segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3903: A Companhia de Cmds do CTIG, 1965/66. Artigo do General Garcia Leandro na Revista Mama Sume(Virgínio Briote)




Cópia da capa da Revista Mama Sume, Revista da Associação de Comandos. Revista nº 69, 2ª Série, Janeiro a Junho de 2008. Preço €5.



Sumário da Revista Mama Sume.


Com os nossos agradecimentos e a vénia devida ao General (R) Garcia Leandro, autor do artigo que transcrevemos a seguir e ao Dr. Lobo do Amaral, Presidente da Associação de Comandos.



A Companhia de Comandos do CTIG e o seu final


A minha passagem pela Companhia de Comandos do Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG) deu-se entre 20 de Fevereiro e 30 de Junho de 1966, sendo o seu Comandante quando se procedeu ao seu encerramento.

Todo este processo de uma enorme responsabilidade para um Capitão com 25 anos foi depois absorvido por uma vida muito activa e diversificada pelo que raramente falo dele.

Só agora, General reformado e com 68 anos, venho fazê-lo por grande insistência do Lobo do Amaral, para que escreva para a excelente Revista “MAMA SUME”, e pelo apoio, grande amizade, memória e documentação do Virgínio Briote, na altura Alferes Miliciano, Comandante do Grupo de Comandos “Diabólicos”.


A necessidade de fazer a reconstituição histórica

Devo responder a este desafio que é também uma obrigação face à necessidade de ajudar à reconstituição histórica dessa época e dessas Forças Especiais. Acresce que se estes testemunhos vividos não forem dados, ninguém saberá o que passou, até porque esta Companhia foi criada por decisão do CTIG, embora com conhecimento do EME.

Será preciso fazer o enquadramento histórico e explicar a sua sequência pessoal e na Guiné. Tendo eu de trabalhar com a Companhia e na sua recuperação estrutural e operacional em situações de grande risco, tinha também de o fazer com o QG do CTIG, com o qual me relacionava directamente.

Os meus problemas residiram essencialmente aqui. Eram tempos muito difíceis para todos. Com muito entusiasmo conseguiram-se resolver muitos problemas, outros foram esquecidos, mas a história toda só a conheci muito tarde. Depois desta introdução é preciso contar os factos, que aparecem completamente claros no meu Relatório de Posse de Comando e no Relatório Final que o Briote guardou e que serviram de apoio para este texto.

Como surgiram os GrsCmds na Guiné

Os Comandos na Guiné nasceram em 1964 com o Major Correia Diniz e com o Centro de Instrução que arrancou em 23 de Julho, dentro de Brá, então com um grande Campo Militar. O processo era copiado do de Angola, que em 1963 tinha o Centro de Instrução de Comandos na Quibala do Norte.

Em finais deste ano, um grupo de Oficiais e Sargentos do CTIG esteve em Angola para conhecer como se deveria montar toda esta máquina de instrução e operacional. Em princípios de 1964 já os primeiros Comandos da Guiné tomaram parte na Operação Tridente na Ilha do Como.



Na Quibala do Norte, Angola.

Em Angola, em 1963, os Batalhões enviavam para aquele Centro de Instrução efectivos de praças superiores ao de Pelotão que depois do período de instrução e selecção regressavam ao seu Batalhão como Grupo de Comandos de cinco equipas com cinco elementos cada, comandadas por um subalterno e quatro sargentos, para aí serem empregues em operações de maior dificuldade.
Nessa época, na minha primeira Comissão, ainda Oficial Subalterno, no decorrer de uma operação estive cerca de 15 dias na Quibala do Norte, tendo acompanhado essa construção progressiva de que eram responsáveis o Major Santos e Castro e o Capitão Ribeiro de Oliveira. Tal conhecimento e vivência ficaram sempre como minha referência.

Na Guiné tentou-se fazer o mesmo, só que a diferença de efectivos e do Teatro de Operações não permitia o regresso do pessoal à sua unidade de origem.
Assim, após o período de instrução no terceiro trimestre de 1964 com o apoio de pessoal vindo de Angola (o Grupo de Comandos “Os Gatos” do BART 400, comandados pelo Alferes Valente), criaram-se três Grupos de Comandos (Camaleões, Fantasmas e Panteras), no Centro de Instrução de Comandos (CIC), comandado pelo Major Diniz, e que eram empregues à ordem do Quartel-General.


Um processo com enorme fragilidade

Este processo tinha, entre outras, uma enorme fragilidade, pois sendo o pessoal que integrava cada Grupo de Comandos de diferentes Batalhões e Companhias, acontecia que em todos os navios de rendição de tropas havia pessoal que regressava a Lisboa.

Como consequência, os Grupos nunca mantinham grande estabilidade, havendo também a necessidade de realizar mais Cursos para que os efectivos se pudessem manter. Os que davam maior permanência eram os militares oriundos de própria Guiné.

É de lembrar que, tanto em Angola, como na Guiné e depois em Moçambique, antes do levantamento das Companhias de Comandos a partir de 1966 em Lamego, estas Forças eram apenas da responsabilidade dos Comandos Militares locais.

Mesmo depois do início da actividade do CIOE, os Centros de Instrução de Comandos do Ultramar não vieram a encerrar. O CIOE formou Comandos para o CTIG e RMM, enquanto que o CIC/RMA veio a instruí-los para Angola e Moçambique.


A extinção do CIC e o nascimento da CCmds do CTIG

Em meados de 1965 o Major Correia Diniz terminou a sua comissão tendo sido substituído pelo seu Adjunto, Capitão Varela Rubim. Nesta altura o QG decidiu extinguir o Centro de Instrução de Comandos e criar a Companhia de Comandos do CTIG com data de 1 de Julho.

Isto teve uma grande consequência de fundo, correspondendo a uma alteração estrutural e de emprego. Dentro desta lógica era comandada por um Capitão com um Alferes Adjunto mas sem apoio de “staff”. Ele era tudo, num comando com responsabilidades muito acima de uma Companhia normal. Difícil de compreender, mas verdade.

Com o Capitão Varela Rubim foi criado o segundo conjunto de Grupos de Comandos (Apaches, Centuriões, Diabólicos e Vampiros), cuja instrução decorreu de Julho a Setembro de 1965, tendo ficado operacionais a partir do princípio deste mês.

As suas primeiras operações não correram bem, a falta de um apoio administrativo e de planeamento operacional de qualidade agravaram a situação tendo levado a uma rotura entre aquele e o QG.

O Capitão Rubim pediu para sair e ser colocado em qualquer outra Companhia tendo sido destacado para Guileje, uma das mais difíceis zonas operacionais de então.
Entretanto, comandava eu a Companhia de Artilharia 640, localizada no sudeste da Guiné e ocupando dois aquartelamentos, Sangonhá e Cacoca.

A CArt 640 tinha chegado em Março de 1964, tendo tido uma vida operacional inicial muito exigente e difícil. Só a qualidade do nosso pessoal, dos seus Oficiais e Sargentos, explica como pôde aguentar.

Eu apresentei-me em Março de 1965, para substituir o Comandante inicial que havia sido evacuado, já com a situação mais estabilizada, tendo a Companhia apresentado bons resultados operacionais.

Pessoalmente, vivendo no mato, estava muito longe de saber o que se passava em Bissau, cidade que conhecia mal, e muito menos com a Companhia de Comandos. A CART 640 regressou a Portugal em Fevereiro de 1966, tendo eu cerca de um ano de comissão de serviço à minha frente.

Em Janeiro fui chamado ao QG tendo falado com o Comandante Militar, Brigadeiro Guerra Correia, e com o 2º Comandante, Brigadeiro Reymão Nogueira, tendo sido convidado para assumir o comando da Companhia de Comandos, com todo aquele tipo de argumentos que se usam nesta alturas a que, com os meus 25 anos, fui sensível. Era então Governador e Comandante em Chefe o General Arnaldo Shultz.

Desconhecendo a situação existente, tendo como referência o processo de Angola, falei com o Capitão Rubim e apresentei algumas condições que foram aceites pelo Comando e QG do CTIG.

Em resumo, as minhas propostas eram as seguintes:

- Não tendo eu o Curso de Comandos, teria de o ir frequentar a Angola;

- Que o pessoal da Companhia de Comandos, não poderia continuar em Brá misturado com o pessoal de outras unidades e vivendo desarranchado; que deveria ter um Aquartelamento próprio perto de Bissau, ou, no mínimo ser criado um aquartelamento próprio dentro de Brá, com possibilidades de confeccionar alimentação para todo o pessoal;

- Que os quatros Grupos existentes deveriam ser recompletados, pois estavam desfalcados, o que obrigava à realização de mais Cursos de Comandos, e outras questões importantes ligadas com instalações, material e equipamento individual e colectivo;

- Que teria de se feito um grande esforço de moralização do pessoal, que com os antecedentes não se encontrava bem;

- Que precisaria de ter, no mínimo, um Adjunto, na altura inexistente, já que os Alferes que eram de qualidade, só se deveriam preocupar com o seu Grupo de Comandos; já não pensando na parte operacional, existia toda a parte administrativa que teria de ser correctamente tratada. A propósito, é de lembrar que tive de mandar confeccionar em Lisboa o Guião da Companhia que não existia.

Quando se olha para esta lista, que apenas contem o essencial, e se faz a sua interpretação, facilmente se percebe que quem a apresentou estava a pensar no médio prazo e de um modo estrutural que permitisse uma consolidação séria.

Depois da minha nomeação, o processo não decorreu exactamente como havia sido combinado. Fiz, quase em simultâneo, a Comissão Liquidatária da CArt 640 e a entrada na Companhia de Comandos, o que não foi simples.
Obviamente que não fui a Angola, tendo as outras questões, com alguma lentidão e dificuldades burocráticas, sido progressivamente resolvidas.

Recebi um excelente apoio do Batalhão de Engenharia 447, que na altura era comandado interinamente pelo Major Gomes Marques.
Fez-se um 3º Curso de Comandos (em Março e Abril) que permitiu algum recompletamento nos efectivos dos Grupos (2 sargentos e 18 Praças) e a actividade operacional foi grande e com resultados progressivamente melhores.

Comandavam então os Grupos de Comandos os Alferes Briote (Diabólicos), Rainha (Centuriões), Caldeira (Vampiros) e Neves da Silva (Apaches), que se encontrava, à minha chegada, em tratamento médico.

Durante este período, realizaram-se 21 operações com um ou mais Grupos, a maior parte com contacto, isoladamente ou em apoio dos Batalhões por toda a Guiné, fizeram-se as primeiras operações helitransportadas, tendo-se conseguido alguns bons resultados operacionais, nomeadamente nas armas que foram capturadas, e com baixas reduzidas da nossa parte.

Entretanto, e com as rendições de pessoal, havia naturalmente a necessidade de realizar novo Curso de Comandos. Quando fiz a proposta, o curso foi-me recusado. Inicialmente pensei que teria sido um lapso, até ao momento que tomei conhecimento que já estavam em preparação em Lamego as novas Companhias de Comandos Reduzidas com destino aos três Teatros de Operações do então Ultramar, sendo duas atribuídas à Guiné.

Em consequência, na perspectiva local, a Companhia de Comandos do CTIG, criada localmente, iria desaparecer natural e progressivamente, à medida que o seu pessoal terminasse as suas comissões e não fossem realizados novos cursos.

Tudo bem, sendo aparentemente a melhor solução e correspondendo ao reconhecimento que os Comandos, nascidos por iniciativa dos responsáveis militares de cada Teatro de Operações, tinham grande qualidade, eram indispensáveis naquele tipo de guerra e deveriam ser sujeitos a uma preparação à escala nacional, com uma adaptação específica ao Teatro de Operações de emprego.

Mal e doloroso, o eu ter sido convidado para aquelas funções quando os responsáveis locais já tinham conhecimento do que parecia ser a solução definitiva que estava em andamento na Metrópole desde finais de 1965, o que me fora omitido.

Teria sido preferível para todos que me tivessem contado logo a história completa, evitando a omissão de dados importantes para quem tinha aceitado assumir aquela responsabilidade. A realidade futura não permitiu que os CIC do CTIG, da RMA e da RMM tivessem deixado de funcionar.

Assim, a Companhia de Comandos do CTIG foi-se reduzindo para dois e um Grupo, até à chegada da 3ª Companhia de Comandos e mais tarde da 5ª, dos grandes combatentes e excelentes Comandantes, Capitães Alves Cardoso e Albuquerque Gonçalves.



O remanescente daqueles quatro Grupos de Comandos foi integrado nos “Diabólicos”, colocado até finais de Setembro em apoio do Batalhão de Mansoa.

Confronto no QG

Lá tive de fazer mais um Comissão Liquidatária, tendo tido um muito violento confronto com os responsáveis do QG devido à omissão que me havia sido feita, que só não acabou mal para mim devido a toda a razão que me assistia.

Recusei qualquer função no QG e terminei esta Comissão como Oficial de Informações do Comando do Sector Sul, com sede em Bolama.
Nunca mais falei no assunto.

Anos mais tarde, já depois de ter sido Governador de Macau, entreguei o Guião daquela Companhia, com destino ao Museu, quando era Comandante do Regimento de Comandos na Amadora o Coronel Júlio Ribeiro de Oliveira, a quem estava ligado por grande amizade pessoal e respeito profissional.

Ao Militar Português


Uma palavra deve ficar registada ao militar português que naquela altura combateu de um modo único e àqueles que me acompanharam na Companhia de Comandos do CTIG, com dificuldades de toda a ordem, acreditando na missão que nos tinha sido dada, que foi vivida com grande entusiasmo e sentido de responsabilidade.

Um agradecimento especial e amigo deve ficar registado para o Virgínio Briote, sem cuja ajuda documental e apoio adicional este texto nunca teria sido feito, e para o General Ribeiro de Oliveira, que com a revisão feita me permitiu apresentar mais rigor histórico na cronologia e eventos da história geral dos Comandos.

Espero que este despretensioso trabalho seja mais uma peça útil para o levantamento da história das Tropas de Comandos que tão bons serviços sempre prestaram a Portugal.

Lisboa, 13 de Setembro de 2008

José Eduardo Garcia Leandro

Tenente-General (R)

__________


Notas de vb: Os sublinhados, bem como o breve cv do General são da responsabilidade do editor

O Tenente-General José Eduardo Garcia Leandro, nascido em 1940, em Luanda, Angola, cumpriu cinco comissões de serviço no ex-Ultramar, sendo duas em Angola, uma na Guiné, uma em Timor como Chefe de Gabinete do Governador de Timor e foi Governador de Macau entre 1974 e 1979.

No âmbito do ensino foi Professor do IAEM e Professor convidado do ISCSP entre 1999 e 2005, para o Mestrado de Estratégia, sendo actualmente Professor da U.C.P., da U.N.L. e da U.A.L., para Mestrados relacionados com a Segurança, Defesa, Paz e Guerra.

Entre as funções que desempenhou salientam-se as de Conselheiro Militar da Delegação de Portugal junto da OTAN (PODELNATO) Bruxelas, Comandante Operacional das Forças Terrestres, Comandante da Componente Militar da Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sahara Ocidental (MINURSO), Director do IAEM, Vice-CEME, Director do I.D.N. e Presidente do Conselho Coordenador do Ensino Superior Militar.

Representou Portugal em múltiplas reuniões internacionais e tem publicado vários trabalhos e artigos e apresentado diversas conferências em Portugal e no Estrangeiro no âmbito da Estratégia, das Relações Internacionais, da Gestão de Crises, dos Sistemas Colectivos de Segurança e das Missões de Apoio à Paz.

É actualmente Presidente do OSCOT (Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo), Membro do “Academic Council on the United Nations System”, Académico Correspondente da Academia Internacional da Cultura Portuguesa e Membro da Assembleia Estatutária da Universidade Aberta.

Guiné 63/74 - P3902: Expedição Humanitária 2009 (3): Mensagem do Pepito para o Paulo Santiago, o Zé Moreira, o Xico Allen e o Julião Sousa

Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > 15 de Fevereiro de 2009 > Fazer agroturismo no Cantanhez (Foto tirada em 12 de Setembro de 2008) > "Ansumane (ao centro) é um fruticultor de mão cheia. Com os filhos e restante família, tem um pomar em que faz questão de utilizar boas práticas modernas, uma grande diversificação na oferta de produtos (ananás, abacate, mandarina, mango e banana) e…ter contratado um guarda para lhe proteger a fruta da gulosice dos chimpanzés [daris], igualmente grandes apreciadores.

"Fatu, a mulher (lenço alaranjado), de um dinamismo e simpatia inigualáveis, dirige uma unidade de agroturismo onde oferece alojamento para 6 pessoas em bungalows muito bonitos, com grande higiene e água canalizada, para além de ser uma cozinheira de eleição.

"É conhecido e apreciado o seu Gambô, prato feito com folhas de mandioca e molho de mancarra (amendoim), que tem a unanimidade dos turistas que a classificam como valendo a pena a deslocação".


Foto: Cortesia de © AD - Acção para o Desenvolvimento (2009)


1. Resposta, com data de hoje, do Pepito (que está em Portugal até 27 do corrente) ao Paulo Santiago (*):


Paulo: Antes do mais reafirmo-te a total disponibilidade da AD em vos apoiar em tudo o que precisarem em Bissau. Temos uma pequena camioneta que pode ajudar a tirar a mercadoria do porto e colocar onde vocês entenderem. Eventuais contactos com pessoas ou entidades que queiram ver, contem também connosco.

As t-shirts que levas são boas mesmo que tenham publicidade. As crianças das escolas vão ficar satisfeitas. E é isso que interessa.

Dá um abraço meu ao Julião [Soares Sousa]. Prometi e vou cumprir com a minha "conferência" em Coimbra. Ele que me diga sobre que assunto gostaria de me ver falar.

Lá estarei em Bissau para tudo o que for preciso e para conhecer o Zé Moreira. Manda-me o teu nº de telefone para eu na 4ª feira te falar.

abraço
pepito

PS- para o Xico Allen: em que pé está o apadrinhamento da miúda de Cantanhez, a Sabá ?

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 16 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3901: Expedição Humanitária 2009 (2): Mensagem do José Moreira, de Coimbra, para o Pepito (AD - Bissau), em Lisboa (Paulo Santiago)

Guiné 63/74 - P3901: Expedição Humanitária 2009 (2): Mensagem do José Moreira, de Coimbra, para o Pepito (AD - Bissau), em Lisboa (Paulo Santiago)



Apartado 453046-801 TAVEIRO (COIMBRA) / Contacto: E-mail j.moreira@sapo.pt / Telem.: 96 402 80 40

Associação sem fins lucrativos / Matriculada na C.R.C. de Coimbra / NIPC 508 343 461

Parceiro especializado da LIGA DOS COMBATENTES para acções humanitárias


1. Mensagem do Paulo Santiago, remetida ontem ao Pepito, com conhecimento ao nosso blogue (*):

Boa Noite, Pepito:

Acabei de chegar de um jantar na Mealhada, onde o Zé Moreira, da Associação Memórias e Gentes, me pediu para te enviar uma mensagem que especifico mais à frente.

Este jantar de hoje serviu para alguns dos amigos de Coimbra darem algumas dicas aos amigos do Porto [, da Tabanca de Matosinhos,]que também seguirão na Expedição Humanitária, com partida de Coimbra na próxima 6ª feira, dia 20, às 9.00 horas (*).

Pensam chegar ao hotel de João Landim, dia 26 ou 27.

Pepito: Nenhum dos presentes no jantar sabia que estavas em Portugal, eu soube porque passei pelo blogue antes de ir para a Mealhada. Ainda perguntei ao Julião S. Sousa [, da Casa da Guiné-Bissau em Coimbra], também presente no jantar por indicação minha, se tinha o teu contacto telefónico, não tinha e deu-me a entender que espera uma conferência tua em Coimbra. Estou a dar conhecimento ao Luís porque penso ele ter o teu contacto em Portugal.

[Foto à esquerda: Guiné-Bissau > Março de 2008 > O José Moreira, inspirador, fundador, presidente e líder da Associação Humanitária Memórias e Gentes, em acção (é o primeiro à esquerda, em primeiro plano, logo na primeira foto, de cima). Técnico Oficial de Contas, reformado, mora em Coimbra. Foi Fur Mil da CCAÇ 1565, 1966/68. Foto: © José Moreira (2008). Direitos reservados.].

O Zé Moreira, que ainda não te conhece, diz querer encontrar-te este ano. Não se conseguiram as 300 t-shirt brancas, que me indicaste tempos atrás, há 300 t-shirt mas têm publicidade, mas além deste material que vai nos jipes, já seguiram no contentor várias caixas para serem entregues à AD.

Transmiti ao Moreira o que li no blogue "vou estar em Bissau na última semana de Fevereiro para receber os amigos que chegam de Portugal".

Abraço
Paulo

2. Comentário de L.G.:

Paulo: Obrigado pela tua mensagem. Os contactos telefónicos do Pepito, em Portugal, já tos mandei por telefone, com conhecimento ao José Moreira e alguns dos camaradas da Tabanca de Matosinhos que também seguem na expedição. Estive hoje, em Lisboa, com o José Manuel Lopes que me falou em mais de um dúzia de camaradas (dois levam as esposas) que vão juntar-se à malta de Coimbra. No total serão cinco jipes, mais uma carrinha e outros dois veículos automóveis, segundo percebi. O último a inscrever-se foi o Alves, de Leça da Palmeira, antigo soldado condutor da CART 6250 (Mampatá, 1972/74).

O Pepito está cá desde ontem e deve regressar a Bissau a 27 de Fevereiro. Nos próximos dias, até quinta-feira, peço que o poupem, por que ele tem uam série de exames de saúde a fazer, incluindo uma pequena intervenção cirúrgica.

Ele espera poder acolher e abraçar pessoalmente toda a malta que parte para mais uma expedição huminátário, de carro e de avião. A ONG que ele dirige, a AD - Acção para o Desenvolvimento, dará, no terreno, o apoio que for necessário.

A todos desejamos boa viagem e bom regresso. Iremos falando falando desta expedição, onde vão dois históricos, o José Moreira (Coimbra) e o Xico Allen (Tabnava de Matosinhos), além do ´Camilo (que integhra o grupo dos algarvios que partiram no dia 10).

_________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste anterior, de hoje, 16 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3900: Expedição Humanitária 2009 (1): Já se fez à estrada a expedição da Humanitarius, com o J. Almeida, o A. Camilo e outros

Guiné 63/74 - P3900: Expedição Humanitária 2009 (1): Já se fez à estrada a expedição da Humanitarius, com o J. Almeida, o A. Camilo e outros

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > 1 de Março de 2008 > O António Camilo, empresário, algarvio, natural de Lagoa, na morança que construiu, no Clube de Caça do Saltinho, na margem direita do mítico e sempre deslumbrante Rio Corubal. Ei-lo aqui à porta de casa, e com seu/nosso amigo Carlos Silva (em primeiro plano). Pelo li, o Camilo volta este ano (2009) à Guiné, na sua 8ª expedição. O ano passado encontrámo-nos por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de Março de 2008).

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

1.
Todos os anos por esta altura, há grupos de antigos combatentes portugueses, que passaram pela Guiné, no tempo da guerra colonial (1963/74), que lá regressam, de jipe ou de avião, levando amizade, saudade e ajuda humanitária. Este ano identificámos quatro núcleos organizadores:


(i) um núcleo algarvio, que teve (e ainda tem como referência) o nome do António Camilo, ex-Fur Mil da CCAÇ 1565 (1966/68); a expedição deste ano é organizada pela Humanitarius, uma associação de apoio social internacional, recém criada, dirigida por João Almeida (que julgo não ter sido combatente), e que tem a sede em Portimão; a equipa da Expedição 2009 é composta por João Almeida, Helena Duarte, Vanda Germano, André Cadete e Jorge Baptista, e tem como "colaborador no terreno: António Camilo Baptista"; já partiu de Portimão em 10 de Fevereiro último;



Página principal do sítio da Ajuda Amiga – Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento, com sede na Rua do Alecrim, 8, 1º Dto, 2770 - 007 Paço de Arcos.

(ii) Há um núcleo lisboeta, à volta da ONGD Ajuda Amiga, representada pelos nossos camaradas Carlos Fortunato, consultor informático, ex-Fur Mil da CCAÇ 13 (Bissorã, 1969/71) e Carlos Silva, advogado, ex-Fur Mil da CCAÇ 2548 / BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71); esta pequena equipa deve chegar de avião a Bissau, em 25 de Fevereiro de 2009. Vd. poste de 9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3860: Ser solidário (27): Mais de 320 caixas da Ajuda Amiga seguiram ontem para Bissau em contentor da Portline


Página da Associação Humanitária Memórias e Gentes, que vai organizar este ano mais uma Expedição Humanitária à Guiné-Bissau. (iii) um núcleo coimbrão, à volta da Associação Memória e Gentes, de que é presidente, ou melhor, a alma, o José Moreira, ex-Fur Mil da CCAÇ 1565 (1966/68) Vd. postes de: 22 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2671: Ser solidário (8): O regresso da expedição humanitária a Bissau (Diário de Coimbra)

9 de Novembro de 2008 > > Guiné 63/74 - P3428: Ser solidário (24): Em marcha a expedição de ajuda humanitária de 2009 (José Moreira / Pepito / Carlos Silva / Xico Allen)


Vd. poste de 20 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3489: Blogues da nossa blogosfera (4): Nasceu o bloguinho, o blogue da Tabanca de Matosinhos (Álvaro Basto)

(iv) e, por fim, um núcleo nortenho, à volta da Tabanca de Matosinhos, de que é justo destacar o nome do Xico Allen (na foto à esquerda: Guileje, 1 de Março de 2008) que, com o António Camilo e o José Moreira, são de facto os três históricos das viagens por terra à Guiné (seja em turismo de saudade seja em expedições humanitárias). Este ano vão à Guiné, por terra, devendo juntar-se à Expedição de Coimbra, uma dúzia de camaradas ligados, de uma maneira ou de outra, à Tabanca de Matosinhos e ao nosso blogue. Ainda não tenho a lista completa, mas de entre eles destaco, além do chefe, Xico Allen, o António Pimentel, o João Rocha, o José Manuel Lopes, o António Carvalho e o Nina (estes três últimos , pela primeira vez, e tendo feito parte da CART 6250, Mampatá, 1972/74).


  2. II Expedição Algarve-Guiné: já se fez à estrada a 10 de Fevereiro de 2009 

  Notícia extraída, com a devida vénia, do Barlavento - Semanário Regional do Algarve , 10 de Fevereiro de 2009 / Texto: ana sofia varela / Foto: armindo vicente (Na foto, à esquerda: Helena Duarte, João Almeida, Jorge Baptista e André Cadete. Na foto só falta António Camilo"). 

(...) "A Associação Humanitarius, constituída por um grupo de algarvios que, no ano passado, organizou uma expedição à Guiné-Bissau, em África, volta a enfrentar os [cerca de cinco] mil quilómetros que separam Portugal daquele país, para ajudar as populações com diversos projectos sociais. 

"Na bagagem levam 43 toneladas de donativos em material escolar, roupas, equipamento médico, calçado e brinquedos, para a cidade de Buba, na Guiné-Bissau. (...) A missão do grupo algarvio é requalificar o centro de saúde pública de Buba, acabar um pavilhão escolar naquela cidade, apadrinhar uma escola em Bambadinca, bem como criar uma biblioteca e videoteca num dos espaços comunitários. 

"Mas, para que a concretização dos projectos «Saúde Alerta» e «Escola para Todos» seja uma realidade em Buba, muita da ajuda que a Humanitarius leva partiu da solidariedade de quem cá fica. Cidadãos anónimos, muitos alunos de diversas escolas portuguesas, empresários e autarquias contribuíram com os donativos. "Por isso, esta terça-feira [, dia 10 de Fevereiro,] , data da partida da II Expedição Algarve-Guiné por via terrestre, os expedicionários ainda tiveram tempo de passar em Portimão, Lagos, Lagoa e Albufeira, em paragens de cortesia para com as autarquias algarvias apoiantes. Por via aérea, seguirão depois dois técnicos da equipa, enquanto por via marítima já seguiu o contentor com os donativos, no fim-de-semana passado. 

3. Comentário de L.G.: 

 Saúdo todos os ex-combatentes que neste mês se delocam à Guiné, em turismo de saudade ou integrados em expedições humanitárais. Um abraço ao António Camilo, o primeiro a partir (com a equipa da Humanitarius): tive o prazer de conhecer pessoalmente, o ano passado na Guiné-Bissau, por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje, 1-7 de Março de 2008; estive inclusive com ele no Saltinho onde tem uma morança de fazer inveja a qualquer turista, no Clube de Caça, na margem direita do Rio Corubal, junto à ponte do Saltinho).

Esse abraço é também extensivo ao João Almeida, coordenador da Humanitarius, e restantes companheiros desta aventura solidária. Bons ventos os levem e bons ventos os tragam. O nosso blogue fica disponível para divulgar as notícias e as fotos que nos queiram enviar. (LG).

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3899: Os nossos médicos (1): Alf Mil Médico José Alberto Machado (Nova Lamego)

1. Mensagem de Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil da CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69, com data de 14 de Fevereiro de 2009:

Um abraço.

Mais uma vez lanço pedido de informações sobre o percurso de um cunhado, médico (*), já falecido, mas do qual não se têm informações do seu percurso militar na Guiné.

Presumo ter andado na área de Nova Lamego, mas são presunções.

Obrigado,
CMSantos


2. Este é um texto de pedido de ajuda em relação a um Cunhado meu, já falecido, mas do qual, por várias razões, nada se sabe do seu percurso na Guiné.

Nova Lamego e os dados do José Martins apontam para aí. Quem conheceu??? Teve a mulher e um filho pequeno a viver lá.

Agradecem-se informações.
CMSantos
CART 2339
Mansambo
1968/69



José Alberto Machado. Alferes Miliciano Médico


3. Dados coligidos por José Martins

BATALHÃO DE CAVALARIA N.º 705 (BCAV 705, 1964/66)

Mobilizado no Regimento de Cavalaria 7, em Lisboa, desembarcou em Bissau em 24 de Julho de 1964, ficando nesta cidade como força de intervenção às ordens do Comando - Chefe, sendo as suas Companhias atribuídas como reforço e para realização de operações noutros sectores.

Em 15 de Fevereiro de 1965 foi deslocado para Bafatá, onde comandou a actividade operacional das suas Companhias e preparou a rendição do Batalhão de Caçadores n.º 512.

Em 1 de Junho de 1965, rende o Batalhão de Caçadores n.º 512, estacionado em Nova Lamego e assume a responsabilidade do Sector L3, que inclui os subsectores de Pirada, Bajocunda, Canquelifá, Buruntuma, Piche, Madina do Boé e Nova Lamego.

Em 1 de Maio de 1966, rendido pelo Batalhão de Caçadores n.º 1856, regressa a Bissau, embarcando de regresso à Metrópole em 14 de Maio de 1966.


BATALHÃO DE CAÇADORES N.º 1856 (BCAÇ 1856, 1965/67)

Mobilizado do Regimento de Infantaria n.º 1, na Amadora, desembarcou em Bissau em 6 de Agosto de 1965, ficando aquartelado em Brá (Bissau), às ordens do Comando – Chefe, orientado para a zona Leste, sendo as suas subunidades atribuídas de reforço a outros Batalhões para diversas operações.

Em 2 de Março de 1966 o comando instalou-se em Nova Lamego, enquanto a Companhia de Comando e Serviços era instalada em Piche até 23 de Abril de 1966.

A 1 de Maio de 1966 e substituindo o Batalhão de Cavalaria n.º 705, assumiu a responsabilidade do Sector L3, que englobava os subsectores de BAJOCUNDA, Canquelifá, Piche, Buruntuma, Madina do Boé e Nova Lamego.

Rendido pelo Batalhão de Cavalaria n.º 1915, tendo embarcado para a Metrópole em 15 de Abril de 1967.

José Martins
ex-Fur Mil Trms
CCAÇ 5, Gatos Pretos
Canjadude
1968/70
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2887: Em busca de...(27): José Alberto Machado, Alf Mil Médico (Carlos Marques Santos)

Guiné 63/74 - P3898: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (8): Maio de 1973 na vida da CCAV 8351 - (Parte I)

1. Em mensagem com data de 13 de Fevereiro de 2009, Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74, enviou-nos para publicação a primeira de três partes de "Maio de 1973 na vida da CCAV 8351" - Os Tigres do Cumbijã.





MAIO DE 1973 NA VIDA DA CCAV 8351 - OS TIGRES DO CUMBIJÃ

Em memória dos meus queridos camaradas, mortos em combate neste mês de Maio:

ANTÓNIO BENTO BÔA , soldado n.º 06261872, morto a 12 de Maio de 1973

VICTOR MANUEL SILVA COELHO, soldado n.º 06472772, morto a 18 de Maio 1973

A vida tem destas coisas. Maio tinha tudo para ser um lindo mês, já que e em definitivo a Companhia tinha juntado os seus quatro GCOMB, as obras de construção continuavam a um ritmo muito grande, o pessoal andava contente pois as casernas começavam a tomar forma e consequentemente as condições de vida melhorariam a muito curto prazo e íamos receber logo na primeira semana um Pelotão de Artilharia, que nos dava uma outra alma.

Como sabem, a resposta, em termos de artilharia aos ataques que o meu aquartelamento sofria, era dada pelos nossos camaradas de Mampatá. Era impressionante para nós, pois para além das canhoadas e das morteiradas do I.N., passavam por cima das nossas cabeças em direcção às prováveis bases de onde os turras nos atacavam, as ameixas com que os nossos camaradas tugas de Mampatá os presenteavam.

Maio começou com uma flagelação, pois logo no dia três sofremos um ataque de duração curta, cerca de dez minutos, de morteiro 82. No relatório dessa flagelação assinalámos que o In havia sofrido duas baixas confirmadas. Recordo-me de no dia seguinte termos saído com três Pelotões e descoberto o local de onde nos haviam flagelado e verificado sinais de corpos arrastados. Deixámos as nossas assinaturas; restos de ração de combate, pontas de cigarro, latas de conserva e de leite com chocolate e os que sofriam de maior aperto intestinal, aproveitavam também para diversificar os vestígios.

No dia 8 de Maio chega até nós o tão ansiosamente esperado Pelotão de Artilharia. Em tempo recorde se construíram os espaldares e se elaboraram as cartas de tiro. Durante três dias andámos numa azáfama enorme, mas a confiança enchia-nos o peito, pois com a presença da Artilharia iríamos impor com ainda mais força a nossa presença. Enfim ilusões de sonhadores.

No dia 11 de Maio fui a Aldeia Formosa tratar da parte burocrática da minha Companhia, já que a Secretaria, o Cripto e os encarregados dos géneros ainda estavam na Sede do Batalhão. Reuni-me com o 1.º Sargento António Joaquim Redondeiro, grande homem, que já nos deixou. Faleceu em Portugal, mas só tive conhecimento do sucedido muitos anos após ter partido. Paz à sua alma! Ajudou-me muito na burocracia que também era imposta às Companhias que davam o corpo ao manifesto no meio do mato, aconselhou-me bastas vezes e sofria, lá em Aldeia, com os ataques de que o Cumbijã era alvo. (Abraçou-me a chorar depois do assalto a Nhacobá). A reunião ia longa e o tempo começou a ficar muito feio, com as rajadas de vento a aumentarem de grande intensidade de forma que combinámos que ele, no dia seguinte, iria integrado na coluna da Engenharia ao Cumbijã onde prosseguiríamos a reunião.

Regressei com a minha malta ao Cumbijã debaixo de um temporal imenso e fiquei desolado com o espectáculo que se me deparou: um tornado violento havia passado no quartel e arrancado dois telhados das instalações em fase de construção mais adiantada. É daqueles momentos em que nos dá vontade de desistir de tudo, mas não o podia demonstrar. Exteriorizei para os meus camaradas que quanto maiores fossem os obstáculos maior teria de ser a nossa firmeza e a nossa determinação e que no dia seguinte teríamos de trabalhar a dobrar.
Mas o tornado era um aviso e o dealbar do período negro.

No dia 12 de Maio, já da parte da tarde um grupo de combate desfalcado foi a Aldeia levar o Sargento Redondeiro. No regresso e na zona de Colibuia, portanto já pertinho de casa, sofrem uma emboscada de um pequeno grupo avançado do IN, que tinha vindo com o objectivo de dar protecção aos indivíduos que minavam os pontões, pois na frente de trabalhos não andavam tão à vontade dada a presença quase diária de um GCOMB que os esperava quase até ao anoitecer.
No Cumbijã toda a gente adivinhou o que se estava a passar. Via rádio soube de imediato que o Bôa tinha morrido instantaneamente. Eu estava em tronco nu, calções de banho e sapatilhas. Gritei para que preparassem de imediato duas Berlietts para irmos atrás dos gajos. No espaço de minutos estávamos a arrancar, enquanto os obuses disparavam para a orla da mata. Chegámos ao local e para além do BÔA tínhamos mais dois feridos com escoriações provocadas pela queda ao atirarem-se da viatura para o solo. Alguém de Mampatá ou Aldeia veio buscar as nossas baixas, as Berlietts regressaram ao quartel e eu e os meus voluntários embrenhámo-nos na mata e todas as dúvidas foram dissipadas: vinham mesmo minar os pontões! A assinatura do Pata Grande ou Patudo estava bem expressa, pois o sujeito tinha um pé tão grande que o distinguia de qualquer outro. A malta de Mampatá também o conhecia bem. Não consegui nada e a noite a cair levou-nos de volta ao Cumbijã.

Tinha no entanto aprendido uma lição: por muita racionalidade e serenidade que se peça ou que se exija a quem comande, permitira que o meu espírito fosse invadido pela dor, pelo sofrimento, pela angústia e pela raiva. Pela primeira vez havia sentido ódio. Ao olhar para esse dia e ao rever o que se passou, basta-me fechar os olhos, julgo que hoje teria feito o mesmo e teria actuado de imediato. O In tinha feito o seu papel e nós não poderíamos responder com indiferença ao sucedido, mesmo sabendo que já não havia nada a fazer; mostrar resignação ou indiferença era o pior que me poderia ter acontecido a mim e aos meus.

O traje com que saí para o mato rotulou imediatamente o meu estado de espírito. Amigo meu em Bissau ouviu dizer que o cacimbo me tinha atingido e que já saía nu para o mato. Enfim, os exageros que depois se transformam em mentiras, mas que por vezes também constroem heróis. Quem andou na luta e ouve este ou aquele dizer que reagiu assim ou assado que matou frito e cozido, topa logo que o gajo está a mentir ou fez a comissão perto de Bissau.

Também em princípios de Maio fui avisado de que em tal dia, a tal hora um grupo de Comandos Africanos passaria pelo Cumbijã, vindo de uma operação, e seria depois levado para Aldeia. Assim, seco sem mais informação nenhuma. Em conversa nos dias de hoje com os meus camaradas as opiniões divergem: uns dizem que o grupo era comandado pelo mais famoso guerrilheiro da Guiné, outros afirmam que eram elementos de uma Companhia de Comandos heli transportados.

Tenho de ser cuidadoso, tanto mais que esses elementos vindos da zona de Nhacobá, não haviam vislumbrado quaisquer vestígios do que quer que fosse, ou teriam e não fizeram nada ou não era tarefa para eles, ou apenas teriam ordens para reconhecer o terreno… não sei o que vos diga.

Este vosso amigo nasceu a 16 de Maio e tinha pensado arranjar uma vaca em Aldeia para fazermos um petisco diferente e pagar uns copos à malta. Está bem, abelha! Dia 15 à noite recebo ordens para me apresentar em Aldeia Formosa pela manhã do dia seguinte, o mais cedo possível. Como era o que estava mais longe, embora cedo, fui o último a chegar. Estava toda a malta calada, expectante, com ar de caso. Só saí da reunião pelas 16 horas, pois estivemos a preparar a operação “BALANÇO FINAL”, que se resumia apenas e só no assalto a Nhacobá, pois parece que por aí passavam as colunas de reabastecimento vindas pelo corredor de Guileje acima. A Companhia de Cavalaria 8351 seguiria em primeiro escalão, reforçada com um GCOMB da 3398, e na referida operação participariam uma outra Companhia do Batalhão dos velhinhos (a 99), mais a CCaç 18 mais a Cart 6250 de Mampatá reforçada com dois GCOMBs do Batalhão de periquitos (4513), mais a 3.ª Companhia do 4513 mais os Pelotões dos Sapadores dos dois Batalhões, mais dois Pelotões de Artilharia etc.

Estou com todos estes pormenores, pois no meu próximo texto vou necessitar da ajuda da malta de Guileje, para compararmos no tempo o decurso das diferentes actividades das nossas Companhias pois, ou muito me engano, ou estava em curso algo de muito importante na cabeça dos comandantes da guerra que embora nunca me tenham referido coisa nenhuma, à boa maneira militar, me levavam a desconfiar de algo. A ver vamos se o meu raciocínio terá ou não alguma lógica.

Embora nem todas as forças estivessem no terreno ao mesmo tempo, constatem que estavam disponíveis nesta operação malta que dava para fazer sete Companhias completas mais os Sapadores e Artilharia.

Cheguei triste ao Cumbijã! Tinha passado um rico dia de aniversário e a operação tinha início na manhã do dia seguinte. Tiraram-me uma fotografia na chegada ao aquartelamento que junto.

Cumbijã > Dia de aniversário do Cap Mil Vasco da Gama

Não me deitei. Falei com o pessoal, sem ter a certeza do que iria encontrar. Do objectivo apenas e só hipóteses. Conversei horas a fio com o guia que eu havia exigido: O Padé Nambatcha (refiro a fonética, não sei se a grafia é esta).

Curiosamente, a noite passou com grande rapidez. De manhã, ainda noite, a malta num silêncio sepulcral, ia-se juntando no meio do aquartelamento. Dois ou três tinham adoecido e a outros tantos haviam-se-lhes encravado as unhas.

Saímos num silêncio absoluto e à medida que íamos caminhando redobrávamos a atenção. De quando em vez o Padé mandava parar a coluna e debruçando-se sobre o chão analisava mais atentamente vestígios que só ele descortinava. Fazia-me sinal perguntando-me por gestos se eu não ouvia nada. Eu que ainda hoje tenho um ouvido de tísico dizia-lhe que não. O sorriso maroto que sempre afivelava ia-se desvanecendo e então começaram a aparecer trilhos cada vez maiores e bem calcados que pareciam autênticas picadas. Lá, muito ao longe, ouvia-se o ladrar dos cães e começámos também a divisar colunas de fumo em direcção ao céu provenientes de fogueiras. Continuámos mais duzentos, trezentos metros, abri a Companhia em linha e cerquei uma tabanca enorme, sem que ninguém tivesse dado por nós. O meu grupo de assalto de quinze ou vinte pessoas correu repentinamente seguindo o Padé e, sem termos dado um único tiro, tínhamos apanhado dezasseis elementos da população (oito homens, três mulheres e cinco crianças), que tentaram numa primeira fase a fuga, depois gritavam Comando, Comando, Comando.

Passámos revista a todas as moranças, em número muito elevado, e rapidamente nos apercebemos que Nhacobá era um importantíssimo centro de armazenamento de arroz. Palhotas cheias até ao tecto de arroz ainda com casca eram mais de uma dezena. Obviamente que esta quantidade enorme de arroz não se destinava a alimentar os dezasseis elementos da população que tínhamos capturado, antes constituía um ponto de passagem obrigatório das colunas do PAIGC que aí se abasteciam. Quantidades enormes de peixe a secar apareciam mais junto ao enorme lençol de água situado mesmo em frente a Nhacobá.

Rapidamente os elementos civis, em quem ninguém tocou, foram transportados por dois Pelotões que cobriam a nossa retaguarda, julgo que a Cart 6250, para os unimogs situados no fim da picada aberta, talvez a dois quilómetros de distância.

Por volta do meio dia, rebenta sobre nós um primeiro fogachal proveniente do flanco direito da minha Companhia, que supostamente devia estar protegida desse lado, que nos causou 3 feridos graves e seis ligeiros.

Pedi evacuação aérea para o Cumbijã onde estavam os graduados do Batalhão que me informaram não ser possível. Aí, mais uma vez, a malta de Mampatá veio em nosso apoio para transportar os feridos.

Um parêntesis para o nosso querido Josema, que vai no sentido de lhe corrigir o poste número 2757 enviado em 14 de Abril de 2008. Os soldados feridos, meus camaradas e teus camaradas, são da minha Companhia e resultaram do contacto que agora mesmo descrevi.

- O que tem o pano sobre a perna é o José Carlos Lopes, que vive para os lados de Lisboa. Está completamente careca, mas rijo. É frequentador assíduo dos nossos convívios.
- Não me recordo do nome do moço que está de barriga para o ar, mas era um dos rapazes das Transmissões.
- O da direita é o Lino Castro e Sá . Estive com ele há dois ou três meses em Coimbra e é também ferrenho dos nossos encontros.


Foto: © José Manuel (2008). Direitos reservados.

Por esta altura ainda não havia estrada até Nhacobá.

A seguir a este contacto flecti com a Companhia para a direita, pois Nhacobá tinha demasiadas árvores que atraem os RPGs e provocam chuveiradas de estilhaços e… outro contacto, este mais violento que o anterior. O In fugiu e recordo-me que, para além de material de guerra, apanhámos centenas de maços de cigarros russos, cadernos escolares, caixas de fósforos e um livro escolar do PAIGC impresso na Suécia.

Alonguei-me mais do que o previsto, continuo ainda por mais dois episódios sobre Nhacobá.

Vasco da Gama

Nhacobá > Entrada norte

Nhacobá

Nhacobá > Armazém de arroz

Nhacobá > Furriéis Azambuja Martins e Costa

Nhacobá > Fur Mil Azambuja Martins, o sorriso do dever cumprido

Foto: © Vasco da Gama (2009). Direitos reservados.

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3765: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (7): A visita do General Spínola

Guiné 63/74 - P3897: Dando a mão à palmatória (19): O meu amigo ex-Fur Mil Pil Ramos, de Vila Nova Famalicão (Humberto Reis)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Fá Maninga > 1970 > O Fur Mil Pil Ramos deixa-se fotografar com o Major Leal de Almeida, e mais oficiais (graduados) da recém criada Companhia de Comandos Africanos (embrião do futuro Batalhão). Houve um erro, involuntário, da nossa parte, ao idenficar o piloto. O seu amigo, Humberto Reis, membro fundador da nossa Tabanca Grande, e meu antigo camarada da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). A foto é do Jorge Caiano, ex-1º Cabo Especialista, Melec/AV (Bissalanca, BA12, 1969/70), a residir desde 1974 no Canadá.

Foto: © Jorge Caiano (2009). Direitos reservados.


1. Mensagem do Humberto Reis, com data de 13 do corrente:

Luís:

Como sabes, sou mais dado a ler e fazer do que a escrever, além de que não sei, nem perguntei a ninguém como se faz, para escrever directamente no blogue.

Posto isto, façam lá uma correcção no Post 3879 (*). O piloto que está na foto é o meu grande amigo, com quem voei muitas vezes, ex-Fur Mil Pil Ramos, de Vila Nova de Famalicão, e na vida civil piloto de aeronaves no Alentejo.

Não é que o ofenda, ou a qualquer outro, terem lá escrito alferes, mas quem não o conheceu bem, como foi o meu caso, fica a olhar para a foto e a imaginar quem seria o alferes Ramos. O [Jorge] Félix conheceu-o bem pois ambos são do nosso tempo, apesar do Ramos ser mais novo que ele.

Aquele abraço

Humberto

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Humberto:

Tens toda a razão. Estes pequenos lapsos estão sempre a acontecer. Não sei se o erro foi nosso ou do Jorge Caiano, que identificou o piloto. Julgo que foi nosso. Daí eu fazer questão de publicar o teu reparo nesta série, que serve para isso mesmo, dar a mão à palmatória (**), como no tempo da nossa escolinha. O Ramos, se nos estiver a ler, também vai aceitar, de mão grado, os nossos pedidos de desculpa.

Quanto à inserção (directa) de comentários no nosso blogue, tens as instruções, aqui mesmo à mão, na coluna do lado esquerdo do nosso blogue, logo a seguir à indicação do nº de visitantes... No caso do poste em questão, poderías apor directamente o te comentário: bastava clicares duas vezes no link "comentários", que vem no final do texto. De qualquer modo, assim tive eu o prazer de comunicar directamente contigo através do blogue.

Um bom resto de fim de semana para ti. Um beijinho à Teresa, com votos de boa saúde. Luís
__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 12 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3879: FAP (9): Jorge Caiano, ex- 1º Cabo Esp Melec, BA12, 1969/70, no Canadá desde 1974

(**) Vd. último poste desta série > 16 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3633: Dando a mão à palmatória (18): O meu reparo (Belarmino Sardinha)

Guiné 63/74 - P3896: Do purgatório de Bissum / Nagal ao infermo de Cafal Balanta / Cafine (Manuel Maia, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4610, 1972/74)

1. Mensagem de Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine (1972/74):


Assunto - Do purgatório de Bissum Nagal ao infermo de Cafal Balanta / Cafine



Para alguém ligado à história [ como eu], a preocupação com as fontes deverá ser de primordial importância...

Não foi exactamente assim que se passou comigo relativamente à informação que passo a debitar, dado que estou a confiar demasiado na memória, que obviamente não é de elefante...

De qualquer forma, não estarei muito longe da realidade se apontar estes dados:

13 Junho 72

Embarque em avião das Forças Armadas para Bissau. De imediato rumamos ao CUMERÉ onde tiraríamos o chamado IAO que deveria ser um período de aclimatação e aprendizagem sobre a temática de guerra ,mas não foi conseguido (creio que para a esmagadora maioria dos formandos a nível de todos todos batalhões)... E porquê? Quem ministrava o ensino já não queria arriscar – milicianos - e a generalidade dos indivíduos do quadro nada percebia do assun ...

Finais de Junho 72

Chegada a BISSUM/NAGA para o necessário período de sobreposição com quem estava de partida.

Dezembro 72

Partida dos 1º e 3º grupos para CAFAL BALANTA ( CANTANHEZ) onde ficaríamos adstritos até à chegada do resto da companhia.


15 de Março 73

Chegada do resto da companhia ao Cantanhez (CAFINE) com a consequente mudança dias depois (2 semanas?) dos grupos já referenciados por forma a ter a companhia de novo toda junta.

Convirá referir que a distância quilométrica entre as duas localidades não ultrapassava os dois quilómetros( passávamos o dia de um lado para o outro, ora na função de reordenamentos na segunda localidade, ou tão somente para gastar o tempo...

A estrada era uma recta enorme com apenas uma ligeira curva. Mesmo assim, o IN colocou uma mina anticarro que vitimou um soldado de Cafal e feriu gravemente outro.

Obviamente que o objectivo do engenho fora destinado para uma situação de mais vitimas ( quatro vezes ao dia uma Berliet com vinte ou trinta militares fazia aquele trajecto de manhã e de tarde levando pessoal dos grupos 1º e 3º para o trabalho de feitura de habitações para a população em CAFINE) durante as tais duas ou três semanas que mediaram entre a chegada do resto da malta e a necessária reunificação...

15 de Junho 73

Partida dos 2º e 4º grupos para COBUMBA.

25 de Setembro 73

Chegada ao Dugal e seus destacamentos de FATIM e CHUGUÉ.


5 de Julho 74

Chegada ao Cumeré.

13 de Julho 74

Embarque para Lisboa.

Se me fosse perguntado em termos religiosos como classificaria as várias localidades por onde passei naquele périplo de vinte e cinco meses, ao reportar-me a BISSUM, poderia, usando a expressão "saudade apesar de tudo..." , apelidá-la de purgatório, atendendo a que os cerca de seis meses ali passados, apesar de isolados de tudo, não foram aquilo que se pintava em Bissau, (quando chegamos bviamente inquirimos "meio mundo" sobre o local para onde íamos e a resposta, invariavelmente, apontava para um sítio onde o verbo "embrulhar" se conjugava com inusitada repetição...)

Não foi isso que aconteceu...

De forma perspicaz, o capitão da unidade que nos antecedeu, atribuía aos muitos e contínuos êxitos obtidos fora de portas - pelo grupo de milícia nova em que a apreensão de armamento IN acontecia com bastante frequência - um comando de pessoal branco em operação provavelmente conjunta...

Ora o timoneiro da minha companhia como homem inteligente, utilizando a badalada expressão futebolística de que em equipa que vence não se mexe, deu continuidade à fórmula ganhadora, e continuou a somar pontos para um campeonato em que foi guindado aos lugares cimeiros em termos de operacionalidade...

A juntar a isto, o próprio nome do líder, Terrível, ( daí a designação da companhia...), serviria para obrigar o HOMEM GRANDE a pensar na solução para o sul usando a lógica do raciocínio: "Se ele pacifica uma zona complicada como BISSUM/NAGA, será o homem indicado para me resolver a questão lá em baixo..."

Se bem pensou, "mal o fez", diria eu ...

É que mercê desse raciocínio algo simplista obrigou-me a conhecer o inferno, que
posso, sem quaisquer sombras de dúvidas, localizar como sediado no eixo CAFAL BALANTA-CAFINE (infelizmente não vos posso fornecer as coordenadas...) .

Dentro de dias tentarei, (se para isso tiver o engenho e a arte...) enviar-vos algumas fotografias das casas/covas de CAFAL onde não nos faltava o envio aéreo por parte do PAIGC de metal quente sob a forma de RPG, canhoada, ou simples bala de Kalash, em substituição dos frescos de pára-quedas que o homem do monóculo prometera...

Acabaria por conhecer o céu quando em Setembro de 73, mercê do excelente serviço de reordenamentos e porque não dizê-lo, do qualificado trabalho operacional, o madeirense (não, não é esse em que estão a pensar...) Bettencourt Rodrigues (o homem que fazia as vezes de Spínola...) num rasgo de inteligência e de justiça decidiu conceder-nos o céu, (é certo que sem as virgens como propicia Alá...) para que pudéssemos enfim saborear as coisas boas da vida ...

Até lá, um abraço a toda a malta.

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Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:

14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3890: Tabanca Grande (119): Apresentação de Manuel Maia ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3886: Tabanca Grande (118): Manuel Maia, ex-Fur Mil, o poeta épico da 2ª Companhia do BCAÇ 4610/72 , o Camões do Cantanhez

Guiné 63/74 - P3895: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (3): Governo entrega antigo quartel de Guileje e o Pepito chega hoje a Lisboa


Guiné-Bissau > Bissau > 2009 > O Pepito, avô babado, com a sua neta Sara, filha de Cristina Silva (*). Tem uma outra neta, do seu filho Ivan, que vive em Portugal. A foto foi me enviada recentemente. Pelo que vejo, o nosso amigo Pepito está agora muito mais elegante, em resultado de um programa de saúde que está a seguir, e da sua vontade de ferro... Sei que agora os pastelinhos de Belém acabaram-se... Bem vindo, Pepito, a Lisboa, a tua segunda casa... (LG)


Foto: © Pepito / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados.(2009).






Transcrição do teor do documento:

"República da Guiné Bissau > Gabinete do Primeiro Ministro > À AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau > Bissau, 17 de Dezembro de 2008 > N/ Refª 410 / GPM / 08 > Encarrega-me Sua Excelência o Primeiro-Ministro de informar Vossas Excelências que essa ONG está autorizada a recuperar o antigo quartel de Guiledje, visando a instalação de um Museu, Escola Profissional e Infra-Estruturas para o Ecoturismo, conforme fora solicitado.



"Sem outro assunto de momento, queiram aceitar a expressão da nossa mais elevada consideração. O Director do Gabinete, Carlos Lineu Tolentino Ribeiro.


"C/C: Sua Excelência o Primeiro-Ministro / UICN"


1. Mensagem de 7 de Janeiro último, do nosso amigo Pepito (*):


Luís: Mais uma vez os votos de Feliz Ano Novo para ti, Alice, teus filhos e todo o pessoal amigo da Tabanca Grande.Tenho uma boa notícia a dar: o governo da GB decidiu oficialmente, no final do ano, entregar o antigo quartel de Guiledje à AD para a sua reabilitação como Museu, Escola Agrícola, polo de ecoturismo e sede do Parque Natural transfronteiriço.


Estou convicto que esta decisão foi o resultado do nosso Simpósio. Por isso obrigado a todos vocês que contribuiram decisivamente para que ele se realizasse. Vamos imediatamente (ainda este mês) começar a construção do Museu que contará com o apoio da Fundação Mário Soares na concepção e organização interior. A ONG portuguesa IMVF - [Instituto Marquês Valle Flôr]assegurará parte das despesas com a construção.


A nossa Tabanca tem vindo a contribuir com muito material e documentos que o enriquecerão.


Um grande abraço


pepito


2. Comentário de L.G.:


Congratulamo-nos com esta notícia que nos chegou de Bissau, há mais de mês, e que quisemos agora partilhar, no blogue, com todos os amigos e camaradas da Guiné, no dia em que chega a Lisboa o nosso querido amigo Pepito. Ele vem para tratar de problemas (pessoais) de saúde e espera voltar a Bissau a tempo de receber, na última semana de Fevereiro, os nossos camaradas que partem no dia 20 para a Guiné-Bissau, em mais um missão humanitária e mais uma viagem de turismo de saudade. Espero poder estar esta semana com o Pepito e obter mais informações sobre o andamento do projecto Guiledje. LG


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Notas de L.G.:


(*) Cristina Ribeiro Schwarz da Silva (Pepas, para os amigos e familiares), filha mais mais velha de Carlos Schwarz da Silva, guineense, e Isabel Levy Ribeiro, portuguesa.Tem 35, é licenciada em biologia marinha. Trabalha no IBAP- Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné-Bissau. É Coordenadora para o Seguimento das Espécies.


Vd. poste de 23 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2977: Recortes de imprensa (6): a cidadã portuguesa, Cristina Silva, expulsa da Embaixada de Portugal em Bissau no 10 de Junho


(**) Vd. poste de 31 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3822: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (2): Segurança alimentar (o mangal que dá de comer...) e turismo de saudade

Guiné 63/74 - P3894: O cruzeiro das nossas vidas (13): S.O.S., fogo a bordo do Carvalho Araújo (Luís F. Moreira)

1. Mensagem de Luís F. Moreira (*), ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 2789/BCAÇ 2928, Bula, 1970/72, com data de 13 de Fevereiro de 2009: Complemento do escrito do António Matos e a sua viagem para a Guiné, com todo o respeito e consideração por tudo quanto tem escrito. Obriga-nos a retirar das gavetas das nossas memórias recordações envelhecidas. A nossa atribulada viagem para a Guiné Dia 25 de Novembro de 1970, cerca das 10.00 horas, tudo a postos para embarcar mais uma carga para a Guiné. Todas as cerimónias habituais, ninguém ligou nada. Portaló colocado ao navio e começaram a entrar os militares que pertenciam às Companhias, em seguida aqueles que iam em rendição individual, (era o meu caso), e quando toda a gente pensava que íamos seguir viagem, começaram a chegar carrinhas militares, mas celulares. Imediatamente surgiu um boato, constava que tinha havido distúrbios a bordo e que os tropas envolvidos já não iam seguir connosco, mas iriam presos. Passado algum tempo tudo se clarificava, as carrinhas começaram a encostar ao navio e a descarregar os presos que transportavam, eram militares que iam de facto para a Guiné de castigo e com a indicação de serem colocados em locais de maior porrada. Recordo apenas um ou outro pormenor. Vinham de diversos quartéis; um deles tinha a alcunha do gaiolas e o seu crime tinha sido pegar num jeep do Quartel do Batalhão Caçadores 9, em Viana do Castelo e num fim-de-semana que não tinha passaporte foi para casa e só veio quando o foram buscar. Posto isto, o Carvalho Araújo zarpou barra fora. Nos primeiros dias os enjoos do costume e quase toda a gente a não conseguir comer, por isso a não preservar os instrumentos que lhe iriam fazer falta nos dias que a fome apertasse e o enjoo passasse. Era ver pelo convés garfos, facas copos e pratos abandonados, houve até quem os atirasse ao mar. No terceiro dia, houve simulacro de incêndio, para cada um saber o que fazer em caso de emergência e qual a baleeira que lhe era atribuída em caso de evacuação. Todos ficámos espantados com as camadas de tinta que tinham os cabos das roldanas que deveriam estar soltos para levarem as mesmas para a água. No quarto dia, cerca das 4.00 horas, foi dado o alarme de incêndio a bordo e que cada um deveria ocupar os lugares previamente distribuídos, todos pensamos que seria mais um simulacro e portanto não tínhamos nenhuma pressa, ainda por cima de madrugada. Tomámos consciência da realidade quando vimos a tripulação já de coletes vestidos, atrapalhados e a não saber o que fazer. Verificou-se que existia uma fuga de fuel na cozinha e que ia escorrendo a arder para dentro dos porões, local onde eram acomodados os soldados, em beliches feitos em madeira. Estava o pânico instalado, os que estavam dentro dos porões queriam sair, e quem queria apagar o fogo tinha que entrar. O acesso era apenas uma mísera escada de madeira com um corrimão. Eis que surgem os nossos salvadores, autênticos bombeiros de primeira qualidade, eram os militares que tinham chegado nas carrinhas celulares, que pondo em perigo as suas próprias vidas se lançaram heroicamente contra tudo e contra todos a apagar o incêndio que já estava a tomar proporções incontroláveis. Ao fim de pouco tempo tudo estava resolvido, mas sem nenhuma dúvida graças a esses corajosos companheiros, que com a sua generosidade e alguma loucura resolveram a situação. Reunidos os comandantes das tropas e do navio, decidiram de imediato propor um louvor a todos esses presidiários. De novo eles tornaram a surpreender. Todo o equipamento que havia na parte exterior do navio foi por eles atirado ao mar, e não mais houve cadeiras ou bancos para alguém se sentar a apanhar um pouco de sol. Escusado será dizer que o louvor ficou apenas pela proposta. O Carvalho Araújo estava mesmo muito mal e ao sétimo dia voltou a incendiar, desta vez com menos violência e a tripulação resolveu o problema. Toda a gente queria era chegar depressa à Guiné, pois morrer por morrer que fosse em terra. Finalmente chegámos em 04 de Dezembro de 1970. Regressou a Lisboa e penso que aí sim foi dado por incapaz e não mais voltou a navegar. Muito ele durou, pois falava-se que o mesmo já estava arrumado para abate, mas foi recuperado para transporte de tropas. Carvalho Araújo, N/M da Empresa Insulana de Navegação. Tinha lotação para 354 passageiros. Foi abatido em 1973. Imagem extraída de navios porugueses. Com a vénia devida. Frente e verso da Ementa do primeiro jantar servido a bordo do Carvalho Araújo A bordo do Carvalho Araújo > Saida da Barra de Lisboa > Da Esq para a Dta. > ???, Luís Moreira, ??? e ex-Fur Vaguemestre Cameiro da CCAÇ 2789 que esteve em Bula de 5 de Dezembro de 1970 a 29 de Setembro de 1972, natural de Rio Maior, penso que, infelizmente, já falecido. Um abraço a toda a caserna. Luís Moreira __________ Notas de CV: (*) Vd. poste de 12 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3876: Tabanca Grande (116): José F. Moreira, ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 2789/BCAÇ 2928 (Bula, 1970/72) Vd. último poste da série de 23 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3345: O cruzeiro das nossas vidas (12): Uíge, 5 de Fevereiro de 1969, destino Guiné (António Varela)