sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16519: Manuscrito(s) (Luís Graça) (97): O 'prisioneiro' Malan Mané... a quem cedo, talvez demasiado cedo, deram um arma e uma bandeira e um hino


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Interrogatório a um prisioneiro, o guerrilheiro Malan Mané. Quem preside ao interrogatório é o slf mil at art Torcato Mendonça. A foto é do alf mil Cardoso, e chegou-nos à mão através do ex-fur mil Carlos Marques dos Santos, de Coimbra. "Pela disposição dos presentes é fácil imaginar a brutalidade do interrogatório. O militar das patilhas sou eu, na escrita, Torcato Mendonça".

Foto: © Carlos Marques dos Santos (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


O 'prisioneiro' Malan Mané

por Luís Graça (*)


Guiné. 
Bambadinca. 
3 de Setembro de 1969.


Malan Mané 
(**)
terás vinte anos, vinte luas ? 
Menos de vinte ? 
Talvez sejas da idade dos nossos soldados mais novos,
temos alguns com dezasseis ou dezassete. 
Não tenho qualquer jeito para adivinhar idades,
muito menos dos africanos. 
Mas tu próprio não saberias responder-me: 
aqui ninguém tem 
certidão de nascimento, 
cédula pessoal, 
bilhete de identidade
Os nossos, esses, sim,
têm (ou vão ter) caderneta militar...
Para a tropa, do recrutamento local, 
é-se escolhido a olhómetro: 
etnia,
altura, 
peso, 
massa muscular… 
A idade não conta,
é o régulo de Badora, quem põe e dispõe,
o poderoso Mamadu Bonco Sanhá,
tenente de 2ª linha...
Experiência de combate,
quase todos a têm, 
os fulas desta região,
de Badora e de Cossé…


Malan Mané: 
mandinga do regulado do Cuor, 
a norte de Bambadinca, para lá do Rio Geba,
podias ter sido nosso soldado, 
temos dois mandingas 
na nossa companhia,  a CCAÇ 12,
Malan Nanqui e Ussumane Sissé… 
Mas há mais outros dois Malan,
de etnia fula: 
Malan Baldé e Malan Jau…


Malan Mané: 

com que então
eras o roqueteiro do bigrupo de Mamadu Indjai, 
o terrível, 
o famigerado comandante de guerrilha,
também ele de etnia mandinga 
(ou talvez biafada ?)...
Não me sabes ou não me queres responder,
não importa,
à pergunta sobre o teu chefe.


Olhando,  para ti de alto a baixo,
sem sobranceria, com empatia,
vejo que vestes um dolmen, velho, 
de cor já irreconhecível, 
calças rotas no joelho…
Estás descalço…,
perdeste as chanatas ? 
Por outro lado, estás com ar deprimido, 
talvez mesmo aterrorizado,
não consigo ler as emoções do teu rosto impassível.
Tal como os nossos fulas, usas um amuleto,
contra a bala do tuga
e os demónios da floresta.
Tens razão, djubi, 
cair, vivo, nas mãos dos tugas 
pode ser pior desgraça 
do que morrer em combate, 
aos vinte anos, vinte luas
 – deves ter pensado tu muitas vezes no mato. 
Ou se calhar nunca pensaste nisso. 
Na guerra quem pensa na morte, 
morre mesmo,
dizem que dá azar.
Aliás, na guerra, não convém pensar muito.
É uma pergunta que tu não entendes 
ou a que não queres responder. 
Pelo menos, em público, 
neste cenário de circo, 
enjaulado como um animal selvagem, 
rodeado de homens, brancos e pretos... 
Os páras do BCP 12 / COP 7, esses, 
não tiveram grande dificuldade em desatar-te a língua:
bastou-lhes encostar a faca de mato à tua barriga. 
Foste apanhado com o teu RPG-2,
boquiaberto, 
aparvalhado,
com o helicanhão por cima da tua cabeça,  
numa clareira da mata do Rio Biesse, 
na região de Camará, 
lá para os lados de Candamã, 
quando o céu desabou em cima de ti.


Estás agora às ordens do comando do sector L1,
de mãos algemadas, 
metido numa espécie de gaiola de jardim zoológico. 
Espetáculo degradante, 
para mim, para alguns de nós
que nos consideramos uns gajos decentes…
A Convenção de Genebra
sobre os prisioneiros de guerra 
não se aplica aqui:
oficialmente o meu país não está em guerra,
com ninguém do planeta, 
com nenhum outro estado soberano. 
Oficialmente não há, 
nem pode haver, 
prisioneiros de guerra 
no meu país, 
do Minho a Timor, passando pela Guiné.
Oficialmente tu, Malan Mané,  não és
nem podes ser prisioneiro de guerra
nem tratado como tal.


Malan Mané,  és bandido, 
homem do mato,
fora da lei e da ordem,
turra. 
Fazes-me lembrar o moçambicano Gungunhana, 
passeado em gaiola por Lisboa, 
em 1896, 
como troféu de caça do Mouzinho de Albuquerque. 
Estás aqui mesmo ao lado 
das instalações do rancho, 
o refeitório dos praças,
entre a escola e o posto administrativo.


Há um correpio de gente que vem ver o turra (sic),
capturado pelos páras, 
na Op Nada Consta, em 18 de agosto de 1969, 
no subsector de Mansambo. 
Participámos na operação,
mas a nós, 
mais ao Pelotão de Caçadores Nativos 53
e aos camaradas de Mansambo 
os velhinhos da CART 2339,
coube-nos fazer o papel da tropa-macaca.
montando o cerco à alcateia de lobos
que aterroriza o chão fula,
desde o início da estação das chuvas.
O lobo alfa é o teu comandante, Mamadu Indjai: 
conseguiu escapar-nos, 
embora gravemente ferido.


Repara na plateia de mirones:
básicos, 
cozinheiros, 
padeiros, 
pintores, 
carpinteiros, 
fiéis de depósito de géneros, 
faxinas de bar, 
maqueiros, 
corneteiros, 
mecânicos, 
desempanadores, 
condutores auto, 
malta das daimlers,
escriturários, 
amanuenses, 
contabilistas, 
quarteleiros, 
sapadores, 
ajudantes de capelania, 
sacristães,
operadores de transmissões, 
radiolegrafistas, 
cabos cripto, 
municiadores e apontadores de metralhadora Browning, 
cipaios,
crianças e bajudas, 
caçadores e suas presas, 
todo o mundo tem hoje espetáculo de borla. 
Até os jagudis.
Até o chefe de posto.
Até a senhora professora.


Também ela é alvo
de curiosidade mórbida,
a única mulher branca que ainda reside,
com a sua mãe, 
dentro do perímetro do aquartelamento.
Espreita à janela da escola,
deve estar a olhar para ti 
como o bicho do mato 
que lhe apareceu nos pesadelos noturnos. 
Ou talvez não. 
Nunca lhe soube a idade nem o nome. 
Vejo-a agora de relance
e pergunto-me como terá reagido ela 
ao ataque ao aquartelamento em 28 de maio de 1969. 
Se calhar portou-se com mais dignidade 
do que alguns dos militares 
que deveriam saber defender a sua unidade
e este pedaço de terra verde e rubra
onde flutua a bandeira portuguesa.


Malan Mané, 
desculpa-me este devaneio,
este aparte:
não deves ter visto muitos brancos
na tua vida,
talvez o médico cubano do Fiofioli
e poucos mais...
Intriga-me a situação desta estranha personagem,
uma mulher branca, 
mestre escola, 
de meia idade,
ainda longe  da reforma, 
que insiste em viver aqui, 
no cú do mundo,
numa terra inóspita, 
em Bambadinca,
a "cova do lagarto",
como se diz na  língua mandinga. 
Não sei donde veio nem por que veio,
a senhora professora,
em tempo de guerra,
dizem-me que é caboverdiana,
o chefe de posto é de Cabo Verde, 
como manda a tradição. 
Desde, pelo menos, os tempos de Honório Pereira Barreto, 
dono de escravos,
tenente-coronel de Artilharia de segunda linha, 
governador de Bissau, 
de Cacheu 
e da província da Guiné, 
herói nacional,
comendador da Ordem de Cristo, 
cavaleiro da ordem da Torre e Espada.


Na realidade, a Guiné é (ou foi) 
uma subcolónia, 
uma colónia de Cabo Verde,
um arquipélago, como os Bijagós,
que tu não conheces
nem aonde irás algum dia. 
Missionários e missionárias, 
oriundos da Europa, 
nem sequer os há aqui. 
Já os houve, italianos,
mas foram expulsos,
também eram turras...
Samba Silate, deves ter ouvido falar,
tabanca balanta
em que o pessoal foi para o mato,
a tropa cercou Samba Silate,
missionário turra foi preso…
Comerciantes tugas, só dois, 
que eu conheça,
perfeitamente cafrealizados, 
como se dizia no vocabulário colonial e racista 
dos europeus do séc. XIX 
que demandavam estas paragens inóspitas.


Os dois comerciantes tugas 

vivem fora do perímetro do quartel. 
Um deles tem um bando de filhos, 
de mãe negra, mandinga como tu, 
de sangue azul, 
filha e neta de régulo...
Já me convidou, a mim e outros camaradas,
para lá ir comer 
o seu famoso chabéu de galinha
e beber uns bons uísques. 
Fala dos filhos com ternura, 
uma das raparigas está a estudar na Metrópole. 
Contou-nos a sua história:
veio da Murtosa, salvo erro, 
muito jovem ainda, 
aos dezassete anos. 
Compra mancarra, vende arroz. 
Procura cultivar boas relações com a tropa, 
mas eu acho-o demasiado afável.


Malan Mané: 
uns mandam-te uns piropos, 
outros dão-te um cigarro, 
e outros ainda oferecem-te  garrafas de cerveja, 
que tu recusas, delicadamente, 
como bom muçulmano que deves ser. 
Não entendes as provocações que te dirigem:
 Então, pá, quantos tugas 
já mataste com o teu RPG 2 ?


Há ordens, do comando do batalhão, 
os "homens grandes" dos tugas, 
para te tratar bem. 
Afinal tens-te mostrado colaborante
E, depois de uns meses na ilha das Galinhas,
irás tornar-te um bom guinéu
e um melhor português. 
E, para começar,
nada como um bom prato de bianda, 
arroz com mafé,
filetes de cavala,
comida gourmet.
Comes com dignidade,
a mão servindo de faca e garfo. 
No mato a vida é dura:
uma refeição por dia, 
um maço de cigarros russos por mês, 
farda e botas novas só para os chefes,
bajudas, manga di sabe, 
também só para os chefes,
o Mamadu Indjai, o Mário Mendes...
Todos iguais, diz o camarada Cabral, 
mas uns mais iguais do que outros, 
Malan Mané...


Tinhas começado a aprender o português 
há pouco tempo, 
na escola do mato,
lá no Fiofioli, 
foi isso que eu percebi.
Sabes algumas letras do alfabeto latino,
o suficiente para alinhar as cinco letrinhas do teu nome:
M-A-L-A-N.
Não sei se chegaste a aprender o Alcorão,
nas tabuinhas de algum cherno,
à noite, à volta da fogueira... 
Com a guerra, 
a tua gente, a tua tabanca, desintegrou-se. 
Muitos mandingas foram no mato, 
com os balantas e os biafadas. 
Só falas o crioulo e o teu dialeto mandinga 
O crioulo é a língua tanto do colonizador
como dos inimigos que o combatem.
Ninguém se entende nesta Babel, Malan, 
sem o crioulo,
que é uma genial criação dos homens, 
de diferentes grupos étnicos, 
que querem comunicar entre si,
brancos e pretos.
O exército dos tugas não faz, porém, qualquer esforço 
para nos ensinar o crioulo.
Mas o teu Amílcar Cabral
quer que tu aprendas o português.


Malan,  falas pouco, a custo. 

As tuas respostas às minhas perguntas são lacónicas, 
arrancadas a ferro 
e misturadas com um leve sorriso resignado. 
Eu bem procuro, em vão, 
transmitir-te sinais de simpatia e de compaixão.
Afinal, Malan, tu és um homem, não és um bicho.
Se bem percebi, 
foste no mato ainda djubi, 
talvez em 1962...
Se sim, não podes ter vinte anos, vinte luas... 
Não deves ter conhecido outra vida. 
Chefe da tabanca levara menino e mulher 
para o Morès 
com medo de avião dos tugas...
Foi a história que te contaram…
Mas no Morés ganhaste ainda mais medo dos aviões.
Mal cresceste,
deram-te uma semi-automática Simonov,
uma arma bem melhor que a nossa velha Mauser 
que está distribuída ao pessoal das tabancas, fulas, 
em autodefesa. 
Começaste como milícia, traduz o Abibo:
fazias segurança à tabanca 
e ao pessoal que ia lavrar a bolanha. 
Mais tarde, és promovido a combatente 
como municiador do RPG-2. 
Passarias depois a apontador,
substituindo o teu camarada que morreu. 
Há um ano atrás 
foste ferido por estilhaço de obus, 
no Xime, 
quando atacavas barco em Ponta Varela.


Não sabias quem era o novo homem grande de Bissau.

– E home grandi di bó ? – perguntei-te eu.
 Amílcar Cabral! – respondeste-me, de pronto, 
não sem uma certa expressão de orgulho 
(ou foi impressão minha,
se calhar foi impressão minha). 
Não, nunca o tinhas visto no mato,
só o conhecias de nome e de retrato,
no livro de leitura da 2ª classe. 
Comissário político falava dele 
e da "luta di partido africano".


O intérprete é o Abibo Jau, 
o bom gigante,  epilético, da CCAÇ 12, 
com o seu metro e noventa e tal de altura 
e os seus mais de 100 quilos de peso. 
Não sei quem lhe descobriu o seu talento 
para intérprete e... torcionário. 
É visível o medo que o Abibo te inspira,
pobre Malan Mané. 
Um fula e um mandinga, frente a frente, 
velhos ajustes de contas 
com a memória coletiva e a história de cada grupo 
a virem provavelmente ao de cima.
Malan,
fulas e mandingas já foram os donos destas terras,
cada um no seu tempo. 
Foram  os vencedores,
orgulhosos, 
de lutas contra os animistas,
os povos ribeirinhos.
Teixeira Pinto vingou os aristocráticos mandingas, 
ao subjugar os nómadas, místicos e guerreiros fulas. 
Em contrapartida, deixou a estes 
os papéis subalternos, 
mais sujos, 
da pacificação
e do aparelho de repressão... administrativo-militar. 
Os pobres dos fulas tornam-se os maus da fita, 
aos olhos dos outros povos da Guiné. 
Amílcar Cabral, dizem,  odeia-os.
Os mandingas e os balantas odeiam-os.
Aqui, pelo menos na zona leste, 
os mandingas e os balantas têm um ódio de estimação 
aos fulas. 
Um ódio que é recíproco. 
Não sei se concordas
mas sabes, Malan, 
o poder sempre soube dividir 
(e aterrorizar) para reinar.


Malan, olhando para ti, 
vejo que  és um bocado franzino e frágil, 
embora de estatura normal. 
És uma criança crescida na guerra... 
Não adianta, 
procuro tranquilizar-te,
mas vejo que já vêm  buscar-te
para mais interrogatórios. 
O interrogador  da CCS
é um famigerado sargento, chico
conhecido pelo seu cavalo marinho...  
Alguém tem de fazer o trabalho sujo, 
diz-me , a meu lado,
um homem das informações e operações,
E daqui vais para a PIDE de Bafatá, Malan.



Explorando o teu cansaço físico e psicológico, 
e talvez sob tortura ou ameaças
(que eu, a essa parte, não assisti...), 
acabarás por dar com a língua nos dentes, 
pobre Malan
arrancam-te mais algumas informações preciosas, 
comprometendo a segurança dos teus companheiros.
Para nós, CCAÇ 12,
e para as unidades de quadrícula,
vão ser mais dias infernais, 
de operações no mato. 


Confesso que foi minha primeira grande deceção 
em relação aos guerrilheiros do PAIGC. 
Ingenuamente, julgava-os 
da estatura  humanal, moral e até intelectual
de um 'Che' Guevara ou de um Amílcar Cabral.
Que pateta, que ingénuo, sou eu!, 
apanhado como um cão nesta maldita guerra!
Acreditava, romanticamente,
antes de embarcar,
que a escola de guerrilha do PAIGC 
tenha formado já grandes combatentes e comandantes. 
Mas tu, Malan Mané, não és muito diferente 
dos meus soldados e de mim próprio: 
fomos todos apanhados na rede como cães vadios, 
somos todos vítimas da História, 
nascemos no sítio e na data errados… 
Se eu fosse guinéu, 
muito provavelmente estaria a combater, 
com ou sem convicção, 
num dos dois lados da barricada.
Como tu, como os meus soldados,
sem convição,
e muito menos sem grande hipóteses 
de escolha.


Malan Mané:
se hoje ainda fores vivo, 
o que me parece de todo improvável,
terás 60 e tal anos. 
Há muito que ultrapassaste a esperança média de vida, 
à nascença, 
estimada para os homens 
da tua terra e da tua geração. 
Se alguém te descobrir, 
lá para os lados do Enxalé,
na tua enxerga de moribundo, 
ou nalguma outra tabanca do antigo regulado do Cuor, 
peço que te mandem um abraço meu,
de tuga para turra,
de soldado para soldado, 
de homem para homem.


A última vez que te vi, 
ias preso por uma corda, 
à guarda do Iero Jaló.
Foste gravemente ferido por um dilagrama nosso, 
um estúpido dilagrama nosso,
no assalto a um das tuas 'barracas',
como vocês chamavam aos vossos acampamentos,
perto da antiga estrada Xime-Ponta do Inglês. 
Lembro-me muito bem,
foi na madrugada do dia 7 de setembro de 1969,
foi o meu batismo de fogo. 
O Iero Jaló morreu,
morreu a meu lado. 
Tu, também a meu lado, ficaste gravemente ferido 
e foste evacuado para Bissau. 
Mesmo que tenhas sobrevivido 
(e o Torcato Mendonça disse-me que sim,
que te viu dois meses depois, 
em Bissau,  no hospital militar)...
mesmo que tenhas chegado a ver a independência 
da tua terra, por que tanto lutaste, 
não sei o que te terá acontecido depois. 
Não sei como é que o teu partido,  
organizado à boa maneira marxista-leninista, 
terá lidado com o teu  caso e outros casos 
de colaboracionismo...
de antigos militantes e combatentes, 
feitos prisioneiros dos tugas,
e que, na prisão, deram à língua. 
Fraqueza humana ?
Colaboracionismo ? 
Delação ? 
Traição ?
Crime de lesa-pátria ?


Malan Mané, um homem não nasce herói,

um homem não feito para matar e morrer,
um homem não foi feito para ser 
aprisionado e torturado,
mas pode ter dignidade,
e eu posso testemunhar que tu 
tentaste resistir, 
tentaste ludibriar-nos. 
Não demos com o acampamento à primeira, 
em 25 de agosto de 1969. 
Tu alegaste que o capim estava muito alto 
e que te perderas. 
O tanas! 
Tu conhecias aquilo de cor e salteado, 
de olhos vendados,
tinhas lá estado há três meses atrás. 
Enfim, resististe enquanto pudeste, 
meu pobre diabo,
par dares tempo aos teus camaradas
para se porem na alheta. 
Arriscaste a vida, brincaste com o fogo...
Só lá voltaríamos, à toca do lobo, 
para um golpe de mão, 
no dia 7 de setembro,
o primeiro dia do resto da tua vida:
chamámos-lhe a Operação Pato Rufia.


Os espíritos da floresta 
(bons ou maus, quem saberá distingui-los ?) 
não te perdoaram. 
Se tu morreste, 
de morte natural, 
em consequência dos teus ferimentos de guerra, 
ou de morte matada, 
mais tarde,
sob as balas das Kalash raivosas dos vencedores,
dentro da lógica infernal dos movimentos revolucionários 
que acabam sempre por devorar os seus filhos, 
espero ao menos 
que o teu fantasma continue a vaguear, 
agora mais tranquilo, 
e definitivamente livre,
pela orla da bolanha do Poindon, 
com o teu RPG-2 ao ombro, 
ou a tua velha Simonov a tiracolo, 
transformadas em peças de museu,
ou brinquedos de madeira,
que nunca tiveste quando criança,
guardando desta vez os bons espíritos da terra, 
da bolanha, 
da floresta-galeria do Fiofioli,
e do selvagem e majestoso rio Corubal,
o único verdadeiro rio da Guiné, 
como nos dizia o teu homem grande,
Amílcar Cabral.
Para que eles, os bons irãs,
iluminem o presente e o futuro 
daquela terra 
onde um dia nasceste,
e foste djubi 
e puseram-te o nome de Malan Mané, 
e a quem cedo, 
talvez demasiado cedo, 
deram uma arma e uma bandeira e um hino. 


PS – Olha, ao Abibo Jau, da CCAÇ 12, 
não lhe perdoaram,
os teus antigos camaradas do PAIGC:
crivaram-no de balas
contra o poilão de Madina Colhido, em 1975.
E o teu antigo comandante, Mamadu Indjai,
já antes havia sido executado sumariamente,
no Boé, em 1973, por alta traição,
por ter as mãos sujas de sangue 
do pai da Pátria...
Tu terás tido melhor sorte, Malan Mané ?
Oxalá / Inshallah / Enxalé!

Versão original: 3/9/1969 | Última versão: 21/9/2016

______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 15 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16491: Manuscrito(s) (Luís Graça) (96): Em Bambadinca, à noite, íamos ao nimas e sonhávamos com gajas boas...

(**) Sobre o Malan Mané, vd,  os postes:

28 de setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7048: A minha CCAÇ 12 (7): Op Pato Rufia, 7 de Setembro de 1969: golpe de mão a um acampamento IN, perto da antiga estrada Xime-Ponta do Inglês, morte do Sold Iero Jaló, e ferimentos graves no prisioneiro-guia Malan Mané e no 1º Cabo António Braga Rodrigues Mateus (Luís Graça)

14 de setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6984: (Ex)citações (97): Tinha 22 anos e ainda sonhava... quando levei o prisioneiro Malan Mané a jantar comigo no café do Sr. Regala, em Galomaro (Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Heli AL III, BA 12, Bissalanca, 1968/70)

8 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6953: Estórias avulsas (94): A captura do incaracterístico guerrilheiro Malan Mané, no decurso da Op Nada Consta (Salvador Nogueira)

7 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6948: A minha CCAÇ 12 (6): Agosto de 1969: As desventuras de Malan Mané e de Mamadu Indjai... (Luís Graça).

26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2683: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (9): O Jorge Félix e o Prisioneiro

15 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - P753: O Nosso Livro de Visitas: Torcato Mendonça, ex-Alf Mil da CART 2339 - O Malan Mané estava vivo em Novembro de 1969 e eu abracei-o

(...) O [Carlos] Marques dos Santos deu-me a conhecer este blogue. Há muito que a guerra acabou para mim, só que quase diariamente ela aparece…! Não resisti, fui à Net e tenho navegado pelo blogue.

Fui alferes miliciano na CART 2339 [Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69](1). Li certos eventos que os vivi: por exemplo, o Malan Mané (...)  estava vivo em Novembro de 1969 e recebia tratamento no Hospital Militar de Bissau. Abracei-o, causando espanto ao fuzo que o guardava. Só que eu estive na mata com o Malan Mané, soube que foi ferido (... Eu usava como arma, quando se justificava, o dilagrama)... (...)

Guiné 63/74 - P16518: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (9): "Rã Teimosa", a última Operação da CART 2520


Desembarque de tropas no Xime: a nossa conhecida LDG 105 (NRP Bombarda)[1]


1. Em mensagem do dia 19 de Setembro de 2016, o nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) enviou-nos esta memória sobre a última operação em que participou sua Unidade.


Recordações da CART 2520

9 - "Rã Teimosa", a última Operação da CART 2520

Ordens são ordens e são para cumprir, custe o que custar.

Como era normal, estas chegaram do BCAÇ 2852 sediado em Bambadinca. Estava planeada uma operação para o dia 16 de Maio de 1970, para a zona do Xime. Isto a escassos dias da CART 2520 sair desta zona operacional. Dentro de duas semanas a nossa Companhia partiria rumo a Quinhamel.
A ideia não caiu muito bem no seio das nossas tropas, nomeadamente entre os furriéis e logo se pensou pressionar o Capitão [mil António dos Santos] Maltez, através dos nossos alferes,  para nos "baldarmos" a esta operação.

Estava a fazer um ano que a CART 2520 tinha estabelecido a sua base no Xime. Foi muito elevada a nossa actividade operacional no mato, assim como muitas seguranças às embarcações que navegavam no rio Geba. Também se fizeram inúmeras colunas de serviço a Bambadinca e esporadicamente a Bafatá. As baixas tinham sido duas, jamais regressariam ao seio dos seus familiares. Por doença também foram vários os que já nos tinham deixado. Por baixa psicológica só no meu pelotão foram dois os elementos que não voltaram, sendo um deles o Furriel Alvarez, um mês depois de chegarmos ao Xime já estava evacuado para Bissau.

Chegada então a hora do início da operação e ainda de madrugada, lá vamos nós a caminho do mato com as devidas precauções e também com alguma ansiedade à mistura.

Assim que o sol começou a iluminar a mata, creio que na zona da Ponta Varela,  houve indicações para que ninguém saísse debaixo da copa das árvores e permanecesse no máximo silêncio possível para não denunciarmos a nossa presença.

Várias foram as vezes que fomos sobrevoados pelo DO que possivelmente seria comandado pelo Major [op /inf  Herberto Alfredo do Amaral] Sampaio,  do Gabinete de Operações de Bambadinca. Por diversas ocasiões junto ao rádio transmissor da nossa Companhia ouvi o operador lá do alto chamar por nós. Nesse dia o nosso emissor receptor "esteve avariado".

A operação decorreu sem incidentes e sem nenhum contacto com o inimigo.

De regresso à nossa base, recordei o dia anterior, quando entrámos no gabinete do nosso Capitão Maltez e as palavras que este nos dirigiu:
- Como já sabem, esta noite vamos sair para uma operação, mas o Alferes Lapa vai explicar-vos como vai ser - e abalou porta fora.

Esta seria a última operação da CART 2520 no Xime, a qual teve o nome de "Operação Rã Teimosa". Mas nós com a ousadia que tivemos em expor as nossas convicções contra todas as regras estabelecidas, através do Alferes Lapa, fomos mais teimosos que esta rã e nem os nossos soldados souberam o que se passou na tarde do dia anterior no gabinete do Capitão Maltez.

Entretanto chegou CART 2715 / BART 2917 que nos viria render. A CART 2520 saiu em duas fases, a primeira no dia 31 de Maio e a última a 9 de Junho de 1970.

Assim se iniciou uma segunda etapa da nossa Companhia em terras da Guiné, que foi bem mais tranquila, como que uma espécie de um merecido prémio.

E aqui vai um grande abraço para todos os elementos desta Tabanca Grande, em especial para o amigo Luís Graça e camaradas da CCAÇ 12 (CCAÇ 2590).

José Nascimento



No Bar de Sargentos


Com o Furriel Joaquim [João dos Santos] Pina,  do 1º Gr Comb da CCAÇ 12, algarvio como eu, antes de uma Operação

Texto, fotos e legendas : © José Nascimento (2016). Todos os direitos reservados


2. Comentário do editor:

Eis as oito linhas que foram dedicadas à "Op Rã Teimosa", na História da Unidade: BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70, cap II, p. 152:





Recorde-se que o BCAÇ 2852 também acabou nesse mês de maio a sua comissão de serviço. Em 29 e 31 de maio de 1970, chegava o BART 2917, começando a sobreposição. Em 8/6/1970, o BCAÇ 2852 deixou o setor L1, partindo para Bissau onde aguardou transporte para a metrópole.

Três dias antes da Op Rã Teimosa,  em 14 de maio, às 17h00, o IN tinha atacado, com canhão s/r, LGFog e armas automáticas, em Ponta Varela (XIME 7B5-45), na margem esquerda do Rio Geba,  o barco (civil) "Bihe", causando  1 morto, 1 ferido grave, 3 desaparecidos, todos civis, e danos materiais.
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Notas do editor:

[1] - Sobre a LDG Bombarda vd. postes de Manuel Lema Santos de:

22 de Dezembro de 2016 > Reserva Naval nas LDG - Lanchas de Desembarque Grandes (5)
e
24 de Dezembro de 2016 > Ainda a LDG “Bombarda” - LDG 201

Último poste da série de 17 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15870: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (8): Quem não se lembra do antigo ditado que diz: "em tempo de guerra não se limpam armas"

Guiné 63/74 - P16517: Notas de leitura (882): “Cabo Verde e Guiné-Bissau, As Relações entre a Sociedade Civil e o Estado”, por Ricardino Jacinto Dumas Teixeira, Editora UFPE, Recife, 2015 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Setembro de 2016:

Queridos amigos,
Este sociólogo guineense, professor no Brasil, com pergaminhos da sociologia política de há muito que estuda o papel da sociedade civil na Guiné-Bissau e decidiu para tema do seu doutoramento estudar as relações entre a sociedade civil e o Estado entre os dois países, tendo como balizas o arranque do multipartidarismo e até 2008. Dá-nos um quadro das conceções teóricas que modelam a transição de políticas autoritárias para liberais, analisa os pontos de convergência e divergência gerados pela história na afirmação dos dois Estados, procede a trabalho de campo junto das célula da sociedade civil, confirma a identidade de duas culturas e um processo de desenvolvimento em que há inúmeras aspirações afins, desde o combate ao desemprego e à pobreza até à incessante procura de independência face ao apetites dos partidos políticos.
De leitura obrigatória, para quem queira conhecer estas duas sociedades civis em movimento.

Um abraço do
Mário


Cabo Verde e Guiné-Bissau: Sociedade Civil e Estado

Beja Santos

“Cabo Verde e Guiné-Bissau, As Relações entre a Sociedade Civil e o Estado”, por Ricardino Jacinto Dumas Teixeira, Editora UFPE, Recife, 2015, é o produto de uma tese de doutoramento de um professor universitário guineense que ganhou o seu título na Universidade Federal de Pernambuco. A sua investigação emerge na trajetória distinta e num relacionamento comum entre dois países que têm um denso cruzamento histórico. Por força de uma conceção ideológica montada por Amílcar Cabral, o termo unidade utilizado exaustivamente na luta armada pela libertação nacional apelava para dois países que devido a uma história comum deviam caminhar de braço dado, da guerrilha à fusão do Estado. Esse sonho desmantelou-se em 1980, os dois países mantiveram-se numa linha de partido-Estado até que o mundo deixou de ser bipolar, o comunismo afundou-se e as correntes liberais pareciam tomar conta de tudo. Da década de 1980 para a década de 1990 a estes países africanos acenou-se com a democracia multipartidária e a economia de mercado. Com as transformações políticas sociais e económicas, entrou-se numa era de democracia representativa e participativa, com grandes altos e baixos. É nessa fase que se dá um processo político distinto entre Cabo Verde, insular, sociedade crioula, com elevada diáspora, onde o sentimento de cabo-verdianidade é poderoso e a Guiné onde se acena com o fantasma militar, onde se manifestou o caudilhismo, a guerra civil e a permanente instabilidade política. As sociedades civis dos dois países têm recortes distintos mas também posições afins. Tratando-se de uma investigação doutoral, Ricardino Teixeira inicia a sua investigação com quadro apurado de contornos teóricos-metodológicos e a análise comparada das relações entre a sociedade civil e o Estado tendo como referência o processo democrático em construção nos dois países entre 1994 e 2008, no fundo o investigador procura o grande ecrã da ciência política para enquadrar a democracia representativa, o triunfo nos princípios liberais e como a sociedade civil e o Estado se vão confrontar na vida quotidiana.

O segundo capítulo desvela os dois países em termos de história e organização, de sociedade e cultura. Cabo Verde foi descoberto, povoado por brancos e populações da Senegâmbia, a Guiné teve vida pré-colonial, a ocupação portuguesa foi radicalmente diferente da criação de uma sociedade crioula, encontraram-se na miscigenação e no comércio negreiro, em Cabo Verde expandiu-se o catolicismo, uma forma de organização agrária decalcada de modelos europeus, todas as localidades possuem nomes portugueses; a Guiné caraterizou-se por uma presença no Litoral, montaram-se praças e presídios, pagava-se aos régulos uma tributação para ocupar território e quando se avançou para uma ocupação efetiva contou-se sobretudo com o cabo-verdiano, culto e disciplinado, motivado para os negócios, na segunda metade do século XIX lançaram-se na criação de colónias agrícolas, nomeadamente no Sul. Ricardino Teixeira recorda a resistência oferecida pelas etnias guineenses contra a presença portuguesa, sublevações permanentes, só com o capitão João Teixeira Pinto, a partir de 1913, com campanhas de pacificação, um hábil aproveitamento de tropas auxiliares conjuntamente com mercenários de outras regiões é que se conseguiu a capitulação dos revoltosos, entrou-se numa fase de interiorização da presença colonial a despeito de as comunidades rurais terem mantido um elevado grau de autonomia.

Como é óbvio, Ricardino Teixeira vai traçar os aspetos relevantes da tese da unidade Guiné-Cabo Verde forjada por Amílcar Cabral. A primeira mão-de-obra militar foi oferecida por jovens guineenses que terão um papel determinante nas sublevações a partir de 1962, no Sul da Guiné, esses homens estarão à frente das forças sublevadas em toda a região Sul, no Oio e no Corubal, partir de 1963. Mobiliza-se o apoio popular guineense e os quadros cabo-verdianos vão se espalhar pelas zonas de luta, Conacri, Dakar e Ziguinchor. Iludiram-se contenciosos seculares entre guineenses e cabo-verdianos, Amílcar Cabral será assassinado fruto dessas discórdias. O golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980 clarifica a profunda dissensão e o fim da fórmula de unidade Guiné-Cabo Verde. Perante dois países tão distintos, no ADN, na espiritualidade, no conceito identitário, Ricardino Teixeira vai investigar as relações entre a sociedade civil e o Estado, num momento em que se enveredou pelo reconhecimento e se legitimou a democracia representativa e participativa.

Foi este o trabalho de campo que ele desenvolveu, junto de organizações cabo-verdianas e guineenses. No final, não subsistem dúvidas que há pontos de aproximação, embora, em muitíssimos casos, o quadro de aspirações é radicalmente distinto. Cabo Verde entrou no multipartidarismo sem dramas nem golpes militares, o PAICV deu lugar ao Movimento para a Democracia, aceitaram-se as regras do jogo. Os inquéritos destacam inúmeras contradições no que é a fragilidade da sociedade civil, o seu grau de dependência dos humores dos poderes do dia e, inevitavelmente, da cooperação e dos apoios da diáspora. As perceções do Estado na Guiné-Bissau recordam os abusos de poder, o poder real na mão dos militares, a pulverização partidária e a ascensão da etnia Balanta, a especificidade dos grupos de mandjuandades, uma mobilização de solidariedade e cultura. A perceção da sociedade civil em Cabo Verde tem outros matizes, basta pensar nas manifestações culturais da Tabanka, do Batuko e do Funana, tem demorado a que as organizações da sociedade civil se dissociem dos interesses partidários em contenda, o PAICV e o MpD.

E afinidades? É o combate à pobreza, a procura da satisfação das necessidades elementares da população, o uso do microcrédito num esforço de criar empresas que contrariem a elevada percentagem de desemprego; há a promoção dos valores ambientais, as lutas pela igualdade de género, a valorização da expressão musical, os direitos humanos, a procura de participação de jovens e mulheres nas decisões políticas.

E assim chegamos às relações entre a sociedade civil e o Estado, os inquiridos não se cansam de relevar a falta de recursos, a pressão dos partidos políticos, as sequelas do partido-Estado, o desapontamento face ao oportunismo político dos partidos no uso da sociedade civil. O autor sumula estas queixas dizendo “observa-se em todas as colocações que a defesa da democracia e criação de novos espaços públicos, voltados para a revitalização das organizações da sociedade civil é colocada como uma falta na relação com o Estado”. Vários inquiridos na Guiné-Bissau lembram que este relacionamento estará sempre profundamente inquinado enquanto não houver reforma do Estado. Já nas considerações finais, o autor lembra que há aproximações entre as organizações de massas e grupos de base dos dois países no que tange ao aumento de desigualdades, às questões de género, ao desemprego, aos riscos ambientais e ao imperativo de que as organizações e grupos da sociedade civil devem permanecer equidistantes dos partidos. O investigador deixa diferentes questões em aberto que cabe aos outros responder, como é o caso das necessidades locais e como elas são perspetivadas pelas agências de financiamento e pelos grandes centros de cooperação internacional.

Temos aqui uma estimulante base de trabalho para conhecer na atualidade o grau de mobilização nas relações entre a sociedade civil e o Estado nos dois países, geograficamente próximos e com identidades tão distintas.
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16503: Notas de leitura (881): “Memórias de um Esquecido”, por José Cerqueira Leiras, edição de autor, 2003 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16516: Parabéns a você (1138): Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16 (Guiné, 1964/66)

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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16507: Parabéns a você (1137): Alexandre Coutinho e Lima, Coronel de Artilharia Reformado (Guiné, 1963/65; 1968/70 e 1972/73); Maria Teresa Almeida, Amiga Grã-Tabanqueira da Liga dos Combatentes e Raul Albino, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2402 (Guiné, 1968/70)

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16515: Convívios (770): Encontro do pessoal da CCAÇ 2797 e Pel Canh S/R 2199 (Cufar, 1970/72), dia 8 de Outubro de 2016, no Porto (Luís de Sousa)

1. O nosso Camarada Luís de Sousa (ex-Soldado TRMS da CCAÇ 2797, Cufar, 1970-72), enviou-nos uma mensagem datada de hoje, 22 de Setembro de 2016, anunciando o próximo encontro do pessoal da sua Companhia e do Pel Canh SR 2199:

Boa tarde caro Vinhal,
Como vem sendo hábito por esta altura, realiza-se o convívio anual da CCaç 2797 e do Pelotão de Canhões S/R 2199 que passaram por Cufar entre 1970/72.

Desta vez será no Porto no dia 8 de outubro, sábado (aliás é sempre ao sábado, o que me leva a pensar que será uma singela homenagem à Sábado, a bajuda com o mais formoso bum-bum de Cufar, à data).

A concentração será no Jardim de Arca de Água, por volta das 10 horas da manhã, e vai haver bianda para todos no antigo Quartel de Transmissões à hora habitual.

A organização é do Domingos Oliveira Cardoso com contacto: 960 206 897.

Obrigado e saudações.
Luís de Sousa
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16513: Convívios (769): XV Encontro dos ex-militares do HM 241 dos anos de 1966 a 1972, dia 8 de Outubro de 2016 em Espinho (Manuel Freitas)