1. Os nossos camaradas Constantino Ferreira d'Alva, ex-fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala Mampatá, 1969/71) e António Graça de Abreu ), ex-alf mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), estão a escrever o seu "diário de bordo", nesta viagem de volta ao mundo. O MSC - Magnífica teve, entretanto, de apressar o seu regresso ao ponto de partida (, Marselha), devido à pandemia de COVID-19.
Publicamos hoje a mensagem do António Graça de Abreu, enviada em 17/04/2020 à(s) 21h38
Em navegação, Mediterrâneo Oriental, 16 de Abril de 2020
Ontem, saímos do Canal do Suez, em Port Said, já com o cair da noite, eu vim para o meu camarote e estranhei o facto de o navio ter praticamente parado durante quase uma hora, no meio de uns tantos petroleiros que aguarvam a entrada no Canal.
Que se passava? O barco retomou a navegação a boa velocidade, 20 nós, 38 kms por hora. Estranhei. No mapa do itinerário do Magnifica, que temos no ecrã dos televisores nos nossos quartos, e que fornecem estes dados, vi que o navio, em vez de seguir para oeste, em direcção a Marselha, avançaava para leste, rumo a Israel.
O que e que estava a acontecer? A resposta foi-nos dada pela instalação sonora, em mensagem do comandante. Tínhamos uma pessoa em perigo de vida a bordo, a necessitar de imediata hospitalização. Foi pedido às autoridades egípcias de Port Said, autorização para o desembarque do passageiro e encaminhamento para um hospital. Sem sucesso, recusaram. Foram os israelitas quem se mostraram dispostos a acolher o doente grave. O nosso navio rumava para Haifa, Israel, a fim de desembarcar o francês, companheiro de viagem, que lutava contra a morte.
No final da comunicação do comandante, somos informados que a doença do passageiro não tem a ver com a Covid-19. Sossegamos. Quarenta e cinco minutos depois, jáde noite, tínhamos um helicópetro israelita a voar por cima do Magnifica, a descer, a içar o doente numa maca, a levá-lo para um hospital em Israel.
Isto testemunhei eu, assisti a quase todo o processo. Uma hora depois ouço de novo o barulhão do helicópetro parado ao lado do navio. Permaneceu a roncar durante uns dez minutos e depois voou alto no céu negro, de regresso a Israel. Nao entendi o que veio outra vez cá fazer, não entrou ninguém no aparelho.
Hoje de manhã, um português que tem o camarote no 14º andar, mesmo ao lado do local onde içaram o passageiro francês para o heli israelita, deu-me uma explicação possível. Os israelitas vieram pela segunda vez buscar a esposa do francês, mas a senhora estava completamente embriagada, passeava-se pelos corredores dos camarotes do 14º andar tropeçaando em tudo o que encontrava pela frente, com uma garrafa de vinho, vazia, na mão. Nao quis entrar no helicópetro, nem era possível metê-la lá, à força. O heli foi embora.
A passageira francesa continua no Magnifica e dizem-me que hoje a viram, no 5º andar, na recepção, pálida, completamente apática, olhando o vazio. Que tera acontecido ao marido, ou ao companheiro de viagem?
A vida não está fácil para este velhinhos, as emoções fortes sucedem-se. O filme de suspense só terá fim daqui a mais alguns dias.
António Graça de Abreu
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Último poste da série > 16 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20860: "Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira & António Graça de Abreu) (9): Em navegação, no Mar Vermelho: "não acredites em nada antes de ver e, depois de ver, continua a não acreditar"... E um momento de grande emoção, na Sexta Feira Santa!...
6 comentários:
Caro José Belo
Depois de ter tido o prazer de ver no YOUTUBE o Fado Bicha- Namorico do André- aproveito para o nomear meu Diretor Espiritual,de ontem,hoje e sempre.
Ab.Manuel Teixeira
Sr.Manuel Teixeira
Estou-lhe muito grato pela promocäo (imerecida) a Director Espiritual.
Só receio que tal título inesperado venha a arrastar (enganosamente!) até aqui algumas "Irmäzinhas da Caridade" que sempre surgem nestes comentários de empedernidos ex-combatentes V.C.C.
(Velhinhos como o c.....)
Mas essa do ontem,hoje e sempre....gostei!
José Belo
Estive a pensar melhor, com renas ou sem renas, com bichas e pirilaus, eu nao sou homofobico, sou mais renofobico.
Pensando bem, cada um mete-se na bicha que muito bem entendende, ou que esta mais a jeito. Aproveita, esta no seu plenissimo direito. Pirilaus ao vento tambem sao para cada um aconchegar onde mais gostar.
Pensando ainda melhor, tambem nao sou renofobico, os renos e as renas, uns com pirilau, outras sem, com traseiros apetitosos (ja comeram um afiambrado de rena? Experimentem, e delicioso!) tambem tem direito a vida.
Abraco desde Marselha. Amanha vou para Portugal. Vamos fazer bicha de pirilau para entrar no autocarro. Disseram-me que sera eficaz para afastar o coronavirus, em Franca e Espanha. Em Portugal, usa-se mais a mascara.
Abraco,
Antonio Graca de Abreu.
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