domingo, 19 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4217: FAP (24): Afinal quem foi o camarada artilheiro do PAIGC que me 'strelou' em 25 de Março de 1973 ? Caba Fati ? (Miguel Pessoa)

1. Comentário do Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav (BA, Bissalanca, 1972/74), 'strelado' em 25 de Março de 1973, sob os céus de Guileje:

Luís

Quando é referido no poste P4185 (*) "O artilheiro do PAIGG, encarregue de disparar o Strela (Caba Fati, hoje major, se bem percebi o nome)", fiquei um bocado admirado pois, quando lá estive em 1995 no Guileje, o grupo de altos comandos guineenses, onde se incluía o Nino Vieira, contou a história do meu abate e referiu um nome de que já não tenho a certeza absoluta - Camará? Kamará? - como tendo sido o atirador do Strela que me acertou (era qualquer coisa parecida com "camarada" mas, despistado como sou, nem escrevi o nome...).

Na altura referiram ainda que ele não estava de momento na Guiné mas sim em Angola, como cooperante.

Enfim, não tem grande importância, pois fosse Caba Fati, Camará ou Kamará, o facto é que fiquei cá para contar... O pessoal presente ficou um bocado chocado quando lhes disse descontraidamente que tinha andado lá mais um ano à procura dele, mas que, pelos vistos, não o tinha encontrado... Mas de que é que estavam à espera? Que lhe quisesse dar um abraço, como fazemos aqui no blogue ?!

Um abraço (Cá está!)
Miguel Pessoa

2. Comentário de L. G.:

Parabéns ao teu saudável sentido de humor... Não sei se já o tinhas antes de seres 'strelado' (**), mas um gajo como tu que teve a estrelinha da sorte e a varinha de condão da audácia para se safar de um ronco daqueles ('a sorte protege os audazes', dizia a malta dos comandos...), bem pode permitir-se o luxo de passar o resto da vida a contar histórias de humor negro...

De facto, o comentário, na frente do Nino e dos demais altos dirigentes do PAIGC, em finais de 1995, em Guileje, aquando da reportagem para televisão, é um peça de antologia, de fina ironia, de superior inteligência, muito apropriada para a ocasião, mesmo que os interlocutores a tenham engolido em seco

... Vieste-me embora, para Portual, sem poderes entregar pessoalmente o 'cartão de visita ao sr. Cabá Fati ou Camará, o apontador do Strela que te levou ao tapete, que te derrubou mas não te venceu... Ainda lá andaste mais um ano e tal à procura de desforra...porque ao fim e ao cabo ninguém gosta de perder nem a feijões...

Confesso que, ao voltar a ouvir o Nino no vídeo, desta vez consegui ouvir bem e 'apanhar' o nome do camarada, que te 'strelou': não há dúvida que foi tal major Caba Fati, nome de resto também referido por Féfé Gomes Cofre (no filme As Duas Faces da Guerra)...

A triangulação é sempre é uma boa forma de validação de fontes de informação. Pode ser que algum amigo, da Guiné-Bissau ou de Cabo Verde, nos possa dar uma ajuda a respeito0, confirmando ou informando este dado...

Não se pense que é um exercício, por nossa parte, de sadomasoquismo... Acusam-nos de, quarenta anos depois, ainda andarmos a chafurdar no tarrafo da história da guerra da Guiné... Se a guerra já acabou há muito (e terá acabado mesmo, de verdade ?, pergunto eu), por que é que vocês não se sentam, quietinhos, no sofá, a ver televisão e a gozar a vossa bela reforma ? Que raio de gente!

Afinal, ainda sabemos tão poucas coisas sobre o outro lado da guerra... Outros, por cá, com ar mais sobranceiro, académico, doutoral, mediático, dirão que isto são 'penuts' (mancarra), 'petite histoire', coisa de somenos importância... Mas por que carga de água quer o homem saber quem o derrubou como Strela ?

Eu discordo, e daí a razão por que dei o devido destaque à tua oportuna e interessane questão: afinal, quem é que me quis matar ? O Nino e o Féfé (que eu conheci pessoalmente no decurso do Seminário Internacional de Guileje, Bissau, 1-7 de Março de 2008) parece não terem dúvidas: foi o tal Caba Fati, hoje senhor major das Forças Armadas da República da Guiné-Bissau... Por que não procuras entrar em contacto com ele ? Já tivemos algum sucesso nessas buscas de inimigos do passado. Por exemplo, localizámos e entrevistámos há tempos, em Bissau, o homem que comandou a terrível emboscada do Quirafo, o comandante Malu (***).

Não tenho dúvidas de que o teu encontro com o major Caba Fati seria emocionante, e que desta vez lhe darias o até agora adiado Alfa Bravo, o abraço da paz e da reconciliação... Ou não ? Acredito que o homem olhasse para ti, meio encavacado e incrédulo (por seres um sobrevivente famoso), e te dissesse à laia de desculpa:
- Desculpa, camarada Pessoa, mas guerra é guerra...

Miguel: Adoraria filmar esse encontro!...

__________

Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 14 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4185: Nino: Vídeos (4): Guidaje, Guileje, Gadamael: A Op Amílcar Cabral

(...) Esta e outras falhas de informação e coordenação são reconhecidas e comentadas por 'Nino' que evoca aqui também o derrube por um Strela, em 25 de Março de 1973, do Fiat G-91, pilotado pelo então Ten Pilav Miguel Pessoa, sob os céus de Guileje...

Segundo ele (e essa versão é também corroborada por Pedro Pires, no seu depoimento, na II Parte do filme de Diana Andrnga e Flora Gomes, As Duas Faces da Guerra), a "operação de Guileje" começou com uma espécie de armadilha, montada à nossa Força Aérea. Os guerrilheiros sabiam que, após um ataque a Guileje, era pedido apoio de fogo a Bissalanca. Dez minutos depois, eram sobrevoados e bombardeados pelos Fiat.

Daquela vez, havia o Strela, um moderno míssil terra-ar, disponibiliado pelos soviéticos, tendo em vista a escalada da guerra... O artilheiro do PAIGG, encarregue de disparar o Strela (Caba Fati, hoje major, se bem percebi o nome) daquela vez não falhou... A euforia foi tão grande, entre as hostes do PAIGC, que eles nem se deram o trabalho de procurar o piloto e de aprisioná-lo, no caso de ainda estar vivo... (Vd., a este respeito, o testemunho do antigo guerrilheiro Féfé Gomes Cofre, na II Parte do filme da Diana Andringa e do Flora Gomes) (...).

(**) Vd. postes de:

29 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3816: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (5): Strelado nos céus de Guileje, em 25 de Março de 1973 (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav)

4 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3839: FAP (4): Drama, humor e... propaganda sob os céus de Tombali (Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref)

(***) Vd. poste de 12 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1947: O Coronel Paulo Malu, ex-comandante do PAIGC, fala-nos da terrível emboscada do Quirafo (Pepito / Paulo Santiago)

Guiné 63/74 - P4216: (Ex)citações (23): Homenagem à memória do Capitão Pára-quedista João Costa Cordeiro (João Seabra)

1. Comentário de João Seabra (1), ex-Alf Mil da CCAV 8350, Piratas de Guileje (Guileje, 1972/73) deixou um comentário no P4184 (2) :

Caro Miguel Pessoa,
Deixa-me aproveitar a boleia, para homenagear a memória de um dos Comandantes da CCP 123 que conheci em Gadamael, o Capitão Pára João Costa Cordeiro, valoroso combatente e ser humano de eleição, estupidamente falecido num acidente.

Foi a ele que, pela primeira vez, ouvi o comentário "fez-se o que foi preciso" (que não me recordo de ver aqui mencionado, mas a que faço alusão num texto que, por ser muito pesado, talvez tenha circulado fora do blogue, entre os interessados).

Poderia multiplicar-me em adjectivos sobre o meu homenageado. Bastará, todavia, referir o seguinte:

- A minha Companhia (CCAV 8350) e a CCAÇ 4743, saíram de Gadamael em 25JUN73, sendo substituídos pela 3ª Companhia do BCAÇ 4612, pela CCAV 8452 e pela CART 6252;
- Com a situação em Gadamael já perfeitamente controlada, mas ainda perigosa, estas Companhias passaram a beneficiar de treino operacional que lhes foi ministrado pelas Unidades do BCP 12, proporcionando-lhes conhecimento da Zona e a confiança que se pode imaginar;
- A CCP 121 e a CCP 122 terão regressado a Bissau em 7JUL73;
- Ao que julgo saber, a CCP 123, por iniciativa do seu Comandante,voluntariou-se para ficar em Gadamael durante mais dez dias, para completar o trabalho de treino operacional das ditas Companhias.

Era assim o Capitão Cordeiro. Para ele, entre o que "era preciso fazer", porque entendia ser também esse o dever de uma unidade de elite da Força Aérea, incluía-se, se houvesse oportunidade, ministrar à chamada "tropa macaca", um aperfeiçoamento operacional que o Exército já não estava em condições de ministrar.
Sobre este exemplo de genuína camaradagem, o Jorge Canhão é das pessoas mais indicadas para falar.
Lastimei bastante, algumas generalizações depreciativas em que alguns dos nossos amigos, levados pela indignação, se deixaram cair, relativamente aos Quadros Permanentes das FA.
Bons e maus profissionais há em todas as carreiras. E a arrogância é muito comum na espécie humana.
Quando penso nos nossos camaradas "do Quadro", prefiro lembrar-me - em representação de muitos outros - do Capitão Cordeiro e do Tenente-Coronel Brito, que não conheci mas que não deixou de voar em nosso apoio, ameaçado por armas cujas características não eram conhecidas e sem que as necessárias contra-medidas tivessem sido estabelecidas.

Desculpa o abuso.
Abraço
João Seabra
__________

Notas de CV:

(1) Vd. poste de 1 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3954: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (6): A posição, mais difícil do que a minha, do Cap Cmd Ferreira da Silva (João Seabra)

(2) Vd. poste de 9 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4164: Comentários que merecem ser postes (3): O Gen A. Bruno gostava de fardas e do elas representavam em tempo de paz(Santos Oliveira)

Guiné 63/74 - P4215: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (7): Luís Borrega, visitante um milhão (Luís Borrega)

JÁ SABEMOS QUEM FOI O VISITANTE UM MILHÃO

1. Atrevo-me a publicar uma mensagem recebida há menos de uma hora na minha caixa de correio.

Eis a razão.

O nosso camarada Luís Borrega, acusa-se de ser o visitante que levou o nosso contador ao número 1.000.000 (Um Milhão). Sete dígitos atingidos no Domingo de Páscoa. É caso para dizer, Aleluia.

Mensagem de Luís Borrega, ex-Fur Mil Cav MA da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche, 1970/72, com data de hoje:

Caro Camarigo Carlos Vinhal

Desculpa estar a interromper o teu descanso dominical à sombra do Poilão, no largo principal da Tabanca Grande.

Sem sequer pensar, fui o visitante UM MILHÃO. Atingimos essa marca no dia 12 deste mês (Domingo de Pascoa).

Dessa data até hoje já visitaram o blogue no espaço de uma semana 8.551 (até há 10 minutos atrás).

Como diz o Luís Graça o Mundo é pequeno e o nosso blogue é muito grande.

Uma sugestão: Em vez de ser o IV Encontro Nacional, porque não o IV RONCO NACIONAL DA TABANCA GRANDE, penso que RONCO é mais adequado a designar o nosso Convívio, sempre é o termo de FESTA em Fula.

Um Grande Abraço do tamanho do Corubal
Luís Borrega


2. Agora a competente resposta ao Luís Borrega.

Obrigado Luís pelo teu contacto e pela denúncia de seres o visitante um milhão. Acreditando na tua palavra, ficas desde já referenciado entre a malta por teres sido tu o nosso leitor a atingir tal meta.

Confesso que me passou despercebida a evolução do contador nesse dia, porque tinha cá em casa uma visita muito especial, e só pelo fim do dia trabalhei.

A propósito de trabalho, repara bem que dia é hoje e consulta o Blogue para veres o que já editei. Domingo, dia de descanso? Isso era antes de ter conhecido o nosso camarada Luís Graça.

Com respeito à tua sugestão para o nome a dar aos Encontros, por mim, nada a obstar.

Um abraço de parabéns
Carlos Vinhal
__________

Nota de CV:

Vd. poste de 2 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4127: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (1): 4 anos, um milhão de páginas visitadas... (Luís Graça / Carlos Vinhal)

Vd. último poste da série de 9 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4166: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (6): Colaboração do nosso blogue na Conferência sobre a Poesia da Guerra Colonial

Guiné 63/74 - P4214: Tabanca Grande (135): Fernando Oliveira, ex-Fur Mil Rec Inf (Guiné, 1968/70)

1. Mensagem de Fernando Oliveira, ex-Fur Mil Rec Inf (Guiné 1968/70), com data de 10 de Abril de 2009:

Camaradas Luís Graça, Virgínio Briote e Carlos Vinhal,

[à att. especial de Carlos Vinhal]

De acordo com as condições estipuladas no blogue da Tabanca, venho solicitar-vos a minha admissão ao grande grupo de ex-comabatentes da Guiné.

Para esse efeito, e tendo em conta o preço de ingresso [...?], junto duas fotos tipo passe [uma antiga e outra mais recente] e uma história [ou seja, no essencial, a da minha chegada a Bissau no final de Out/1968]. Incluo ainda um resumo muito sintético e esquematizado das minhas andanças na tropa.

Aqueles textos e as fotos ficam ao vosso dispôr para o destino que vos aprouver. Entretanto, digo-vos que o primeiro daqueles textos já o publiquei o ano passado no meu blogue, onde poderá ser encontrado através do link:

http://tretaseoutras.blogspot.com/2008/07/minha-tropa-1.html

No blogue ainda há um outro post [que, por razões de extensão, foi lá divido em três partes], relativo ao tempo da especialidade tirada em Tavira e intitulado o "pelotão das carecadas". Se achardes que poderá ter algum interesse para a Tabanca, depois dizei-me, ok?

Posto isto, fico à espera da vossa decisão da minha admissão à Tabanca.

Mas, se me permitis, ainda não termino esta mensagem [daí a minha chamada de especial atenção para o Carlos Vinhal].

É que o Carlos, ao ler esta parte final do mail, creio que vai lembrar-se de mim e que fômos quase vizinhos durante vários anos em Leça da Palmeira. Ou seja, os nossos pais moravam em ruas paralelas, ambas com nomes de aviadores dos anos 20. E a minha mãe ainda reside lá.

Estive em Março, pela primeira vez, no almoço de confraternização do pessoal de Matosinhos (*) [por indicação do Júlio Santos e do Ribeiro Agostinho] e, na altura, trocámos algumas impressões.

Carlos, já estás a topar quem sou?... Creio que sim.

Depois daquele encontro na sala do Mauritânia, andei a fazer pesquisas no blogue da Tabanca para enquadrar algumas das minhas memórias relativas à Guiné. É que, devido às voltas e reviravoltas da minha vida pessoal, não disponho das centenas de cartas e aerogramas que escrevi quando lá estive. Apenas me restam algumas fotos que os meus pais guardaram no albúm de família e que, agora, tenho andado a digitalizar.

Daquelas pesquisas, já encontrei registos relativos ao período e aos sítios que estive na Guiné. Depois de dois ou três meses em Guidage, fui mandado para Mansôa, onde estive entre Fev/69 e Nov/70. Na altura, estava lá um BCAÇ que acabou a comissão logo a seguir e foi rendido pelo BCAÇ 2885. E é deste BCAÇ 2885 que tenho as minhas maiores recordações. Também já encontrei fotos e nomes, através dos quais, agora, constato que as minhas memórias estão a "viver" alguns dos acontecimentos daquela altura. E, por isso, vou tentar contactos directos por email, por exemplo com o César Dias, ex Fur Mil da CCS do BCAÇ 2885. Mais tarde, dir-vos-ei alguma coisa acerca disto.

Já vai longo este email. Certamente haverá outras oportunidades para "conversarmos", ok?

Antes de terminar, quero manifestar-vos o meu maior apreço pelo trabalho extraordinário que desenvolveis na Tabanca, com vista a tornarem "vivas" as memórias dos ex-combatentes da Guiné. E por isso, o meu grande obrigado e bem hajam!

Para vós, camaradas, aqui deixo um forte abraço.
Fernando Oliveira
ex-Fur Mil RecInfo

P.S.: Ao escrever acima "Fur Mil" por baixo do nome, senti-me estranho. É que há cerca de 40 anos que não o fazia...


2. A minha ‘tropa’

Nome: Fernando Oliveira [ex-Fur Mil RecInfo]
Morada actual: Porto
Data nasctº: 11/12/1945

Resumo das minhas andanças na tropa:

- Jul a Set/67: recruta no RI5, nas Caldas da Rainha, como soldado miliciano
- Out a Dez/67: especialidade de RecInfo no RI6, em Tavira, idem
- Jan a Set/68: formação de recrutas no RI13, em Vila Real, como cabo miliciano
- Out/68 a Dez/70: colocação na Guiné em rendição individual, como furriel miliciano:
- 23 a 28/10: viagem de Lisboa para Bissau a bordo do Uíge
- 28/10 [de tarde]: desembarque em Bissau
- Nov/68: 2 ou 3 semanas em formação no SIM/CTIG, em Bissau
- Nov/68 a Fev/69: colocação em Guidage [não recordo a Unidade]:
- viagem de Bissau para Farim em Dakota
- deslocação de Farim para Guidage em coluna militar
- permanência em Guidage de Nov/68 até Fev/69
- Fev/69 a Nov/70: colocação em Mansôa [inicialmente, no BCAÇ???? durante 2 ou 3 meses, e, depois, no BCAÇ 2885 que o rendeu:
- deslocação de Guidage para ...(não me recordo de ter voltado a Farim) em coluna e, nessa altura, encontro-me com o Rui Almeida, amigo de adolescência de Leça da Palmeira que, numa coluna em sentido contrário, se dirigia para Guidage onde tinha sido colocado
- permanência em Mansôa adstrito à CCS do BCAÇ 28885, com actividade desenvolvida na sala de operações
- Dez/70: no SIM/CTIG em Bissau à espera do regresso à metrópole
- aguardo em Bissau transporte para a metrópole (a previsão apontava que seria a bordo do Carvalho Araújo)
- como o navio estava atrasado, foi dada hipótese de viajar de avião (pagando o excesso)
- em 07/12/1970 viajo num avião da TAP de Bissau para Lisboa


3. Comentário de CV:

Caro Oliveira, bem-vindo à Tabanca Grande.

Fiquei contente por te ver entrar porta dentro, neste Blogue que se quer sempre activo e com gente continuamente a aderir ao nosso projecto.

Como sabes, a finalidade desta página é deixar algo que permita, no futuro, recolher experiências de ex-combatentes que, com mais ou menos eloquência, disseram o que viveram e o que sentiram durante a sua campanha na Guiné. Operacionais ou não (que se entende por operacional?), todas as colaborações são bem-vindas, pois cada uma delas é um ponto de vista diferente ou um modo diferente de ter visto a guerra.

Nós somos velhos conhecidos de Leça, de ruas paralelas, (Brito Pais, a tua, e Sarmento Beires, a minha). O que nos diferenciava era o núcleo de amigos que não era o mesmo.

Por curiosidade encontrei esta preciosidade na internete, mais propriamente em Rua Onze.Blog, uma gravura com os dois aviadores lado a lado, memorizados nas nossas ruas.

Os aviadores portugueses Brito Pais (1884-1934) e Sarmento de Beires (1892-1974). Bilhete postal editado em 1924.

Com a devida vénia a Rua Onze.Blog


Foi com muito prazer que te vi no Convívio dos ex-combatentes da Guine do Concelho de Matosinhos (*), durante o qual, aliás, trocamos impressões, mas também te quero ver no IV Encontro Nacional desta Tertúlia, em Ortigosa.

Uma parte do teu anexo irá ser publicada noutro poste para não tornar este muito longo. Estás devidamente apresentado e pronto para colaborares connosco. Iremos espreitar o teu Blogue e se precisarmos de te roubar alguma coisa, pedir-te-emos autorização para tal. Uma das normas deste Blogue é o respeito ao direito de propriedade, intelectual, neste caso, logo não fazemos aos outros o que não queremos que façam a nós.

Em nome da Tertúlia, deixo-te um abraço de boas-vindas.
Da minha parte um abraço especial de vizinho para vizinho.
CV
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4030: Convívios (100): III Encontro dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, dia 7 de Março de 2008 (Carlos Vinhal)

Vd. último poste da série de 16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4194: Tabanca Grande (134): Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf (Guiné 1970/72)

Guiné 63/74 - P4213: Convívios (114): Pessoal da CART 2339, Os Viriatos, dia 23 de Maio de 2009 no Alto Foz, Peniche (Carlos Marques Santos)

1. Mensagem de Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil da CART 2339 (*), Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69, com data de 16 de Abril de 2009:

Vinhal:
Um Abraço.

Zona Lourinhã do Luis Graça, a seguir à Praia da Areia Branca, na estrada Lourinhã-Peniche.
Restaurante Paraíso do oz, Alto do Foz

Magnífico.

Agradeço publicação 19.º CONVÍVIO CART 2339 /68-69 Mansambo.
23 de Maio / Alto do Foz, perto da Praia da Areia Branca.

Anexo Doc.

CMSantos
2339 - 68 /69 Mansambo
Guiné



CART 2339 – VIRIATOS 1968/69 - GUINÉ - Fá Mandinga/Mansambo



Contactos:

Carlos Marques dos Santos
Telm 91 921 21 13
Rua Gago Coutinho, 17 A - 6.º A
3030 – 326 Coimbra

Victor Baião
Telm 91 856 73 96


19.º CONVÍVIO

Em Dezembro/1969 regressámos ..Passaram 40 anos.


Por isso, companheiros, lembramos que se aproxima o dia do Convívio e Almoço anual. Era bom estarmos muitos nesse dia para comemorar, recordar e continuar a cimentar as amizades.

Conforme combinado, o encontro este ano será na Zona da Praia da Areia Branca, no Alto Foz, já no concelho de Peniche e o mentor é o Victor Baião, com o meu acompanhamento administrativo.

Estivemos os dois em 21 Março, no respectivo restaurante, a preparar o ENCONTRO.

Que se cheguem, com vontade, os próximos voluntários.

Informamos ainda que:

O Almoço/Convívio realizar-se-á a 23 de MAIO (sábado), pelas 13.00 horas, no Restaurante Paraíso do Foz, Alto Foz, na estrada Nacional 247 – Peniche/ Lourinhã.

2. A ementa terá o preço final de 20.00 €. Dos 5 aos 9 anos o preço será 50%.

Constará de:

Entradas variadas.
Creme de marisco.
Bacalhau à lagareiro com batata assadinha.
Perna de porco à Paraíso.
Buffet de doces.
Vinhos brancos, rosés e tintos ( Só maduros ). Refrigerantes e águas.
Café.
Poderá haver pratos alternativos para dietas. Aperitivos, Digestivos e outros não estão incluídos.

NOTA:
É importante saber com brevidade quem participa, incluindo os acompanhantes.

A resposta (via postal, telefónica ou e-mail: carlosmarkes@hotmail.com) deve ser transmitida para Carlos Marques dos Santos, sem falta até ao dia 12 de Maio, pois o Restaurante precisa de programar compras e serviços.

Portanto não esqueças. INSCREVE-TE COM TEMPO e passa palavra. Mobiliza o pessoal mais próximo de ti.

UM Grande ABRAÇO,
Marques dos Santos





Será possível organizar a saída de um autocarro a partir de Penafiel com passagem pelo Porto.

No Porto será o Ernesto o receptor das informações e dos contactos: Telm. 96 64 95 612

Em Penafiel serão o Zeferino e o Cardoso Pinto a organizar e a concentrar as informações. Saída do Campo da Feira.

Zeferino: Telm. 96 64 95 767
Cardoso Pinto: Telm. 96 90 10 636

Os contactos com os organizadores devem ser urgentes: é preciso rentabilizar a viagem para sermos muitos.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4178: As grandes Operações da CART 2339 (3): Operação Gavião, 4 de Abril de 1968 (Carlos Marques Santos)

Vd. último poste da série de 16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4198: Convívios (111): 3.º Encontro/Convívio do pessoal da CCS/BART 2917, dia 16 de Maio de 2009, em Viana do Castelo (Benjamim Durães)

Guiné 63/74 - P4212: Tabanca de Matosinhos (9): Manga di ronco na grande Tabanca de Matosinhos (José Teixeira)

1. Mensagem de José Teixeira (*), ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70, com data de 15 de Abril de 2009:

Boa noite amigos e camaradas.
junto mais um texto, sobre uma agradável visita que tivemos hoje na Tabanca Pequena (já grande) de Matosinhos.
Num outro Mail, mando as fotos actuais

Abraço fraterno do
José Teixeira


Manga di ronco na grande Tabanca de Matosinhos

Hoje tivemos a alegria, a honra e o prazer de ter connosco à mesa, o Régulo de Sinchã Shambel. O Suleimane Shambel Baldé, querido amigo e camarada dos meus tempos em Mampatá Forreá.

Filho do Régulo Shambel de Contabane (entre Aldeia Formosa e Saltinho), viu a sua Tabanca ser totalmente queimada no dia 22 de Junho de 1968, num violento e longo ataque do PAIGC . Os dois Grupos de Combate aí estacionados da CCaç 2382, regressaram a Aldeia Formosa, com a roupa que tinham no corpo, dois dias depois, exactamente no dia em que eu lá pelo norte em Ingoré, me divertia numa Marcha de S. João. A guerra tinha destas coisas. Todos as moranças, e bens pessoais da população e dos militares fora destruído pelo fogo. Restaram cinzas e lágrimas.

A população distribuiu-se numa primeira fase por Aldeia Formosa, Saltinho, Mampatá Forreá, etc. até ser reagrupada em Sinchá Shambel, (nome que quer dizer terra de Shambel em honra de seu pai) no Saltinho.

Um mês depois coube à minha Companhia fixar-se na zona, onde ficou até ao fim da Comissão.

O Suleimane, começou por fixar-se em Mampatá no grupo de milícia, onde nos conhecemos, depois foi para a Chamarra. Como pelos lados de Gandembel a festa aquecia, foi deslocado para lá, tendo passado uns tempos em Ponte Balana.

Decidida a retirada estratégica desses destacamentos, o Suleimane foi colocado de novo na Chamarra e posteriormente foi engrossar o Pelotão de soldados nativos organizado e comandado pelo Paulo Santiago no Saltinho.

Hoje, com 73 anos bem vividos e bem conservados, quatro mulheres e 21 filhos, vive, tanto quanto nós, os combatentes da Metrópole, a nostalgia daqueles tempos. Recorda, nomes, fisionomias, tiques de antigos comandantes e camaradas. Quer revê-los, abraçá-los. Recordar aventuras e estórias, momentos de luta, sofrimento e dor, bem como momentos de alegria e festa que também tivemos.

Em 2005, quando voltei à Guiné, tive o grato prazer de, numa terra onde nunca tinha estado (Saltinho) ser reconhecido e ouvir chamar pelo meu nome – Tissera. Uma bonita e simpática senhora, não hesitou em vir ao meu encontro e identificar-se como filha do Aliu Baldé de Mampatá e mindjer do Suleimane Shambel Baldé, soldado milícia em Mampatá, dos velhos tempos da minha juventude. Era a Ádada, Bajuda bonita daqueles tempos e que ainda guarda essa beleza. Foi um choque emocional tremendo e gratificante. Só por si, valeu a pena voltar à Guiné. O Suleimane estava fora, pelo que não nos pudemos abraçar

A Mãe do Suleimane, hoje, com 98 anos bem vividos, veio receber-me num abraço apertado e lágrimas nos olhos, gritando: - Branco na volta, branco na volta!

O Ano passado, voltei. A Ádama voltou a receber-me com carinho e tive o prazer de abraçar o Suleimane.

Agora, foi a vez de ele nos vir visitar. Um nome – Capitão Rui, onde está? Era o Capitão da C.Caç 2382 que defendeu a população de Contabane, no terrível ataque de Junho de 1968. Outro nome – Alfero Barbosa (muito alto), da minha Companhia com quem conviveu na Chamarra (infelizmente já falecido).

Obrigado Suleimane, por estes belos momentos que voltamos a reviver.
Zé Teixeira

Buba, 2005 - Pista de aviação transformada em zona de habitação

Ingoré, 1968 > Marchas de S. João

A Ádada, mulher do régulo Suleimane

Saltinho, 2005 > Viúva de Shambel - Régulo de Contabane

Suleimane Shambel, Milícia em Mampatá, Régulo de Saltinho

Suleimane Shambel Baldé, Régulo de Sinchã Shambel, assina o Quadro de Honra da Tabanca de Matosinhos

Suleimane Shambel Baldé e José Teixeira, mais uma vez juntos

Suleimane Shambel Baldé com António Carvalho, ex-Fur Mil Enfermeiro em Mampatá

Fotos: © José Teixeira e Álvaro Basto (2009). Direitos reservados.

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4142: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (10): A propósito dos Bandos que pululavam na Guiné (José Teixeira)

Vd. último poste da série de 21 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3659: Tabanca de Matosinhos (8): Natal 2008: Memorável convívio no Milho Rei (Carlos Vinhal, texto; Jorge Teixeira, imagem)

Guiné 63/74 - P4211: Os Bu...rakos em que vivemos (6): Banjara, CART 1690 (Parte II): Lugar de morte (A. Marques Lopes / Alfredo Reis)

Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967/69) > Destacamento de Banjara > Um local de desolação e de morte... "Banjara gozava da fama, e do proveito, de ser o segundo pior destacamento da Guiné, a seguir a Beli, na zona de Madina do Boé. Não apenas pelos ataques mas, sobretudo, pelo perigo que representava, por estar muito isolado da Companhia, e por estar cercado por uma cintura de destacamentos IN, que vigiavam de fora do arame farpado e do alto das gigantescas árvores que o envolviam todos os movimentos da nossa tropa [tinha Sinchã Jobel do lado sul e Samba Culo do lado norte]" (António Reis) (*)

Fotos: © Alfredo Reis (2009). Direitos reservados.


1. Texto de A. Marques Lopes, coronel DFA, na reforma, ex-alferes miliciano na Guiné (1967/68) (CART 1690, Geba, 1967/68; e CCAÇ 3, Barro, 1968)...



... E já agora, aqui vai um exemplo das dificuldades para chegar a Banjara.

Digo-vos também que foi no caminho para lá que eu fui ferido e fui, por isso, para uma estadia de nove meses no Hospital Militar Principal da Estrela [,em Lisboa]...
[Não admira, por isso, que o António eleja Banjara como o pior Bu...rako que ele conheceu]


59. Operação sem nome. 15 de Julho de 1968 (**)

Situação particular: Do antecedente o IN coloca minas no itinerário Sare Banda-Banjara.

Missão: Transporte de frescos e correio. Patrulhamento do itinerário Geba-Banjara-Geba.

Força executante:

Dest A - CART 1690 (1 Secção +) ref. c/PEL MIL 111/Companhia Milícias 3

Dest B - PEL CAÇ NAT 64

Dest C - 1 PEL REC/ EREC 2350


Desenrolar da acção:

Em 16 de Julho de 1968, às 11h15 saiu do destacamento de Sare Banda o 1º Gr Comb , constituído por 2 secções do PEL CAÇ NAT 64 e seis milícias que iniciaram a picagem da estrada.

As 12h05 verificou-se o rebentamento de uma mina A/P, reforçada com 1 mina A/C, que provocou 6 mortos e 1 ferido grave às NT pelo que tive que pedir uma evacuação urgente e fiz transportar os corpos dos mortos (com excepção de 1 que ficou completamente pulverizado) e o ferido para Sare Banda.

O transporte foi feito num Unimog, levando como escolta uma secção de atiradores e 1 Daimler. O restante pessoal ficou a manter segurança no local do rebentamento e aguardando a chegada destas viaturas.

Quando as mesmas regressaram verifiquei que os elementos da Companhia de Milícia não queriam prosseguir na operação, pelo que tive de os obrigar a continuar a desempenhar a missão de que iam incumbidos: picar a estrada.

Consegui que a coluna prosseguisse em direcção a Banjara, que se atingiu às 16h25. A saída de Banjara verificou-se às 17h00, tendo a coluna atingido Bafatá às 18h30.

Foi cumprida integralmente a missão apesar do grande atraso em relação ao previsto.

A distância de Banjara a Geba era, em linha recta, de 27,5 km. Na prática era quase o dobro (47 km).

A. Marques Lopes

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Notas de L. G.:

(*) Vd. poste de 31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4115: Os Bu... rakos em que vivemos (1): Banjara, CART 1690 (Parte I) (António Moreira/Alfredo Reis/A. Marques Lopes)

(**) Vd. poste de 30 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXXIII: A morte no caminho para Banjara (A. Marques Lopes)

sábado, 18 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4210: O Nosso IV Encontro Nacional, Ortigosa, Monte Real (2): Mudança de planos (Editores)

IV ENCONTRO NACIONAL DA TERTÚLIA DO BLOGUE LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA GUINÉ

Os camaradas e os Tertulianos em geral já devem ter reparado que há um novo inquérito para auscultação de uma data mais conveniente, à maioria, para se efectuar o IV Encontro Nacional.

Claro que não mudamos de acordo com a direcção do vento. Aconteceu que o Batalhão do Mexia Alves se vai encontrar no dia 6 de Junho próximo, e em causa está a privação imposta ao nosso camarada de poder conviver com os seus companheiros, assim como a ausência forçada de outros companheiros que costumam participar no nosso convívio.

Mensagem do organizador do Encontro, Joaquim Mexia Alves:

Caro Carlos

Acabei de receber a informação/convite para o almoço do meu Batlhão que será precisamente no dia 6 de Junho.

Por mim não tem problema, mas temo que o Barroso, o Álvaro Basto e outros tantos não possam vir.

Diz ainda o convite que contam no almoço com a presença do Mário Beja Santos.

Coloco como hipótese o dia 13 ou 20 ou 27 de Junho, 4 de Julho ou então manter a data e depois logo se vê.

Julgo no entanto que só do meu Batalhão, o ano passado estariam no nosso almoço mais de 10 pessoas.

Posso também contactar algumas e aferir do seu interesse entre uma coisa e outra.

O que achas de tudo isto?

Abraço amigo do
Joaquim

Foi esta a causa da alteração de planos.
Pelo facto pedimos desculpa aos nossos camaradas. Esperemos pelo que vai dizer a maioria.

Informamos os camaradas que já se inscreveram, que vamos considerar nulas as intenções já manifestadas. Quando, definitivamente, tivermos uma data marcada, registaremos as novas inscrições. Afinal, como amigos, estamos sempre em contacto.

Voltaremos em breve ao assunto.

Os Editores
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 14 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4186: O Nosso IV Encontro Nacional, Ortigosa, Monte Real, 6 de Junho de 2009 (1): Abertura das hostilidades (Editores)

Guiné 63/74 - P4209: Blogues da Nossa Blogosfera (16): Coisas do MR (Magalhães Ribeiro)

1. Mensagem do nosso camarada Eduardo Magalhães Ribeiro (*), ex-Fur Mil de Operações Especiais da CCS/BCAÇ 4612, Cumeré, Mansoa e Brá (1974), com data de 18 de Abril de 2009:

Boa tarde Amigos Tertulianos,

Tenho andado às voltas a construir um blogue com coisas da Guiné (selos, notas e moadas, postais, etc.), e outras, se quiserem dar uma vista de olhos, vejam principalmente em mensagens antigas (para lá chegarem têm que clicar 2 vezes no fundo de cada página em mensagens antigas):

http://coisasdomr.blogspot.com/

É claro que todo o material lá cololado, que o Luís Graça, Vinhal ou Briote acharem interessante, para colocar no "nosso" blogue dos "camaradas da Guiné", é só dizerem que eu envio o mesmo para o efeito.

Também já me disponibilizei totalmente, ao Luís Graça, Vinhal ou Briote, para ajudar no que for preciso para continuar a fazer do "Luís Graça & Camaradas da Guiné", um dos mais consultados blogues da internete, senão o maior de todos, pois tenho andado a treinar no primeiro.

Com os melhores desejos de bom fim-de-semana para todos vós, um abraço deste vosso amigo Piriquito de Mansoa M.R.

O Blogue Coisas do MR pode ser visitado em http://coisasdomr.blogspot.com/
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4170: Blogoterapia (99): Joaquim Gomes, mais um Comando africano barbaramente assassinado (Magalhães Ribeiro)

Vd. último poste da série de 29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3814: Blogues da Nossa Blogosfera (15): Companhia de Transportes 2642 - Guiné 69/71 (José Pereira Santos)

Guiné 63/74 - P4208: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (15): Curvo-me perante V.Ex.ª, uma vez mais... (Manuel Maia)

Manuel Maia foi Fur Mil na 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, (1972/74).

1. Uma das maneiras de lembrar o vão sacrifício dos camaradas que não voltaram connosco, é exprimir a revolta sentida, perante palavras injustas e ofensivas.

Fogo à peça Manuel, que nunca te falte a arte e o engenho para nos presenteares com os teus textos sempre apropriados.

Mensagem de Manuel Maia (*), com data de 14 de Abril de 2009:

Ainda e Sempre a intervenção no mínimo infeliz de A.B.

P´ra lá da imensa inóspita bolanha,
do medo que gerava ódio, sanha
havia uma tabanca renovada.
Telhados, colmo novo, a evidência
da actividade intensa e resistência
da inimiga gente lá instalada...

Uns quinze dias antes, tropas lusas,
em golpe perpetrado pelos fuzas
ao IN infligem lá duro revés.
Resposta p´las palhotas destroçadas
foi dada às nossas bases, flageladas,
Abril catorze, treze e dia dez...

Saímos da aramada posição
em bandos, mesmo à guiza de excursão,
carentes da enluvada mão de AB...
Retido por Bissau nos matagais
o Rambo dava lustro aos seus metais
gorando a nossa ´sp´rança, já se vê...

No pic-nic feito de seguida,
das gentes lá do sítio é recebida,
mensagem p´ro "manjor" que idolatravam...
-"Nós quer museu de AB, oiçam-nos bem ,
medalhas, lenço "suma ele
", tem...
só faltam os ray-ban, salientaram...

Depois deste convívio com o povo,
farpado arame aguarda-nos de novo
para um papel discreto, pouco activo...
D´audácia estão os bandos arredios
sem peitos p´ra medalhas, quais gentios,
d´herói tem já AB o exclusivo...

A minha sentida homenagem (enquanto parte integrante dos bandos que preguiçosamente se espraiavam por trás dos mares de arames farpados, divertindo-se à grande, em jogos de paint-ball fugindo dessa forma à entediante vivência proporcionada nessas opulentas estâncias turísticas do guinéu espaço, onde o dolce far niente era apanágio, e queimando assim as calorias dos inebriantes menús servidos à la carte numa ambiência digna de marajás...) a sua excelência o nosso bem amado herói, figura quase mítica a quem a história dos homens reservou, por certo, um espaço adequado para ali gravar a letras de ouro, todo um historial digno de figurar ao lado de Gamas e Cabrais, dum Medina ou dum Malhoa (tal a precisão do retrato...) dum Teixeira Lopes ou Soares dos Reis, pelas belas páginas de portugalidade que redescobriu, que escreveu, nesses cenários pintados e esculpidos no TOG e nos fez embevecer a todos...

Curvo-me perante V.Ex.ª uma vez mais, esperando ter contribuído minimamente para enaltecer os actos dum português lhano, simples, por isso merecedor de todos os encómios.

Muito agradecido a V.Ex.ª
Manuel Maia
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Nota de CV

(*) Vd. poste de 7 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4154: Estória avulsas (26): Estou na Guiné há treze meses e a minha mulher está grávida (Manuel Maia)

Vd. último poste da série de 11 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4172: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (14): Desprestígio e ofensa a quem foi obrigado a combater (Manuel Reis)

Guiné 63/74 - P4207: In Memoriam (20): Para o António Ferreira e demais camaradas mortos no Quirafo (Juvenal Amado)

1. Mensagem do Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74:


Caros Luís, Carlos,Vírginio e restante Tabanca Grande:

Não vou esconder que este texto é motivado pelo que senti, ouvi e que presenciei, no Saltinho após a tragédia [de Quirafo, em 17 de Abril de 1972].

Efectivamente eu estive no Saltinho, ainda a tempo de ver a caserna abrigo, quase transformada em Santuário. As camas todas feitas de branco sem uma marca, que alguém lá podesse ter deixado.

No entanto, para além de dedicar à mulher (foto à direita) do nosso camarada Ferreira (foto à esquerda), gostaria de o dedicar também a todos que deixaram os seus sonhos naquelas paragens.

Sem mais um abraço

Juvenal Amado

2. SÓ DEUS TEM OS QUE MAIS GOSTA
por Juvenal Amado


O vazio que ficou.
A dor que nos atingiu, vai transformar-se em ausência
e mais tarde saudade.
O calor o suor, cheiro adocicado do sangue e carne queimada
não nos largará mais.
As bocas abertas falam, mas ninguém ouve.
Os gritos estão presos na garganta,
as lágrimas ameaçam soltar-se e cair em cascatas,
abrindo sulcos entre o pó acumulado nos rostos.
Se pudéssemos,
voltaríamos atrás uns breves minutos,
alteraríamos o rumo da história.
O calor que nunca nos dá descanso.
O que não daríamos para poder escolher,
escolhermos outro caminho,
não fazermos da mesma forma.
As mãos estão negras em volta dos punhos das armas.
O silêncio é opressivo,
de nada vale tentar ouvir se até a natureza se calou
perante a violência, de que só o homem é capaz.
Ali jazem sonhos anseios futuros aguardados.
As últimas cartas ainda queimam no bolso,
não vai haver resposta.
Os rostos jovens nas fotos nunca vão envelhecer.
O tempo passará para todos,
menos para quem está naquelas fotos.
O que somos será sempre reflexo das nossas vivências passadas?
Há quem defenda que é um CARMA.
Viemos completar com a passagem por esta vida,
mais um elo para a nossa eternidade
ou vida melhor noutra dimensão.
Aquele é o filho de...
Marido de...
O pai de...

Alguém escreveu que o que separa da Paz e da Guerra são os enterros.
Em Paz os filhos enterram os pais...
Em Guerra os pais enterram os filhos...
Invertem-se assim os valores
tidos como certos pela ordem natural das coisas.
Como diz a canção «Só Deus tem os que mais gosta».
Que este pensamento minimize a dor de todos
que viram partir os seus na flor da idade.

Juvenal Amado



[Fixação / revisão de texto: L.G.]

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste anterior desta série > 18 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4205: In Memoriam (19): António Ferreira, 1.º Cabo TRMS da CCAÇ 3490, morto em combate no dia 17 de Abril de 1972 (Cátia Félix)

Guiné 63/74 - P4206: Memórias de outros tempos (1): Fur Mil Aguinaldo Pinheiro, o morto-vivo do BART 1913 (Jorge Teixeira - Portojo)


1. Mensagem de Jorge Teixeira - Portojo(*), ex-Fur Mil do Pel Canhões S/R 2054, (Catió, 1968/70), com data de 14 de Abril de 2009:

Amigo Carlos
Se der para meter no Blogue, gostaria de contar umas estórias sobre Mortos-Vivos.
Esta é uma delas. As datas estão na história do BART 1913.



O Morto Vivo Pinheiro

História do BART 1913
....
Feridos
....
12JUN68 - Fur Mil Aguinaldo Dias Pinheiro/CCS
....
Abates
13JUN68 - Fur Mil Sap Inf Aguinaldo Dias Pinheiro - Evacuado para o HMP

A minha história

Eu pira com uma dúzia de dias de Catió.

Dia de anos da minha mãe. Dia de reabastecimentos a Cufar.

Saí com o meu Pelotão integrado no Grupo que fazia a segurança e a picagem da estrada Catió-Cufar e ficamos a montar a segurança, segundo me disseram, próximo do cruzamento de Camaiupa. Recomendaram-me muito cuidadinho. Os sapadores do Alf Ganhão seguiam já bem lá à frente. De repente rebentamentos. Uma viatura passou bem rápida no sentido do barulho e regressou passado algum tempo.

A voz corrente foi de que o Fur Pinheiro lerpou ao levantar uma mina. Nunca mais soubemos nada do acidente e realmente todos em Catió ficamos convictos que o Pinheiro tinha ido para o outro lado.

Muitos anos depois, encontro o Victor Condeço e logicamente começamos a conversar do passado. E o Pinheiro veio à baila. Disse-me o Victor que ele estava vivo. Tinha-o encontrado num convívio da CCS

20 de Maio de 2007

Dia de festa para a CCS do Bart 1913 na Serra do Pilar. Estive presente e feliz por rever antigos companheiros com quem passei nove meses de Guiné, e muitos deles reconheci-os à primeira. Mas queria ver o Pinheiro. Embora só tivesse convivido com ele cerca de um mês, a marca que deixou em mim foi grande. E o Pinheiro apareceu vindo lá do sul de Portugal. Foi com alegria que o abracei e pude ouvir parte da história do que lhe aconteceu. Sim, porque ele não sabe contar a outra parte. Só se lembra até... depois desapareceu tudo.

Recordando o após, disse-me fez uma dúzia de intervenções cirúrgicas, já não sabe quantas, mas diz muito galhofeiramente, que até foi bom, pois só ficou sem uma parte do cérebro que era a inútil. E assim reencontrei o Pinheiro e fiquei feliz num dia para recordar para toda a vida.

Aqui vai a foto dele, tal como estava há dois anos. Sei que não se chateia de o referir, pois diz nada mais o chatear depois daquele dia 12 de Junho de 1968.

Jorge Teixeira

Aguinaldo Dias Pinheiro, ex-Fur Mil Sap de Inf, felizmente vivo e de boa saúde.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3987: Recortes de Imprensa (14): Soldados mortos na guerra colonial terão memorial no Porto, JN de 5/3/2009 (Jorge Teixeira)

Guiné 63/74 - P4205: In Memoriam (19): António Ferreira, 1.º Cabo TRMS da CCAÇ 3490, morto em combate no dia 17 de Abril de 1972 (Cátia Félix)

António Ferreira, 1.º Cabo TRMS da CCAÇ 3490, falecido em combate no dia 17 de Abril de 1972, durante uma emboscada no Quirafo.

1. Normalmente costumo apresentar, à esquerda dos postes, uma foto de um jovem militar, garboso, cheio de pose, independente do seu posto militar, porque isso não foi o mais importante para cada um de nós, e à direita um velhote, entradote, nos sessentas, a maioria das vezes, pai e avô.

Desta vez, se à esquerda aparece um militar com a mesma pose altiva, aparece do lado direito a mesma foto, mas... emoldurada com um rendilhado de metal e extraída de uma lápide de cemitério. Nunca tal me havia acontecido.

Este camarada nem sequer teve uma morte natural, se é que morrer aos vinte anos é natural, mas morreu violentamente, vítima de uma guerra que não provocou nem para a qual se ofereceu como voluntário, com o fito de ganhar principesco ordenado.

Feito este desabafo, neste domingo triste e chuvoso, passemos à cerimónia ontem acontecida, na passagem dos 37 anos da emboscada do Quirafo, no Cemitério de Águas Santas, Maia, em memória do nosso camarada António Ferreira.

Que a homenagem de ontem, fosse não só em memória do António Ferreira, mas de todos os nossos camaradas que perderam a sua vida ao serviço do país, na Guerra Colonial. Uma coisa foi a justeza da guerra, discutível, outra o cumprimento do dever para com Portugal.
CV


2. Mensagem da nossa jovem amiga Cátia Félix, datada de 17 de Abril de 2009:

Olá Amigos

O dia de hoje, passado 37 anos da fatídica Tragédia do Quirafo, ficará na memória de muitos como recordação de um dia cheio de amor, paz, amizade, camaradagem... ao contrário de há 37 anos atrás...

Eram 16h e eu, a Cidália e a filha chegavamos ao Cemitério de Águas Santas. Mal entramos na rua principal vemos ao longe um Batalhão de homens. O nosso coração tremeu... O desejo da Cidália iria agora tornar-se realidade. Juntar os camaradas do malugrado Ferreira e fazer a sua devida homenagem, a ele que morreu na emboscada do Quirafo, a todos os militares que não regressaram aos seus lares, aos que continuam entre nós... Apresentações feitas, rumamos juntos até ao talhão reservado a militares da Guerra Colonial naquele cemitério, onde também está António Ferreira.

Camaradas de guerra presentes, representando também os que não estavam entre nós, depositaram sob a campa uma bonita coroa de flores. Acenderam-se velas, deu-se o devido Alfa Bravo e, todos juntos falamos um pouco de toda esta história.

Como sugerido pelo Luís Graça, todos fizemos um minuto de silêncio em homenagem a todos os combatentes que perderam as suas vidas na Guerra Colonial. Digo-vos que esse minuto, sem ninguém contar, ficou marcado pelo tocar dos sinos...
Correram lágrimas...

No fim do merecido reconhecimento, todos abraçamos a Cidália e, os Camaradas presentes entregaram-lhe uma moldura com uma fotografia da Tabanca do Saltinho (penso eu...).

Todos juntos conseguimos que esta Senhora e a sua família enterrassem todas as interrogações que a vinham assombrando durante todos estes anos.

Assim passou 1 hora... Como ainda faltava algum tempo, juntamo-nos perto da Igreja do Marquês.
A missa que aí foi realizada por voltas das 19h15 encerrou dignamente o drama até então vivido.

Amigos, o vosso acto foi NOBRE e, não me canso de agradecer (também em nome da Cidália) tudo o que fizeram.
Pode-vos parecer estranho, mas o sentimento que nutro por todos vós é como o de uma 2.ª família para mim. Que apesar de vos ter conhecido por uma triste razão, foi das melhores coisas que me aconteceram ultimamente.

Irei fazer questão de no dia em que terminar o meu custoso curso de Ciências Farmacêuticas, estejam ao meu lado e me possam "dar 3 fortes bengaladas na minha cartola".

Alguns dos camaradas tiraram fotos do dia de hoje, que certamente chegarão em breve a vós. Se puderem publicá-las no blog, como o encerrar de tudo, ficaria muito grata.

Encerra-se uma história mas não se vão ver livres de mim. Estarei sempre presente na nossa Tabanca Grande e também na Pequena Tabanca de Matosinhos.

Despeço-me por hoje!

Um beijinho
Cátia

Campa de António Ferreira sita no Talhão dos Combatentes falecidos na Guerra Colonial

A jovem Cátia Félix, presta a sua homenagem ao amigo que não conheceu

Alguns dos presentes na cerimónia no cemitério de Águas Santas, Maia

Fotos: © Maria Luís Santiago (2009). Direitos reservados

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4199: In Memoriam (18): Francisco Gomes Nabais, morto por afogamento no Rio Geba, Bafatá, 13/4/65 (José Colaço / Francisco dos Santos)

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4204: Recortes de Imprensa (15): Identificados mais 12 campas de militares lusos mortos na Guiné, DN de 3/4/2009 (Fernando Barata)

1. Mensagem de Fernando Barata (*), ex-Alf Mil da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72), com data de 14 de Abril de 2009:

Caro Luís

Diário de Notícias de 3 de Abril passado (ver attachment). Um dos três militares que constituiram a equipa que se deslocou à Guiné é o Ten Coronel Carlos Correia que pertenceu, como Alferes Miliciano, à minha Companhia (2700).
Voltarão em Dezembro.

Aproveito para te dar aquele abraço pelo MILHÃO de visualizações da Tabanca. É Obra. Com esta cadência brevemente estaremos no Guinness.

Abração
Fernando Barata

Recorte do Diário de Notícias, com a devida vénia
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(*) Vd. poste de 18 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3138: Em busca de... (35): Camaradas da 1.ª COMP/BCAÇ 4815 (Fernando Barata)

Vd. último poste da série de 5 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3987: Recortes de Imprensa (14): Soldados mortos na guerra colonial terão memorial no Porto, JN de 5/3/2009 (Jorge Teixeira)

Guiné 63/74 - P4203: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (6): É uma alegria a notícia de que se vai ser pai

1. Mensagem de António Paiva (*), ex-Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70, com data de 11 de Abril de 2009:

Caros Luís, Carlos e Virgínio

Como é do conhecimento de todos, o vencimento de um soldado na Guiné era fraquinho, com o prémio de especialidade que era de 500 pesos sempre ajudava a reforçar um pouco mais a algibeira. No hospital ainda tínhamos mais uma vantagem que era de três em três meses lhe podermos acrescentar mais 500 pesos com a dádiva de 0,500 litro de sangue, não dava para grandes aventuras, mas ia dando para umas cervejas, umas sandes, de vez em quando uns jantares fora e uns copitos na cidade.

Aos que eram casados, talvez isso não lhes fosse permitido, pois tinham que deixar cá para sustento da sua cara-metade uma parte elevada do seu vencimento.
Por este motivo vou contar o que se passou com um camarada:

Dormíamos na mesma caserna, eu na cama de cima e ele na de baixo mesmo ao lado, era o vizinho do r/c esquerdo, muito bom rapaz. Como era casado não se podia estender muito, se estava de serviço não estava na cama, se não estava de serviço lá o víamos estendido na cama ocupando o seu tempo com a leitura de umas revistas.
Nunca foi menino que se visse na Cantina a beber uma cerveja ou a comer uma sandes, não fumava e se por vezes o desafiássemos logo respondia que não podia, porque tinha a mulher para sustentar.
Não se podia dizer que fosse mau marido, pois tinha muito em conta o sustento de sua mulher.

Em Novembro de 1968, pela hora do almoço, quando estou a entrar na caserna, dou conta de haver uma grande alegria no seu interior. Fiquei surpreso, o meu vizinho do r/c esquerdo, estava alegre e bem disposto, queria pagar uma cerveja a alguns companheiros de caserna, não era para menos, pois tinha na mão uma carta da mulher a dizer-lhe que já era pai de um rapaz.

Posso dizer que fui um dos premiados. Sem ele, 4 ou 5 juntámo-nos e pensámos no caso.
Ele chegou ao hospital em Dezembro de 1967.
Ele era Enfermeiro.
Esqueci-me de lhe perguntar que data tinha a carta, podia-se ter atrasado na viagem.

Um Abraço
António Paiva
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Vd. poste de 5 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4143: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva ) (5): A Justiça Militar ou um processo... kafkiano

Guiné 63/74 - P4202: Dia 17 de Abril de 1972. A emboscada do Quirafo, 37 anos depois (Mário Migueis)

1. Ainda a extensa mensagem do dia 12 de Abril de 2009, nosso camarada Mário Migueis, reparem que já vamos no terceiro poste, desta feita com uma mensagem não enviada ao Paulo Santiago.

O fim é dramático. Um homem só, entregue aos seus sentimentos de revolta e impotência.

Hoje perguntamos, quem mandou fazer as guerra e porquê. Que fomos nós? Peões manejados em nome da defesa de um Império desajustado à realidade do País e dos tempos. Mortos, feridos, estropiados, para quê?

Foi preciso derrubar o regime para acabar com a guerra. Descolonização precipitada, face à desorganização própria de um país em mudança.
As mortes continuaram nos países palcos da guerra. Não foram perdoados aqueles que se sentindo portugueses, lutaram ao nosso lado. Foram abandonados à sua sorte, e nós, ainda que sãos e salvos na nossa terra, fomos esquecidos, pior ignorados.

Passados tantos anos, quanta dor ainda persiste nos ex-combatentes e seus familiares.
CV


2. Continuação da mensagem de Mário Migueis da Silva, iniciada no poste 4194 (1)

Carlos Vinhal:

Peço-te desculpa, mas, ao mexer para aqui nos meus canhenhos, já após ter concluído o texto acima (1), fui encontrar o print de uma mensagem inacabada (escrita entre Outubro e Novembro/2006 – o print não tem data), a dirigir ao Paulo Santiago, via e-mail, mas que, devido àquele problema de saúde a que atrás aludi, não cheguei a expedir.

Como sei que o Paulo é homem para, uma vez mais, me perdoar, até porque, curiosamente, fica aqui comprovado que eu poderia tê-lo ajudado a desmontar aquela confusão de nomes do desaparecido na emboscada e não o fiz, vou pôr à tua consideração a publicação de parte da inédita mensagem (desde que o Paulo aprove, claro…)

Ora, aí vai:

Caro Paulo Santiago:

Acabo de constatar que tomaste a liberdade de providenciar a publicação da minha msg no blogue do Luís Graça. Não estava a contar que o fizesses, caso contrário não teria falado das eventuais “imprecisões da emboscada do Quirafo”, já que tal poderia levar os nossos amigos tertulianos a pensarem que a história estava muito mal contadinha. E, na verdade, não é assim. O teu relato corresponde ao que basicamente se passou e as imprecisões a que quis aludir são meramente de pormenor . Não te vou falar ainda em concrecto sobre elas, como me pedes, porque, como te disse anteriormente, quero, antes disso, trocar impressões com, pelo menos, um ou dois elementos da companhia do Lourenço, o que espero poder fazer brevemente. É que há alguns pormenores a que fazes referência que me surpreendem e, em relação aos quais, acabei, eu próprio, por ficar com dúvidas. Por exemplo (apenas um, por agora), nunca me constou, e considero tal inverosímil, que, em Madina Bucô, o Armandino tivesse sido avisado de movimentos suspeitos para os lados do Quirafo na véspera (domingo), conforme te deram a conhecer (suponho que durante as visitas que, entretanto, fizeste à Guiné). Tu próprio, aliás, te mostraste incrédulo (“qual a razão que levou o Armandino a não acreditar?...”). E, por outro lado, nem estou a imaginar o Armandino, com avisos ou sem eles, a obrigar civis e milícias a entrarem para a GMC. Como sabes, a malta da Companhia tinha pouco mais de três meses no Saltinho , não tendo qualquer ascendente sobre as populações locais. Para além do mais, seria, no mínimo, absurdo que, perante um pequeno sinal de perigo que fosse, o Armandino e o Santos permitissem que fosse tudo para ali ao monte dentro da GMC, como passarinhos indefesos numa gaiola. (…)

A propósito de mentiras inocentes, onde é que o Cosme, esse desinformador do caraças (um abraço para ele!), foi descobrir que o desaparecido em combate se chamava Ferreira?!... O desaparecido chamava-se e chama-se BATISTA, aliás, ANTÓNIO DA SILVA BATISTA, aliás, MORTO-VIVO, que é assim que, ainda hoje, é conhecido na terra em que foi sepultado (salvo seja!...), e mora aqui para os lados do Porto. Falei com um grupo de “velhos camaradas da sueca” de Pedras Rubras – aquela malta que, em dias de sol, se diverte a bater umas cartitas ao ar livre – os quais me remeteram para a mercearia lá do sítio, onde a filha do dono me apresentou ao pai, que me disse conhecer bem o Batista (até assistiu ao seu funeral, que passou mesmo ao pé da porta do estabelecimento!...) e me remeteu, por sua vez ( anunciando-me prévia e educadamente por telefone), para o farmacêutico, que ficava para os lados do estabelecimento prisional de Stª Cruz do Bispo, que me passou para o barbeiro ao lado (este com origens no interior montanhoso, mas casado em Santa Cruz já vai um “rôr” de anos), que logo incumbiu um amigo, que passava ao pé da porta, e que, por sinal, era antigo guarda prisional do hotel em frente, de me ir indicar o café do filho do Batista, aquele que morreu na tropa e depois apareceu na terra.

(“Tás a ver a trabalhêra?!...)*. Como, com tanto “passa a palavra”, se fez entretanto noite e me recomendaram ao ouvido algum cuidado, àquelas horas, ali pelas imediações da prisão – “algumas visitas, sabe!”, explicava em surdina o meu guia de circunstância(?!) -, regressei à base sem ter chegado ao Batista. Mas, um dia destes, com mais vagar, vou procurá-lo de novo, para que ele diga também de sua justiça.

Devo ter ainda no sótão, lá no meu baú da guerra, as notícias do regresso dele, após o 25 de Abril. Achas que seria interessante a sua publicação no blogue? Devo ter também, pelo menos, cópia do croquis da emboscada. Fotografias não há, que ninguém teve a ousadia… Recordo-me de que, naquele dia, na messe, só eu consegui almoçar. Três da tarde, cheio de fome, cansado de esperar que aparecesse mais alguém, fui-me servir ao panelão abandonado na cozinha. Era jardineira, nunca mais me esqueci, dadas as circunstâncias. Enquanto comia, o aroma do guisado misturava-se com o cheio horrível dos corpos queimados, que vinha pelas portas abertas adentro. Um cheiro enjoativo, acre!... Contudo, saciei a fome descontraidamente. Com a maior naturalidade. O sentido da sobrevivência é realmente extraordinário!... Ao jantar, o enfesado transmontano do bar serviu-me a correr e pirou-se, logo a seguir, para o abrigo: o tipo já sabia que ninguém mais iria aparecer. E, assim foi. Passei toda a noite sozinho, a escrever, enquanto, a cinco metros de distância, na parada, trabalhavam os cangalheiros (chegados, ao anoitecer, penso que de Bissau) naquela infinidade de urnas. A cada martelada, eu recordava já com saudade os infortunados Armandino e Francisco Santos (aqueles que, como sabes, me eram mais próximos) e ia escrevendo “à toa”, para ninguém:



“Vinte e duas horas. Do dia mais triste da minha vida.

Aqui, na desoladora messe de sargentos, apenas eu! Nem o moço do bar ficou. Todos recolheram à solidão dos abrigos, possivelmente para meditar.

Lá fora, um silêncio de morte! Um silêncio sepulcral de que faz parte o bater seco e cadenciado de um martelar, que tende a rebentar-me os tímpanos e o sistema nervoso! Já o não suporto mais.

Corro para a porta, a fechá-la. E não posso evitar um fugidio olhar! Um fugidio olhar suficiente para que sinta o coração esfrangalhar-se-me e este terrível nó seco na garganta, que me comprime a alma: o cangalheiro, rodeado de urnas por todo o lado, trabalha. Sereno. Indiferente.

A certa altura, parece-me ouvir alguém assobiar baixinho ou a trautear uma qualquer cantilena!... Volto a correr para a porta, enraivecido...Nada!... O cangalheiro prossegue no seu trabalho. Com a mesma serenidade, a mesma indiferença. E o sentimento de revolta apodera-se de mim com mais intensidade! Sinto vontade de lhe cair em cima. De o agredir, de lhe dar dois murros!...

Mas, contenho-me. Volto covardemente para o meu canto, como um cão lazarento com o rabo entre as pernas, e ponho-me a pensar. A tentar reflectir sobre o que se passa comigo e com a cena macabra que me envolve.

Vêm-me à cabeça as lágrimas, os abraços e os lenços brancos das despedidas, lá no cais de não sei quantos, em Lisboa. Meu Deus!… , e os pais?!... Que será dos pobres pais, coitados!, quando souberem da triste nova?!... Eles que, cada dia, antes da deita, caem de joelhos aos pés de Cristo, da Virgem, do Anjo da Guarda e de todos os santos protectores, a pedirem a salvação dos seus filhinhos?!...

“Era tão bom, tão alegre, tão cheio de vida!...”, é isso que vos espera, camaradas, lá no outro lado do mundo: o choro, o lamento, a recordação. E nós, por cá,…

…Nós, por cá, todos bem, graças a Deus!... Beijos para os manos, tios e priminhos. Para todos, votos de um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de prosperidade! Adeus, até ao meu regresso!

Saltinho, 17 de Abril de 1972
Mário Migueis Ferreira da Silva

* - Observação actual do autor àquela “trabalhêra” toda, confessada ao Paulo Santiago: o Álvaro Basto, fino!, pegou numa lista telefónica e resolveu o problema da localização do Batista num minuto. Como diria o saudoso Fernando Pessa: “E esta, heim?!...

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Nota de CV:

(1) Ver poste de 17 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4200: Ainda e sempre a tragédia do Quirafo. Sortes distintas para António Batista e António Ferreira (Mário Migueis / Paulo Santiago)

Guiné 63/74 - P4201: Em busca de... (71): Quem identifica o camarada da fotografia, pertencente a uma das Companhias do BART 2917? (Benjamim Durães)

1. Mensagem do nosso camarada Benjamim Durães com data de 11 de Abril de 2009:

QUEM PODE AJUDAR A IDENTIFICAR ESTE NOSSO CAMARADA DE ARMAS DO BART 2917 [ BAMBADINCA, 1970/72 ] ?

SÓ SEI QUE PERTENCIA A UMA DAS COMPANHIAS OPERACIONAIS DO BART 2917 [ CART 2714, MANSAMBO, CART 2715, XIME, CART 2716, XITOLE].

O PEDIDO É FEITO PELO NOSSO CAMARADA LUÍS MOREIRA, ALFERES MILICIANO SAPADOR DA CCS/BART 2917 (*).

UM ABRAÇO
DURÃES






É este o camarada de uma das Companhias operacionais do BART 2917 que se pretende seja identificado (**).~

Qualque informação pode ser enviada para Benjamim Durães(duraes.2917@hotmail.com).

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - XCLXXXVII: Luís Moreira, Alf Mil Sapador, CCS/ BART 2917

(...) Estive em Bambadinca na CCS [do BART 2917] e sou o ex-alferes sapador Luís Moreira que fui ao ar com uma mina anti-carro no reordenamento dos Nhabijões (espero não estar a errar no nome).

Na sequência desse acidente [, em 13 de Janeiro de 1971,] passei aos serviços auxiliares e fui colocado no Batalhão de Engenharia, em Bissau, até ao fim da minha comissão que terminou já depois de vocês terem regressado e que fez com que eu hoje faça parte do grupo dos DFA [Deficientes das Forças Armadas].

Infelizmente não me recordo do nome da maioria dos camaradas com quem convivi, talvez devido ao traumatismo craneano que sofri na sequência do acidente. No entanto gostaria de recordar e contactar com o maior número de camaradas para tentar reconstituir esse período de quase um ano que passei em Bambadinca (...).

(**) Vd. último poste da série de 3 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4135: Em busca de... (70): Fur Mil Andrade e Cabrita Martins que estiveram em Fajonquito entre 1971/73 (Afonso Sousa)