domingo, 18 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23892: Direito à indignação (15): A homenagem do Presidente da República Portuguesa a Amílcar Cabral, no passado dia 10, no Mindelo




1. O poste P23865, de 11 do corrente, deu origem a cerca de duas dezenas e meia de comentários (*).

A origem dos comentários, na maior parte de repúdio e indignação,  esteve na notícia da homenagem a Amílcar Cabral, por parte do Presidente da República Portuguesa. Recorde-se aqui a notícia (lacónica) publicada na página oficial da Presidência:

Presidente da República em homenagem a Amílcar Cabral
10 de dezembro de 2022


O Presidente da República participou, na Universidade do Mindelo, em Cabo Verde, na Cerimónia de Doutoramento Honoris Causa, a título póstumo, de Amílcar Cabral.

Acompanhados pelo Reitor da Universidade, instituição que comemora este ano o seu 20.º aniversário, o Presidente da República e o Presidente da República de Cabo Verde, José Maria Neves, integraram o cortejo académico e foram recebidos por estudantes na entrada da Universidade.

Já no auditório Onésimo Silveira, onde decorreu a cerimónia, o Presidente da República, após ter feito o discurso de elogio académico ao homenageado, agraciou, a título póstumo, Amílcar Cabral, com o Grande-Colar da Ordem da Liberdade, tendo entregado as insígnias ao Presidente da Fundação Amílcar Cabral e antigo Presidente da República de Cabo Verde, Pedro Pires.


2. Damos o devido relevo  aos comentários dos nossos camaradas e leitores (**):

(i) António Graça de Abreu:

Porque há valores e dignidade, e porque deveria haver respeito pelos nossos mortos, de ambos os lados da guerra, recordo:

O chefe supremo do PAIGC chamava-se Amílcar Cabral, tão querido e dado como exemplo de grande líder africano por algumas pessoas deste blogue, Mário Beja Santos, etc.,e hoje por Marcelo Rebelo de Sousa. 

O meu comentários ao post 21000, a 23 de Maio de 2020, sobre o cobarde assassinato dos três majores e do alferes do meu CAOP 1, em 1970, que foram desarmados ao encontro dos guerrilheiros, numa missão de paz, mortos a tiro, os corpos retalhados à catanada, leio, nos documentos do PAIGC:

Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra, em 11 e 13 de Maio de 1970, manuscrita por Vasco Cabral. Membros Presentes: Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral, João Bernardo Vieira (Nino), Osvaldo Vieira, Francisco Mendes, Pedro Pires, Paulo Correia, Mamadu N'Djai [Indjai], Osvaldo Silva, Suleimane N'Djai. Secretário: Vasco Cabral.

Amílcar Cabral – "Este acto foi um acto de grande consciência política e um acto de independência. Foi um acto de grande acção e de capacidade dos nossos camaradas do Norte. É a primeira vez que numa luta de libertação nacional se mata assim três majores, três oficiais superiores que, nas condições da nossa luta, equivale à morte de generais." (...)
 
Que nos valha Marcelo Rebelo de Sousa.

11 de dezembro de 2022 às 16:26

(ii) António J. P. Costa:

Qual vai ser a reacção de uma associação de ex-combatentes perante um atitude destas?
Seja ela qualquer for,  gostava de saber em que se fundamenta.

11 de dezembro de 2022 às 18:10

(iii) Antº Rosinha:


"...Cerimónia na qual participaram os chefes de Estado de Cabo Verde e de Portugal, José Maria Neves e Marcelo Rebelo de Sousa, e o presidente da Fundação Amílcar Cabral (FAC) e ex-Presidente cabo-verdiano Pedro Pires".

Umaro Sissoco Embaló, actual presidente da Pátria de Amílcar Cabral, não foi convidado? 

Rui Semedo (PAICV) e Domingos Simões Pereira (PAIGC) não fazem nenhuma falta para a história ficar mais completa ?

Claro que o nosso Presidente, quando diz que,  por uns meses, Amílcar não foi presidente, não se devia referir a Cabo Verde, porque nas colinas do Boé foi declarada a independência apenas da Guiné Bissau, em 24 de Setembro de 1973, nove meses após o seu assassinato.

11 de dezembro de 2022 às 18:44

(iv) Ramiro Jesus:
 
Ainda bem que as mães dos que morreram ou vieram estropiados da Guiné, já poucas cá estarão e muitas das vítimas directas também já partiram.

Como já lembrou o Graça de Abreu e eu aplaudo - pois também pisei a parada do CAOP1, que tinha o nome desses três majores cobardemente assassinados - considero esta condecoração uma traição.

Tenho até a impressão de que, se cá estivesse, até o progenitor do nosso Comandante-Chefe sentiria vergonha ou, pelo menos, algum incómodo com esta atitude.

Enquanto sofrermos de tantos complexos ninguém respeitável nos respeitará! (..:)

11 de dezembro de 2022 às 18:52

(v) Carlos Gaspar:

Vivemos tempos em que vale tudo, ou seja já nada, vale nada.A não ser ficar na fotografia, mesmo que se fique mal perante a história.

Subscrevo as opiniões de Ramiro Jesus, António Graça de Abreu António Pereira Costa e António Rosinha.Estamos de luto. Já no passado recente o mesmo actor correu para os braços de Fidel, sem querer saber dos que sofreram ou morreram por acçâo dos agentes de Fidel na Guiné e em Angola, Cabinda.

11 de dezembro de 2022 às 20:26

(vi) Benjamin Bacelar:

Quando ouvi a notícia fiquei mesmo muito indignado. Para quando é que este presidente reconhece que existem Antigos Combatentes ?!
 
11 de dezembro de 2022 às 21:29

(vii) José Belo:

Pode-se respeitar o inimigo (!) (... sem necessidade de rebaixamentos complexados perante o mesmo). E, ao mesmo tempo ,desvalorizar o sacrifício supremo de alguns, arrastados por forças políticas que em tudo os ultrapassava.

São estas vergonhosas “valorizações” que separam os oportunismos políticos de alguns,de todos os outros que nas guerras de África participaram e….sofreram!

Desnecessários rebaixamentos efectuados (em nome dos portugueses) por quem os representa instuticionamente. Políticos actuais então beneficiadas por resguardadas, e convenientes,”retaguardas” do governo da ditadura.

Traz à memória uma exclamação de personagem histórica do século passado ao referir um certo tipo de portugueses:

- Que choldra! 

11 de dezembro de 2022 às 22:07

(vii) Valdemar Queiroz:

"....o primeiro dia da visita oficial a Cabo Verde, Cavaco Silva foi agraciado com o primeiro grau da Ordem 'Amilcar Cabral', uma condecoração que selou o entendimento entre os dois povos e que levou Cavaco Silva a participar nesta segunda feira nas cerimónias...."

Não sei se por razões editoriais, em julho de 2010, no nosso Blogue nem uma palavra sobre o assunto da visita de Cavaco Silva a Cabo Verde. Provavelmente em julho de 2010, a música era outra ou não era 'à la mode'.

12 de dezembro de 2022 às 00:31

(viii) Eduardo Estrela:

Pois..... Deve ter sido isso, Valdemar!... Questões do âmbito editorial.

12 de dezembro de 2022 às 07:39

(ix)António J. P. Costa:

Peço desculpa por ter pedido uma reacção deste blog/associação de ex-combatentes perante a atitude do presidente Marcelo. De mais me valeria ter ficado calado...

De qualquer modo gostava de saber se o blog toma uma atitude e qual, sendo certo que lhe deveria ser chamada a atenção para a acção do "Homem Grande" da qual resultaram 9.000 mortos e um número elevado de pessoas a quem falta um bocado do corpo (ou do espírito) e com os quais ele se cruza(?) quando vai à pastelaria tomar a meia de leite antes de anunciar que se vai candidatar ao 2.º mandato. E até pode ser que alterem a constituição e ele faça um 3.º mandato...

12 de dezembro de 2022 às 09:43

(x) Carlos Vinhal:

Camarada Valdemar Queiroz: Na minha opinião, uma coisa é o Prof. Cavaco Silva ter sido, durante uma visita oficial a Cabo Verde, agraciado com da Ordem (cabo-verdiana) Amílcar Cabral, outra, bem mais grave pelo menos para nós Antigos Combatentes, é o Prof Marcelo Rebelo de Sousa ter-se deslocado a Cabo Verde para agraciar postumamente Amílcar Cabral com a Ordem (portuguesa) da Liberdade.

Aos olhos de hoje, estivemos na Guiné combatendo contra aquele povo que lutava pela sua liberdade. O nosso PR, ao agraciar Amílcar Cabral, está, como agora é moda, a pedir desculpa e a reparar moralmente os males que infligimos a coberto do regime anterior.

No meio disto tudo, qual foi então e qual é agora a nossa posição, enquanto Antigos Combatentes? O que fomos ontem e o que somos hoje? É isto que devemos discutir no Blogue e não andarmos aos "tiros" uns aos outros.
 
12 de dezembro de 2022 às 11:40

(xi) Eduardo Estrela:

Longe de mim qualquer ideia de alfinetar quem, com tanto esforço dedicação e entrega, tem contribuido ao longo de todos estes anos para a memória colectiva de Portugal, deixando um legado extraordinário para as gerações futuras.

Quando fiz menção a questões editoriais, foi no sentido de dizer que há assuntos que muito provavelmente não deveriam ser abordados no blogue, em respeito aos princípios que o norteiam de não se discutir religião política e clubite desportiva.

Penitencio-me por eventuais mal entendidos e apresento aos camaradas Luís Graça e Carlos Vinhal as minhas desculpas, extensivas ao resto dos intervenientes no blogue.
 
12 de dezembro de 2022 às 11:46

(xii) Manuel Luís Lomba:

Com ou sem contradições - e contraditórios - a história não se reescreve! Amílcar Cabral nasceu e morreu português, logo foi um libertador português, merecedor da condecoração da Ordem da Liberdade: Libertou Portugal da Guiné....

O libertador de Cabo Verde não foi Amílcar Cabral - foi o MFA! Na libertação de Cabo Verde, o PAIGC nunca deu um tiro, nunca fez um prisioneiro: O MFA deu tiros e fez prisioneiros...

12 de dezembro de 2022 às 12:39

(xiii) Abilio Duarte:

(...) Não estou de acordo, com o que o Presidente Marcelo fez...ponto. Não é desta maneira, que se branqueia tanto sofrimento.

12 de dezembro de 2022 às 16:50

(xiv) Valdemar Silva:

Meu caro Carlos Vinhal, no que eu me fui meter. Na verdade, e atiro-me pró chão, esqueci-me de escrever o que escrevi, por forma a não deixar dúvidas quanto ao não querer referir a tua intenção ou do Luís Graça na publicação deste poste. Note-se, quanto à intenção, de trazer à nossa Tabanca o tema 'vejam o que o Marcelo foi fazer'.

Como entendo, que estas questões são levadas para a política partidária, dá sempre azo a pontos de vista, que por isso até são conforme a "música" do momento.

Com certeza todos sabemos quem foi Amilcar Cabral, ele e todos os do PAIGC, que nos atacaram quando estivemos na guerra longe da nossa terra.(e podia desenvolver sobre os culpados de ter havido uma guerra mais de dez anos).

O exemplo que apontei, por não ter tido a mesma clave de dó, quanto a outro presidente ter ido a Cabo Verde, poderia ter feito o mesmo com Mário Soares e Jorge Sampaio, que quando foram em visita não disseram 'não me falem no Amilcar por causa daqueles majores'.

Mas porque os majores, quando todos dias Amilcar ou outros do PAIGC diziam 'mais uns colonialistas foram mortos pelos nossos valentes combatentes'? Já não falando das condecorações de Angola e Moçambique.

Por ser 'à la mode', provavelmente estará ou estarão a ser contactadas as Assembleias Municipais, respectivas, para picaram as placas toponímicas de Amilcar Cabral, em ruas ou praças de várias localidades do país. Quanto ao resto, meu caro Carlos Vinhal, a enaltecer a tua dedicação:

(...) Quanto abrires o teu armário
das surpresas imprevistas,
não desistas, não desistas.
E se encontrares dentro dele
farrapos velhos, desbotados,
desdenhados. Não desistas.
E se vires viscosa aranha
com peçonha no seu ventre,
olha pra ela de frente
que ela passa sem tocar-te.
Não desistas, não desistas.

(poema muitas vezes dito pelo meu amigo e nosso camarada Renato Monteiro)

12 de dezembro de 2022 às 18:11

(xv) António J. P. Costa:

O blog é, suponho eu, uma associação de ex-combatentes. Já foi perguntado aos ex-combatentes afinal o que queriam. A resposta foi simples e complexa ao mesmo tempo: Respeito.

Depois vieram aquelas "benesses" de que todos desfrutamos e que aceitamos sem contestar.
Mas isto a que se assistiu passou das marcas. Não é necessário fazer grandes esforços de memória. Basta recordar os que morreram ou ficaram com um bocado do corpo (ou do espírito) a menos por se terem agrupado connosco sob o mesmo número de unidade militar. Não é sequer necessário procurar as mortes ou os ferimentos mais "relevantes" e que não esqueceremos. Sabemos que os dolorosos factos ocorreram e é isso que é suficiente para se tornar imoral a atribuição de condecoração da Ordem da Liberdade ao Chefe do Inimigo, pelo Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa e com um discurso verdadeiramente inaceitável em que as "frases bombásticas" e laudatórias atingem a ofensa.

Já disse que perdi a guerra, mas temos de concordar que o presidente do meu pais (democraticamente eleito), vir a público louvar o chefe dos inimigos é uma desconsideração é um desrespeito para com todos os que deram o seu esforço durante onze anos na guerra da Guiné.(...)

13 de dezembro de 2022 às 13:01

(xvi) Valdemar Queiroz:

Isto é tudo muito bonito, como diria o outro. E acrescentava:

- 18-06-1990: Nino Vieira em Portugal é recebido pelo 1º. Ministro Cavaco Silva
- 01-07-1996: Nino Vieira visita Portugal é oferecido um banquete com as principais figuras
do Estado
- 1999 a 2005: Nino Vieira viveu em Portugal.

Quantos portugueses teriam morrido por ataques dirigidos por Nino Vieira ou até por ele próprio?

Os tempos eram outros, calhando a clave de dó não se percebia e nem sequer havia música.
Agora só falta chamar nomes aos camaradas que vão à Guiné como cooperantes e que vão sempre abraçar antigos INs, do PAIGC, que várias vezes lhes atacaram o Quartel.

(xvii) Carlos Vinhal

Caríssimo Valdemar Queiroz: Em 18/06/1990, o Presidente da Guiné-Bissau, Nino Vieira, foi recebido pelo Primeiro-Ministro de Portugal, Prof Cavaco Silva e pelo Presidente da República Portuguesa, Dr. Mário Soares. Em 01/07/1996, o Presidente da Guiné-Bissau, Nino Vieira, esteve em visita oficial a Portugal. Entre 1999 a 2005, Nino Vieira esteve a viver em Vila Nova de Gaia na qualidade de refugiado da Guiné-Bissau.

Em Dezembro de 2022, o nosso Presidente desloca-se expressamente a Cabo Verde para condecorar, postumamente, com a Ordem da Liberdade, o fundador do PAIGC, Amílcar Cabral, a quem esta condecoração não aquenta nem arrefenta. Qual terá sido o motivo desta distinção? Por que não foi explicada? Acho até que se fez um silêncio ensurdecedor em volta desta viagem relâmpago e do seu motivo principal.

14 de dezembro de 2022 às 19:51

3. Acrescente-se mais dois comentários que nos chegaram por email ou Formulário de Contacto do Blogger:

(xviii) António Carlos Morais Silva (através do Formulário de Contacto do Blogger,  em 17/12/2022, 22:47):

O 'homem grande' Amílcar Cabral", disse ainda o chefe de Estado, ao anunciar a entrega à família do Grande Colar da Ordem da Liberdade "em nome de Portugal". "Como esperar um dia mais para prestar uma homenagem por tanto tempo adiada?"

Assim se desonra a memória dos 1127 expedicionários Mortos em Combate nas terras da Guiné. Amparado no grande Miguel Torga repito: “Somos, socialmente, uma colectividade pacífica de revoltados”

(xix) Morais Silva, por mensagem de hoje, às 11:25:


Por ser leitor do blog https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com, sei que Mexia Alves é um ex-combatente (Guiné). Também eu não aceito que se condecore o Chefe Inimigo responsável pela morte de 1127 expedicionários, Mortos em Combate na Guiné, entre os quais uma dezena dos meus subordinados.

Marcelo é um populista que em cada 24 horas transforma a presidência num circo. Condecorar, em nome da República, quem destruiu/destrói a vida dos Nossos só merece o desprezo de quem combateu em África e não renega o que fez nem ensaia tardios e cobardes actos de contrição.

7 comentários:

António Martins Matos disse...


Não percebo tanta excitação com este caso.
Amílcar Cabral lutava com palavras, nunca me apontou o cano de uma arma.
Nino Vieira tentou matar-me inúmeras vezes, matou muito dos nossos amigos.
Foi agraciado com o Grande-Colar da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada de Portugal a 1 de Julho de 1996, condecoração dada pelo Presidente Sampaio.
Não me lembro de alguém ter protestado.
Em 1999 a Força Aérea efectuou uma missão de alto risco, a sacar o senhor da Embaixada de Portugal em Bissau, antes que o esquartejassem (o que aconteceu mais tarde). Um Falcon, um C-130, paraquedistas bem armados para a segurança no aeroporto. Sei bem disso, fui eu que coordenei a missão.
Não me lembro de alguém ter protestado.
AMM

José Botelho Colaço disse...

Adorei o comentário penso que é do Tenente General António Martins de Matos.

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

Tempestade num copo de agua ?!?!?!....

Pessoalmente, nao vejo incoerencia nesta homenagem ao lider do PAIGC, Amilcar Cabral, um Portugués que lutou contra um regime que, alegadamente, nao so oprimia os povos sob o seu dominio ultramarino, mas também oprimia o povo Portugués.

Se quisermos ser mesmo rigorosos nesta analise, vemos que grande parte dos ex-combatentes que se encontravam nos territorios em guerra (Guiné-Angola-Moçambique), particulkarmente no caso da Guiné, ja o teriam feito entre o periodo de 25A74 e 10SET74, isto é muito antes das negociaçoes formais e antes do reconhecimento oficial da independencia do territorio.

Houve confraternizaçoes, algumas autorizadas, outras nem por isso, que nos assistimos um pouco por toda a Guiné, estupefactos e incredulos. Na minha serie de "memorias de infancia" e referindo-se a este periodo escrevi: "Pela primeira vez, na historia dos conflitos armados, a parte derrotada estava mais satisfeita do que a parte vencedora".

Ainda hoje, no leque dos meus amigos portugueses, eu me confronto com alguns ex-combatentes que, apesar dos pesares que todos conhecemos, continuam a nutrir uma grande estima e admiraçao pelo PAIGC e seus militantes como se a Guiné estuvesse parada no tempo e nao pudesse haver alternativas crediveis a este movimento dos anos 60 que, apesar da retorica ideologica ja completamente falida e vazia de conteudo, herdada dos patriarcas, ja demostrou todos os seus limites e incapacidades para unir e desenvolver o nosso pais como era o sonho dos fundadores.

Se os ex-combatentes foram capazes de o fazer ainda no calor da guerra, com o cheiro da polvora e o ruido das explosoes das minas ainda no ar, porque razao os representantes do Portugal de hoje, passado mais de meio seculo depois, nao o podem fazer em nome da memoria colectiva, da paz e reconciliaçao entre os povos com laços historicos comuns e indissociaveis, rumo ao futuro ???

Eu estou indignado com a indignaçao desnecessaria e descabida.

Haja paz e espirito positivo,

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé


antonio graça de abreu disse...

Excitação, meu caro António Martins de Matos. Guerra é guerra, um banquete de quem, na nossa Guiné, na Guiné deles, despeja a sua artilharia sobre as NT e nós respondemos com os FIATS, atacar, matando. O mesmo, com o IN, que não tinha aviões.
Mas capturar três majores desarmados, mais um alferes e dois intérpretes, que iam em busca de conversações de paz, dar-lhes um tiro na cabeça, retalhar os corpos à catanada, é outra história. É triste, Marcelo Rebelo de Sousa conceder a Ordem da Liberdade ao chefe do guerrilheiros que elogiava estes crimes de guerra cometidos seus combatentes. Não entendes, Cherno Baldé, António Martins de Matos?

Acta informal das reuniões do Conselho de Guerra, em 11 e 13 de Maio de 1970, manuscrita por Vasco Cabral. Membros Presentes: Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral, João Bernardo Vieira (Nino), Osvaldo Vieira, Francisco Mendes, Pedro Pires, Paulo Correia, Mamadu N'Djai [Indjai], Osvaldo Silva, Suleimane N'Djai. Secretário: Vasco Cabral.

Amílcar Cabral – "Este acto foi um acto de grande consciência política e um acto de independência. Foi um acto de grande acção e de capacidade dos nossos camaradas do Norte. É a primeira vez que numa luta de libertação nacional se mata assim três majores, três oficiais superiores que, nas condições da nossa luta, equivale à morte de generais." (...)

A Ordem Portuguesa da Liberdade, o ajoelhar de um Presidente da República.

Abraço,

António Graça de Abreu

Morais Silva disse...

Ninguém protestou onde? Aqui? Não há só este canal para protestar... Mas, ainda que assim fosse, isso é motivo impeditivo de protestar agora?

Valdemar Silva disse...

Ah! Cherno Baldé, Cherno Baldé.
Será, e assim tão bem explicado, não se compreender o que tu escreves?
Mas, e até por causa com lacónico Comunicado da Presidência da República, podemos entender que o Prof. Marcelo quis aproveitar aquela oportunidade para o seu habitual mergulho no mar em dia do seu aniversário. A água do mar em Cascais estava muito fria para a sua idade.
Só não sabemos se foi ou se fez convidado para a cerimónia do 20º. Aniversário da Universidade de Cabo Verde, que prestava homenagem a Amílcar Cabral.
Agora, para música à la mode ser um dramma bernesco falta aquela do ".....e à custa dos impostos de pessoas de bem" em clave de dó.
E, não faltará à la mode proibir viagens de férias de avião ou navios de cruzeiro a Cabo Verde por a sua Universidade fazer homenagens a Amílcar Cabral.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz Embaló

Eduardo Estrela disse...

Quando do 25 de Abril de 1974, havia já 3 anos que tinha regressado da Guiné. A maior alegria que tive foi ter percebido que com o movimento militar em curso a guerra iria fatalmente chegar ao fim e os transportes de carne para canhão acabariam.
Quem por lá andou largando a alma e a pele não desejava que aquele tormento continuasse.
Imagino pois a felicidade dos camaradas que nessa época lá estavam, quando começaram a acreditar que o martírio iria chegar ao seu termo.
" pela primeira vez, na história dos conflitos armados, a parte derrotada estava mais satisfeita do que a parte vencedora "
Grande verdade Cherno!
Não obstante o conflito ter terminado há 48 anos, continuam os bombardeamentos.
Boas Festas
Abraço e muita saúde
Eduardo Estrela