no cigarro e diz-me:

 – Sabe que também tenho andado a fazer o mesmo?
–  Então,  e agora o que fazemos?
– Nada, esperamos!...

Duas semanas ou três após esta conversa, recebo o Cap Martins em Sonaco. Salta do Unimog, dirige-se a mim e faz-me sinal para o seguir ao interior do aquartelamento e com o dedo aponta no mapa que eu tinha afixado na parede do meu “quarto”, dizendo:

–  É hoje e aqui!

Seguimos quase de imediato. Subimos para o Unimog e como escolta, uma secção reforçada, escolhida a dedo entre “os melhores” do Pelotão. Durante todo o percurso não trocamos uma palavra. A dado momento o Capitão dá ordem de paragem – estamos no interior de uma mata densa, no triângulo Sonaco/Contuboel/Nova Lamego – manda a secção fazer segurança em circulo e para estar atenta.

Nós os dois e apenas com a pistola à cintura, entramos mata dentro, numa caminhada de medo, mas determinada. Alguém viria ter connosco. E veio!... Eram quatro ou cinco guerrilheiros bem armados que nos emboscaram. Um deles, talvez chefe, diz:

– O  acordo é desarmados. Entreguem as pistolas.
– Não –  responde o Capitão. –  Se nos permitem e para que o “encontro se realize”, iremos fazer a entrega aos nossos camaradas que estão a quinze, vinte minutos de distância.

O mesmo guerrilheiro concorda.

Viramos para o ponto de partida e sempre pensei que naquele momento íamos ser abatidos com um tiro pelas costas. Felizmente não aconteceu. Feito o depósito das armas aos nossos camaradas,  o Capitão deixa a ordem que,  caso não regressássemos dentro de duas horas, deveria ser dado o “alarme” para que aquela zona fosse bombardeada.  Diga-se que o nosso pessoal não sabia nem soube – só já em Portugal vieram a saber – qual a razão daquela incursão na mata. Recordo que já no aquartelamento o sold Pinto me perguntou "se as bajudas eram boas"...

Voltamos a fazer a caminhada. Antes, o Cap Martins, faz-me sinal com os olhos com um "Vamos? "
– Claro que sim!

O nervosismo era muito. O medo existia, mas uma força interior me dizia que tudo iria correr bem. O desistir não fazia parte dos nossos planos. Fomos.

Os guerrilheiros voltam a surgir, mas em local diferente. Já não nos apontam as armas. Fazem-nos andar às voltas e mais voltas, até que entramos numa pequena clareira, de 100 a 150 metros. À volta dela muitos guerrilheiros armados. A um dos lados, uma grande tenda branca com um avançado tipo alpendre. No solo, à entrada da tenda um enorme tapete com loiça e bules e um cheiro agradável a comida fresca.

De dentro da tenda sai um indivíduo muito bem vestido com os trajes muçulmanos, aparentando menos de 40 anos. Atrás dele mais dois, também novos. Dirige-se a nós, estende-nos a mão cumprimentando-nos pela patente e nome. A nossa surpresa é enorme, já que os nossos ombros iam vazios e as fardas não tinham nomes. Convida-nos a sentar, o que fazemos,  ao mesmo tempo que pergunta

 – Surpreendidos?
 – Sim – respondemos quase em coro.  – Este aparato, os nossos nomes e patentes…
Olha-nos e diz-nos.

– Sei tudo ou quase tudo acerca de vocês, A vossa forma como fazem a “guerra”, a postura e a relação com a população, a atitude como encaram a nossa luta pela libertação do jugo colonial, a acção dos vossos grupos de apoio a outras unidades da frente, nomeadamente Sare Bacar, Bambadinca Tabanca, Madina Mandinga e sobretudo o respeito que manifestam pelas gentes de Contuboel, Sonaco e Jabicunda (o grande povoado junto à ponte de Contuboel), e na ajuda diária à sua sobrevivência.

Perante este desenrolar de “conhecimento” sobre a Companhia, fomos ficando à vontade, não tanta, quando fomos convidados a beber o chá de menta e o ensopado, presumo, de borrego, Perante a hesitação (medo de estar envenenada) o nosso anfitrião, rindo, disse:

 – Olhem para mim: vou comer e beber do mesmo que vos oferecemos.

De facto a comida estava óptima. Já a bebida..., uma cervejinha gelada saberia melhor, mas enfim!

Neste entretanto lá fomos dizendo das razões que nos levaram a ter este encontro, nomeadamente a “estupidez” de nos matarmos uns aos outros, quando no cerne da resolução estava um problema meramente politico e não militar.

Demos a conhecer, que a ida para a guerra por parte da juventude portuguesa era uma imposição do regime e não do povo português. Daí propor aos guerrilheiros actuantes no nosso sector “um pacto de não agressão”.

Findo os nossos argumentos, ouvidos num silêncio total, tivemos uma contraproposta muito curta que se resumia em continuarmos de forma mais profunda a acção que desde há muito vínhamos desenvolvendo juntos das populações do perímetro [, subsetor de Contuboel].

O nosso interlocutor, para além de ser um poliglota, conhecia a Europa, Cuba, Checoslováquia e URSS.

Corremos e andamos por muitos sítios e a certeza que “fomos” contemplados pela sorte, tivemo-la em Madina Mandinga (ali a sul de Nova Lamego e ao lado de Cabuca e na estrada para Ché Ché) e depois no Dulombi, mais a sul e também perto do Rio Corubal, onde com o meu Grupo fui fazer a ”reocupação” do quartel, entretanto “abandonado/desactivado” por uma Companhia do Batalhão sediado em Galomaro.

Conclusão: O único morto da nossa Companhia – um Furriel, por ter pisado uma mina – aconteceu ao serviço de outra Unidade, na fronteira com o Senegal, entre Sare Bacar e Sare Aliu, Acrescento que NÃO era o nosso Grupo (o meu) a sair. A “besta” do Cmdt de Companhia onde estávamos destacados, deu por “castigo” essa ordem. Daí darmos o benefício da dúvida de que a mina causadora da morte do Furriel Melo tinha por destino a Companhia Independente,  sediada em Sare Bacar e NÃO o 4º Pelotão da CCAÇ 3547 (Contuboel).
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20 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17686: O segredo de... (29): João Crisóstomo (ex-alf mil, CCAÇ 1439, Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67): Porto-Gole 1966: uma aventura no Rio Geba, para nunca mais esquecer... uma daquelas que nos poderia ter custado a vida!

23 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16123: O segredo de... (28): Domingos Ramos e Mário Dias, dois camaradas e amigos da recruta e do 1º CSM (Bissau, 1959), que irão combater em lados opostos... No último trimestre de 1960, Domingos Ramos terá sido vítima do militarismo e racismo de um oficial português quando foi colocado no CIM de Bolama, como 1º cabo miliciano

3 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15192: O segredo de ... (27): A minha prenda de Natal de 1963: a destruição de Sinchã Jobel, com o meu engenhoso fornilho montado numa mala de cartão... (Alcídio Marinho, ex-fur mil at inf MA, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)

12 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15107: O segredo de... (26): Ser ou não ser furriel na data de embarque (Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546)

29 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15053: O segredo de... (25): A caneta do Governador (Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546)

14 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15004: O segredo de... (24): Segredo desvendado (Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546)


 2 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14962: O segredo de... (20): Fernando Brito (1932-2014), ex-1º srgt, CCS/BART 2917 (1970/72): quadro, em "folha de capim", do seu infortunado filho (, morto mais tarde num trágico acidenrte, em 2001), pintado pelo caboverdiano Leão Lopes, em Bambadinca, 1971 (Cláudio Brito, neto)


26 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13046: O segredo de... (18): O ato mais irresponsável nos meus dois anos de serviço como soldado de artilharia (Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

28 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12648: O segredo de... (17): O maior frio da minha vida (Fernando Gouveia)

25 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12632: O segredo de... (16): Ricardo Almeida (ex-1.º cabo, CCAÇ 2548 / BCAÇ 2879, Farim, K3 / Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71): Como arranjei uma madrinha de guerra, como lhe ganhei afeição e amor, e como por causa da minha
terrível doença fui obrigado a tomar uma dramática de decisão de ruptura... A carta de amor pungente que ela me escreveu, em resposta..

13 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6379: O segredo de ... (13): Amílcar Ventura e o seu irmão, artilheiro, ferido gravemente em Gampará

27 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6257: O segredo de... (12): O meu sobrinho Malan Djaló, aliás, Malan Nanque, o rapazito de 8 ou 9 anos anos, apanhado pelo Grupo Fantasmas, do Alf Mil Comando Saraiva, em 11 de Novembro de 1964, em Gundagué Beafada, Xime... (Amadú Djaló)

18 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5670: O segredo de... (11): Um ataque a Bissau, uma bravata do Hoss e do Django (Sílvio Fagundes Abrantes, BCP 12, 1970/71)

24 de setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5529: O segredo de... (10): António Carvalho (ex-Fur Mil Enf, CART 6250, Mampatá, 1972/74): Os tabefes dados ao Bacari

21 de outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5138: O segredo de... (9): Fur Mil J. S. Moreira, da CCAV 2483, que feriu com uma rajada de G3 o médico do BCAV 2867 (Ovídio Moreira)

24 de setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5006: O segredo de... (8): Joaquim Luís Mendes Gomes: Podia ter-me saído caro aquele pontapé no...

24 de setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5002: O segredo de... (7): Amílcar Ventura:Ajudei o PAIGC por razões políticas e humanitárias

11 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4936: O segredo de... (6): Amílcar Ventura: a bomba de gasóleo do PAIGC em Bajocunda...

4 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4461: O segredo de... (5): Luís Cabral, os comandos africanos, o blogue Tantas Vidas... (Virgínio Briote)

11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3598: O segredo de... (4): José Colaço: Carcereiro por uma noite

6 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3578: O segredo de... (3): Luís Faria: A minha faca de mato


(**) Vd. poste de 22 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20267: Controvérsias (140): é verdade que Contuboel, na zona leste, região de Bafatá, nunca foi atacado ou flagelado ? ( Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, CCAÇ 3547 / BCAÇ 3884, 1972/74)

11 comentários:

Anónimo disse...

Eduardo Estrela

29 ouy 2019 13h01

Boa tarde Luis!

Acabo de fazer uma visita ao blogue e aproveito para informar o seguinte: O CIM de Bolama já funcionava no final de Maio de 1969, pois foi onde as CCaç 13 e 14 tiveram instrução.

Nunca percebi muito bem a razão de um grupo de combate da 14 ter transitado para Contuboel. Na altura o CIM de Bolama era comandado pelo então Major Carlos Azeredo, figura curiosa, já que ostentava galões de metal.

Mais tarde e ainda durante a nossa permanência em Bolama, o Major Azeredo foi substituido no comando pelo Major Carlos Fabião.

Um forte abraço

Eduardo Estrela ex fur mil da CCaç 14

Valdemar Silva disse...

Luis
Como já escrevi várias vezes, quando a nossa rapaziada foi à praia? de Sonaco não havia lá NT. Confesso que não ter visto tropa nem a praia, apenas referenciei uma grande possibilidade de apanhar um grande bioxene.
Julgo que o Abílio Duarte também se lembra desta ida à praia e pode, também, confirmar esta duvida de não haver tropa em Sonaco.
Ab.
Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

O Major Carlos Azeredo apareceu várias vezes em Contuboel, julgo que deveria ser o responsável pelos CIM em geral.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Manel, o segredo estava bem "guardado"... Ou se calhar era apenas partilhado pelos teus homens, do teu pelotão, e pelo teu ex-capitão, Martins, outro dos protagonistas desta aventura que, felizmente vocês, não acabou mal como a dos "3 majores no chão manjaco", mortos à catanada...

Para que o relato vossa história tenha "mais força", diz-me por favor em que altura (mais ou menos) se realizou esse insólito "encontro de cavalheiros" entre tu e o teu capitão e o os homens do PAIGC ?

Se souberes datas mais precisas, melhor... Foi antes do 25 de Abril, suponho, o que torna a "aventura" ainda mais inédita e arrojada...E foi feita à revelia da hierarquia militar, seguramente...

O papel do "patriarca" libanês de Sonaco terá sido crucial... Era simpatisante ou mesmo militante do PAIGC, deduzo... Ou então tinha "contactos" privilegiados...

Como é que ele se chamava, o libanês ? E já agora, ela, a jovem esposa... O casal terá ficado por Contuboel depois da independência ?... E o homem das vacas, de Sonaco, o comerciante, dono também de um café, o Orlando Gomes, jogava com um "pau de dois bicos", como muitos comerciantes da Guiné (,pelo menos era essa nossa suspeição...) ?... Fui lá comprar vasm em 1970, mas já não me lembro a quem... Foi no mês em que eu era o gerente da messe... Fomos a Sonaco, sem escolta, eu o vaguemestre, um dos nossos soldados africanos e o condutor, com uma viatura, creio que um Unimog 404, sem os bancos de trás... Dava perfeeitamente para trazer um raquítica vaca de Sonaco...Só me lembro que me custou 900 pesos... Dei bilhada para os sargentos e os oficiais, mais as senhoras que lá estavam, três ou quatro nessa época...

E já agora o local do encontro, outro dado importante...Onde terá sido exatamente ? És capaz de lembrar, através do mapa de Sonaco, considerando o tempo que vos levou a chegar ao local, de Unimo e depois a pé ?

Escreves tu:

[Depois de Sonaco...] "A dado momento o Capitão dá ordem de paragem – estamos no interior de uma mata densa, no triângulo Sonaco/Contuboel/Nova Lamego – manda a secção fazer segurança em círculo e para estar atenta"...

O teu ex-capitão Martins já alguma vez partilhou este segredo, oralmente ou por escrito, com os seus antigos subordinados, nos convívios anuais, ou nas redes sociais ?

Estou-te grato pela revelação feita. Não me compete dizer se agiste bem ou mal, tu ou o teu capitão... Segundo as nossas regras editoriais, não posso nem devo fazer um "juizo de valor"...

Um alfabravo, Luís

PS - Manda-m eo teu endereço de email atual...O do Sapo já não funciona.

Abilio Duarte disse...

Olá Valdemar,
Nunca me esquecerei do Domingo de Pascoa de 1969, quando fomos, até Sonaco, para ir á praia, pois diziam que era muito bonita.
Lá chegados, praia, ninguém sabia o caminho.
Então foi frango assado, como mato, cervejas e bioxene até, voltarmos para Contuboel,já de noite cada um com uma grande cadela, a ver turras, por tudo quanto era sitio, e alguns tiros á mistura. De Facto, nesta altura, não havia tropa, em Sónaco. No último almoço, que tivemos com o Macias, e o Renato Monteiro, falas-te num gajo que foi conosco nesta viagem , e era espião do exercito. Gostava, que aflorasses, mais esse pormenor, aqui para a malta.
Memórias da nossa juventude, em África.
Gosto deste blog, pois faz-me reviver situações, que só eu e alguns, tivemos o privilégio de as viver. De resto ninguém acredita.
Mas a vida continua.
Abraço.

Valdemar Silva disse...

É verdade Duarte, ninguém credita.
Evidentemente que nos referimos à rapaziada que andou e sofreu na guerra da Guiné, já que esta rapaziada, de agora e até aos 50 anos, não faz uma pequena ideia do que foi a parte da nossa juventude passada na guerra da Guiné.
Pois, esse furriel que foi connosco a Sonaco era uma figura estranha do género 'eu é que sei'. Julgo que ele era miliciano da especialidade de Informações tinha uma série de caçadores nativos informadores e grandes amigos em Sonaco. Passava pouco tempo no nosso Quartel e não sei se estava estrategicamente colocado naquela zona de 'pouca guerra' para poder obter informações 'estilo espião' e que Sonaco fosse Estoril 1939-45 lá do sitio. O Monteiro não gostava dele, parece que o interpelava com conversas à 'sacadura da pide'. Seria bom ele estar, agora, de boa saúde a ler o nosso blogue, para nos esclarecer estas duvidas.
De resto, é inesquecivel aquele dia em que fomos à praia a Sonaco.
Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, saca lá essa história ao Renato Monteiro... A história do furriel de Rec nf... Eu também vou meter a minha cunha... Não devo tê-lo conhecido, a ser verdade que ele andava sempre fora pelas tabancas e pelo mato a em operações de "reconhecimento e informações"...

Havia gajos que levavam aquilo a sério... Gajos competentes, dedicados, empenhados, que não brincavam em serviço... A espionagem e contra-espionagem devem ser coisas viciantes em todos os tempos e lugares... No fundo é assim: "Eh, pá, ponham-se a pau, que eu trabalho para a secreta"...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

QAtenção: conheci gajos fixes, bons camaradas, de Rec Inf. como o nosso grã-tabanqueiro, de Esposende, Mário Miguéis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72)---

Um grande abraço para ele. Luís

Anónimo disse...

Já tinha escrito antes nas fotos em que estava em cima duma vaca que fomos comprar a Sonaco, desde Nova Lamego, e agora com esta conversa toda, me lembro vagamente que fui com um pequeno grupo no qual se incluía o nosso Vago-mestre, o Furriel X). E fui por minha iniciativa e porque já devia saber que não acontecia nada na viagem, eram tudo bons rapazes. E assim entrei no nosso aquartelamento a cavalo numa «vaca» quando eu tinha escrito na foto que era um burro, e o Luis veio a confirmar que era uma vaca, pois com o zoom viu que as «ventas» eram de vaca e não de burro. Nunca mais esqueci que cavalguei uma vaca, eram só ossos.

Ossos do oficio, digo eu!

Virgilio Teixeira

Anónimo disse...

Conforme mandam as regras, e sem fazer Juízos de Valor, também posso mandar aqui uma achega, de entre muitas que teria para contar, mas tenho de salvaguardar o bom nome das pessoas e unidades.
Sendo eu um alferes miliciano do SAM ( Serviço de Administração Militar) era por natureza, e devia ser no serviço, apenas um administrativo, com peso na minha função, e nunca um meio operacional, ou seja lá o que deve ser o nome.
Em S. Domingos, no final de 68, já o nosso querido comandante de batalhão tinha sido evacuado quase sem pernas, estávamos já a mais de meio da comissão, ficamos ao sabor de dois Majores, um passou a 1º comandante e o outro a 2º comandante. Era este o meu principal inimigo e não os Turras. Quem ficou a ganhar fui sempre eu, pois ele não tinha 'peso' para lidar comigo.

Sempre, durante toda a comissão, fiz serviços que nunca devia ter feito, já está quase tudo contado nos Postes destes dois anos, Oficial de dia mais de uma vez por semana, colunas de reabastecimentos, quer por terra ou por rio, rondas ao aquartelamento, sempre eu como comandante da passarada que sabia mais do que eu. Umas vezes fui 'mobilizado' mas a maioria ia mesmo por minha conta e risco e não dizia a ninguém tinha uma autonomia quase ilimitada, face ao Pacto Secreto com o meu Presidente do Conselho Administrativo, de Não Agressão.
Um dia fui mesmo destacado para a minha primeira ronda ao aquartelamento, na zona de S. Domingos, com um pelotão de homens já batidos quanto baste, dos chamados operacionais.
Como a maioria deve saber, isto não era uma operação, eram uns quilómetros a pé a fazer a ronda que a maioria já sabia de cor. Mas se aparecia o IN aquilo era uma operação, e que fazia eu então? Não sei, nem nunca vou saber.
Andadas umas centenas de metros ou até mais, alguém, ou Furriel ou Cabo ou Soldado, vira-se para mim em certo sitio, e diz, que podemos ficar por ali à sombra da bananeira, deixar passar o tempo, e depois regressar como se estivéssemos cansados. Eu não me lembra francamente o que disse, sei que insistiram que era assim o normal com os 'outros alferes'.
Não devo ter dado importância e continuamos a seguir o trilho conforme mandava no mapa, até porque eu queria conhecer 'in loco' o tal mato de que se falava sempre, não houve encontros do 3º grau, e assim chegamos sãos e salvos para tomar banho e ir jantar.
Não coloco nomes nem locais, e isto aconteceu mais vezes, comigo, e naturalmente com todos os outros ficaram na sombra do Poilão.
Agora que se abre esta 'caixa de Pandora' tenho muitas cenas, que nunca me esquecem, são de tão baixo nível militar que até me enojam e tenho vergonha de haver militares, especialmente do QP,com atitudes tão medrosas, para não dizer 'merdosas'.
Não sei se voltarei a aflorar estes assuntos, eu tenho tudo escrito, mas fica para mim e para os meus descendentes, porque os textos têm lá tudo, em especial,os locais as situações, os nomes de todos os protagonistas, e isso é coisa grave, ou talvez não tão grave, seria mais normal, penso eu agora.

Virgilio Teixeira




Anónimo disse...

errata:

não queria dizer 'ronda' mas sim 'patrulha'

virgilio teixeira